‘Marcius Melhem faz falta ao humor’, defende Hassum: ‘Quem está sendo babaca e mentiroso, repense’

Publicado em 28/03/2024

Entre imagens e saborosas histórias de bastidores de “Os Caras de Pau”, série que completa 15 anos de sua criação, Leandro Hassum defendeu o talento e o rigor profissional de Marcius Melhem, seu parceiro de cena no programa, em uma live que celebrou os feitos do humorístico da Globo. Também responsável pelo texto do programa, Melhem é, para Hassum, “um dos maiores roteiristas de humor” do país.

Promovida por Melhem em seu canal no YouTube, a conversa durou mais de três horas e reuniu o diretor do programa, Márcio Trigo, profissionais da equipe, como a figurinista Verinha Queiroz, e vários atores, como Alexandre Régis, Augusto Madeira, Marcos Hollanda, Cláudio Mendes, Maíra Charken, Léo Castro, Cláudio Cinti e Antonio Fragoso.

Ainda no início da conversa, Hassum lamentou a ausência de um programa como “Os Caras de Pau” na TV atual, ressaltando que faltam programas populares — “diferente de popularesco”, disse– na programação. O “Zorra Total”, que deu origem à dupla, também foi bastante mencionado.

Hassum contou que a série “Família Paraíso”, recentemente protagonizada por ele, fora criada para o fim de noite no Multishow. A escolha da Globo por exibir o título nas tardes de domingo, nicho em que “Os Caras de Pau” fez grande sucesso, obrigou seus criadores a fazerem várias adaptações para o horário e o sinal aberto, o que fez do programa “um Frankestein”, definiu o ator.

“Tô muito feliz de estar aqui”, disse Hassum, que alegou estar “ficando velho”, com 50 anos, e, por isso, abandonando filtros para dizer o que pensa. “Seria injusto eu não dizer o quanto o humor contemporâneo, o quanto eu, e muitos que passaram por aqui, e muitos outros que não são gratos, que não reconhecem, devem à história, ao talento, ao profissionalismo, à cobrança, à dureza, e às vezes até à chatice desse artista chamado Marcius Melhem.”

“O Marcius Melhem faz falta no humor brasileiro, na comédia, é um dos maiores roteiristas de humor desse país. O maior escada e ao mesmo tempo é um puta comediante, um puta colega, ele brigava muito, sim, mas brigava desde o camareiro até a direção geral da empresa, onde ele estivesse. Isso é preciso ser dito, seja lá a quem isso vai chegar.”

“Quem está sendo babaca, mentiroso, filho da puta, repense e volte a fita da sua vida, rebobine, porque esse trabalho eu também fiz e tenho humildade de vir aqui falar isso,rebobine a fita e reconheça que talvez você não esteja sendo justo.”

E continuou: “Eu não vivi muitos anos da sua vida depois que acabou ‘Os Caras de Pau’, mas eu vivo nesse meio, não tô aqui pra apontar dedo pra ninguém, mas tem muita coisa que as pessoas têm que botar a mãozinha na consciência e serem justas. Não precisa inventar nem elogiar.”

Melhem (Dorothy) e o Leão (Hassum) em cena que parodiava ‘O Mágico de Oz’ / Foto de Augusto Madeira

Hassum contou que quando teve de criticar Melhem por algo, foi à casa dele, ainda na pandemia, de máscara, e sentou na sua frente para falar. “Vocês botem a mãozinha na cabeça em muita coisa que estão falando. A Cesar o que é de Cesar”, concluiu, sem mencionar nomes.

Como se sabe, dos “Caras de Pau” pra cá, Melhem ascendeu ao posto de diretor de humor da Globo e perdeu o cargo após ser acusado de assédio moral, e depois sexual, por um grupo que inclui atrizes e roteiristas da emisora, ao final do “Tá no Ar”, humorístico que resgatou a criatividade e a inventividade do riso à casa entre 2014 e 2019. As acusações nasceram dentro da TV e ganharam repercussão pela imprensa, o que levou Melhem a judicializar as acusações e se defender na esfera dos tribunais.

No ano passado, o ator e roteirista passou a alimentar seu canal no YouTube com lives em que vem esmiuçando os casos de que é acusado por meio da contextualização de fatos e uma série de mensagens trocadas com as acusadoras. Relatos e fatos documentados por meio de imagens, áudio e vídeo contradizem as versões acusatórias, e as próprias acusações já tropeçaram em contradições, de modo que as denúncias por assédio nunca se sustentaram e deram lugar, recentemente, a outro processo enfrentado por ele, agora por suposta “violência psicológica”.

A própria Globo chegou a concluir que o comportamento de Melhem, embora às vezes inadequado para um chefe, não configurou assédio, já que o ex-diretor nunca condicionou a promoção profissional de suas subordinadas a práticas sexuais nem teria fechado portas para quem não respondeu às suas investidas. O caso segue na Justiça, onde ele, mesmo diante de tantas contradições, tornou-se réu.

RISOS À VONTADE

Embora eu destaque aqui a defesa de Hassum ao ex-parceiro, isso tomou alguns poucos minutos da live, que cumpriu de fato o objetivo de prestar um grande tributo ao que já foi o humor da TV aberta, com seus improvisos, sua genialidade e seus acidentes –alguns efetivamente foram parar no hospital. Quem aprecia bastidores e processo criativo há de se deleitar com as boas histórias ali narradas, inclusive pelo entusiasmo de Hassum, que em várias ocasiões se mostrou inconformado com o esvaziamento do humor popular na TV.

“Não precisam chamar a gente pra fazer, mas voltem a fazer humor para a família”, pediu Hassum, que disse hoje se considerar muito mais um ator de cinema que de TV. Seu último filme na Netflix, disse, é hoje o mais visto do mundo na plataforma entre os longas de língua não inglesa. Isso, louvou ele, graças ao “Zorra Total” e aos “Caras de Pau”, que compensaram a frustração de sua primeira cena na TV. Era pra ser uma breve fala em uma novela, mas o diretor Luciano Sabino insistiu que Hassum, ator egresso do teatro, era “over”, e o texto foi suprimido por um sutil balançar de cabeça.

A conversa na live foi tão produtiva, que Melhem, Hassum e Alexandre Régis já combinaram de engatar uma outra, em data a agendar, sobre o “Nós na Fita”, mais um título que os uniu.

Abaixo, segue o link, visto por mais de 28 mil pessoas sete horas depois de iniciada a transmissão:

 

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