Tarefa difícil

As 60 melhores novelas em 60 anos de TV Globo – para este colunista

Embora as preferências pessoais se façam presentes, é preciso ao menos tentar apontar histórias que sejam também representativas de seis décadas

Publicado em 28/04/2025

Na quarta-feira (23), o g1 publicou um conteúdo especial editado por Braulio Lorentz, Cesar Soto e Marina Lourenço, em meio à celebração dos 60 anos da TV Globo: trata-se de uma lista com as 60 melhores novelas da história da emissora, escolhidas a partir das indicações de 60 jornalistas de cultura e pesquisadores de teledramaturgia – entre os quais este colunista.

Cada um dos participantes da escolha teve direito a indicar cinco títulos, e claro que não foi uma tarefa fácil. Em horas como essas, embora as preferências de cada um como espectador falem bastante alto, é preciso ao menos tentar apontar novelas que sejam do agrado e também representativas de seis décadas e mais de 300 produções. A vasta quantidade de obras marcantes e de qualidade é outro desafio.

Além de mim, Fábio Costa, profissionais como Anna Luiza Santiago, Bete Pacheco, Bia Braune, Cristina Padiglione, Daniel Castro, Gabriel Vaquer, Mauricio Stycer, Mauro Alencar, Mauro Ferreira, Nilson Xavier, Patrícia Kogut, Thiago Stivaletti, Valmir Moratelli e Vitor Moreno participaram da feitura da lista.

Como toda lista, com esta não foi diferente: houve bastante burburinho entre os noveleiros de plantão, contestando de um lado ausências de determinadas novelas e as presenças de outras, e de outro a classificação dos títulos numa ordem de 1 a 60, orientada pelo peso atribuído à posição do ranking particular de cada votante, de obra em obra.

Por exemplo: eu coloquei Roque Santeiro (1985-1986), de Dias Gomes com Aguinaldo Silva, em primeiro nas cinco novelas que indiquei, e por essa razão ela teve cinco pontos dados por mim; o amigo Nilson Xavier deu à novela a segundo posição em seu ranking, o que rendeu quatro pontos. E assim sucessivamente. Foram esses pontos, de cinco a um de acordo com a ordem de cada lista, de cada votante, que originaram o resultado.

Democraticamente endosso o resultado do levantamento, embora isso não queira dizer que concorde totalmente com os 60 títulos resultantes da pesquisa. Por essa razão, aponto neste texto as “minhas” 60 melhores novelas dos primeiros 60 anos da TV Globo – e em ordem cronológica de exibição, não em ranking.

  1. Irmãos Coragem (1970-1971), de Janete Clair;
  2. Selva de Pedra (1972-1973), de Janete Clair;
  3. O Bem-amado (1973), de Dias Gomes;
  4. O Espigão (1974), de Dias Gomes;
  5. O Rebu (1974-1975), de Bráulio Pedroso;
  6. Escalada (1975), de Lauro César Muniz;
  7. Gabriela (1975), de Walter George Durst, da obra de Jorge Amado;
  8. O Grito (1975-1976), de Jorge Andrade;
  9. Pecado Capital (1975-1976), de Janete Clair;
  10. O Casarão (1976), de Lauro César Muniz;
  11. Escrava Isaura (1976-1977), de Gilberto Braga, da obra de Bernardo Guimarães;
  12. O Astro (1977-1978), de Janete Clair;
  13. Dancin’ Days (1978-1979), de Gilberto Braga;
  14. A Sucessora (1978-1979), de Manoel Carlos, da obra de Carolina Nabuco;
  15. Pai Herói (1979), de Janete Clair;
  16. Feijão Maravilha (1979), de Bráulio Pedroso;
  17. Água Viva (1980), de Gilberto Braga;
  18. Baila Comigo (1981), de Manoel Carlos;
  19. Elas por Elas (1982), de Cassiano Gabus Mendes;
  20. Guerra dos Sexos (1983), de Silvio de Abreu;
  21. Corpo a Corpo (1984-1985), de Gilberto Braga;
  22. A Gata Comeu (1985), de Ivani Ribeiro;
  23. Roque Santeiro (1985-1986), de Dias Gomes com Aguinaldo Silva;
  24. Ti-ti-ti (1985-1986), de Cassiano Gabus Mendes;
  25. Sinhá-Moça (1986), de Benedito Ruy Barbosa, da obra de Maria Dezonne Pacheco Fernandes;
  26. Roda de Fogo (1986-1987), de Lauro César Muniz;
  27. Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères;
  28. Bebê a Bordo (1988-1989), de Carlos Lombardi;
  29. O Salvador da Pátria (1989), de Lauro César Muniz;
  30. Que Rei Sou Eu? (1989), de Cassiano Gabus Mendes;
  31. Tieta (1989-1990), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, da obra de Jorge Amado;
  32. Top Model (1989-1990), de Walther Negrão e Antonio Calmon;
  33. Rainha da Sucata (1990), de Silvio de Abreu;
  34. Pedra Sobre Pedra (1992), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares;
  35. Mulheres de Areia (1993), de Ivani Ribeiro;
  36. Renascer (1993), de Benedito Ruy Barbosa;
  37. Fera Ferida (1993-1994), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, da obra de Lima Barreto;
  38. A Viagem (1994), de Ivani Ribeiro;
  39. A Próxima Vítima (1995), de Silvio de Abreu;
  40. História de Amor (1995-1996), de Manoel Carlos;
  41. O Rei do Gado (1996-1997), de Benedito Ruy Barbosa;
  42. Anjo Mau (1997-1998), de Maria Adelaide Amaral, da obra de Cassiano Gabus Mendes;
  43. Por Amor (1997-1998), de Manoel Carlos;
  44. Torre de Babel (1998-1999), de Silvio de Abreu;
  45. Força de Um Desejo (1999-2000), de Gilberto Braga e Alcides Nogueira;
  46. O Cravo e a Rosa (2000-2001), de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira;
  47. O Clone (2001-2002), de Glória Perez;
  48. Mulheres Apaixonadas (2003), de Manoel Carlos;
  49. Chocolate com Pimenta (2003-2004), de Walcyr Carrasco;
  50. Celebridade (2003-2004), de Gilberto Braga;
  51. Cabocla (2004), de Benedito Ruy Barbosa, da obra de Ribeiro Couto;
  52. Senhora do Destino (2004-2005), de Aguinaldo Silva;
  53. Belíssima (2005-2006), de Silvio de Abreu;
  54. Paraíso Tropical (2007), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares;
  55. A Favorita (2008-2009), de João Emanuel Carneiro;
  56. Avenida Brasil (2012), de João Emanuel Carneiro;
  57. Lado a Lado (2012-2013), de João Ximenes Braga e Cláudia Lage;
  58. A Força do Querer (2017), de Glória Perez;
  59. Espelho da Vida (2018-2019), de Elizabeth Jhin;
  60. Pantanal (2022), de Bruno Luperi, da obra de Benedito Ruy Barbosa.

Se formos levar em conta a representatividade histórica, a lista com apenas 60 títulos fica ainda mais difícil de definir, já que nos primeiros anos a TV Globo produziu novelas lembradas até hoje, como O Sheik de Agadir (1966-1967), Véu de Noiva (1969-1970), Pigmalião 70 (1970), Assim na Terra Como no Céu (1970-1971), O Cafona (1971), O Homem que Deve Morrer (1971-1972), Bandeira 2 (1971-1972), Minha Doce Namorada (1971-1972) e Os Ossos do Barão (1973-1974), estas completamente perdidas.

Como “perdidas” também eram as ilusões do título da primeira novela da emissora, já em seus primeiros dias no ar, em 1965: Ilusões Perdidas, de Ênia Petri, gravada em São Paulo. Preferi compor a seleção de 60 novelas apenas com obras disponíveis ao menos em fragmentos, em que pese a pesquisa que desenvolvo há anos sobre o gênero e o conhecimento havido e buscado a respeito das que não estão ao nosso alcance hoje.

Isso talvez levasse a um título na linha de “As 60 novelas mais importantes da TV Globo em 60 anos”; o que eventualmente ampliasse a sensação de injustiça que qualquer seleção do tipo, por mais ampla que se proponha a ser, acaba por despertar. Em listas feitas por vocês, leitores, seguramente há novelas que na minha não há – Locomotivas (1977), Vereda Tropical (1984-1985), Fera Radical (1988), A Indomada (1997), Laços de Família (2000-2001), Império (2014-2015) etc. -, bem como deixa de haver obras que na minha lista coloquei.