Lícia Manzo não é adepta de grandes vilões. Em suas novelas das seis, eram as peças pregadas pela vida que moviam seus personagens. Foi a fatalidade envolvendo Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manu (Marjorie Estiano) que as separou, em A Vida da Gente, e o temperamento arredio de Miguel (Domingos Montagner) que desencadeou todos os conflitos de Sete Vidas.
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Mas Um Lugar ao Sol é uma trama um tanto mais pretensiosa que as novelas das seis da autora. A trama mantém o tom de crônica, porém imprime elementos de thriller para fazer uma espécie de jogo de espelhos, evidenciando como as diferenças sociais criam abismos dolorosos.
Para ressaltar isso, Lícia Manzo não criou grandes vilões, mas colocou em cena antagonistas fortes, que chacoalham a trama e geram conflitos ainda mais amplos. O principal deles, sem dúvidas, é Túlio (Daniel Dantas), que se tornou a grande pedra no sapado de Christian (Cauã Reymond). O escroque, ao descobrir o segredo do usurpador, o chantageia e o manipula.
A força de Túlio está na interpretação minimalista de Daniel Dantas, que não usa caras e bocas. Mas, ao mesmo tempo, traz ao tipo um tom asqueroso, com seu jeito pausado de falar, que lhe dá um cinismo e o deixa ainda mais repugnante.
Ma Bárbara (Alinne Moraes) não fica atrás. A jovem até convence como “injustiçada”, mas basta uma análise um pouco mais profunda para enxergá-la como uma mulher arrogante e manipuladora. A maneira como ela lida com Janine (Indira Nascimento) no plot do conto roubado deixa evidente seu caráter duvidoso, além de dar uma dimensão ainda maior da grande proposta da novela, que é fazer uma crítica social contundente. Ou seja, Um Lugar ao Sol está bem servida de vilões.
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