Com o fim da reprise de Malhação: Sonhos, a Globo interrompe sua faixa de dramaturgia voltada ao público jovem. A grife Malhação, criada para buscar um diálogo da emissora com os adolescentes, representou muito mais do que um laboratório de atores e autores. A trama cumpriu o papel de angariar um novo público para a dramaturgia e a programação da emissora.
Veja também:
Buscar o público jovem era quase uma obsessão da Globo quando Malhação foi criada, em 1995. A emissora, que já havia marcado uma geração de jovens com programas como Armação Ilimitada ou Clip Clip na década de 1980, entrou na década de 1990 sem apelo junto a este nicho. E não mediu esforços para tentar trazer o jovem para sua programação.
Foram muitas as tentativas frustradas na primeira metade da década de 1990, como o TV Zona, de Luiz Thunderbird, e o Radical Chic, com Maria Paula. A Globo mirava em artistas identificados com a MTV Brasil, então um laboratório juvenil efervescente, mas não conseguiu arrebatar a audiência da emissora musical.
Então, em 1995, a emissora parou de tentar imitar a MTV e resolveu apostar no que já tinha de melhor: dramaturgia. Malhação nasceu como um produto certeiro para atrair o adolescente, ao trazer uma trama protagonizada por jovens e que abordava assuntos de interesse deste público, mas também bebia do folhetim, já formando uma nova geração de “noveleiros”. Funcionou.
Malhação foi um fenômeno em seus primeiros anos, quando ainda era uma espécie de híbrido entre novela e série, sofreu alguns reveses criativos após um tempo, mas se reinventou a partir de 1999, quando abraçou de vez o formato de novela. Outra reinvenção apareceu anos depois, quando o programa deixou de ter um cenário fixo e passou a apostar em temporadas independentes umas das outras, cada qual com título, autor, direção e elenco renovados. Ou seja, Malhação se transformou numa faixa de novelas voltadas ao público jovem.
A missão de Malhação como formadora de público se tornou ainda mais evidente quando a Globo desistiu da programação infantil. O fim da TV Globinho representou a perda da “formação de base” do espectador da emissora. Agora, sem Malhação, a grade fica ainda mais “envelhecida”.
A emissora só não perdeu de vez seu apelo junto a este público em razão dos reality shows, que arrebataram boa parte desta audiência, e um ou outro nome que tem um apelo junto aos jovens, como Tatá Werneck, Marcos Mion e Serginho Groisman. Ainda assim, Malhação deixa uma lacuna que, a longo prazo, pode trazer prejuízos à renovação do público do canal.
*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.
Leia outros textos do colunista AQUI