Meus amigos, as emissoras de TV agonizam. Mais do que isso as TVs abertas sentem os efeitos das redes sociais, das TVs a cabo, do streaming e se mostram desesperadas. Agora eles estão sem dormir?
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Nunca ouviram falar em planejamento? Eu trabalhei em algumas emissoras que achavam que esse tempo nunca chegaria. Pior do que isso. Eles sabiam que o futuro seria migrar para os algoritmos e achavam que “fazer de qualquer jeito” estava de bom tamanho, afinal de contas, sempre sobreviveram ao caos.
Quando um aluno ingressa em uma faculdade de jornalismo, rádio, TV, internet muitas vezes se pergunta: por que eu preciso aprender isso? História do jornalismo? Teoria da comunicação? Filosofia? Sociologia? Palestra? O que tem a ver?
Bom, queridos leitores… Se os donos de emissoras de TVs tivessem estudado essas questões, garanto que eles não estariam nessa “draga”. Seria bom também eles estudarem ética e economia. É preciso se preparar para o mercado.
Eis o que eles não fizeram. Agora leio que emissoras demitem, atrasam pagamento, querem ajuda do governo, desejam empréstimo, os anunciantes não estão interessados, programas cancelados, jornalistas desesperados.
Por quê? Simplesmente porque o “achismo” sempre foi o aliado dos donos de TV. Acho que esse programa vai ter audiência, acho que esse jornal vai inovar, acho que fulano (a) é bom (boa) para esse tipo de projeto. Eu vou promover minha mulher, amiga, filha, meu filho, tio, avó, um político…
O meu amigo faz um bom macarrão. Então vou colocá-lo em programa de culinária. Se o negócio não der certo, se for por água abaixo, dinheiro não falta. Meu primo ensinou meu cachorro fazer as necessidades no jardim, não em casa. Vou inventar um programa para ele: vai se chamar “No Reino da Bicharada”. A várzea na televisão come solta.
Quando as fórmulas caseiras se mostram falhas, eles vão comprar projeto pronto no exterior e nossa TV perde a identidade. Nós não sabemos mais quem é o Monteiro Lobato, mas conhecemos a J. K. Rowling.
Não vamos mais gravar Sítio do Picapau Amarelo, vamos comprar ou inventar uma série, filme, novela que imita o Harry Potter, mesmo que não saibamos a receita, nem público – isso em todos os setores de TV, apenas um exemplo.
Como a televisão aberta é a rainha da mídia, bem como suas agregadas, não precisamos nos preocupar – pensavam as velhas raposas. Isso era o que os mimados achavam. A vida era muito fácil.
Lamento dizer, mas a TV não é mais a rainha. Há um novo e poderoso meio de comunicação que se chama internet. Na web eu escuto rádio, vejo TV, processo minhas informações no tempo e no momento que eu desejar.
No imaginário popular qualquer um de nós pode ser um astro da internet, embora poucos consigam – haja paciência com os amigos dublando e dançando. O fenômeno já aconteceu em rádio e TV.
Mas o que interessa é que o foco está no celular, tablet, computador ou até aparelho de TV, desde tenha a liberdade das redes sociais, que está sendo caçada a cada dia, mas continua nos trazendo a brisa que as TVs abertas, engessadas e patriarcais não nos permitem sentir.
Conheci muitos “moleques” em televisão, gente que fazia coisa errada, destratava funcionário, roubava projeto, fingia que não era com eles, desequilibrava as contas da TV privilegiando o grupo fechado (panela), se esquecendo do que o espectador queria – ou não estava nem aí.
O coitado que desejava passar um tempo na frente da televisão tinha que ver determinado programa, goela abaixo, por falta de opção. Mas não tinha problema em errar. Afinal de contas o dinheiro sempre chegava em uma campanha política, em uma propaganda gigantesca do governo ou de um banco privado.
Fazer besteira era normal porque os chefes colocavam dinheiro no bolso, mesmo com dívidas absurdas, tratando seus funcionários como serviçais. Democracia, direitos humanos e trabalhistas, você só via quando o jornal da emissora falava do vizinho. Mas vocês já viram algum jornal de TV aberta falar mal da própria casa?
Vocês já viram algum dono de TV admitir que paga pouco seus funcionários e não luta por eles, não os fornece subsídios para uma vida digna? O âncora que fala em direitos humanos e trabalhistas e não vê desigualdade em sua empresa de comunicação?
Muito bem. A festa acabou. Hoje há várias formas de entretenimento que não dependem de TV aberta e seus impérios. Hoje eu posso me afastar da TV e ver um filme que me satisfaz, não o que será empurrado do tipo: “veja ou não veja”.
Quando eu ouço gritaria, nos mais variados estilos e níveis, eu posso continuar no meu sofá e escolher o que me agrada, embora não tenha total liberdade, mas melhores opções.
E olha que a internet está apenas começando. Não mostrou nem cinco por cento do que é capaz. Imaginem o dia em que todos no Brasil tiverem melhores maneiras de se conectar com o mundo? Mais escolhas, mais tecnologia de comunicação sem o uso de cabos?
Não adianta falar que a culpa é da covid-19, a culpa é do governo, a culpa é da crise mundial, a culpa é do imposto, a culpa é da economia, a culpa é… Sinto informar, mas a culpa é dos donos, coordenadores, diretores, enganadores de TV, os grandes arautos da força e da sabedoria…
Ah! Eu estava me esquecendo. Se nada do que eu escrevi aliviar o sofrimento de vocês, leiam um bom livro, escutem música, descubram os seus heróis. Não dependam de nenhum veículo, nenhum intermediário nessa missão.
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