Em maio de 2024 se completam 30 anos da estreia de uma das novelas mais queridas do SBT e considerada uma de suas melhores produções no gênero: Éramos Seis, escrita por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho com base no romance de Maria José Dupré em 1977 para a Rede Tupi e que aqui era regravada.
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Com direção geral de Nilton Travesso – que teve como parceiros na empreitada Henrique Martins e Del Rangel –, a novela marcou a retomada das atividades da emissora de Silvio Santos no setor, após um hiato de três anos. A estreia ocorreu em 9 de maio de 1994, adiada em uma semana devido ao luto pelo falecimento do piloto automobilístico Ayrton Senna, ocorrido em 1º de maio, na Itália.
Na ocasião retornando às novelas após um hiato que se iniciou em junho de 1988, com o final de Sassaricando, também de Silvio de Abreu, Irene Ravache deu vida à protagonista Dona Lola, mulher simples, trabalhadora e muito dedicada à casa, ao marido Júlio (Othon Bastos) e aos quatro filhos – Carlos (Caio Blat na primeira fase, depois Jandir Ferrari), Alfredo (Wagner Santisteban, depois Tarcísio Filho), Julinho (Rafael Pardo, depois Leonardo Brício) e Maria Isabel (Carolina Vasconcelos, depois Luciana Braga).
A história acompanha o cotidiano e as desventuras dessa família por mais de 20 anos, entre as décadas de 1920 e 1940, na cidade de São Paulo. Os conflitos armados que têm São Paulo como cenário, especialmente a Revolução de 1932, e as mudanças que a vida da família sofre vão dando a tônica da narrativa, com Dona Lola fazendo das tripas coração para manter sua família unida ante muitas dificuldades.
Muito rígido e mesmo ríspido com a mulher e os filhos, Júlio se transforma quando sai em suas farras noturnas com o amigo Almeida (Paulo Figueiredo), seu colega na casa de tecidos do turco Assad (Antônio Petrin). Júlio inclusive tem uma amante, Marion (Elizângela), o que é descoberto justamente por Alfredo, o mais rebelde e difícil dos quatro filhos.
A morte de Júlio após uma mal-sucedida operação para sanar uma úlcera acaba sendo um divisor de águas na vida da família, e leva todos a trabalharem para suprir as necessidades financeiras.
Um novo baque ocorre quando Carlos também morre, vitimado por uma bala perdida em meio a um conflito da Revolução Constitucionalista de 1932. Sua namorada de infância, Carmencita (Julia Ianina, depois Eliete Cigarini) acaba por se envolver com Alfredo, antes que este decida ingressar na Marinha.
Julinho envereda pelo mesmo caminho profissional do pai, o comércio, e sua ambição colabora para que se case com Maria Laura (Carolina Gregório, depois Luciene Adami), a voluntariosa filha de Assad. Já Isabel se envolve com um homem casado, Felício (Marco Ricca), e o casal sofre com a perseguição de Zuleika (Chris Couto).
A família Lemos: os personagens principais de Éramos Seis
Um núcleo interessante é o da tia de Lola. Emília (Nathalia Timberg) é muito rica e profunda conhecedora da genealogia das tradicionais famílias paulistas. O bom casamento que fizera não lhe rendera no entanto a felicidade que se supõe que pessoas ricas como ela tenham.
Emília vive problemas com as duas filhas, Adelaide (Bete Coelho), que volta da Europa com ideias bastante avançadas, e Justina (Mayara Magri), uma bela jovem que agia como se ainda fosse criança, devido a um trauma de infância. As três personagens proporcionaram bons desempenhos para as atrizes.
O outro ramo da família da protagonista morava na cidade paulista de Itapetininga e rendia o alívio cômico necessário.
Dona Maria (Yara Lins) e a tia Candoca (Wilma de Aguiar) viviam às voltas com Olga (Denise Fraga), a professora com mania de grandeza, seu marido Zeca (Osmar Prado), um farmacêutico, e os muitos filhos deles, quase todos batizados em homenagem à tia Emília, que Olga muito bajula.
A irmã do meio é Clotilde (Jussara Freire), que não se casou como as irmãs e se envolve com Almeida, cuja esposa Marta (Rosaly Papadopol) é um empecilho ao bom andamento das coisas.
Também cômicos eram os vizinhos de Dona Lola na Avenida Angélica, Genu (Jandira Martini) e Virgulino (Marcos Caruso). Ela, uma figura forte, de presença imponente, palpiteira e fofoqueira, mas de muito bom coração; ele, dominado pela mulher, fraco de iniciativas, mas também de bom caráter.
Os dois se amam verdadeiramente e são pais de Lúcio (João Vitti), apaixonado por Isabel, e Lili (Flávia Monteiro), que chega a ser namorada de Julinho, mas no decorrer da trama se casa com o médico Marcos (Nelson Baskerville).
Os investimentos na novela foram da ordem de US$ 5,5 milhões, e seria arriscado estrear a produção num momento em que as atenções estariam voltadas à tragédia.
O elenco era estelar, com muitos nomes egressos da Globo, o que suscitou uma campanha publicitária que explorava esse fato. “Mate a saudade das grandes novelas da Globo; assista a Éramos Seis no SBT” era uma das frases dos anúncios em jornais de grande circulação.
Inicialmente a intenção do SBT era apresentar Éramos Seis durante suas duas primeiras semanas em dois horários – 19h45min e 21h45min – e depois manter apenas o que apresentasse melhores resultados de audiência.
Mas a estratégia de fisgar um público em fuga da Globo nas duas faixas – quando terminavam os capítulos das novelas das 19h e das 20h da concorrente – deu certo e durante todo o período de exibição, até dezembro de 1994, a história da família de Dona Lola foi exibida duas vezes por noite. As chamadas não tinham pudor de promover a grade global: “Éramos Seis: hoje, depois de A Viagem, e reapresentação depois de Fera Ferida”.
Nesses 30 anos, apesar dos muitos pedidos do público, o SBT reprisou Éramos Seis apenas uma vez – em 2001, de janeiro a maio, no início da noite.
Em 2017, os direitos sobre o texto de Silvio e Rubens foram adquiridos pela Rede Globo, e entre 2019 e 2020 ocorreu a exibição de uma nova versão da história – já a quinta –, com Glória Pires no papel principal. Esta versão contou com participações das duas atrizes que anteriormente interpretaram Dona Lola ainda vivas na ocasião, Irene e Nicette Bruno.