Sinopse
A jovem Maria de Fátima não acredita na honestidade. Sem hesitar, vende a casa da família, deixando a mãe desamparada, e muda-se para o Rio de Janeiro com o intuito de ganhar a vida como modelo ou com um casamento rico. Envolve-se com o mau-caráter César Ribeiro, modelo em fim de carreira, e, para alcançar seus objetivos, utiliza-se dos meios mais sórdidos. Conhece o milionário Afonso Roitman e, depois de muitas armações, separa-o de sua namorada, Solange, para casar-se com ele.
Raquel, a mãe de Fátima, é o seu oposto: a personificação da honestidade. Para ela, somente o trabalho é capaz de dar dignidade ao Homem. Quando foi abandonada pelo marido com uma filha para criar, não hesitou em enfrentar o dia a dia. Após ter sido enganada pela filha, Raquel vai atrás dela e estabelece-se no Rio. Conhece Ivan, o homem por quem se apaixona, e, com muita luta, de vendedora de sanduíche na praia, chega a dona de uma rede de restaurantes, a Paladar.
A história tem uma reviravolta quando Raquel encontra uma mala com 800 mil dólares, perdida pelo desonesto executivo Marco Aurélio, e não aceita ficar com o dinheiro, como sugeriu Ivan. A mala desaparece por meio de um plano de Fátima e Raquel acredita que foi Ivan quem a tomou. Os dois acabam rompendo e Ivan casa-se com Heleninha, uma artista plástica frágil e alcoólatra, filha da toda-poderosa Odete Roitman, dona da empresa de aviação TCA, a maior culpada pelos problemas psicológicos da filha.
Odete mantem um caso amoroso com César, amante de Fátima – que, à essa altura, tornou-se sua nora, ao casar-se com seu filho Afonso. Odete é uma mulher rica e arrogante, capaz de tudo para defender os seus interesses. Culmina assassinada enquanto discutia com Marco Aurélio, executivo de sua empresa, ao descobrir que ele era o dono da mala com dólares e que havia desviado uma fortuna de seu patrimônio. Enquanto Marco Aurélio foge com o dinheiro, a polícia está no encalço do assassino de Odete Roitman. E Fátima e César armam um novo golpe, fora do país.
REGINA DUARTE – Raquel Acioli
ANTÔNIO FAGUNDES – Ivan Meireles
GLÓRIA PIRES – Maria de Fátima Acioli
CARLOS ALBERTO RICCELLI – César Ribeiro
BEATRIZ SEGALL – Odete Roitman (Odete de Almeida Roitman)
RENATA SORRAH – Heleninha (Helena de Almeida Roitman)
REGINALDO FARIA – Marco Aurélio Catanhede
CÁSSIO GABUS MENDES – Afonso de Almeida Roitman
LÍDIA BRONDI – Solange Duprat
NATHÁLIA TIMBERG – Celina Aguiar Junqueira
ADRIANO REYS – Renato Filipelli
CÁSSIA KISS – Leila
CLÁUDIO CORRÊA E CASTRO – Bartolomeu Meireles
PEDRO PAULO RANGEL – Poliana (Aldálio Candeias)
LÍLIA CABRAL – Aldeíde Candeias
ROSANE GOFMAN – Consuelo Galhardo
SÉRGIO MAMBERTI – Eugênio
MARCOS PALMEIRA – Mário Sérgio
OTÁVIO MÜLLER – Sardinha
CRISTINA PROCHASKA – Laís Amorim
FÁBIO VILLA VERDE – Thiago Roitman Catanhede
FLÁVIA MONTEIRO – Nanda
MARCELLO NOVAES – André
STEPAN NERCESSIAN – Jarbas Galhardo
CRISTINA GALVÃO – Íris
ÍRIS BRUZZI – Eunice
MARIA GLADYS – Lucimar
JOÃO CAMARGO – Freitas
PAULO REIS – Olavo Jardim
LOURDES MAYER – Dona Pequenina
FERNANDO ALMEIDA – Gildo (Hermenegildo)
DANTON MELLO – Bruno
PAULA LAVIGNE – Daniela
JAIRO LOURENÇO – Luciano
ZENI PEREIRA – Zezé (Maria José)
PAULO PORTO – Queiroz
NARA DE ABREU – Deise
ANA LÚCIA MONTEIRO – Marina
RITA MALOT – Marieta
MARTHA LINHARES – Suzana
RENATA CASTRO BARBOSA – Flávia
e
ADRIANA ESTEVES – uma das modelos candidatas a um editorial de moda na Tomorrow, do qual Fátima também concorre, no início
AGUINALDO SILVA, como ele mesmo, na festa de dez anos da revista Tomorrow, no início
AÍLTON CARVALHO – padre do casamento de Fátima e Afonso
ÁLVARO FREIRE – Detetive Pedrosa (investiga o sumiço da joia de Celina, roubada por Fátima mas cujas suspeitas caem sobre Marina)
ANA ARIEL – comadre de Rute que informa o paradeiro dela a Raquel e Ivan
ANDERSON MARTINS – fã-mirim de Aldeíde
ANSELMO LYRA – vizinho de Poliana e Consuelo na vila
ANTÔNIO CARNEVALLE – repórter na delegacia cobrindo o assassinato de Odete Roitman
ANTÔNIO GONZALEZ – gerente do hotel em Búzios onde César vai trabalhar, no início
BIA SEIDL – Marília (hóspede da pousada de Laís, acabam se envolvendo amorosamente, no final)
BILECO – balconista no bar de Poliana, no início
CAMILO BEVILÁCQUA – Gusmão (advogado consultado por Raquel quando Fátima é presa suspeita da morte de Odete)
CARLOS GREGÓRIO – Gérson (terapeuta de Heleninha)
CARLOS SEIDL – mesário do Alcoólicos Anônimos quando Heleninha ganha sua medalha por um ano sem beber
CASSIANO CARNEIRO – um dos meninos que vendem sanduíche na praia para Raquel, como Gildo
CHARLES MYARA – delegado que atende Raquel quando ela tem sua carteira roubada assim que chega ao Rio, no início
CHICO EXPEDITO – Cunha (coordena algumas reuniões dos Alcoólicos Anônimos, das quais Heleninha participa)
CLÁUDIA RANGEL– uma das modelos candidatas a um editorial de moda na Tomorrow, do qual Fátima também concorre, no início
CLÁUDIA WAGNER – enfermeira de Fátima
DANIELA ESCOBAR como ela mesma, modelo que conversa com Sardinha na Tomorrow
DANIEL FILHO – Rubinho (ex-marido de Raquel, pai de Fátima, morre no início)
DANTON JARDIM – Marcondes (piloto do jatinho de Marco Aurélio, no início)
DENIS CARVALHO – William Cardoso McPherson (dono da empresa de leasing que negocia com a TCA, envolve-se com Heleninha)
DENISE NASCHPTZ SÓ – dublê de Fátima quando ela rola na escadaria do Teatro Municipal do Rio de Janeiro
EDSON FIESCHI – Carlos (amigo de André, namorado de Flávia, no início)
EDUARDO GALVÃO – atropela uma mulher em frente ao bar de Poliana, ela desiste de dar queixa porque ele é rico, no início
EDUARDO MARTINI – gerente do hotel onde Heleninha, bêbada, quebra o bar
ELY REIS – Celmo (toma conta do estacionamento onde Solange guarda seu carro, vê que César fez sabotagem e o chantageia)
ERNANI MORAES – espera com Raquel por atendimento na delegacia, no início
EVALDO LEMOS – detetive de Odete Roitman
EVANDRO LEANDRO – policial que vai à Paladar na noite em que Wálter envenena a maionese
FÁBIO JUNQUEIRA – Fred (amigo de Ivan, o ajuda quando ele está desempregado, interessa-se por Leila, no início)
FERNANDO AMARAL – negocia com Poliana o fornecimento de quentinhas de Raquel para peões de uma construtora, no início
FRANCISCO NAGEN – Guedes (dono da cantina do clube comprada por Poliana e Raquel, no início)
GERMANO VEZANI – homem que bate em Heleninha, que ela conheceu quando ficou bêbada no bar do hotel
GILBERTO BRAGA, como ele mesmo, na festa de dez anos da revista Tomorrow, no início
GISELA ARNAUD – Silvinha (trabalha com Fátima na galeria de arte)
GUILHERME CORRÊA – Mirandinha (amigo de Bartolomeu, denuncia uma negociata envolvendo Marco Aurélio e políticos de Póvoas)
GUILHERME MARTINS – Rodolfo (intermedeia o desvio de 800 mil dólares para Marco Aurélio, no início) / médico de atende Celina quando ela passa mal
HELENA DELAMARE – membro dos Alcoólicos Anônimos, do qual Heleninha participa
HÉLIO RIBEIRO – Dr. Amaral (advogado que prepara a minuta do testamento de Cecília)
HEMÍLCIO FRÓES – chefe de Ivan em seu novo emprego quando ele deixa a TCA
HENRIQUE TAXMAN – Eduardo (amigo de Thiago e André que passa um fim de semana com eles em Búzios)
HENRI PAGNONCELLI – Marçal (diretor financeiro da TCA, no início)
HILEANA MENEZES – gerente da loja onde Fátima trabalha, no último capítulo
HUMBERTO MARTINS – recepcionista do hotel onde Raquel dá uma palestra
IBRAHIM SUED, como ele mesmo, na festa de dez anos da revista Tomorrow, no início
ISAAC BERNAT – vendedor da Casa José Silva, onde Ivan compra roupa para entrar de penetra na reunião da TCA, no início
IVAN DE ALBUQUERQUE – Laudelino (ricaço com quem Aldeíde se casa e a leva para Portugal)
IVAN DE ALMEIDA – Sebastião (porteiro do prédio da garçoniére que Odete montou para César e onde ela é assassinada)
JAIME LEIBOVITCH – médico que faz o parto de Fátima
JAMAICA MAGALHÃES – Jamaica (empregada de Celina)
JOÃO BOURBONNAIS – Wálter (namorado de Odete no episódio da maionese envenenada)
JOHN STANLEY – Mr. Robinson (empresário estrangeiro com negócios com a TCA)
JOYCE DE OLIVEIRA – Rosália (companheira de Raquel na viagem de ônibus de Foz para o Rio, no início)
JUSSARA CALMON – funcionária da redação da Tomorrow
LALA DEHEINZELIN – Cecília Catanhede (irmã de Marco Aurélio, parceira de Laís, morre no decorrer da trama)
LEONARDO FRANCO – funcionário do apart-hotel no qual Fátima se instala depois de vender o filho
LEONARDO JOSÉ – advogado de Ivan no julgamento por corrupção
LEONOR BASSÈRES, como ela mesma, na festa de dez anos da revista Tomorrow, no início
LETÍCIA BASTOS – Marcinha (bebê de Solange)
LINA FRÓES – Ivete (membro dos Alcoólicos Anônimos, do qual Heleninha participa)
LUCINHA ARAÚJO, como ela mesma, na festa de dez anos da revista Tomorrow, no início
LUDOVAL CAMPOS – amigo de Ivan em São Paulo, no primeiro capítulo
LU GRIMALDI – mulher que negocia a venda do filho de Fátima
LUTERO LUIZ – Seu Vargas (funcionário demitido da empresa encampada pelo Grupo Roitman, como Ivan e Santana)
MALICK DOS SANTOS – pivete que rouba a carteira de Raquel assim que ela chega ao Rio, no início
MANOEL ELIZIÁRIO – copeiro na TCA
MARCELO JOSÉ PATELLI – funcionário da TCA
MARCELO SANTOS – pivete pago por Fátima para mentir que viu Solange causando ciúmes em Afonso
MÁRCIA COUTO como ela mesma, modelo de um ensaio fotográfico para a Tomorrow no qual Fátima é figurante
MARCO MIRANDA – Alfredo (gerente do apart-hotel onde Fátima instala César quando retorna ao Brasil)
MARCOS MANZANO – Giovanni (Príncipe de Volterra, com quem Fátima se casa, formando um trio com César, no final)
MARCOS OLIVEIRA – Ângelo (cabeleireiro de Fátima)
MARCUS ALVISI – funcionário da construtora com quem Aldeíde fecha a compra de uma cobertura
MARCOS WAIMBERG – Bernardo (dono do apartamento no Leblon onde César e Franklin moravam no início)
MARIA ISABEL DE LIZANDRA – Marisa (amiga de Raquel em Foz do Iguaçu, no início)
MARIA HELENA VELASCO – Hercília (gerente do restaurante em Jacarepaguá que serve a maionese envenenada)
MARIANA DE MORAES – Vera (garota paga por Marco Aurélio para seduzir Thiago, em Búzios, no início)
MAURÍCIO GIMENEZ – modelo no ensaio erótico no estúdio de Olavo
MIGUEL ROSEMBERG – gerente da empresa na qual Ivan trabalhava em São Paulo, no início
MILA MOREIRA como ela mesma (entrevistada por Mário Sérgio para a revista Tomorrow)
MOACIR PRINA – Guimarães (um dos diretores da TCA)
MOACYR CHAVES – motorista de ônibus, está discutindo na delegacia sobre uma batida quando Raquel chega, no início
MONIQUE LAFOND – Dolores (dona do ateliê de costura que faz o vestido de noiva de Fátima)
ORION XIMENES – taxista que tenta enganar Fátima quando ela chega ao Rio, no início
PATRÍCIA MATTOS – Letícia (secretária de Afonso)
PAULO CÉSAR GRANDE – Franklin (amigo de César, com quem ele dividia um apartamento, no início)
PAULO PILLA – Marcello Castrovilli (namorado italiano de Odete quando ela chega ao Brasil, no início)
PAULO REZENDE – Vasco (porteiro do prédio de Rubinho, está sempre na vila onde moram Poliana e Consuelo)
PAULO VILLAÇA – Gustavo Cortez de Mello (dono da confecção com a qual a Tomorrow fecha uma publicidade, no início)
RENATO COUTINHO – médico que atende Solange quando ela sofre um acidente de carro provocado por César e Olavo
RENATO NEVES – marinheiro que cuida do barco de Odete, fala a ela que César vai viajar com outra mulher
RICARDO FRÓES – Gervásio (detetive contratado por Marco Aurélio para encontrar César)
ROBERTO FROTA – Santana (seria chefe de Ivan, mas a empresa foi encampada pela TCA e os dois acabaram demitidos, no início)
RODRIGO MENDONÇA – Otávio (corretor de imóveis em Búzios)
ROGÉRIO EHRLICH como ele mesmo, fotógrafo em vários ensaios na Tomorrow
ROGÉRIO FRÓES – Delegado Arnaldo (investiga o assassinato de Odete)
ROMEU EVARISTO – Bibinho (meio-irmão de Gildo)
RÔMULO DELDUQUE – repórter na delegacia cobrindo o assassinato de Odete Roitman
SEBASTIÃO VASCONCELOS – Salvador (pai de Raquel, avô de Fátima, morre no início)
SELMO GOLDMACHER – médico de Solange
SÉRGIO FONTA – Bernardo (membro dos Alcoólicos Anônimos, do qual Heleninha participa)
SIMON KHOURY – Cristovão (funcionário público que pode acelerar ou retardar a entrada de material importado comprado pela TCA)
SORAYA JARLICH (RAVENLE) – balconista de uma loja de roupas no shopping
STEPHANIE MUSSKOPH – Rafael (bebê de Fátima)
TÂNIA BÔSCOLI – Zenilda (prostituta amiga de Olavo, com quem Fátima chega a morar quando é expulsa da família Roitman)
THEREZA MASCARENHAS – Cláudia (namorada de Marco Aurélio, no início)
TURÍBIO RUIZ – Gomes (amigo de Salvador e Raquel em Foz do Iguaçu, no início)
VANDA ALVES – Josefa (auxiliar de cozinha de Raquel no restaurante)
VIRGÍNIA CAMPOS – amiga de Fátima em Foz do Iguaçu, no início
VIVI REIS – Flora
WALMOR CHAGAS como ele mesmo, em uma visita à revista Tomorrow
WALNEY COSTA – Detetive Veiga (auxiliar do Delegado Arnaldo na investigação do assassinato de Odete)
YOKO SANTIAGO – Maura
XANDO GRAÇA – Rogério (funcionário da revista Tomorrow)
ZILKA SALABERRY – Rute (ex-empregada dos Roitman, sabe que o filho de Odete morreu por causa dela)
Dulce (arquivista da Tomorrow que confirma a Afonso que Fátima roubou uma foto de Solange e César)
Heloísa Martinelli (corretora com quem Fátima se informa sobre valores de imóveis no Leblon e Nova York)
Rebeca (filhinha de Marina)
Rita (funcionária da pousada de Laís)
elenco de apoio
ADELAIDE PALETTE (ADELAIDE CONCEIÇÃO)
ALENE ALVES DE ANDRADE
CACÁ SILVA
CARLOS NERI
DIANA BURLE
EDUARDO PARANHOS
FREDMAN RIBEIRO
GÉRSON RODRIGUES
GILBERTO PORTO
GILMAR BALTHAZAR
IVAN CORRÊA
IVO CICOGNA
JEFFERSON VINÍCIUS
JUSSARA MOREIRA
KEILAH BORGES
LÚCIA DUARTE
LUÍS VIANNA
MARCELO MOURA
MARCO BECK
MARTA BASTOS
MAURÍCIO REIS
MICHEL CARNEIRO
MIRO VALLE
MURILO
NEY LEONTSINIS
PAULO VILLANUEVA
RENATO FIRMO
RITA VENTURA
SIMONE ROCHA
VANILSON CARNEIRO
– núcleo de RAQUEL (Regina Duarte), mulher simples, honesta, franca e comunicativa. Separada, vivia com o pai, já idoso, e uma filha, em Foz do Iguaçu, Paraná, onde trabalhava como guia de turismo. Após a morte do pai, a filha vendeu sua única propriedade, a casa, e fugiu com o dinheiro para o Rio de Janeiro. Raquel foi ao seu encalço e acabou se estabelecendo na cidade. Para sobreviver, passou a vender sanduíches na praia. Pouco a pouco, foi expandindo seu negócio até tornar-se dona de uma cadeia de restaurantes. Rompida com a filha, vive em conflito por ela ser mau-caráter e alpinista social:
o ex-marido RUBINHO (Daniel Filho, participação), pianista de boate, sem especial talento. Morre no início da trama
o pai SALVADOR (Sebastião Vasconcelos, participação), funcionário da Receita Federal em Foz do Iguaçu. Poderia ter uma ótima situação financeira, se fosse corrupto. Mas é um homem íntegro e honesto, qualidades herdadas pela filha. Morre no início
a filha MARIA DE FÁTIMA (Glória Pires), é o seu oposto: sonsa, interesseira, dissimulada, só pensa em se dar bem na vida com o mínimo esforço, nem que para isso precise roubar, mentir e ludibriar. Cansada da vida sem perspectivas de luxo em Foz do Iguaçu, vende a casa da família e foge com o dinheiro para o Rio, onde pretende arranjar um marido rico que a sustente. A mãe a reencontra mas as duas não conseguem se acertar
o garoto de rua GILDO (Fernando Almeida), acolhido por ela no Rio, torna-se seu protegido e amigo.
– núcleo de IVAN (Antônio Fagundes), homem charmoso, inteligente e um pouco cético. Começa a trama desempregado, em uma situação financeira difícil. Sustenta a ex-mulher e um filho, além de ajudar o pai. Estava tendo dificuldades para conseguir emprego, por ter um ótimo currículo, e acaba omitindo ser tão bem graduado. Assim, aceita trabalhar como operador de telex na TCA, uma empresa de aviação. Ambicioso, aos poucos vai mostrando seu talento e galgando melhores posições até chegar à diretoria. Conhece Raquel por quem se apaixona, apesar de às vezes discordarem em suas visões de mundo. Quando ele e Raquel encontram, por acaso, uma mala com 800 mil dólares, Ivan deseja ficar com o dinheiro, enquanto Raquel quer devolvê-lo. Começa o conflito maior entre ambos. Fátima se apossa da mala e Raquel põe a culpa em Ivan, minando assim a relação dos dois. Eles se separam, apesar de ainda se amarem. Ivan acaba se casando com outra mulher, rica:
a ex-mulher LEILA (Cássia Kiss), um tanto quanto fútil, nunca trabalhou e depende financeiramente dele. Mora com o ex-sogro por comodismo
o filho BRUNO (Danton Mello), pré-adolescente
o pai BARTOLOMEU (Cláudio Correa e Castro), velho redator, sofre dificuldade para adaptar-se ao mundo dos computadores. Acaba demitido, por ser considerado “velho” demais. Quando Raquel ascende profissionalmente, ela o convida para trabalhar consigo
a segunda mulher de Bartolomeu, EUNICE (Íris Bruzzi), simpática, é uma típica dona de casa enfrentando a crise econômica. Amiga de Leila
a filha de Eunice, NANDA (Flávia Monteiro), adolescente de ideias firmes
a empregada no apartamento de Bartolomeu, MARIA JOSÉ (Zeni Pereira), mulher simplória, está na família há décadas
a amiga de Nanda, FLÁVIA (Renata Castro Barbosa).
– núcleo de CÉSAR RIBEIRO (Carlos Alberto Riccelli), bonito, atlético, sedutor, mas sem caráter. Foi um modelo de sucesso, hoje em fim de carreira. Capaz de qualquer coisa por dinheiro fácil. Torna-se amante de Fátima e seu parceiro de golpes:
o amigo OLAVO (Paulo Reis), fotógrafo, auxilia ele e Fátima em suas armações.
– núcleo de ODETE ROITMAN (Beatriz Segall), mulher rica, elegante, arrogante e autoritária. Desde a morte do marido, é a presidente do grupo Almeida Roitman, cuja principal empresa é a TCA, a companhia de aviação onde Ivan trabalha. Morava em Paris, mas retorna ao Brasil para resolver problemas em suas empresas e acaba ficando. Tem conflitos com a filha alcoólatra, a quem não perdoa por sua fraqueza. Manipula a vida dos filhos e humilha os subordinados e todos que estão em posição inferior. Aceita Fátima em sua família, quando ela casa-se com seu filho, já que existe cumplicidade entre as duas. É amante de César e não desconfia que ele é ligado a Fátima. Acaba assassinada:
os filhos: HELENINHA (Renata Sorrah), artista plástica talentosa, mas com a carreira ameaçada por seu vício pela bebida. Mulher frágil e carente, há anos enfrentando uma crise pessoal. Separada, ama o filho. Tem uma relação difícil com a mãe, que não a aceita. Apaixona-se perdidamente por Ivan, que acaba casando-se com ela quando sua relação com Raquel degringola. Mas Ivan estava mais interessado na ascensão social que esta união promove. Logo, o casamento fracassa, o que acarreta uma nova crise em Heleninha,
e AFONSO (Cássio Gabus Mendes), preparado para suceder a mãe na presidência das empresas. Humanista e generoso, tem métodos e personalidade diferentes da mãe, o que gera conflitos entre eles. É envolvido por Fátima, que mira nele o marido rico com quem ela sempre sonhou. Os dois acabam se casando, com o apoio de Odete
a irmã CELINA (Nathália Timberg), o seu oposto: é bondosa, justa e generosa. Não aprova as atitudes da irmã, mas não critica para não gerar atrito. Viúva rica, adora os sobrinhos e faz questão de que eles morem consigo, em sua mansão. É onde Odete se estabelece quando chega ao Brasil
o mordomo na mansão de Celina, EUGÊNIO (Sérgio Mamberti), adora a patroa, mas não consegue conquistar Odete, que o destrata, apesar de seu puxa-saquismo. Um tanto falastrão, é meio esnobe e classista. Profundo conhecedor do cinema clássico americano, vive citando filmes e cenas icônicas
o amigo de Heleninha, WILLIAM CARDOSO MCPHERSON (Denis Carvalho, participação), ex-alcoólatra que a ajuda com sua doença, levando-a aos Alcoólicos Anônimos. Surge na fase final da trama, quando Heleninha separa-se de Ivan e enfrenta sua pior crise. Os dois acabam apaixonados. Infiltra-se na TCA como um simples empregado do CPD, mas é herdeiro de uma das maiores empresas de leasing do país, interessada em negociar com a TCA
o amigo de Celina, QUEIROZ (Paulo Porto), senhor rico e bem apessoado
a empregada na mansão de Celina, MARINA (Ana Lúcia Monteiro), moça simples, colega de Eugênio.
– núcleo de MARCO AURÉLIO (Reginaldo Faria), vice-presidente do grupo Almeida Roitman. Ex-marido de Heleninha, que sofreu muito em sua mão. Mau-caráter, desonesto, inescrupuloso e arrogante, trata mal seus empregados e faz qualquer coisa para se dar bem. Envolve-se com Leila e os dois acabam se casando. Desvia 800 mil dólares da empresa de Odete, quantia que guarda em uma mala. Mas acaba perdendo esta mala, que é encontrada por acaso por Raquel. Após o dinheiro parar nas mãos de Fátima, tenta um acordo com ela. Ao final, Odete descobre o seu roubo e vai tirar-lhe satisfações. É quando ela é assassinada e Marco Aurélio foge do país levando consigo o dinheiro, Leila e o filho dela, Bruno:
o filho THIAGO (Fábio Villa Verde), dele e de Heleninha. Mora com o pai, mas os dois tem uma relação difícil. Marco Aurélio é autoritário e desconfia que o filho seja homossexual, por ele ser um rapaz muito sensível, amante das artes e da música clássica. Thiago se apaixona por Nanda, que não é aceita pela avó, Odete, por ser de família humilde
o primo RENATO FILIPELLI (Adriano Reys), mora em seu apartamento. Homem simpático, chique, diretor de uma sofisticada revista de moda, a Tomorrow. Apaixona-se por Leila no início, e os dois chegam a namorar, mas Marco Aurélio a “rouba” do primo. Já Leila, interesseira, fica com Marco Aurélio por ele ser mais rico e poderoso
seu secretário na TCA, FREITAS (João Camargo), um grande puxa-saco, figura risível
a empregada em seu apartamento DEISE (Nara de Abreu).
– núcleo de SOLANGE (Lídia Brondi), produtora de moda da revista Tomorrow. Bonita, inteligente, moderna, decidida, competente e independente. Na época em que namorava Afonso, conheceu e ficou amiga de Fátima, que lhe roubou Afonso depois de várias armações que separaram o casal. Sonha em ter um filho, mas sozinha, uma “produção independente”. Em uma noite em que Afonso estava bêbado (depois de casado com Fátima), eles têm uma recaída e ela acaba grávida dele. Nasce sua filha, MARCINHA, mas ela esconde de todos a paternidade da menina. Só ao final Afonso fica sabendo que é o pai e os dois reatam:
o amigo SARDINHA (Otávio Müller), com quem divide o apartamento, assistente de produção da Tomorrow
o jornalista MÁRIO SÉRGIO (Marcos Palmeira), que vai trabalhar na Tomorrow. A princípio, os dois vivem às turras, por uma antipatia gratuita. Mas ele acaba apaixonado por ela e os dois têm um envolvimento
as secretárias na Tomorrow: MARIETA (Rita Malot) e SUZANA (Martha Linhares).
– núcleo de ALDÁLIO (Pedro Paulo Rangel), sujeito pateticamente bondoso, simples e boa praça. Por só ver o lado bom das coisas, é chamado de POLIANA. Ajuda Raquel quando ela chega ao Rio e torna-se seu grande amigo e confidente:
a irmã ALDEÍDE (Lília Cabral), simpática, comunicativa e engraçada, é secretária-assistente da diretoria da TCA. Sempre humilhada pelo chefe Marco Aurélio, acaba se demitindo. Vai casar-se com um português rico, mudando completamente de vida. É quando consegue realizar seu maior sonho: ficar famosa
o marido de Aldeíde, LAUDELINO (Ivan de Albuquerque, participação), senhor português que se apaixona por ela. Os dois se casam e vão morar em Portugal. Após a morte dele, Aldeíde volta ao Brasil, completamente mudada e rica, já que herdou a fortuna dele
a vizinha ÍRIS (Cristina Galvão), moça tímida e retraída, por quem se apaixona. Substitui Aldeíde no escritório da TCA onde ela trabalhava. É extremamente eficiente e focada
a avó de Íris, DONA PEQUENINA (Lourdes Mayer), o oposto da neta, é uma senhora bem humorada e despachada. Chegada em um carteado. Vive incentivando a neta a namorar
a faxineira LUCIMAR (Maria Gladys), trabalha em todas as casas da vila. Engraçada, desbocada, fofoqueira e enxerida, se mete e dá palpite na vida de todos. Ao final, fica rica com um prêmio do jogo do bicho.
– núcleo de CONSUELO (Rosane Gofman), vizinha de Poliana na vila, amiga de Aldeíde. Também secretária na TCA, diretamente subordinada a Marco Aurélio. Morre de medo do chefe e de perder o emprego. Moralista, solteirona e pudica, vive criticando o jeitão despachado de Aldeíde. Ao final, com atração por amor bandido, vai apaixonar-se pelo mau-caráter Olavo:
o irmão JARBAS (Stepan Nercessian), que vai trabalhar como motorista dos Roitman. Sujeito simpático e falante, beira a inconveniência. Vive em atrito com Eugênio, que implica com seu jeitão despachado. Interessa-se por Íris e vai disputá-la com Poliana
os sobrinhos órfãos: ANDRÉ (Marcello Novaes), um tipo bonitão e atlético, mas pouco inteligente. No princípio, namorava Nanda, mas ela se apaixonou por seu amigo Thiago, o que o fez romper com ele. Chega a envolver-se com Solange, que acaba não suportando o seu “pouco cérebro”. Também envolve-se com Aldeíde, para o desespero de Consuelo
e DANIELA (Paula Lavigne), moça responsável e eficiente, vai trabalhar com Raquel
o namorado de Daniela, LUCIANO (Jairo Lourenço), que foi colega de trabalho de Ivan quando ele foi admitido na TCA.
– núcleo de LAÍS (Cristina Prochaska), dona de uma charmosa pousada em Búzios, é muito amiga de Celina e Heleninha. Sofre com a morte da companheira, com quem dividia sua vida e a sociedade na pousada:
a parceira CECÍLIA (Lala Deheinzelin), irmã de Marco Aurélio, com quem ele não falava por não aceitar sua homossexualidade. Morreu em um acidente automobilístico, o que desencadeou uma briga judicial entre Laís e Marco Aurélio pelos seus bens
a nova namorada MARÍLIA (Bia Seidl, participação), que conhece na fase final da trama.
Crítica social
Um dos maiores sucessos da teledramaturgia nacional, apontada por parte da crítica especializada como a melhor novela da TV brasileira de todos os tempos.
Vale Tudo deu início à trilogia de Gilberto Braga sobre novelas que se propunham a discutir a ética e moral do brasileiro. Ainda que não assumisse essa proposta, ou a fizesse de forma consciente, Gilberto deu prosseguimento em O Dono do Mundo (1991) e Pátria Minha (1994-1995).
Ismael Fernandes assim citou Vale Tudo em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”:
“Com uma trama contagiante, o trio de autores conseguiu aliar as nuances dos bons folhetins com uma crítica social ao país a partir de uma pergunta comum a milhões de brasileiros: “Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?”. O ano era 1988 e se refletiam como nunca os nossos principais problemas políticos.”
Obra atemporal
Com distanciamento do tempo, a novela tornou-se uma referência e um ícone da cultura pop brasileira. A crítica à corrupção inserida na trama, geralmente associada à política nacional, revelou o quanto Vale Tudo é uma obra atemporal.
Talvez Vale Tudo tenha sido a novela que mais perto chegou da perfeição, como folhetim e como proposta de entretenimento na televisão. Resultado do texto, direção e elenco formidáveis, o que possibilitou a identificação do público com tramas e personagens fáceis de torcer, amar e odiar.
Com uma trama arrebatadora, dinâmica e empolgante, não houve barriga (aquele momento na história em que nada acontece). Em momento algum a novela fez o público perder o interesse. Poucas novelas causaram essa comoção generalizada de forma tão completa e homogênea.
Vale Tudo foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1988. Glória Pires foi premiada como a melhor atriz, Sérgio Mamberti, o melhor ator coadjuvante, e Paulo Reis, o ator revelação do ano. Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela e melhor atriz, para Beatriz Segall.
Autoria e título
A autoria de Vale Tudo é normalmente atribuída só a Gilberto Braga. Porém, a trama também foi assinada por Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.
O próprio Gilberto faz questão de salientar a importância dessa parceria. Aguinaldo Silva, por exemplo, era o responsável por fazer as escaletas (estruturas do roteiro). (Site Memória Globo)
O título originalmente pensado para a novela era Pátria Amada, o que se tornou inviável por já existir como nome de um filme de Tizuka Yamasaki, Patriamada, de 1985.
Sobre o título Vale Tudo, Aguinaldo Silva narrou em seu livro “Meu Passado Me Perdoa” que, pouco antes de estrear, a novela ainda não tinha nome:
“A ‘novela sem nome’ continuou sendo chamada assim até quase à véspera da estreia, com Hans Donner a se desesperar porque, sem o título, não podia fechar a abertura e os créditos. Durante dois dias, por sugestão de Boni, chegou a se chamar Bufunfa, o que provocou uma crise de vômito em Gilberto. Até que, afinal, se chegou ao título com o qual ela se tornaria um clássico da teledramaturgia: Vale Tudo.”
Inspirações
Os personagens Odete Roitman (Beatriz Segall), Maria de Fátima (Glória Pires), César (Carlos Alberto Riccelli) e Marco Aurélio (Reginaldo Faria) retratavam o que havia de ruim e corrupto no país, enquanto Raquel (Regina Duarte) e Ivan (Antônio Fagundes) simbolizavam a vida de milhões de brasileiros.
Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo), Gilberto Braga revelou como criou a trama sobre honestidade:
“Vale Tudo surgiu de uma discussão familiar. Eu estava jantando com meus parentes mais próximos e alguém chamou meu padrinho de medíocre e babaca. O meu padrinho (…) era delegado de polícia e sempre foi conhecido como um policial não-corrupto.
Disseram: ‘Ah, ele foi delegado em Foz do Iguaçu e Belém e poderia estar rico. Todo mundo que foi delegado nestes lugares tem apartamento na Vieira Souto, e ele não tem nada, é pobre’.
Eu questionei: ‘Mas que critério é esse? Isso não é ser babaca. Ele tem uma vida digna. Tenho muito orgulho de ele não ter se corrompido’.
Vale Tudo nasceu dessa discussão, da figura de meu padrinho e da distorção – presente em praticamente todo o país – dos que acham que quem não é corrupto é babaca (…) A discussão já estava no primeiro capítulo, numa cena de Maria de Fátima, personagem de Gloria Pires, discutindo com o avô [Sebastião Vasconcelos].”
Outra inspiração para Vale Tudo foi o filme Almas em Suplício (“Mildred Pearce”, dirigido por Michael Curtiz em 1945, com Joan Crawford e Ann Blyth), de onde se extraiu a trama da mãe simplória (Raquel) que enriquece mas tem o desprezo da filha (Fátima). Na primeira parte da novela, o autor referencia o filme quando Raquel chama uma senhora de Dona Mildred.
Daniel Filho mencionou em seu livro “O Circo Eletrônico”:
“Na primeira sinopse, a filha vendia a casa por volta do capítulo 40 ou 50. Lógico que outras histórias paralelas estariam acontecendo. Mas o tema central não deslanchava. Argumentei: ‘Se a filha não vender a casa no primeiro capítulo e a mãe ficar na miséria, a novela não atingirá seu objetivo’. Ou seja, não deixaria claro seu tema. Denis Carvalho – o diretor – concorda. A presença de Aguinaldo e o jeito conciliador de Leonor deixaram Gilberto seguro para adiantar a novela em 40 capítulos.”
Protagonista honesta demais
Raquel, a personagem de Regina Duarte, foi criticada por ser íntegra e honesta demais, muito certinha, logo, fora da realidade. Gilberto Braga relatou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”:
“Achavam que ela deveria errar também. A própria Regina Duarte tinha grilo com isso. Ela queria errar – estava com ciúme da Maria de Fátima. Todo mundo pedia para a Raquel ter algum deslize. Aguinaldo, Leonor e eu nos reunimos e conversamos seriamente sobre o assunto. Nós três achávamos que a Raquel não podia ter deslizes: se ela tivesse, nós não teríamos novela. Deixamos o público reclamar até o final, porque Vale Tudo se baseava nessa oposição: mãe honesta e filha desonesta.”
Raquel emplacou dois bordões que caíram na boca do povo: “Te mete!”, dito como uma interjeição, e a frase de efeito “Sangue de Jesus tem poder!”
Quem matou Odete Roitman?
O sucesso fez Vale Tudo ser espichada e obrigou os autores a mudarem o rumo de algumas tramas. Foi aí que surgiu o “Quem matou Odete Roitman?”, que, inicialmente, não estava previsto. Na sinopse original, Fátima (Glória Pires) mataria Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Raquel (Regina Duarte) se entregaria à polícia no lugar da filha. Essa trama acabou não acontecendo. Em substituição, Odete foi morta e o mistério de seu assassino rendeu história para mais algumas semanas de novela. (Heloísa Eterna, jornal O Dia, 11/12/1988, TV Pesquisa PUC-Rio)
Aguinaldo Silva revelou em seu livro “Meu Passado Me Perdoa” que Odete Roitman, a princípio, seria assassinada por Marco Aurélio (Reginaldo Faria), mas essa informação vazou na imprensa. Em uma reunião de emergência entre o trio de autores, ficou então decidido que Odete seria morta por um personagem improvável, do qual ninguém pudesse desconfiar. Desse modo, foi escolhida Leila (Cássia Kiss), mulher de Marco Aurélio.
Contudo, o autores não se atentaram para a data em que o assassinato iria ao ar:
“Planejamos a morte da vilã sem nos preocuparmos em saber a data em que o crime ocorreria. E assim, só muito tarde é que nos demos conta: sua violenta morte a tiros seria vista em todos os lares do Brasil na data mais imprópria, a véspera do Natal, dia em que, além disso, a audiência das novelas costuma ser baixíssima!” (“Meu Passado Me Perdoa”, Aguinaldo Silva)
Entretanto, de acordo com matéria do Jornal da Tarde (de 24/12/1988), o assassinato de Odete Roitman foi exibido um dia depois do previsto, à revelia dos autores. No cronograma da novela, a polícia acharia o corpo da vilã no dia 23 de dezembro. Entretanto, por 800 milhões de cruzados (valores na moeda da época), a Globo deixou Odete viva por mais 24 horas por causa de um anúncio de meia página do CODISEG (Comitê de Divulgação Institucional do Seguro) publicado nos jornais O Globo e Jornal do Brasil, com uma foto de Beatriz Segall (o nome Odete Roitman não era citado) e a mensagem “Faça seguro. A gente nunca sabe o dia de amanhã.” A emissora não avisou os autores Gilberto, Aguinaldo e Leonor, que foram pegos de surpresa, já que há dias o assassinato vinha sendo anunciado para o dia 23 de dezembro.
O assassinato de Odete, morta com três tiros à queima-roupa, ocorreu no capítulo 193, no ar na véspera do Natal de 1988. O mistério da identidade do assassino durou apenas treze dias, mas dominou todas as conversas pelo país, tornando-se alvo de apostas, rifas e sorteios. O Brasil parou diante da TV – literalmente – na noite do último capítulo da novela (em 06/01/1989) para conhecer o criminoso. É lembrada até hoje a cena em que Beatriz Segall escorrega na parede, deixando um rastro de sangue, e cai morta. Porém, como a bala atravessou a porta de vidro e não a estilhaçou em mil pedaços?
Para segurar o mistério e não deixar vazar a surpresa, a revelação do assassino foi gravada no dia em que o último capítulo foi ao ar, poucas horas antes de sua exibição. Para despistar, os autores escreveram cinco versões diferentes, com cinco diferentes assassinos. Os atores receberam os roteiros, mas não sabiam qual seria gravado. Até o momento em que o diretor Denis Carvalho dispensou o elenco anunciando que era Leila, personagem de Cássia Kiss, a assassina. A primeira reação da “morta” Odete – Beatriz Segall – foi dar-lhe os parabéns. Razão do assassinato: Leila entrou na sala desabaladamente e disparou contra a pessoa atrás da porta de vidro, sem ao menos identificá-la. Ela pensava que quem estava ali com seu marido Marco Aurélio (Reginaldo Faria) era a amante dele, Fátima (Glória Pires). E, assim, Leila matou Odete por engano.
Nos outros quatro finais escritos (mas não gravados), os assassinos eram César (Carlos Alberto Riccelli), Olavo (Paulo Reis), Bruno (Danton Mello) e Queiroz (Paulo Porto):
– César assassina a ex-amante por vingança. Odete não remeteu os dólares prometidos para uma conta na Suíça em seu nome, eles discutem e César atira;
– Olavo tenta chantagear a empresária, eles discutem, brigam, Odete pega a arma, que acaba disparando: a vilã morre acidentalmente;
– Leila e o filho Bruno vão com Marco Aurélio até o apartamento de Odete, mas ficam esperando no carro. Marco Aurélio esquece sua pasta no carro, de onde Bruno pega a arma. O garoto sobe para entregá-la e assiste à discussão de Marco Aurélio e Odete, que fala em denunciá-lo à polícia. Defendendo o padrasto, Bruno aponta para Odete, fecha os olhos e atira;
– Queiroz chega ao apartamento de Odete para salvá-la. Ele interrompe a discussão de Odete e Marco Aurélio com uma inesperada declaração de amor a Odete, que debocha agressivamente dele, a ponto de fazê-lo perder o controle e atirar, enquanto Marco Aurélio dispara contra ele. (Deborah Dumar, jornal O Globo, 07/01/1989, TV Pesquisa PUC-Rio)
Curiosamente, Beatriz Segall não foi a primeira atriz lembrada para o papel de Odete Roitman: Gilberto Braga pensou antes em Tônia Carrero e Odete Lara.
Odete Roitman proferia os maiores absurdos em um tempo em que o politicamente correto ainda não guiava os programas de TV e o senso comum. Com língua ferina, a vilã nunca economizou preconceito, provocações ou frases ácidas para esculhambar o Brasil e os brasileiros.
Beatriz Segall ficou tão marcada por sua personagem que é impossível não relacionar a atriz à figura de Odete Roitman, pelo fantasma da vilã ter vivido à sua sombra pelo resto de sua vida. Após a conclusão de Vale Tudo, Beatriz, por um bom tempo, se negou a falar de Odete. E só aceitava interpretar papeis de mulheres bem diferentes da vilã, na tentativa de afastar o estigma de “atriz de uma personagem só”. Em entrevista ao site da Veja, em 2011, a atriz se queixou:
“Isso é muito chato, fica repetitivo, chega a um ponto que você não aguenta mais. Pô, eu sou muito mais que Odete Roitman. Já fiz tanta coisa, os papéis mais diversos. Eu sou uma atriz de teatro, não sou uma atriz de um papel só.”
No entanto, a vilã tornou-se um ícone da TV brasileira e uma referência de interpretação para este perfil de personagem. Ao projeto Memória Globo, a atriz declarou:
“Sempre me encabulo quando tenho que falar da Odete Roitman, fico com medo de parecer pretensiosa, e tenho certeza de que não sou. Mas acho que ninguém na televisão brasileira recebeu um presente tão grande como esse.”
Nove anos mais tarde, Beatriz Segall e Glória Pires se reencontraram no remake de Anjo Mau (1997). Beatriz só aceitou entrar na novela se fosse para viver uma personagem boazinha. Na cena de Anjo Mau em que Clô (Beatriz) e Nice (Glória) se conhecem, fazendo uma alusão às suas personagens em Vale Tudo, a primeira diz achar conhecer a outra de algum lugar.
Glória Pires e Regina Duarte só voltaram a atuar juntas em uma novela catorze anos depois: Desejos de Mulher (2002), desta vez vivendo irmãs.
Abordagens e censura
Além da questão da ética e honestidade, Vale Tudo discutiu o drama do alcoolismo, por meio de Heleninha, personagem que marcou a carreira de Renata Sorrah e pela qual a atriz é lembrada até hoje. Depois de mais de vinte anos, cenas e frases de Heleninha bêbada viraram memes na internet, como “Que ano é hoje, Marcaurélio?” e “Toca um mambo caliente aí, DJ!, de quando a personagem dança em uma boate completamente bêbada.
Pela primeira vez, uma novela discutiu de forma explícita a homossexualidade. Nunca antes em nossa Teledramaturgia se falou sobre os problemas pelos quais passam pessoas em relação homoafetiva – no caso, as personagens Laís e Cecília, vividas por Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin. Ainda assim, por conta deste entrecho, a novela enfrentou alguns problemas com a Censura Federal. Diálogos entre Laís e Cecília tiveram de ser reescritos depois que foi vetada a cena em que as duas contavam a Heleninha (Renata Sorrah) sobre os preconceitos de que eram vítimas por causa de seu relacionamento. Os censores ficaram de olho no desenrolar da trama das lésbicas e diálogos inteiros foram veementemente vetados.
Já sobre a morte da personagem Cecília, Gilberto Braga esclareceu em entrevista que não foi por imposição da censura:
“Em Vale Tudo há um folclore. É o caso das lésbicas. A história que eu contei é exatamente igual à que queria contar. Não houve censura. Não houve alterações. Quando criei a personagem de Lala [Deheinzelin], sabia que ela morreria. Isso eu sempre planejei.”
Diálogos corriqueiros que usavam expressões de baixo calão também eram censurados. Nas falas de Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e de César (Carlos Alberto Riccelli), dois personagens amorais, os autores sempre colocavam a interjeição “porra!” no início ou fim das frases. A censura cortava, apesar da linguagem vulgar ter a intenção de sublinhar o mau caráter de ambos. “Puta”, “piranha” e “bicha” também não eram toleradas. Os autores então, por pura provocação, apelaram para a cacofonia para driblar a tesoura. Não adiantou. Em um dos laudos, os censores exigiriam corte das falas de Poliana (Pedro Paulo Rangel) em que ele dizia: “Pô… Raquel… Pô… Raquel… Pô… Raciocina…”
(James Cimino em uma série de reportagens sobre a censura às novelas durante a Ditadura Militar, para o UOL, 15/01/2013)
Vale Tudo, Bebê a Bordo e Fera Radical, as novelas das oito, sete e seis da Globo na época, e Olho por Olho, da TV Manchete, foram as últimas censuradas pela DCDP, a Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão ligado ao Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, extinto com a aprovação da Constituição de 1988 (em setembro deste ano, quando essas novelas estavam no ar).
Cenas marcantes
Muitas foram as cenas marcantes de Vale Tudo que entraram para a história de nossa TV:
– a discussão de Fátima com o avô sobre honestidade no Brasil (primeiro capítulo);
– Raquel vendendo sanduíche na praia quando se depara com Fátima (capítulo 14);
– a primeira cena de Odete, em que ela conversa ao telefone com Celina e só aparecem closes de sua boca e olhos (capítulo 28);
– os discursos de Odete, conservadores, reacionários ou esculhambando o Brasil (como a cena do jantar no capítulo 34);
– Raquel rasgando o vestido de casamento de Fátima (capítulo 80);
– os tapas na cara que Fátima levou, de vários personagens ao longo da trama, em especial o de Solange (capítulo 82);
– Fátima se jogando do alto da escadaria do Teatro Municipal para provocar um aborto (capítulo 108);
– Celina impedindo o refeitório de servir maionese estragada: “Para! Ninguém come dessa maionese de jeito nenhum!” (capítulo 132);
– o flagrante de adultério de Afonso em Fátima e César: “Eu não transo violência!” (capítulo 159);
– os porres de Heleninha, em especial aquele em que ela dança bêbada em uma boate e pede um “mambo caliente” (capítulo 183);
– a revelação de que Odete foi a responsável pelo acidente de carro que vitimou seu filho, e não Heleninha, como se pensava (capítulo 192);
– o assassinato de Odete (capítulo 193) e, depois, a elucidação do crime (último capítulo, o 204);
– o casamento de Fátima com um príncipe italiano (último capítulo);
– Marco Aurélio fugindo do país em um jatinho e se despedindo com uma “banana”, o gesto com os braços (último capítulo).
No acerto de contas entre Solange e Fátima, em que a primeira esbofeteia a segunda (capítulo 82), a personagem de Lídia Brondi usa uma frase atribuída a Abraham Lincoln que ficou famosa na novela: “A gente pode enganar todo mundo por quase todo tempo. Quase todo mundo por todo tempo. Mas não pode enganar todo mundo por todo tempo!”. Gilberto Braga já havia usado essa frase, anteriormente, na novela Água Viva (1980), em um diálogo entre Celeste (Arlete Salles) e Lígia (Betty Faria).
Elenco
Primeira novela dos atores Marcello Novaes, Flávia Monteiro, Otávio Müller, João Camargo, Lala Deheinzelin, Paulo Reis e Renata Castro Barbosa.
Primeira aparição em novelas, em pontas ou pequenas participações, de Humberto Martins, Marcos Oliveira, Edson Fieschi e Lu Grimaldi.
Adriana Esteves, aqui vista pela primeira vez em uma novela, fez figuração no capítulo 10 (exibido em 26/05/1988), na sequência em que várias modelos concorrem a uma vaga para um editorial na revista Tomorrow, do qual Fátima participa.
Vale Tudo marcou a volta de Pedro Paulo Rangel à televisão após um hiato de sete anos. Seu último trabalho havia sido no humorístico Viva o Gordo, em 1981. A última novela foi Dinheiro Vivo, na TV Tupi, em 1979.
Ambientações e figurinos
A casa que serviu de locação e fachada para a mansão de Celina (Nathalia Timberg) é famosa no Rio de Janeiro, por ter sido projetada por Oscar Niemeyer. Localiza-se na Rua Capuri, no bairro de São Conrado. Os interiores foram gravados em estúdio.
Em 2020, Manuela Dias, em sua novela Amor de Mãe, referenciou Vale Tudo na fala do personagem Álvaro (Irandhir Santos), cuja moradia era a mesma locação. Ele afirmou ter comprado a mansão da família Roitman.
Assim como na novela Louco Amor (1983), em que o autor criou uma badalada revista para uma das ambientações da trama – a Stampa -, em Vale Tudo, a fictícia revista Tomorrow englobava um importante núcleo da novela. A Stampa, inclusive, apareceu em Vale Tudo, já que o vilão e ex-modelo César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli) foi capa de uma edição mostrada em algumas cenas. Gilberto Braga voltou com uma revista fictícia em Celebridade (2003-2004): a Fama.
A personagem Solange Duprat, vivida por Lídia Brondi, produtora de moda da Tomorrow, era a mais arrojada e antenada da novela, sempre com os figurinos mais modernos. O corte de cabelo da atriz fez sucesso: de inspiração oriental, em voga na época, era liso, ruivo avermelhado escuro, com uma franja reta em meia testa.
Merchandising
A indústria de alimentos Nestlé, por meio de seu caldo de galinha Maggi, lançou, em pleno Natal de 1988, um concurso para premiar quem adivinhasse a identidade do assassino de Odete Roitman. O prêmio era de 10 milhões de cruzados (valores na moeda da época), um de 5 milhões e cinco de 1 milhão. Nos intervalos da programação da Globo, o apresentador César Filho anunciava a promoção juntamente com a galinha azul animada (mascote da Maggi). (Deborah Dumar, jornal O Globo, 07/01/1989, TV Pesquisa PUC-Rio)
De acordo com o vídeo do sorteio da Nestlé (disponível no YouTube), apresentado por César Filho, foram recebidas mais de 2 milhões e meio de cartas, das quais apenas 5% acertaram a resposta (“Leila é a assassina”). O mordomo Eugênio e Marco Aurélio foram os mais citados (24 e 23%). A vencedora dos 5 milhões de cruzados foi Laura B. de Andrade, de Belo Horizonte (MG). Os outros 1 milhão saíram para Campos do Jordão (SP), Mogi das Cruzes (SP), Petrópolis (RJ), Oswaldo Cruz (RJ) e São Paulo capital.
A Nestlé já era anunciante da novela: o caldo Maggi e o creme de leite foram amplamente divulgados nas cenas em que Raquel (Regina Duarte) vence um concurso de culinária usando os produtos. O merchandising rolou solto em Vale Tudo, com vários anunciantes.
A Gradiente divulgou a sua nova linha de áudio – com CD player, uma novidade para o grande público na época -, por meio de Heleninha (Renata Sorrah) e Thiago (Fábio Villa Verde), nas cenas em que os personagens ouvem música clássica. Ainda o microcomputador Expert MSX, quando Solange (Lídia Brondi) escreve uma reportagem para a revista Tomorrow, e o videogame Atari (também da Gradiente), em cenas com Ivan (Antônio Fagundes) e seu filho Bruno (Danton Mello).
A Du Loren anunciou sua nova coleção de lingerie em uma matéria da Tomorrow, assinada por Solange. O livro História da Camiseta da Hering também teve destaque na Tomorrow.
Ainda: a empresa Etti anunciou o molho de tomate Salsa D’Oro; os personagens bebiam Keep Cooler ou cerveja e guaraná Antarctica; Raquel cozinhava no fogão Semmer; Ivan e Helena compraram um apartamento da Construtora Encol; roupas masculinas eram compradas na Casa José Silva; e pagamentos eram feitos no Banco Real.
E o balneário de Búzios, litoral do Rio de Janeiro, foi amplamente divulgado na novela, já que Laís e Cecília (Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin) tinham uma pousada lá.
(Elane Maciel, Jornal do Brasil, 09/10/1988, TV Pesquisa PUC-Rio)
A publicidade (fora da novela) surfou na repercussão da trama. A Fotóptica, por exemplo, publicou em jornais e revistas: “Se você conseguiu fotografar o assassino de Odete Roitman, entregue o filme na Fotóptica. Enquanto na novela vale tudo para aumentar a audiência, na Fotóptica vale tudo para diminuir o preço. (…) Esta oferta também vale para fotos de inocentes.” (anúncio de meia página publicado na capa do jornal O Estado de São Paulo, de 25/12/1988).
Glória Pires foi garota-propaganda da Caixa Econômica Federal em um comercial que fazia referência a Maria de Fátima: “Eu passei o ano inteiro tentando ficar rica. Não consegui. Agora só tem um jeito: a extração de Natal da Loteria Federal! (…) Com 800 milhões eu faço qualquer coisa, até papel de boazinha!”
Abertura e trilha sonora
A abertura da novela exibia, em ritmo acelerado, uma sequência de fotografias e vídeos com variados temas referenciando o Brasil: bandeira, belezas naturais da flora e fauna, arte popular, futebol, carnaval, praia, pontos turísticos, monumentos, favelas, paisagens rurais e urbanas, etc. Logo no início, entre as imagens, surgiam fotos dos quatro atores protagonistas: Regina Duarte, Glória Pires, Antônio Fagundes e Carlos Alberto Riccelli. Algumas das imagens se quadriculavam, formando uma espécie de mosaico, recurso hoje conhecido como pixelização. (colaboração: André Luiz Sens, blog Televisual)
Gal Costa foi para estúdio gravar especialmente para a abertura da novela a música “Brasil”, de Cazuza, George Israel e Nilo Romero, já gravada por Cazuza, para o filme Rádio Pirata (1987), de Lael Rodrigues.
A trilha nacional foi tão marcante que várias músicas remetem imediatamente à trama e personagens da novela, como “Tá Combinado”, com Maria Bethânia (tema de Raquel e Ivan); “Pense e Dance”, com Barão Vermelho (tema de Fátima), “É”, com Gonzaguinha (tema de locação), “Isto Aqui O Que É”, com Caetano Veloso (tema de Raquel) e “Faz Parte do Meu Show”, com Cazuza (tema de Solange).
Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Vale Tudo, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).
A trilha sonora internacional de Vale Tudo bateu o recorde anterior de vendagem de LPs e K7s: vendeu 1.443.154 cópias, ultrapassando a trilha internacional de Dancin´ Days, de dez anos antes. Este recorde, no entanto, foi novamente batido na sequência, com a trilha internacional da próxima novela das oito, O Salvador da Pátria, que vendeu mais de 1.463 mil cópias. (“Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vincent Villari)
No ranking das trilhas de novelas mais vendidas, o disco internacional de Vale Tudo está em terceiro lugar, perdendo apenas para as trilhas O Salvador da Pátria Internacional (2º lugar) e O Rei do Gado volume 1 (1º lugar). (fontes: Vincent Villari, Som Livre e ABPD)
Numeração bagunçada
Enquanto Vale Tudo estava no ar, estreou outro trabalho de Gilberto Braga: a minissérie O Primo Basílio, exibida entre agosto e setembro de 1988.
A numeração dos capítulos de Vale Tudo é bagunçada. O capítulo da estreia é uma edição dos capítulos 1 e 2, o que acabou desordenando a numeração dos capítulos na primeira semana. Já o capítulo 122 foi dividido em dois na edição, gerando o 122 e o 122-A. No total, foram 204 capítulos escritos e 204 exibidos.
Porém, foram 203 noites com novela (mais a reprise do último capítulo, no sábado), porque no dia 26/08/1988 (uma sexta-feira), a Globo exibiu 2 capítulos seguidos de Vale Tudo, o 90 e o 91. Para impedir que o SBT obtivesse êxito em sua exibição do filme Rambo, Programado para Matar, com Sylvester Stallone (após o capítulo 90 da novela), a Globo apresentou na sequência o capítulo 91, com a intenção de concorrer diretamente com o filme.
Contudo, para contra-atacar, a emissora de Silvio Santos só exibiu seu filme depois dos dois capítulos da novela global. Enquanto ia ao ar o capítulo 91, o SBT manteve, por 50 minutos, um slide estático na tela com os dizeres “Não se preocupe, quando terminar a novela da Globo você vai ver: Rambo”.
Sucesso no exterior
Vale Tudo foi comercializada para mais de 30 países. Exibida em Cuba, em 1993, a novela fez enorme sucesso. Desde Escrava Isaura, produzida pela Globo em 1976 e exibida na ilha em 1985, uma novela não mexia tanto com os cubanos (Folha de São Paulo, 12/07/1993, TV Pesquisa PUC-Rio)
Em 1995, o governo de Fidel Castro resolveu legalizar uma rede de restaurantes privados que funcionava clandestinamente desde 1993, em um arrojado gesto de abrir mão da exploração exclusiva do setor. Esses restaurantes, geridos em âmbito familiar, tinham o nome de “paladares”, assim batizados por causa do nome da empresa de alimentos de Raquel na novela, Paladar.
Versão em espanhol
Em 2002, a Globo, em uma parceria com a Rede Telemundo (cadeia de emissoras abertas voltada para a comunidade latina nos Estados Unidos), produziu uma nova versão de Vale Tudo, em espanhol: Vale Todo, com elenco formado por atores latinos. Porém, o remake não fez sucesso: com previsão de 150 capítulos, terminou no centésimo, com audiência aquém da esperada.
Gilberto Braga desabafou a André Bernardo e Cíntia Lopes, para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“Achei a ideia lamentável e disse isso a eles. O resultado foi a catástrofe que previa. Claro que o tema é universal, mas eles não queriam uma história transgressora. Deviam ter escolhido uma novela mais convencional para o projeto.”
Repetecos
Editada em 129 capítulos, Vale Tudo repetiu o sucesso na reapresentação no Vale a Pena Ver de Novo, entre 11/05 e 06/11/1992, registrando uma das maiores audiências para a faixa vespertina na década de 1990.
Reprisada também no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo), na íntegra, em duas ocasiões. Entre 05/10/2010 e 16/07/2011, à 0h45 (com repeteco ao meio-dia do dia seguinte) – reprise que causou um verdadeiro frisson entre os usuários de redes sociais (como o Twitter), saudosos da novela que viram no passado ou curiosos pela obra famosa que não puderam acompanhar antes. E, novamente, entre 18/06/2018 e 09/02/2019, às 15h30 e, no horário alternativo, à 0h30.
Vale Tudo foi lançada posteriormente em versões romanceadas, em duas ocasiões. Logo após o fim da novela, pela Editora Globo, em livreto, com adaptação de Eduardo Borsato. E em 2008, também pela Editora Globo, na série de livros “Grandes Novelas”: 5 novelas adaptadas por Mauro Alencar com colaboração de Eliana Pace.
Em 2014, a Globo Marcas lançou o box de Vale Tudo, com 13 DVDs.
A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 19/07/2020.
Trilha sonora nacional
01. BRASIL – Gal Costa (tema de abertura)
02. TÁ COMBINADO – Maria Bethânia (tema de Raquel e Ivan)
03. TERRA DOURADA – João Bosco (tema de locação: Búzios)
04. PENSE E DANCE – Barão Vermelho (tema de Fátima)
05. PONTOS CARDEAIS – Ivan Lins (tema de Leila)
06. A SOMBRA DA PARTIDA – Ritchie (tema de Afonso e Fátima)
07. TODO SENTIMENTO – Verônica Sabino (tema de Heleninha)
08. É – Gonzaguinha (tema de locação: centro do Rio)
09. PENSO NISSO AMANHÃ – Nico Resende (tema de Ivan)
10. ISTO AQUI O QUE É – Caetano Veloso (tema de Raquel)
11. FAZ PARTE DO MEU SHOW – Cazuza (tema de Solange)
12. BESAME – Jane Duboc (tema de César)
13. UM MUNDO SÓ PRA NÓS (EYE IN THE SKY) – Gáz (tema de Thiago)
14. SEM DESTINO – Léo Gandelman (tema do núcleo dos ricos)
Sonoplastia: Aroldo Barros
Supervisão musical: Walter D’Avilla Filho
Produção musical: Max Pierre e Aramis Barros
Trilha sonora internacional
01. FATHER FIGURE – George Michael (tema de Marco Aurélio e Leila)
02. WHERE DO BROKEN HEARTS GO? – Whitney Houston
03. LOST IN YOU – Rod Stewart (tema geral)
04. CRYING OVERTIME – Alexander O’Neal (tema de Thiago e Nanda)
05. I GET WEAK – Belinda Carlisle
06. IL FAUT SAVOIR – Charles Aznavour (tema de Odete)
07. BABY CAN I HOLD – Tracy Chapman (tema de Raquel e Ivan)
08. SILENT MORNING – Noel
09. PIANO IN THE DARK – Brenda Russell featuring Joe Exposito (tema de Aldeíde)
10. FREE AS A BIRD – Supertramp (tema de Solange)
11. PARADISE – Sade (tema de Fátima)
12. LION IN MY HEART – Thunder Newcome
13. PINK CADILLAC – Natalie Cole
14. ME IN TUTTO IL MONDO – Ornella Vanoni (tema de Heleninha)
Gerente de produto: Toninho Paladino
Seleção de repertório: Sérgio Motta
Ainda
ADÁGIO EM SOL MENOR – Albinoni (tema de Thiago e tema de Heleninha)
CHANSONG – Tom Jobim (tema de Rubinho)
NEM UM TOQUE – Rosana (da trilha da novela Roda de Fogo) (tocada na festa de aniversário de Fátima, no início)
NEW YORK NEW YORK – Frank Sinatra (tema de Rubinho)
NO AR – Léo Gandelman
PENSANDO EM VOCÊ – Léo Gandelman (tema romântico geral)
SAXSAMBANDO – Léo Gandelman (tema cômico geral)
Tema de abertura: BRASIL – Gal Costa
Não me convidaram pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver toda essa droga
Que já vem malhada antes d’eu nascer
Não me ofereceram nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil! Mostra a tua cara!
Quero ver quem paga prá gente ficar assim
Brasil! Qual é o teu negócio
O nome do teu sócio
Confia em mim!
Não me sortearam a Garota do Fantástico
Não me subornaram, será que é meu fim
Ver TV a cores na taba de um índio
Programada pra só dizer sim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante eu vou te trair…
Gosto de “Vale Tudo”…
Mas não amo!
Acho que em diversos momentos há um bocado de maniqueísmo. A Raquel é muito perfeita! Me cansa um pouco! Cumpre a questão de demonstrar que se pode vencer no país pelo trabalho… Mas… Pode mesmo? Ela fica rica porque vence um concurso e porque a Celina, personagem agradabilíssima, investe dinheiro na sua rede de bifês… Então, ela contou com… a sorte! Sim, essa sorte muito criticada por muitos. Que Raquel luta pra caramba é verdade, mas a virada na vida dela é novelesca, folhetinesca demais, então o pretenso realismo dessa novela cai por terra. Daí, então, não me convence. Quando entra o “Quem matou?”, então, a coisa só piora; para mim, fica insuportável. A novela acaba para mim com o desmascaramento de Odete e a excelente cena entre essa e Heleninha! As atrizes foram impecáveis!!! Depois, a trama se arrasta, ainda bem que por alguns capítulos, apenas…
Enfim, gosto da novela com a Odete, sem ela não me interessa. Gostava do personagem do Daniel Filho, ele fez muito bem o fracassado pianista! Gosto quando Daniel Filho faz personagens fragilizados. Também gostava da Solange, essa sim, uma personagem forte e decidida! A Maria de Fátima era sinistra, mas eu gostava mais da Glória em “Mulheres de Areia” e “Memorial de Maria Moura” – quase esqueço “O tempo e o vento”… No mais, diversos personagens chatos por demais, uma trama movimentada, mas cansativa, com gente querendo o tempo todo se dar bem e passando por cima dos outros. Era novidade em 1988, mas, para mim, não resiste ao tempo. Um remake é temeroso: qual a novidade? Gilberto fez outras tramas de mesmo estilo, mesmo porte, e não decolou – “Paraíso tropical” tem até mais vilões sacanas que César e Fátima, fazendo as mesmas coisas, e não é considerada clássico absoluto. Sei que não dá para comparar, mas há elementos semelhantes, então…
Do Gilberto, sou vidrado em suas minisséries “O primo Basílio” e “Anos rebeldes”, e as novelas “Água viva”, “Dancin’ Days”, “Força de um desejo” e, agora, “Corpo a corpo” – esta, aliás, em reprise no Viva, mostrando que é uma trama com muito mais camadas ambíguas do que “Vale Tudo”, uma história, para mim, das mais sinistras que já vi na TV. Está entrando no meu top 10!.
“Vale Tudo” merece a atenção que tem, pois sua construção narrativa é muito bem feita, a história se encaixa bem, as personagens correm o texto com vigor… Mas não a considero a melhor novela! É como considerar “Cidadão Kane” o maior filme já produzido: nem todos irão concordar, também como a novela, não vejo esse filme o maior – há outros a se considerar. “Vale Tudo” é um grande hit! Verei alguma coisa do pretenso remake por curiosidade – se Fernanda Torres for a Odete, vou assistir com certeza!!!
COM TODA CERTEZA GILBERTO BRAGA ESTAVA INSPIRADO COM ESCREVEU VALE TUDO!!! INESQUECÍVEL!!!
Obra sensacional! Sem palavras para descrever. A cena de quando a Fátima está experimentando o vestido e a Raquel a desmascara para a Odete e a Odete debocha da Raquel é soberba! Pena não te-la acompanhado em 1988 pq só tinha 3 anos.
A novela que mais amei em toda minha vida,é que elenco