Sinopse
A população da pequena Bole-Bole quer mudar o nome da cidade para Saramandaia. De um lado estão os Mudancistas, liderados pelos irmãos Evangelista: João Gibão (Sérgio Guizé) e o prefeito Lua Viana (Fernando Belo), que se sentem envergonhados pela origem do nome, relacionado a uma aventura local de D. Pedro I. De outro, o partido da oposição, com os Tradicionalistas, liderados pelo Coronel Zico Rosado (José Mayer), que evocam motivos históricos para manter o nome da cidade.
Enquanto se decide a causa central, Bole-Bole é palco dos maiores absurdos: João Gibão (Sérgio Guizé) possui asas; Zico Rosado (José Mayer) solta formigas pelo nariz; Dona Redonda (Vera Holtz) explode de tanto comer; Tibério Vilar (Tarcísio Meira), de tanto ficar em casa, criou raízes – literalmente; Seu Cazuza (Marcos Palmeira) ameaça cuspir o coração toda vez que se emociona; Marcina (Chandelly Braz), quando excitada, fica em brasa, queimando tudo ao seu redor; e o Professor Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes), além de virar lobisomem, há anos que não dorme.
Enquanto isso, retorna à cidade a bem-sucedida empresária Vitória Vilar (Lilia Cabral). Após ficar viúva, ela volta a Bole-Bole para consertar um erro do passado e acabar com a antiga rivalidade entre as famílias Vilar e Rosado. O confronto teve início no passado, com as desavenças entre seu pai, Tibério, e o falecido marido de Candinha Rosado (Fernanda Montenegro), deixando vítimas em ambos os lados.
A antiga rixa também produziu marcas profundas em seu coração, quando se apaixonou por Zico Rosado. Porém, o romance não resistiu, ante a desistência de seguirem o destino trágico traçado por seus pais. Com a volta de Vitória, o ódio e o rancor de Zico se desmancham no primeiro encontro. A paixão reacende entre os dois, desencadeando uma série de novos conflitos e a revelação de antigos segredos.
SÉRGIO GUIZÉ – João Gibão
JOSÉ MAYER – Zico Rosado
LÍLIA CABRAL – Vitória Vilar
FERNANDA MONTENEGRO – Dona Candinha
TARCÍSIO MEIRA – Tibério Vilar
GABRIEL BRAGA NUNES – Professor Aristóbulo Camargo
DÉBORA BLOCH – Risoleta
VERA HOLTZ – Dona Redonda (Dondinha – Evangelina) / Dona Bitela
MATHEUS NACHTERGAELE – Encolheu
LEANDRA LEAL – Zélia
FERNANDO BELO – Lua Viana
MARCOS PASQUIM – Carlito Prata
LÍVIA DE BUENO – Laura
CHANDELLY BRAZ – Marcina
MARCOS PALMEIRA – Cazuza
ANA BEATRIZ NOGUEIRA – Maria Aparadeira
RENATA SORRAH – Dona Leocádia
ARACY BALABANIAN – Dona Pupu (Eponina Camargo)
LUIZ HENRIQUE NOGUEIRA – Belisário Camargo
ANDRÉ FRATESCHI – Dr. Rochinha (Antônio Rocha)
ÂNGELA FIGUEIREDO – Helena
LAURA NEIVA – Stela
PEDRO TERGOLINO – Tiago
ANDRÉ BANKOFF – Pedro
THAÍS MELCHIOR – Bia (Bibiana)
ZÉU BRITO – Maestro Totó de Almeida
ANDRÉ ABUJAMRA – Maestro Cursino de Azevedo
GEORGIANA GÓES – Fifi
THEODORO COCHRANE – Delegado Petronílio Peixoto
MAURÍCIO TIZUMBA – Padre Romeu
ILVA NIÑO – Cleide
CAROLINA BEZERRA – Dora
CAMILA LUCCÍOLA – Rosalice
VAL PERRÉ – Firmino
DJA MARTINS – Das Dores
e
ADRIANO DE JESUS – motoboy
ALEXIS ABRAHAM – Romildo
ANA CLARA CARDOSO – Vitória (criança)
ANA MANGETH – moradora de Bole-Bole
ANA PAULA BOUZAS – Joana
ANTÔNIO BARBOZA – morador de Bole-Bole
BERNARDO MARINHO – Gilson
BRENO DI FILIPPO – Raul
BRENO DUARTE
CAROLINA BACELLAR
CAROL PACU
CLÁUDIO JABORANDY – Tonho
DIEGO CRISTO – Vantuil (trapezista que namora o delegado, irmão de Maria Aparadeira
GUI INÁCIO
GUSTAVO NOVAES – Celso
JAYLA LENOAR
JOSÉ ARAÚJO – Miro
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Dr. Meirelles
JOSÉ VICTOR PIRES – Zico Rosado (criança)
KAIC CRESCENTE – garoto de Bole-Bole
LADY FRANCISCO – Silmara (Mulher Barbada, mãe de Maria Aparadeira)
LEANDRO DEVELLY – Ramirez
LETÍCIA CHAHAIRA – Adélia (falecida noiva de Aristóbulo)
LUANA MITCHELL
LUCAS LIMA E SILVA
MANOEL PIMENTA – Robério (anão malabarista, pai de Maria Aparadeira)
MARCELLO PANAZIO – morador de Bole-Bole
MARCELO SPÍNDULA
MARCOS OTÁVIO – Dinho (veterinário)
MICHELLE BATISTA – Vitória (jovem)
NATALIO MARIA – morador de Bole-Bole
NATHALIA ALVIM
OLÍVIA TORRES – Candinha (jovem)
RENATO MACEDO – Nestor
RICARDO RICCO
RICHARD REBELO
ROBERTO LOPES – preso da delegacia
RODRIGO DOURADO – Zico Rosado (jovem)
ROSANA PRAZERES – moradora de Bole-Bole
SÉRGIO MONTE – caminhoneiro que pergunta a Zélia onde fica Bole-Bole
YURI RIBEIRO
– núcleo de JOÃO GIBÃO (Sérgio Guizé), morador da pequena cidade de Bole-Bole, no Nordeste brasileiro. Idealista, sonhador, introspectivo e solitário, tem muitos conflitos. Sofre por ter nascido com asas. Com medo de ser ridicularizado, esconde-as sob um gibão. É apaixonado pela namorada, mas nunca se relacionou intimamente com ela por medo que um possível filho herde sua sina. Possui um dom especial: tem visões, consegue prever o que vai acontecer. Isso faz com que parte da população da cidade tenha medo dele:
o irmão LUA VIANA (Fernando Belo), é o prefeito apartidário de Bole-Bole. Tenta se manter distante da disputa entre as famílias rivais da região e os dois partidos, o saramandista e o bolebolense. Conciliador e querido pelo povo, é um homem honesto, ético e fiel. Mas há quem o acuse de ficar em cima do muro. De origem humilde, progrediu na vida com dedicação aos estudos, que concluiu na capital
a mãe DONA LEOCÁDIA (Renata Sorrah), viúva, mulher sensível, modesta e respeitada na cidade. Tem força e ternura ao mesmo tempo. É artesã, faz trabalhos em renda e couro. Tenta fazer Gibão entender que as diferenças não podem ser motivo de vergonha. Usa uma grande tesoura de jardinagem para aparar as asas que o filho esconde.
– núcleo de VITÓRIA VILAR (Lília Cabral), empresária de sucesso, vivia em São Paulo. Volta a Bole-Bole ao ficar viúva, após trinta anos morando fora. É uma mulher voluntariosa, temperamental e geniosa, mas também é bem-humorada, inteligente e vaidosa. Tenta lutar contra o seu coração, mas seu corpo entrega o que sente: ela, literalmente, se derrete quando está apaixonada:
o pai TIBÉRIO (Tarcísio Meira), um homem violento e prepotente no passado que hoje passa os dias em casa, interagindo pouco, sentado em uma poltrona. De tanto ficar imóvel, está literalmente criando raízes. Manteve a rixa que seus antepassados tinham com uma família inimiga. Fala pouco, cochila muito e se prende às lembranças do passado
os filhos: ZÉLIA (Leandra Leal), formada em veterinária, ama a natureza e os animais. Geniosa e briguenta como a mãe, é a favor das mudanças na cidade para acabar com a corrupção dos poderosos. Por causa disso, entra em conflito com o noivo, Lua, o prefeito apartidário. Líder dos saramandistas, é radical nas suas posições políticas,
PEDRO (André Bankoff), rapaz bonito, atlético e briguento. Foi um adolescente difícil e rebelde até passar uns tempos com o avô e se descobrir um homem do campo. Administra com eficiência a fazenda da família, mas detesta receber ordens ou ser cobrado,
e TIAGO (Pedro Tergolina), o caçula. Tímido, estudioso e inteligente. Morava com a mãe em São Paulo e não entende por que os irmãos gostam de viver no campo. Gosta da agitação e do barulho da cidade grande, é ligado em tecnologia e tem uma sensibilidade maior do que os rapazes de sua idade
a governanta CLEIDE (Ilva Niño), sensata e fiel aos patrões. Viúva sem filhos, tem orgulho de trabalhar há várias gerações para a família Vilar.
– núcleo da família de ZICO ROSADO (José Mayer), fazendeiro poderoso, descendente dos fundadores de Bole-Bole. Dono de canaviais e de usina de açúcar e álcool. Uma de suas lutas é manter o nome da cidade, orgulho de sua família. Não admite perder a sua posição para os jovens mudancistas. É aferrado ao poder, arrogante e egoísta. Em situações de raiva, bota formigas pelo nariz. Inimigo da família Vilar, no passado envolveu-se com Vitória e foi abandonado por ela. Refez a vida, mas nunca esqueceu a rejeição do primeiro amor. Odeia Vitória, mas, por baixo do rancor, ainda há amor e desejo, que reacendem com o retorno dela:
a mãe DONA CANDINHA (Fernanda Montenegro), matriarca que ainda guarda a atitude poderosa de quem foi líder do clã, ao ficar viúva cedo. Costuma conversar com galinhas “imaginárias”, que só ela vê. A família acha que está ficando caduca, mas é esperta e percebe tudo o que acontece à sua volta. Foi a paixão da juventude de Tibério Vilar
a mulher HELENA (Ângela Figueiredo), passou por um grande sofrimento ao perder o filho em uma emboscada armada por Tibério Vilar. Seu alento é a neta, que trata como filha. Mulher culta, se veste bem. Gosta do marido e evita contrariá-lo, sem ser submissa. Mas ele não a ama
a neta STELA (Laura Neiva), órfã. Jovem moderna e tecnológica, apesar de ter crescido na fazenda. De personalidade firme, é inteligente e meiga. Apaixona-se por Tiago Vilar, com quem viverá um romance ao estilo Romeu e Julieta, por causa da rixa entre suas famílias. Suas lágrimas têm um poder especial: fazem renascer algo que estava sem vida, como uma flor murcha, por exemplo
a filha LAURA (Lívia de Bueno), bela, sensual e impetuosa, tem uma relação difícil com o pai. Na juventude, foi enganada por um malandro, que a seduziu e a abandonou. Foi embora da cidade anos atrás, deixando o noivo. Volta a Bole-Bole mais experiente e menos sonhadora e ingênua
o afilhado e braço-direito, CARLITO PRATA (Marcos Pasquim), dissimulado, ambicioso e mau-caráter. Mas com seu jeito encantador e sorridente, consegue esconder sua verdadeira índole. Morava no Rio de Janeiro e volta a Bole-Bole para ajudar o padrinho a impedir a mudança de nome da cidade. Enganou Laura no passado e, ao reencontrá-la, tenta seduzi-la de novo
o capataz FIRMINO (Val Perré), realiza serviços pouco ortodoxos para o patrão sempre que necessário. É forte, rústico, calado, competente e fiel
e empregada DAS DORES (Dja Martins), mãe de Firmino, uma das poucas pessoas que têm paciência com Candinha. Seu sonho é que o filho abra o próprio negócio e se case com uma boa moça. Tem medo da influência que o patrão exerce sobre o filho.
– núcleo de SEU CAZUZA (Marcos Palmeira), conservador e metódico, é o dono da única farmácia da cidade. Nas discussões políticas, nas quais sempre defende Zico Rosado, costuma se exaltar e botar, literalmente, o coração pela boca. Vive discutindo com a mulher para saber quem dá a última palavra:
a mulher MARIA APARADEIRA (Ana Beatriz Nogueira), ex-parteira oficial da região, hoje, não tem mais trabalho. É fofoqueira, ambiciosa e exibida. Sonsa, fala mal de todo mundo pelas costas. É tradicionalista, tem medo do novo e acha que todos os problemas da cidade são causados pelos mudancistas. Tem horror a quem foge do padrão
a filha MARCINA (Chandelly Braz), moça simples e romântica, ama João Gibão e sofre por saber que ele esconde um segredo. Seu corpo arde de paixão pelo namorado a ponto de inflamar tudo ao redor. Os pais são contra o namoro, pelo simples fato de acharem João Gibão “diferente”.
– núcleo de ENCOLHEU (Matheus Nachtergaele), chefe de gabinete do prefeito Lua Viana. É apaixonado pela mulher e eles têm uma relação intensa e sensual. Considera o corpo da esposa perfeito e uma tentação. Na garotice, um boi zebu quebrou todos os ossos do seu corpo. Desde então, passou a fazer previsão do tempo: conforme o osso que dói, ele sabe o tempo que vai fazer no dia seguinte:
a mulher DONA REDONDA (Vera Holtz), seu verdadeiro nome é EVANGELINA, mas ganhou o apelido por causa de suas formas avantajadas. É voluptuosa, come com prazer e sem culpa. Sensual e apaixonada pelo marido. Tradicionalista ferrenha, é rabugenta e intolerante. Adora opinar na vida dos outros, mas não admite que falem de sua vida. No decorrer da trama, vai explodir de tanto comer. É quando chega à cidade a sua irmã, BITELA, idêntica fisicamente
a filha BIA (Thais Melchior), moça bonita, a favor das transformações de Bole-Bole. Administra o site “Saramandaia já”, que é porta-voz dos mudancistas. Namora Pedro Vilar e sofre porque ele não quer saber de compromisso.
– núcleo do PROFESSOR ARISTÓBULO CAMARGO (Gabriel Braga Nunes), com seu discurso articulado e rebuscado, é o orador oficial dos eventos de Bole-Bole. Tímido e recatado, veste-se com ternos escuros e faz questão de ser exemplo de conduta irrepreensível. Não dorme há mais de dez anos e se transforma em lobisomem à meia-noite de quinta para sexta-feira. Aceita o estigma com naturalidade, embora esconda de todos esse fato:
a mãe EPONINA, a DONA PUPU (Aracy Balabanian), senhora risonha, divertida e meio avoada. Chama o filho de “Neném”, afinal, é o oitavo filho, o único homem, depois de sete meninas que não vingaram
o pai BELISÁRIO CAMARGO (Luiz Henrique Nogueira), no passado, foi esquartejado por malfeitores, que deixaram apenas a cabeça na soleira da porta de casa. A viúva recolheu o que restou do falecido e trata-o com todo carinho e naturalidade. A cabeça vive dentro de uma redoma de vidro. É simpático e interage com todos, embora não fale, já que, quando foi despescoçado, perdeu as cordas vocais.
– núcleo de RISOLETA (Débora Bloch), dona da pensão frequentada pelos homens, é rejeitada pelas mulheres de Bole-Bole, que sequer a cumprimentam. É inteligente, divertida, sensual e provocante. Apaixonada por Aristóbulo, seu maior desejo é vê-lo transformar-se em lobisomem. Esconde um segredo: é a mãe de Stela, que desconhece esse fato. Foi afastada da filha por imposição de Zico Rosado, cuja família nunca viu com bons olhos o envolvimento dela com o falecido filho dos Rosado:
o pensionista DR. ROCHINHA (André Frateschi), o único médico da cidade. Sofreu uma desilusão amorosa no passado e nunca mais se refez emocionalmente: foi abandonado por Laura e, até hoje, vive pelos cantos com a roupa amassada e barba por fazer. É saramandista, mas circula bem entre os bolebolenses
as meninas que trabalham na pensão: ROSALICE (Camila Lucciola), bonita e provocante, tem uma queda por João Gibão, mas não é correspondida. Vive se atirando para os homens e não ouve os conselhos de Risoleta para que seja um pouco mais discreta e recatada,
e DORA (Carolina Bezerra), bonita, delicada e tímida, sonha encontrar o grande amor de sua vida, casar-se e ter filhos. É apaixonada pelo Dr. Rochinha.
– demais moradores de Bole-Bole:
MAESTRO TOTÓ (Zéu Britto), saramandista ferrenho. Trabalha na barbearia e é regente da Lira Euterpiana. Divertido e bem-humorado, é viúvo e não tem filhos
MAESTRO CURSINO (André Abujamra), bolebolense, é resmungão e teimoso. Regente da Filarmônica Bolebolense, passa o dia às turras com seu rival, o Maestro Totó, com quem trabalha na barbearia. Casado e frequentador da pensão de Risoleta
FIFI (Georgiana Góes), mulher do Maestro Cursino. Tradicionalista, com medo do que é novo e desconhecido, vive sob a influência de Maria Aparadeira e de Dona Redonda
DELEGADO PETRONÍLIO (Theodoro Cochrane), prefere ficar em cima do muro quando o assunto é a briga entre saramandistas e bolebolenses. Íntegro, respeitador e sem vícios, fez voto de castidade. É tão boa gente que trata o único preso da delegacia como se fosse hóspede
PADRE ROMEU (Maurício Tizumba), procura se manter distante das desavenças políticas da cidade. Conhece o segredo de João Gibão e o apoia. Sempre freia as intenções das pessoas que querem usar a igreja para favorecer as causas políticas.
Adaptação
Nova versão da novela clássica de Dias Gomes, originalmente exibida em 1976. A adaptação coube a Ricardo Linhares, que já bebeu do realismo fantástico em novelas como Pedra Sobre Pedra (1992), Fera Ferida (1993-1994) e A Indomada (1997), escritas com a parceria de Aguinaldo Silva.
A intenção de Ricardo Linhares foi tomar a história original mantendo a sua essência, sem descaracterizá-la, mas modernizando-a e trazendo tramas e personagens para os dias atuais. E assim costurou outra novela.
O autor aumentou o tom da fantasia e criou novos personagens, como Tibério Vilar (Tarcísio Meira), que criou raízes de tanto ficar em casa, e Vitória (Lília Cabral), que derretia de amor por Zico (José Mayer).
“O que eu mais aproveitei da história do Dias foram esses personagens emblemáticos. Mas as histórias são outras, não é simplesmente um remake”, explicou o autor.
Proposta estética
A proposta estética era completamente diferente da vista na obra original. Se na Saramandaia dos anos 1970, Dias Gomes apresentou um microcosmo do Brasil por meio de um povoado no Nordeste brasileiro, com sotaque e referências à literatura de cordel, a nova novela foi por outro caminho: sua trama podia ser passar em qualquer lugar no interior do Brasil e a estética lembrava modernas produções de fantasia do cinema americano, com inspirações no diretor Tim Burton e em filmes da franquia Harry Porter.
A estética “timburtoniana” deu margem a alguns momentos emocionantes, de pura fantasia e bom gosto, como o voo de Gibão com sua amada Marcina (Chandelly Braz), a transformação do casal Candinha e Tibério (Fernanda Montenegro e Tarcísio Meira) em árvore, e até a explosão de Dona Redonda e as transformações de Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) em lobisomem.
Audiência modesta
A audiência não acompanhou. Ou não pôde acompanhar: o horário ingrato pode ter sido um dos vilões, já que raramente a novela foi apresentada antes das 23h30. A trama fechou com uma média de 15 pontos no Ibope da Grande São Paulo, considerada modesta quando comparada com a das produções dos anos anteriores (Gabriela, 18, e O Astro, 19).
Por um momento, no início da trama, a história priorizou o romance maduro e insosso entre Zico Rosado e Vitória Vilar (José Mayer e Lília Cabral), o que pode ter afastado o telespectador. A novela melhorou quando as discussões políticas e as esquisitices dos personagens passaram a ser o centro das atenções.
Momento político
O momento político se fez presente na novela. Se em 1976, a trama fazia uma metáfora com a ditadura do Regime Militar que assolava o país, nesta nova versão, o público reconheceu na história o escândalo do Mensalão e as manifestações populares que tomaram conta do Brasil entre junho e julho de 2013. Pouco antes da estreia de Saramandaia, vários movimentos de manifestantes levaram milhares de pessoas às ruas em protesto.
O momento tornou-se oportuno para a novela. Os caras-pintadas dos anos 1990 e os jovens que fizeram a “primavera árabe” apareceram refletidos no “movimento saramandista” da trama.
“A primeira novela era atemporal, mas esta é fincada nos dias de hoje – os personagens têm celular, tablet, usam internet e tudo o mais. É um grande desafio para o realismo fantástico”, observou Ricardo Linhares na época do lançamento.
“A novela original trazia uma metáfora da ditadura, que não caberia mais usar. Mas hoje em dia temos outro tipo de ditadura: a da intolerância às diferenças e a dificuldade de aceitar comportamentos fora dos padrões. O plebiscito para a mudança do nome é uma metáfora para o começo de um novo tempo.”
João Gibão (Sérgio Guizé) e o Professor Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) foram os baluartes deste movimento. Os personagens viviam à margem e “saíram do armário” – expressão fartamente usada na novela que traçou um paralelo pertinente com a questão LGBTQIA+, com perspicácia e sem didatismo.
Elenco
Com um elenco estelar, os destaques foram Sérgio Guizé (João Gibão), José Mayer (Zico Rosado), Vera Holtz (Dona Redonda), Matheus Nachtergaele (Encolheu), Gabriel Braga Nunes (Professor Aristóbulo), Débora Bloch (Risoleta), Fernanda Montenegro (Dona Candinha) e Aracy Balabanian (Dona Pupu).
Na novela, o padroeiro da fictícia cidade de Bole-Bole era São Dias, que tinha uma igreja em seu nome – uma homenagem a Dias Gomes, o autor da obra original.
Também para reverenciar a obra de Dias Gomes, Ricardo Linhares fez uso de uma verborragia explícita nos diálogos de Saramandaia, que remetia ao personagem Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) de O Bem-Amado (1973).
Efeitos especiais e caracterizações
Saramandaia apresentou um apuro técnico dos mais avançados, com efeitos especiais dignos de produções hollywoodianas.
Os efeitos especiais que faltaram na novela original encantaram o público nesta nova versão. O maquiador inglês Mark Coulier, premiado pela caracterização de Meryl Streep no filme A Dama de Ferro (2011), foi consultor da equipe que desenvolveu a roupa especial que deixava Vera Holtz gorda.
“Os efeitos da novela original parecem toscos hoje, mas foi feito o que era possível na época. Antigamente, a Dona Redonda era gorda porque a Wilza Carla era gorda. Já a Vera é gorda apenas em cena. O Gibão só mostrava as asas na última cena do último capítulo. Agora, elas aparecem logo no primeiro capítulo”, disse Linhares.
A preocupação dos profissionais envolvidos no processo de “explosão” e transformação da personagem Dona Redonda foi garantir mobilidade à atriz Vera Holtz.
“Não podíamos perder suas expressões, seus movimentos”, disse Marcelo Dias, supervisor de caracterização, que trabalhou para que o corpo da personagem não ficasse enrijecido e chegasse ao resultado mais favorável.
Dez tipos diferentes de material foram utilizados nos cinco processos que deram vida a Dona Redonda. Em gordas camadas, seu corpo exigiu o desenvolvimento de técnicas de ventilação e hidratação para que a atriz não sofresse com o calor e a transpiração excessiva.
“O tecido espumoso é airado, distancia o corpo da Vera da prótese. É um respiro pra ela”, comentou Marcelo.
Para a composição do lobisomem (Gabriel Braga Nunes), a prioridade foi trabalhar com materiais translúcidos que permitissem rápida adesão à pele real e facilidade na pintura de tons amarronzados. O silicone utilizado ficava justo ao corpo do ator, dando formato à musculatura do lobisomem, e ajudava na colocação do pelo. Pela primeira vez, os técnicos utilizaram uma escultura e um molde em fibra de vidro para desenvolver o nariz do personagem em silicone. Quando encaixado ao rosto do ator, era impossível ver as marcas ou emendas na pele real. Todo esse processo, de encaixe do nariz e das demais partes do corpo do lobisomem ao do ator, levava cerca de cinco horas para terminar.
A família de Aristóbulo também mereceu destaque. A cabeça de seu pai, Belisário, foi moldada e pintada a partir do escaneamento do rosto do ator Luiz Henrique Nogueira, para então ser encaixada na redoma de vidro fabricada pela equipe de produção de arte. A caracterização da divertida Dona Pupu (Aracy Balabanian), mãe de Aristóbulo, foi inspirada na estilista inglesa Vivienne Westwood. Seu cabelo laranja gerava certa estranheza, liberando-a da sisudez das tradições locais.
O objetivo da direção da novela sempre foi usar as possibilidades da computação gráfica, como retoques virtuais e composições 3D, da maneira mais realista possível, dentro da linguagem fantástica da trama. Por isso, o casamento entre o efeito mecânico e o efeito digital foi fundamental.
Locações e cenografia
A novela teve cenas gravadas na cidade de Barreirinhas, nos Lençois Maranhenses. As cenas de fazenda foram gravadas em Bananal, São Paulo.
A preocupação da equipe de cenografia, liderada por May Martins, foi imprimir ecletismo na cidade cenográfica. O desafio era criar um lugar improvável, porém possível, e mostrar que Bole-Bole era, na verdade, a união de várias cidades brasileiras, das grandes às menores.
Para a morada do Professor Aristóbulo, a cenografia se inspirou em construções inglesas.
“A casa do Aristóbulo foi pesquisada em um site especializado em fotos de casas abandonadas. E os filmes de Tim Burton também têm uma influência forte neste trabalho. É como se a casa estivesse parada no tempo”, explicou a cenógrafa May Martins.
Além de filmes de Tim Burton, a casa de Aristóbulo também tinha referências em Harry Potter.
Já Dona Redonda morava em uma casa que remetia a um cupcake. A ideia foi construir com base em um doce, sem ares de desenho animado. “Costumo brincar que a Redonda é um art nouveau com confeitos”, brincou May Martins.
Trilha sonora e abertura
O produtor musical Sérgio Saraceni contratou mais de vinte músicos para tocar de verdade nas gravações da novela. Na trama existiam duas bandas, de dois maestros rivais, Cursino (André Abujamra) e Totó (Zéu Britto).
“Pavão Mysteriozo”, do compositor Ednardo, foi a única música da versão de 1976 a entrar na trilha sonora da nova Saramandaia. Não mais como a canção de abertura, mas como tema de João Gibão.
As pinturas de traços soltos, coloridos e de tonalidades fortes e vibrantes que compunham a abertura da novela, feitas à mão e depois digitalizadas, traziam elementos dos personagens da trama.
“O processo é uma mistura de 2D com 3D. Foram pintadas em camadas, para que pudessem ser digitalizadas e aplicadas em modelo 3D, onde eram animadas e ganhavam a profundidade do universo tridimensional. Foram compostas também sobre vários efeitos, para dar essa impressão de tinta, montando e desmontando as artes”, explicou o responsável pelo projeto Alexandre Pit Ribeiro. (Gshow)
Os desenhos eram do artista gráfico Mello Menezes, que foi também responsável pelas ilustrações das aberturas das novelas Mandacaru (1997-1998), Gabriela (2012, o remake) e Velho Chico (2016).
E mais
A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 18/09/2023, dentro do Projeto Originalidade.
A COR DO DESEJO – Ney Matogrosso (tema de Vitória e Zico)
ADORAÇÃO – Felipe Catto (tema de Marcina e João Gibão)
BOLE-BOLE – Péricles (tema de locação: Bole-Bole)
CAPIM NOVO – Luiz Gonzaga
CHÃO, PÓ, POEIRA – Gonzaguinha (tema de locação: Bole-Bole)
ENQUANTO EU PENSO NELA – Zélia Duncan
IMAGINAÇÃO – André Abujamra (tema de Dona Candinha e Tibério)
JECA TOTAL – Gilberto Gil (tema geral)
LINDO LAGO DO AMOR – Adriana Calcanhotto (tema de Stela e Tiago)
O CIÚME – Deny e Dino (tema de Zélia e Lua Viana)
O TEMPO SOA – Quinho
PAVÃO MYSTERIOZO – Ednardo (tema de João Gibão)
SARAMANDAIA – Sérgio Saraceni, Rodrigo Shá, Zé Canuto e Tim Malick (tema de abertura)
SE NÃO FOR AMOR, EU CEGUE – Lenine (tema de Risoleta e Aristóbulo)
XAMEGO – Fafá de Belém
História chatíssima de Zico Rosado e Vitória Vilar, tentaram fazer um Murilo Pontes e Pilar Batista do século 21 e estragaram a novela. Aliado ao horário que as vezes tinha início lá para as 23:30h acompanhar esse remake se tornou “dose para Ricardo Coração de Leão”.
Amei assistir esse remake de Saramandaia em 2013.Leandra Leal,Lilia Cabral,Renata Sorrah,Vera Holtz,Ana Beatriz Nogueira,Aracy Balabanian,Déborah Bloch,Chandelly Braz,brilharam no elenco feminino.Gabriel Braga Nunes,Sérgio Guizé,José Mayer,Marcos Palmeira,Matheus Nashtergaele,Fernando Belo,brilharam no elenco masculino.Muito elogiada pela crítica ,mas injustiçada na audiência devido a constantes mudanças de horário.Espero muito por uma futura reprise.