Crítica de TV

Público se livra de agronovela com fim de Renascer

Bruno Luperi perde chance de repaginar novela e Renascer acaba com a sensação de uma safra mal colhida

Publicado em 03/09/2024

Chega ao fim nesta sexta-feira (6) a agronovela Renascer e, com ela, o respiro profundo de um público que mal via a hora de se livrar desse experimento com embalagem de remake. O que começou como uma promessa de frescor e uma história repaginada no horário nobre, com paisagens deslumbrantes e um elenco acima da média, logo se transformou em um labirinto de histórias arrastadas e personagens insuportavelmente chatos. É como se o autor Bruno Luperi e sua equipe tivessem deixado o trator ligado no piloto automático e ido tirar um cochilo, esquecendo que o público esperava muito mais.

Nos primeiros capítulos, o remake de Renascer até que mostrou potencial. Parecia que a novela traria uma nova vida à trama que foi levado ao ar pela primeira vez em 1993, com uma proposta de abordar temas contemporâneos no ambiente rural. No entanto, a história rapidamente perdeu o rumo. Tramas que prometiam emoção e reviravoltas ficaram paradas no meio do caminho, como um trator atolado na lama. Os arcos de personagens como Tião e Joana se arrastaram sem propósito, e quando finalmente chegaram a algum lugar, o desenrolar foi tão fraco que mal se notou o impacto.

E o que dizer de José Inocêncio, o herói da novela? Um personagem que tinha tudo para ser a alma do drama se revelou uma verdadeira decepção. Inocêncio passou a novela inteira apanhando da vida e não fazendo nada a respeito. Perdeu um filho, foi roubado e enganado inúmeras vezes, e sua reação foi, no máximo, levantar os olhos para o céu e suspirar. Haja paciência! A pergunta que fica é: ele é mesmo um homem forte do campo ou apenas um tipo que se desaparecer pela plantação de cacau ninguém vai sentir falta?

Para ser justo, Renascer acertou ao abordar diálogos entre religiões e trazer uma consciência de classe para o horário nobre. Houve um esforço genuíno em inserir temas como agroflorestas e sustentabilidade, fazendo um contraponto interessante com a vida no campo e a preservação ambiental. Esses momentos de reflexão ofereceram ao público algo mais do que o drama raso e ajudaram a elevar o debate em torno da novela.

Outro ponto que merece destaque é a tentativa da novela de atualizar seus núcleos e incluir personagens que representassem a diversidade racial e sexual, trazendo negros e gays para a narrativa. Mas, infelizmente, apesar dessa intenção, a execução ficou aquém do esperado. As cenas e diálogos com esses personagens muitas vezes caíam em estereótipos ultrapassados e desfechos que não condiziam com a tentativa de modernidade proposta. Parecia um passo à frente e dois para trás, como se a novela estivesse presa em um roteiro antiquado, tentando desesperadamente se libertar para chegar ao mundo de hoje.

Renascer chega ao seu final com a sensação de uma safra mal colhida: um desperdício de potencial. Bruno Luperi nada fez para corrigir os erros da primeira versão escrita por Benedito Ruy Barbosa. A exemplo, a personagem Mariana, sem nenhum carisma diante do público do começo ao fim da trama. Valia a pena torcer por aquela mocinha? Desde 1993, o público sabe que não.

Agora, finalmente, o telespectador pode se livrar da agronovela — numa saga que começou com Pantanal e espera-se que não volte tão cedo — que prometeu uma colheita farta de emoções, mas acabou entregando apenas palha.

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