Lançada em fevereiro de 2002 no horário das 18h da TV Globo, Coração de Estudante foi desenvolvida pelo autor, Emanuel Jacobina, às pressas, a partir do projeto de uma série que o responsável por várias temporadas de Malhação tinha em mente. O que seria uma série foi incrementado para ocupar a vaga de A Dança da Vida, novela de Maria Adelaide Amaral então cancelada – e até hoje não produzida.
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Por volta do capítulo 70, Coração de Estudante passou a contar com uma consultoria especial: a de Carlos Lombardi, com quem Emanuel já havia trabalhado em 1997, em Malhação. A direção artística da emissora pediu ao autor de Quatro por Quatro (1994-1995) e Uga Uga (2000-2001), entre outras, que avaliasse a novela, que não ia tão bem de ibope em seu início. Lombardi havia lido a sinopse e dado alguns palpites a Jacobina, mas não havia passado disso até ali.
“Meu diagnóstico foi de que a novela estava estruturalmente correta, com bons personagens e uma trama interessante. Mas existiam dois problemas específicos: a trama ecológica era abstrata e havia um erro de tom. A trama ecológica era abstrata porque tratava da construção ou não de uma represa. Ou seja, não era um fato real, era a ameaça de um fato, o que dificultava a compreensão por parte do público”, explicou Lombardi sobre a disputa na qual Clara (Helena Ranaldi), Edu (Fábio Assunção) e Ronaldo Rosa (Leonardo Villar) enfrentavam João Mourão (Cláudio Marzo) em seu Projeto Vitória.
O novelista prosseguiu: “O espectador entende a trama se tratores chegam e começam a escavar a terra, mas a discussão anterior a isso é sobre um ambiente parado. Quanto ao problema de tom, eu achava que Coração de Estudante podia ser mais leve e alegre do que estava sendo no ar. A novela tinha o elenco certo, os personagens certos, mas a história estava sendo contada de forma um pouco séria, mais solene que a necessária”.
“A partir do capítulo 70, eu me sentei com o Emanuel para discutir e montar uma estrutura. Ele escrevia, e eu fazia o texto final. A implantação da mudança de tom durou uns 30 e poucos capítulos. Como a reação em termos de audiência foi bem rápida, o próprio Emanuel ficou à vontade com aquele tom. Então, fui diminuindo minha participação: passei a só discutir a estrutura dos capítulos; depois, só discutia a estrutura semanal; até que, no último mês, fiz apenas uma consultoria. Minha intervenção na novela foi bastante específica”, completou Carlos Lombardi, em entrevista concedida em 2008 ao Projeto Memória Globo e publicada no livro Autores: HIstórias da Teledramaturgia (Globo, 2009).
A partir da entrada de Lombardi nos trabalhos de Coração de Estudante, a “mudança de tom” envolveu contornos mais claros para a disputa entre a universidade e o fazendeiro, bem como algumas alterações de perfis de determinados personagens. Amelinha (Adriana Esteves), vilã da história, e Nélio (Vladimir Brichta), peão apaixonado por ela e com ares de vilão, tornaram-se pessoas mais engraçadas, embora tivessem seus dramas.
A filha de João Mourão começa a mudar sua visão de mundo ao descobrir que o bebê que espera é portador de síndrome de Down, e Nélio passa a ser objeto de desejo de várias mulheres da pequena Nova Aliança, entre as quais Esmeralda (Ângela Vieira), dona de um bar frequentado pelos estudantes, e Lolô (Fernanda de Freitas), filha do prefeito Lineu Maciel (Paulo Figueiredo).
Inicialmente muito séria, “direita” e compenetrada em seus estudos e no futuro como advogada que planejava, Rafaela (Júlia Feldens) também se tornou mais descontraída, dividida entre Mateus (Caio Blat), o filho de Esmeralda com quem teve problemas para viver a primeira vez, e Fábio (Paulo Vilhena), por quem havia se interessado desde a chegada à cidade.
A descoberta de que João Mourão também é pai de Clara (Helena Ranaldi), a advogada que tanto o combate, também desperta novos conflitos em Coração de Estudante, balançando o casamento de Lígia (Jussara Freire) e Raul (Marcos Caruso), que se sente traído pelo compadre. Além disso, Clara chama a atenção de um promotor debochado com resposta para tudo na ponta da língua: Pedro Guerra (Bruno Garcia), que por trás de seu jeitão esconde a infelicidade da alienação parental promovida por sua sogra, Zuzu (Marly Bueno), que o quer longe dos netos, após a morte da filha.