Sinopse

Infeliz no casamento, Raquel decide se separar do marido, o empresário Virgílio, no dia do aniversário de dezoito anos da filha do casal, Clara. Disposta a dar uma guinada em sua vida, Raquel se muda com Clara de Petrópolis para o Rio de Janeiro, passando a morar na casa da mãe, Laura, em Ipanema. Ali, se apaixona pelo charmoso, mas rude, Heitor, dono de uma oficina mecânica. Morando com a irmã Irene em um sobrado vizinho do prédio de Laura, Heitor é o típico carioca que gosta de viver a noite, tendo se negado até então a um compromisso amoroso maior. Porém, acaba arrebatado por Raquel.

Após tantos anos de casamento, Raquel tem dificuldades para se entregar ao novo relacionamento, mas Heitor a conquista. O romance não conta com o apoio da mãe e dos amigos de Raquel por causa da diferença de classe social entre os dois. Entretanto, apaixonada, ela se muda para o sobrado do mecânico. Clara sofre com a separação dos pais e fica dividida, especialmente por ter de se afastar do convívio do pai, a quem é muito ligada. Virgílio não aceita a separação, cercando Raquel de todas as maneiras, alardeando que ainda a ama.

Acompanhando a trajetória dos dois está o deficiente auditivo Abel, um rapaz divertido, sensível e inteligente. Porém, sabe-se muito pouco sobre ele. Por trás de tanta simpatia e carisma, Abel esconde suas tristezas e está à procura de sua verdadeira identidade. Sem família, ele se emprega na oficina de Heitor e passa a morar no sobrado. Por causa da proximidade com Abel, Raquel tem a oportunidade de dar aulas para uma turma de deficientes auditivos no instituto onde ele estuda. Ao longo da trama, Abel desperta o amor de Clara e da aeromoça Olívia.

Globo – 20h
de 11 de outubro de 1982
a 19 de março de 1983
137 capítulos

novela de Manoel Carlos
escrita por Manoel Carlos e finalizada por Lauro César Muniz
direção de Roberto Talma, Jorge Fernando e Guel Arraes
direção geral de Roberto Talma

Novela anterior no horário
Sétimo Sentido

Novela posterior
reprise de O Casarão

Novela inédita posterior
Louco Amor

JARDEL FILHO – Heitor Kock
IRENE RAVACHE – Raquel Porto Machado
TONY RAMOS – Abel Spina
DÉBORA BLOCH – Clara Porto Machado
BEATRIZ SEGALL – Laura Porto
GIANFRANCESCO GUARNIERI – Caetano Spina
YARA AMARAL – Sofia Ana Herder
CECIL THIRÉ – Virgílio Machado
PAULO FIGUEIREDO – Horácio Martins
CARLA CAMURATTI – Olívia Mendes
MÁRIO GOMES – Miguel Herder
MIGUEL FALABELLA – Romeu Herder
ISABEL RIBEIRO – Flora Machado
HELBER RANGEL – Germano Machado
BEATRIZ LYRA – Irene Kock
TÂNIA SCHER – Lola
NELSON XAVIER – Zito (Juvenal Arruda)
CAMILA AMADO – Noêmia Arruda
CARLOS KROEBER – Hilário Herder
ÍSIS DE OLIVEIRA – Beatriz Soares
MÁRCIA RODRIGUES – Geny Lima
IVAN MESQUITA – Gil (Gilberto Rezende)
MÔNICA TORRES – Mônica
EDSON SILVA – Gaspar
GÉSIO AMADEU – Pedrinho
MARIA ALVES – Matilde
DUSE NACARATTI – Madalena
MARIA HELENA PADER – Irmã Luzia
THEREZA MASCARENHAS – Zezé

as crianças
MONIQUE CURI – Glorinha (Glória Martins)
OBERDAN JÚNIOR – Rogério Machado

e
ADELAIDE PALETTE (ADELAIDE CONCEIÇÃO)
ALCIONE MAZZEO – Isabel (namorada de Germano, no final)
ANA MARIA SAGRES – Irmã Alzira (professora do colégio)
ANTÔNIO PITANGA – pai de santo consultado por Lola
ARLETE SALLES – uma namorada de Virgílio
BETH WAINBERG
BLITZ como eles mesmos, cantando no aniversário de Clara, no primeiro capítulo
CLÉA SIMÕES – Cida da Luz (parteira que faz o parto de Lola, no final)
HEMÍLCIO FRÓES – propõe um brinde ao amor de Raquel e Virgílio durante a festa de aniversário de Clara
IBAÑEZ FILHO – Gabriel (dono do casarão onde Caetano morou)
ISABELA GARCIA – Simone (amiga de Glorinha)
JOSÉ PRATA (PRATINHA) – Pelé (entregador da floricultura de Flora e Germano)
MANOEL ELIZIÁRIO – José (caseiro na casa de Raquel e Virgílio em Petrópolis)
MARCOS WAINBERG – médico que trata a doença de Gil
MARISE CIGANI – Vera (empregada da casa de Raquel e Virgílio em Petrópolis)
NELSON WAGNER – Amadeu (motorista de Hilário)
NORMA GERALDY- Dona Elza (cliente da floricultura de Flora e Germano)
RUBEM DE BEM – um dos policiais que batem à casa de Irene em busca de Caetano
SIMON KHOURY – advogado de Caetano
VANDA COSTA – mulher de Gabriel
WALDYR SANTANNA – pago por Hilário para passar com um trator no jardim feito em seu terreno baldio
ZÉLIA TOLEDO – Zenaide (funcionária do instituto onde Horácio leciona)
Franco (fotógrafo, novo namorado de Geny)

– núcleo de ABEL (Tony Ramos), deficiente auditivo divertido, inteligente e sensível, usa de todos os meios para se comunicar. Esconde suas tristezas e dores com aparente felicidade. Aos oito anos de idade, teve meningite e ficou surdo. Aos dezoito anos, seu pai, acusado de um crime, fugiu para não ser preso e nunca mais teve notícias. Abel desconhece a identidade da mãe. Frequenta uma escola especializada e vai trabalhar em uma oficina mecânica, aproveitando sua habilidade para consertar objetos:
o pai CAETANO (Gianfrancesco Guarnieri), que surge no meio da trama. Um tipo malandro, de boa lábia. Condenado por ter matado um homem por prática de curandeirismo, fugiu para não ser preso, abandonando o filho. Reaparece na vida de Abel, mas morre de medo de ser preso.

– núcleo de HEITOR (Jardel Filho), homem maduro, meio grosseirão, mas muito charmoso e metido a conquistador. Descendente de holandeses, sonha com a terra natal. Dono de uma oficina mecânica, mora em um sobrado antigo com a irmã solteira. O típico carioca que gosta de viver a noite e que se negou até então a um compromisso amoroso maior. Afeiçoa-se a Abel quando o conhece e leva-o para morar consigo, empregando-o em sua oficina:
a irmã IRENE (Beatriz Lyra), cuida do sobrado, das despesas da casa e do irmão, com muito bom humor
a namorada esporádica LOLA (Tânia Scher), completamente apaixonada. Sofre por ele não ter a intenção de um compromisso firme
os mecânicos que trabalham para ele PEDRINHO (Gésio Amadeu) e GASPAR (Edson Silva)
a vizinha MATILDE (Maria Alves), amiga de Irene, envolve-se com Pedrinho.

– núcleo de RAQUEL (Irene Ravache), professora, formou-se após se casar e nunca exerceu a profissão. Casou-se grávida, incerta de seu amor pelo noivo. Decidiu se separar no dia do aniversário de dezoito anos da filha. Foi embora de Petrópolis para a casa da mãe, no Rio. Conhece Heitor, por quem se apaixona, e os dois vivem um intenso romance. Vai dar aulas no instituto onde Abel estuda:
a filha CLARA (Débora Bloch), moça mimada e voluntariosa. Muito ligada ao pai, sofre com a separação. Acompanha a mãe ao Rio de Janeiro. Não aceita a união dela com Heitor. Vai se apaixonar por Abel
a mãe LAURA (Beatriz Segall), mulher há muitos anos viúva. Conservadora, preconceituosa e apegada às tradições, critica a separação da filha. Nunca simpatizou com Heitor, seu vizinho, a quem considera um homem grosseiro, mantendo com ele uma relação difícil por causa de seu envolvimento com a filha
o ex-marido VIRGÍLIO (Cecil Thiré), dono de uma malharia em Petrópolis. É um homem formal, ama a mulher e quer manter o casamento a todo custo. Para isso, tem o apoio da sogra, que gosta muito dele. Usa de todas as artimanhas para evitar a separação
o jornalista GIL (Ivan Mesquita), cinquentão charmoso que desperta o fogo adormecido de Laura, fazendo-a encarar a vida e as relações de forma diferente. Corre risco de vida por causa de uma doença
a empregada no apartamento de Laura, MADALENA (Duse Nacaratti), falastrona e sem filtro, mete-se na vida dos patrões
a empregada na casa de Virgílio em Petrópolis VERA (Marise Cigani).

– núcleo de SOFIA (Yara Amaral), mulher rica e entediada, tem como distração olhar a praia de binóculos, de sua cobertura. No passado, já casada, tivera um caso com Caetano. Ao longo da trama, descobre-se que é a mãe de Abel que ele não conhecia. Sofia achava que ele tivesse nascido morto. Na verdade, o bebê fora entregue pelo marido de Sofia a Caetano, que prometeu sumir com a criança diante de um bom pagamento:
o marido HILÁRIO (Carlos Kroeber), no passado pagou para Caetano sumir com Abel, quando ele nasceu. Médico rico, é proprietário de imóveis, como o sobrado onde moram Heitor e Irene, o pequeno edifício onde mora Laura e o terreno baldio que separa os dois prédios
os filhos: MIGUEL (Mário Gomes), bonito e esportista. Trancou a faculdade de Medicina e passa o dia na praia ou voando de ultraleve, gerando atrito com o pai. Alegre e bem humorado, leva a vida numa boa,
e ROMEU (Miguel Falabella), o oposto do irmão. Sério, responsável e compenetrado nos estudos, cursa Medicina, como o pai sempre desejou. Rivaliza com o irmão, de quem, no fundo, sente inveja
a amiga de Romeu, MÔNICA (Mônica Torres), colega da faculdade com quem vai se envolver
o motorista AMADEU (Nelson Wagner)
a empregada MARISA.

– núcleo de HORÁCIO (Paulo Figueiredo), professor em um instituto para deficientes auditivos. Mora no mesmo prédio de Laura, de quem é amigo de sua família. É quem encaminha Abel para trabalhar com Heitor. Divorciado, hesita entre a vida independente e os compromissos com a filha adolescente. É um eterno apaixonado por Raquel, gerando muitos ciúmes em Heitor:
a filha adolescente GLORINHA (Monique Curi), está sempre demandando a sua atenção e presença
a ex-mulher GENY (Márcia Rodrigues), atriz sem grande projeção, vive de trabalhos como modelo. Tem alguns conflitos com o ex-marido. Visita a filha com certa frequência
o namorado de Geny, FRANCO, fotógrafo
a funcionária do instituto ZENAIDE (Zélia Toledo)
a amiga de Glorinha, SIMONE (Isabela Garcia)
a professora IRMÃ LUZIA (Maria Helena Pader), freira no colégio onde Glorinha e Simone estudam.

– núcleo de GERMANO (Helber Rangel), irmão mais novo de Virgílio. Pacato e sem muitas ambições, tem uma floricultura com a mulher, por quem é dominado, apesar de ser mulherengo:
a mulher FLORA (Isabel Ribeiro), inteligente e ambiciosa, tem paixão por dinheiro e inveja a posição social e a aparente felicidade de Raquel e Virgílio, criticando e fazendo comparações entre o marido e seu irmão. Com a separação dos cunhados, larga Germano para envolver-se com Virgílio
o filho pequeno ROGÉRIO (Oberdan Jr.), menino prodígio, o que lhe confere encanto e, ao mesmo tempo, certa antipatia. Amigo de Glorinha e Simone
os funcionários da floricultura: ZEZÉ (Thereza Mascarenhas) e PELÉ (José Prata).

– núcleo do pequeno prédio em Ipanema onde moram Horácio e Laura, para onde Raquel se muda no início da trama. O edifício é vizinho do casarão onde moram Heitor e Irene, separado por um terreno baldio, tudo de propriedade de Hilário:
as aeromoças amigas: OLÍVIA (Carla Camuratti), romântica, é assediada por Miguel, mas apaixona-se por Abel e disputa ele com Clara
e BEATRIZ (Ísis de Oliveira), com quem divide o apartamento. Independente, não se prende a namoros. Dá em cima de Miguel
o porteiro ZITO (Nelson Xavier), amigo de Heitor, com quem frequentemente joga pôquer e bebe, às vezes além da conta
a mulher de Zito, NOÊMIA (Camilla Amado), um tanto deslumbrada e leviana, dá em cima de Heitor, o que gera muitas confusões com o marido ciumento.

Novela para Jardel

A história do deficiente auditivo Abel, vivido por Tony Ramos, servia de sustentação para uma proposta ousada para a época: a mulher que quebra com os vínculos do casamento para seguir seus próprios sentimentos – no caso, a personagem Raquel, de Irene Ravache.

No entanto, Manoel Carlos fez a novela para o amigo Jardel Filho, cujo personagem Heitor formava a tríplice de protagonistas com Raquel e Abel. Jardel participou da sinopse, da ideia inicial da novela, conforme depoimento de Maneco ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes).

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo), Maneco contou:
Sol de Verão nasceu em um réveillon, durante um café da manhã no hotel Ceaser Park, no Rio de Janeiro, com Jardel Filho, muito amigo meu, para quem eu estava escrevendo um espetáculo de teatro. Comecei a querer fazer uma novela para ele e escrevi Sol de Verão.”

O primeiro nome pensado para a novela foi Um Amor de Verão. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)
Outro título provisório foi História de um Verão. (Jornal do Brasil, 01/08/82, pesquisa: Maurício Gyboski)

A morte de Jardel

Em outubro de 1982, as chamadas de estreia anunciavam: “Este ano, o verão começa mais cedo. E ninguém será o mesmo depois dele!”.

E de fato não foi. Lamentavelmente, Sol de Verão culminou com a morte de Jardel Filho, quatro meses após a estreia. O ator, então com 54 anos, sofreu um ataque cardíaco fulminante em 19/02/1983, no sábado após o carnaval. Sua morte gerou uma comoção nacional e abalou a todos da novela: autor, diretores, elenco e equipes técnica e de produção.

O primeiro capítulo sem Jardel (de número 121, exibido em 28/02/1983) iniciou com a imagem congelada do ator com a seguinte mensagem, narrada em off por Irene Ravache: “Uma ideia não morre! É uma semente que germina despertando novas ideias. A bandeira de Heitor está em nossas mãos!”.
Em seguida, o ator Gianfrancesco Guarnieri (do elenco) surgiu em cena narrando um texto de Manoel Carlos em homenagem a Jardel Filho, para depois entrar o seguimento da trama.

O último capítulo (de número 137) foi ao ar na sexta-feira do dia 18/03/1983. No dia seguinte – um mês após a morte de Jardel Filho – foi exibido um compacto dos capítulos sem o ator (os 17 últimos).

Saída de Maneco

Com a morte do ator protagonista, a Globo decidiu encurtar Sol de Verão. Porém, precisava de um tempo pois a atração seguinte – Louco Amor, de Gilberto Braga – não havia sequer entrado em pré-produção. Manoel Carlos alegou que não conseguiria levar a trama adiante por muito tempo sem o personagem de Jardel Filho. Então pediu para sair.

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, o autor declarou:
“Quando Jardel morreu, evidente que fiquei muito abalado (…) A Globo estava preocupadíssima com o que fazer com a novela. Sugeri que se assumisse a morte dele na trama, porque o Brasil inteiro sabia que o Jardel havia morrido. Era uma tristeza nacional. Nós faríamos mais 15, 16 capítulos e encerraríamos a novela. (…) Boni me mandou um comunicado dizendo que não daria para ser apenas 15, 16 capítulos, porque a próxima novela não estava pronta. Eu precisaria continuar a escrever os capítulos enquanto preparavam a novela seguinte. Eu discordei e não quis fazer, pedi que dessem a tarefa a outro autor.”

Depois de Sol de Verão, com mais de dez anos de serviços prestados à Globo, Manoel Carlos não renovou contrato com a emissora, permanecendo nove anos afastado. Só retornou em 1991, para escrever a novela Felicidade, e não desligou-se mais.

O afastamento de Maneco da Globo nada tem a ver com Sol de Verão ou com a morte de Jardel Filho, conforme explicou o autor ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“Não foi por causa do episódio do Jardel, mas por causa de um texto que escrevi na revista Veja, falando sobre o comportamento inadequado de um dos diretores da Globo. Isso causou mal-estar na empresa e, quando o meu contrato venceu, não foi renovado, por decisão de ambas as partes. Já não havia clima para continuar lá. Mas, a prova de que foi uma situação circunstancial é que fui chamado a voltar e voltei, em 1991.”

Término tumultuado

Com a desistência de Manoel Carlos, Lauro César Muniz foi acionado e finalizou a novela. Como ele não acompanhava a trama, teve a colaboração de Gianfrancesco Guarnieri e Paulo Figueiredo, atores do elenco. Lauro escreveu os 17 capítulos finais, começando pelo 121, exibido em 28/02/1983.

O primeiro capítulo de Lauro se inicia com a homenagem a Jardel Filho, seguido com a cena de um trator que, destruindo um jardim, derruba e passa por cima da placa escrita “Heitor”, simbolizando a morte do personagem. Em seguida, Raquel (Irene Ravache) convoca os vizinhos para reconstruir o jardim. “A gente não vai se entregar, não. Essa história a gente vai levar até o fim!”, diz a personagem, olhando para a câmera. Fica subentendido assim que Heitor morreu. Os personagens não falam em morte, muito menos na causa, mas se referem a ele com a lembrança de um ente querido que partiu.

O término de Sol de Verão foi tumultuado. Os textos chegavam em cima da hora e as cenas eram gravadas pouco tempo antes de serem exibidas. Lauro César Muniz revelou ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“Eu escrevia o capítulo hoje, que seria gravado amanhã e exibido depois de amanhã. A distância entre o que eu escrevia e o que ia ao ar era mínima. A novela tinha uma frente de apenas um capítulo.”

Tapa-buraco

Diante das dificuldades, a Globo optou por manter a ideia de Manoel Carlos, mesmo sem ele: Sol de Verão terminou em 17 capítulos (3 semanas), tendo seu fim antecipado em dois meses. Na sequência, a emissora reprisou, como tapa-buraco, a novela O Casarão (de 1976), de Lauro César Muniz, em forma compacta (18 capítulos, 3 semanas), para que a nova produção, Louco Amor, pudesse estrear em tempo hábil.

A reprise de O Casarão derrubou a audiência da Globo. A TV Bandeirantes aproveitou então para estrear, com grande alarde, sua nova novela, no mesmo horário, Sabor de Mel, de Jorge Andrade, com muitos profissionais da Globo, inclusive o diretor Roberto Talma, de Sol de Verão. Enquanto O Casarão esteve no ar, a nova atração da Band conquistou alguns pontos a mais. Porém, com a estreia de Louco Amor, a Globo voltou a liderar a audiência com larga vantagem.

Antes da escolha por O Casarão para tapar o buraco na grade, cogitou-se estrear a inédita Anarquistas, Graças a Deus, que estava em produção. Esta só foi ao ar, finalmente, mais de um ano depois, em maio de 1984, às 22h15, como minissérie.

Elenco

Manoel Carlos não criou em Sol de Verão uma protagonista chamada Helena, praxe em suas novelas. De acordo com o autor (no livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”), a única personagem com perfil de Helena seria a de Isabel Ribeiro, mas ela era de uma trama paralela. Assim, Maneco manteve a protagonista com o nome Raquel (Irene Ravache) e batizou a personagem de Isabel Ribeiro de Flora.
“Inicialmente, Raquel seria Helena, mas eu achei que a personagem Flora tinha mais características que eu queria dar a uma Helena. Acabei mudando isso também, já que Flora era uma personagem circunstancial, sem o peso que eu queria. E, assim, mudando várias vezes de ideia, acabei deixando a novela sem uma Helena.”

Destaque para o sensível trabalho de Tony Ramos, como deficiente auditivo Abel. Para compor seu personagem, o ator fez laboratório no Instituto Nacional de Educação de Surdos, onde aprendeu a linguagem e o alfabeto dos sinais e observou os gestos e expressões dos deficientes. Como seu personagem trabalhava em uma oficina mecânica, onde havia os mais diversos ruídos, ele teve de aprender a não piscar quando se batia o martelo ou quando um motor começava a funcionar de repente. (site Memória Globo)

O personagem Abel teve grande repercussão entre o público. Nas escolas, as crianças passaram a reproduzir a linguagem e o alfabeto dos sinais. O jornal O Globo publicou o alfabeto, que também começou a ser distribuído em panfletos nas ruas das grandes cidades. (site Memória Globo)

Retorno de Irene Ravache às novelas da Globo após um hiato de 16 anos (a última havia sido Eu Compro Esta Mulher, em 1966). E de Nelson Xavier, afastado das novelas da Globo há 14 anos (a última foi Sangue e Areia, em 1968) e de Gésio Amadeu, há 12 anos (a última foi A Cabana do Pai Tomás, em 1970).

Por seu trabalho em Sol de Verão, Irene Ravache foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor atriz de 1982 (juntamente com Marília Pêra, pela minissérie Quem Ama Não Mata, Tânia Alves, pela minissérie Lampião e Maria Bonita, e Cleyde Yáconis, pela novela Ninho da Serpente).
Débora Bloch – também de Sol de Verão – levou o prêmio de atriz revelação do ano.
Irene Ravache foi ainda premiada com o Troféu Imprensa de melhor atriz de 1982.

Primeira novela da atriz Duse Nacaratti e dos atores Helber Rangel e Miguel Falabella – que, erroneamente, teve seu sobrenome grafado como “Faiabella” nos créditos da abertura.

O diretor geral Roberto Talma não foi até o fim da novela, deixando a direção a cargo de seus auxiliares, Jorge Fernando e Guel Arraes. Talma deixou a Globo para dirigir a próxima novela da TV Bandeirantes, Sabor de Mel. Com ele, levou Gianfrancesco Guarnieri, recém-saído de Sol de Verão, que praticamente emendou as duas novelas.

Cenografia e locações

Vendida como uma “novela solar”, Sol de Verão teve muitas cenas gravadas em praias cariocas, como Ipanema e Leblon.

A equipe de cenografia da novela, sob o comando de Raul Travassos, construiu em alvenaria, em plena cidade do Rio de Janeiro, todos os ambientes necessários às gravações das cenas externas.

A produção construiu, no bairro do Flamengo, o conjunto composto pelo sobrado onde morava Heitor e a irmã, o prédio onde moravam alguns personagens e o terreno baldio que os separava. (Site Memória Globo)

A novela também teve cenas gravadas no Instituto Nacional de Educação de Surdos, no bairro de Laranjeiras, onde o Professor Horácio (Paulo Figueiredo) lecionava e onde Abel (Tony Ramos) foi estudar.

Trilha sonora

De forte apelo jovem, a trilha sonora nacional era praticamente uma seleção de sucessos das FMs brasileiras que embalaram o verão da passagem de 1982 para 1983, com destaque para “Você Não Soube Me Amar”, música que lançou a banda Blitz para o estrelato; “Tempos Modernos”, primeiro grande sucesso da carreira de cantor de Lulu Santos; “Tempo Quente”, de Nelson Motta e Lulu Santos, gravada por Ricardo Graça Mello; “Coisas de Casal”, balada de Rita Lee e Roberto de Carvalho, gravada pela Rádio Táxi, outra banda de sucesso da época; “O Melhor Vai Começar”, de Guilherme Arantes; “Muito Estranho”, hit romântico que lançou o cantor Dalto; e o tema da abertura, “Tô Que Tô”, de Kleiton e Kledir, gravada por Simone, música que projetou a cantora para o público jovem.

Uma marca de sorvete foi o caso único de merchandising estampado em capas de trilhas de novelas. O LP internacional de Sol de Verão exibia uma moça com o sorvete Sem Nome. A modelo da capa era Norma Dubugras, que aparecia entre os modelos da abertura da novela (também já havia aparecido nas aberturas da novela Chega Mais e da série Amizade Colorida).

Abertura

A abertura da novela lançou itens de moda-praia para o verão de 1983. Gravada em estúdio, exibia moças de maiôs e biquínis, rapazes de sunga, viseiras, óculos, relógios, bijuterias e acessórios de cores berrantes, em corpos morenos besuntados de óleo. Até uma loção bronzeadora que levava o nome da novela (do fabricante Davene) foi lançada comercialmente.

O verão, bem como os elementos que marcam a estação, como a sensualidade, o calor e a praia, foram representados por meio de closes nos corpos bronzeados, brilhantes e molhados. O fundo azul contrastava com a coleção de cores quentes, presentes tanto nos corpos quanto nos trajes de banho e demais acessórios típicos. Aliado às poses e aos movimentos marcados dos modelos, as cores e a fotografia conferiam um aspecto estilizado ao vídeo, lembrando um elegante e sensual editorial de moda-praia produzido em estúdio. (André Luiz Sens, blog Televisual)

Fragmentos

Sol de Verão foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming da Globo) em 19/02/2024, dentro do Projeto Fragmentos, com os 8 capítulos que restaram no acervo da TV Globo: os dois primeiros, os capítulos 69 e 70 (do meio), o 121 e o 122 (os primeiros sem Jardel Filho), o último (nº 137) e o capítulo especial exibido no sábado após o último (com o resumo dos 17 últimos capítulos).

E mais

Outros casos notórios de morte de atores durante as novelas: Amilton Fernandes em Sangue e Areia (1968); Sérgio Cardoso em O Primeiro Amor (1972); Otelo Zeloni em O Conde Zebra (1973); Daniella Perez, assassinada em 1992, enquanto atuava em De Corpo e Alma; Umberto Magnani e Domingos Montagner em Velho Chico (2016), e outros.

Trilha sonora nacional

01. VOCÊ NÃO SOUBE ME AMAR – Blitz
02. MUITO ESTRANHO – Dalto (tema de Abel e Clara)
03. BILHETE – Fafá de Belém (tema de Raquel)
04. TEMPO QUENTE – Ricardo Graça Mello
05. TEMPOS MODERNOS – Lulu Santos (tema de Abel)
06. QUESTÃO DE TEMPO – Nara Leão (tema e Glorinha)
07. TÔ QUE TÔ – Simone (tema de abertura)
08. ESFINGE – Djavan
09. O MELHOR VAI COMEÇAR – Guilherme Arantes
10. TENDÊNCIA – Beth Carvalho (tema de Heitor)
11. TAL QUAL EU SOU – Lucinha Araújo (participação especial Vital Lima)
12. COISAS DE CASAL – Rádio Táxi (tema de Raquel e Virgílio)
13. SÓ O TEMPO – Paulinho da Viola (tema de Raquel e Heitor)
14. SUMIDA – Wando

Sonoplastia: Guerra Peixe Filho
Produção musical: Guto Graça Mello

Trilha sonora internacional

01. BABY I NEED YOUR LOVIN’ – Carl Carlton (tema de locação: Rio de Janeiro)
02. DON’T LOOK BACK – The Korgis (tema de Raquel)
03. ÊTRE – Charles Aznavour (tema de Laura)
04. I DON’T WANNA DANCE – Eddy Grant (tema de locação: Rio de Janeiro)
05. HARD TO SAY I’M SORRY – Chicago (tema de Clara e Abel)
06. WOT? – Captain Sensible
07. HYPNOS – Future World Orchestra (tema romântico geral)
08. SITUATION – Yazoo (tema de locação: Rio de Janeiro)
09. SAVE A PRAYER – Duran Duran (tema de Miguel)
10. VOYEUR – Kim Carnes
11. LOVE LEADS TO MADNESS – Nazareth
12. LOVE AND MY BEST FRIEND – Janet Jackson (tema de Olívia)
13. DO THAT TO ME ONE MORE TIME – Latimore
14. FALLIN’ LOVE – Sunset (tema de Abel)

Supervisão musical: Sérgio Motta

Tema de abertura: TÔ QUE TÔ – Simone

Vem cá de qualquer maneira
Balança minha roseira
Me bate de brincadeira
Me chama de traiçoeira
Me tranca na geladeira
Apaga minha fogueira
Me promete qualquer besteira
Que eu fico toda faceira
Tortura essa brasileira
Me arranha com a pulseira
Me enforca na trepadeira
Pendura minha chuteira
Menino, mas que zoeira!
Cadê meu advogado?

Eu tô que tô, eu tô que tô
La luz a la media boca
Besame mucho loca
Não, isso não…
Me dá coceira…

Vem cá minha compoteira
Balança essa pasmaceira
Me bate com a cabideira
Me chama de lavadeira
Não grita, não dá bandeira
Periga marcar bobeira
Quebrei o pé da cadeira
Cuidado com a cristaleira
Segura, me deu gagueira
Eu juro que é verdadeira
Disfarça e chama a enfermeira
Tá dando uma tremedeira
Mamãe, viva o Zé Pereira!
Cadê meu advogado?

Eu tô que tô, eu tô que tô…

Veja também

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Água Viva

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Baila Comigo

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Viver a Vida (1984)