A Globo prepara o resgate de mais uma novela de época em breve. Nunca reprisada, Esperança será a novidade do streaming da emissora em maio.
Veja também:
A trama de Benedito Ruy Barbosa será disponibilizada na íntegra no Globoplay, quase fechando o ciclo de novelas do horário nobre da década de 2000. Com a entrada da obra, restará apenas Viver a Vida para a plataforma.
Trama controversa e fracassada
A novela Esperança é marcada mais pelos bastidores conflituosos do que pela história em si. Controversa, era para funcionar como uma espécie de segunda parte de Terra Nostra, que fez muito sucesso.
Benedito, inclusive, queria que a obra se chamasse Terra Nostra 2 e odiou o nome Esperança, mas seguiu a determinação da Globo e tocou a novela em frente, baseada também em amores impossíveis e na imigração durante a década de 1930.
A história começava na Itália até chegar ao Brasil e contava com dois rostos em evidência na época como protagonistas: Priscila Fantin, como Maria; e Reynaldo Gianecchini, como Tony; além da bela Ana Paula Arósio como a vilã Camile.
Além deles, o autor escalou alguns de seus queridinhos, como Raul Cortez, Fernanda Montenegro e Antonio Fagundes (em participação especial), Eva Wilma, Oscar Magrini, Marcos Palmeira, assim como Gabriela Duarte, Paulo Goulart, Lúcia Veríssimo e os novatos Maria Fernanda Cândido, Simone Spoladore e Nuno Lopes.
Esperança começou com a dura missão de manter os ótimos números de O Clone, mas logo desandou. A audiência caiu e o autor começou a passar por graves problemas pessoais, como a doença de sua mãe, que acarretou em uma questão de saúde no próprio Benedito.
“Minha mãe estava doente. Eu deixava de escrever para ir ao hospital, voltava para casa chocado, tentando escrever. Não dá para fazer graça com o coração apertado. Foi ficando muito difícil para mim, até que, um dia, resolvi parar. O médico tirou uma chapa do meu pulmão e disse que eu só tinha mais um ano, um ano e meio de vida, que eu estava podre. Quando vi a chapa, levei um susto: larguei o cigarro em cima da mesa do médico e nunca mais peguei”, contou ao livro Autores – Histórias da Teledramaturgia, em 2008.
Briga com Walcyr Carrasco
A Globo, preocupada com o dramaturgo e com o atraso na entrega de capítulos, propôs que ele contasse com a ajuda de outro escritor, mas Benedito não aceitou e deixou a trama.
Para apagar o incêndio, foi chamado Walcyr Carrasco, que tinha acabado de escrever outra novela de época, A Padroeira; além de ter feito sucesso com O Cravo e a Rosa.
O dramaturgo deu uma renovada na produção, visando sobretudo aumentar a audiência, por isso mudou o perfil de alguns personagens, como o próprio Toni (Gianecchini), Farina (Paulo Goulart) e Justine (Gabriela Duarte).
De fato, os índices aumentaram, mas Benedito odiou o resultado. “A trama se despersonalizou. Benedito fala pouco sobre isso porque está doente e ofendido, mas percebo que há muita mágoa. As mudanças na trama foram muito grandes”, contou Marilena Barbosa, esposa do autor, na época.
O veterano ficou tão bravo que quis até pegar Walcyr na porrada. “Quando ele (Carrasco) assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Na época, liguei para o Mário Lucio Vaz (então diretor artístico da Globo): ‘Olha, Mário, avisa o Walcyr que, quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’ Ele simplesmente acabou com a minha novela”, disse ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de 2009.
Mas, mesmo com a birra de Benedito, Walcyr fez milagre. “Gostaria de lembrar que peguei a novela com 32 de audiência e entreguei, no ultimo capitulo, com 54. Não acho que estraguei tudo não. Mas dei nova dinâmica a seus personagens, talvez afetados por sua doença”, contou o autor de Terra e Paixão. No final, Esperança terminou com a baixa média de 38 pontos, ruim para a época.
Depois de tantos anos do “disse me disse”, ambos lados entenderam os motivos de cada um, além de Benedito culpar a Globo por não ter entregue a Walcyr uma sinopse com os rumos que a novela devia tomar após a sua saída.
Em entrevistas posteriores, o próprio autor disse que não há mágoa e que o rival até se desculpou. “Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado! O sujeito andava ressabiado comigo. No fim, tudo terminou bem. Acendemos o charuto da paz”, revelou o autor de Pantanal e Renascer.