Sinopse

“Trair o amante com o marido de quem foi viúva sem nunca ter sido.”

Há dezessete anos, em Asa Branca, pequena cidade no Nordeste brasileiro, o coroinha Roque Santeiro, assim conhecido por sua habilidade em esculpir santos, logo após seu misterioso casamento com a desconhecida Porcina, morreu ao defender a população do bandido Navalhada. Tempos depois, uma menina doente teve uma visão de Roque e curou-se. Santificado pelo povo, que lhe atribui milagres, Roque Santeiro tornou-se um mito e fez prosperar a cidade em torno da sua história de heroísmo.

Entretanto, Roque não está morto e retorna para passar a limpo a sua vida e pôr um fim ao mito. Sua presença preocupa o padre Hipólito e assombra os principais exploradores do santo: o prefeito Florindo Abelha, o comerciante Zé das Medalhas e o fazendeiro Sinhozinho Malta, que vê ameaçado o seu romance com a Viúva Porcina. Afinal, ela nunca foi casada com Roque e sempre viveu à sombra de uma mentira articulada por Sinhozinho para fortificar o mito e tirar vantagens políticas e financeiras.

Ao retornar, Roque interfere na relação de Sinhozinho Malta e Porcina, já que ela se apaixona pelo falso “falecido marido”, e reacende a paixão de Mocinha, a verdadeira noiva que nunca se conformou com seu desaparecimento e que se manteve casta à espera de seu amor, mesmo pensando que ele estivesse morto. Mocinha é filha do prefeito Abelha e da beata Dona Pombinha e é cortejada pelo professor Astromar Junqueira, famoso por seus discursos verborrágicos, um sujeito soturno que todos desconfiam ser o lobisomem.

Asa Branca também fica movimentada com a chegada de Matilde, amiga de Sinhozinho Malta do Rio de Janeiro, que monta a Pousada do Sossego e traz consigo duas “meninas”, Ninon e Rosaly, para trabalharem na boate que pretende abrir, a Sexus, enfrentando a ferrenha oposição do padre Hipólito e das beatas da cidade, comandadas por Dona Pombinha Abelha, que tudo fazem para sabotar o estabelecimento. Também chega à cidade a equipe de Gerson do Valle, cineasta que vai filmar a saga de Roque Santeiro.

O filme de Gerson tem como astros principais Linda Bastos, por quem o diretor é apaixonado, e o mulherengo Roberto Mathias, que seduz, entre outras, a Viúva Porcina e Tânia, a contestadora filha de Sinhozinho Malta. Desconfiada do pai, Tânia pede para reabrir o inquérito sobre a misteriosa morte de sua mãe – para o desespero de Sinhozinho. Quem também cai nos braços de Roberto é Lulu, a reprimida esposa de Zé das Medalhas, famosa na cidade por ter sido curada por Roque Santeiro quando era menina.

Globo – 20h
de 24 de junho de 1985
a 22 de fevereiro de 1986
209 capítulos

novela de Dias Gomes
escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva
colaboração de Marcílio Moraes e Joaquim Assis
direção de Gonzaga Blota, Marcos Paulo, Jayme Monjardim e Paulo Ubiratan

Novela anterior no horário
Corpo a Corpo

Novela posterior
Selva de Pedra

JOSÉ WILKER – Roque Santeiro (Luís Roque Duarte)
REGINA DUARTE – Viúva Porcina (Porcina da Silva)
LIMA DUARTE – Sinhozinho Malta (Francisco Teixeira Malta / Chico Malta)
PAULO GRACINDO – Padre Hipólito
ARY FONTOURA – Seu Flô (Florindo Abelha)
ELOÍSA MAFALDA – Dona Pombinha (Coralina Abelha, chamada depois de Ambrosina Abelha)
LUCINHA LINS – Mocinha Abelha
ARMANDO BÓGUS – Zé das Medalhas (José Ribamar de Aragão)
CÁSSIA KISS – Lulu das Medalhas (Lugolina)
FÁBIO JÚNIOR – Roberto Mathias (Roque no filme sobre Roque Santeiro)
YONÁ MAGALHÃES – Matilde Mendes de Oliveira
CLÁUDIO CAVALCANTI – Padre Albano
LÍDIA BRONDI – Tânia Malta
WANDA KOSMO – Dona Marcelina (Marcelina Magalhães)
EWERTON DE CASTRO – Gerson do Valle
PATRÍCIA PILLAR – Linda Bastos (Viúva Porcina no filme sobre Roque Santeiro)
LUIZ ARMANDO QUEIRÓZ – Tito Moreira França (Tito Bastos)
RUY REZENDE – Professor Astromar Junqueira
JOÃO CARLOS BARROSO – Toninho Jiló
ARNAUD RODRIGUES – Cego Jeremias
MAURÍCIO DO VALLE – Delegado Feijó (Navalhada no filme sobre Roque Santeiro)
NELSON DANTAS – Beato Salu (Salustiano Duarte)
ÍSIS DE OLIVEIRA – Rosaly
CLÁUDIA RAIA – Ninon (Maria do Carmo)
NÉLIA PAULA – Amparito Hernandez (Maria do Amparo)
OTHON BASTOS – Ronaldo César
OSWALDO LOUREIRO – Navalhada (Aparício Limeira)
ILVA NIÑO – Mina (Filismina)
TONY TORNADO – Rodésio
ELIZÂNGELA – Marilda Mathias
MAURÍCIO MATTAR – João Ligeiro
CRISTINA GALVÃO – Dondinha
WALDIR SANTANNA – Terêncio Apolinário
ALEXANDRE FROTA – Luisão (Luís Cláudio Figueira)
CLÁUDIA COSTA – Carla
LUÍS MAGNELLI – Decembrino
LÍCIA MAGNA – Ciana
ANA LUIZA FOLLY – Noêmia
SANDRO SOLVIATTI – Sua Majestade

as crianças
MALIK DOS SANTOS – Tiquinho
GABRIELA BICALHO – Tininha
BRUNO ANDRADE – Raul

e
ADELAIDE PALETTE (ADELAIDE CONCEIÇÃO) – Adelaide (camareira da equipe de filmagem)
AFRÂNIO GAMA – Osmar (garçom da boate Sexus)
ALFREDO MURPHY – Alemão (amigo de Ronaldo César, do Rio de Janeiro, com quem ele fala sobre Navalhada)
ÂNGELA FIGUEIREDO – Selma Sotero (atriz que vive Mocinha no filme sobre Roque Santeiro, acaba substituída por Ângela Flores)
ÂNGELA LEAL – Odete (irmã de Efigênia, foi empregada de Sinhozinho Malta e quis chantageá-lo, acabou assassinada)
ÂNGELA TORNATORE – Maria (empregada de Dona Pombinha)
ANTÔNIO PITANGA – líder dos jagunços contratados por Sinhozinho Malta para matar Roque
ARTHUR COSTA FILHO – Dr. Denilson (Dr. Cipó, médico de Pouso Feliz que atende em Asa Branca após a morte do Dr. Cazuza)
CATALINA BONAKI – louca na ala de psiquiatria da Santa Casa de Asa Branca
CECÍLIA SALAZAR – dançarina da boate Sexus
CÉLIA CRUZ – Nevinha (vendedora na loja de Zé das Medalhas)
CININHA DE PAULA – Berenice (secretária de Sinhozinho Malta no Rio)
CLARA FAJARDO – a namorada, do casal beijoqueiro de Asa Branca
CLÁUDIO GAYA – Jurandir (costureiro de São Paulo, amigo de Matilde, vai a Asa Branca desenhar o vestido de noiva de Porcina)
DAVID LEROY como ele mesmo, ator que vive Sinhozinho Malta no filme sobre Roque Santeiro
DEDINA BERNADELLI – Ângela Flores (atriz substituta de Selma Sotero no papel de Mocinha, no filme sobre Roque Santeiro)
DENIS CARVALHO – Marcos Tomazzini (produtor do filme sobre Roque Santeiro)
DENNY PERRIER – guia de um grupo de turistas franceses em Asa Branca, no início
DU MORAES – Nininha (mulher de Vila Miséria cujo marido foi acusado de raptar os filhos de Zé das Medalhas)
EDILÁSIO JÚNIOR – Geraldão (contrarregra da equipe de filmagem)
EDWIGES GAMA – Dona Neném / Roberta Monique (manicure do Salão Império)
EDYR DE CASTRO – Nininha (secretária de Roque)
ELIANA ARAÚJO – mulher do promotor público Lourival Prata
ELISA SIMÕES – beata do grupo que acompanha Dona Pombinha para cima e para baixo
ELY REIS – sacristão da igreja matriz de Asa Branca
EMILY PIRMEZ – Dona Emilinha (secretária de Florindo Abelha na prefeitura)
FERNANDA UCHOA – dançarina da boate Sexus
FERNANDO ALMEIDA – um dos filhos do promotor público Lourival Prata
FERNANDO AMARAL como ele mesmo, ator que vive o Padre Hipólito no filme sobre Roque Santeiro
FERNANDO ARAQUÉM – Cleber (um dos filhos do promotor público Lourival Prata)
FERNANDO JOSÉ – Oliveira (diretor da Gazeta Asabranquense)
FRANCISCO SILVA – vendedor de quem Sinhozinho Malta compra uma joia a Matilde para provocar ciúmes em Porcina
FRANCISCO PONTES – garçom da boate Sexus
GABRIELA SENRA – Lulu (criança, em flashback)
GILSON CERQUEIRA – seguidor do Beato Salu
GILSON MOURA – Tião (Sebastião Evangelino, jagunço de Sinhozinho Malta)
GUARACY VALENTE – Antônio das Tintas (pintor da igreja para quem Jiló tenta vender uma “relíquia” de Roque Santeiro)
HELOÍSA HELENA – freira que administra a Santa Casa de Asa Branca
HEMÍLCIO FRÓES – fiscal do Governo que inspeciona a Fazenda Velha, de Porcina
ISABELA BICALHO – Porcina (criança, em flashback)
IVAN SETTA como ele mesmo, ator que viveria Navalhada no filme sobre Roque Santeiro, ficou com o papel de Florindo Abelha
IVAN SIMÕES – Zé Colmeia (cabo de polícia, ajudante do delegado Feijó)
JOÃO REYS – Pedro Afonso (fazendeiro amigo de Sinhozinho Malta, aluga a casa onde Roque vai morar)
JORGE COUTINHO – homem de Vila Miséria acusado de raptar os filhos de Zé das Medalhas
JORGE ÉDISON – paraplégico que se cura em um “milagre” na praça
JORGE FERNANDO – Lúcio Armando (secretário do costureiro Jurandir)
JOSÉ DE FREITAS – Deputado Ferreira de Jesus (amigo de Sinhozinho Malta, representante de Asa Branca no Congresso Nacional)
JULIANA REIS – Aninha (maquiadora da equipe de filmagem, namorada de Helinho)
LEINA KRESPI – Maria Igarapé (Idalvina, prostituta da Rua da Lama, trai a confiança de Efigênia)
LÍDIA IÓRIO – Sinhá Maria (trabalha na casa do padre Hipólito)
LÍLIAN LEMMERTZ – Margarida Magalhães Malta (falecida mulher de Sinhozinho Malta, em flashback)
LU MENDONÇA – mãe de Porcina, em flashback
LUCIENE QUADROS – filha de Pedro Afonso, vence João Ligeiro na corrida de cavalos
LUIZ RIGONI, o HOMEM DO VIOLINO, como ele mesmo, jóquei de Sinhozinho Malta na aposta contra Porcina
LUTERO LUIZ – Dr. Cazuza (Teodorico Carlos Zureta, chamado depois de Cazuza Amaral, médico de Asa Branca, alcoólatra, morre afogado ao ser jogado em um tonel de cachaça)
MANOEL ELIZIÁRIO – Juca (garçom da Pousada do Sossego)
MANOEL THEODORO – Seu Devagar (barbeiro do Salão Império)
MARCOS PAULO – Jorge de Lima (motorista brasileiro em Dallas a serviço de Porcina)
MARCOS TOFFANI – garçom da boate Sexus
MÁRIO ROBERTO – gerente da agência do banco Itaú em Asa Branca
MILTON GONÇALVES – Lourival Prata (novo promotor público que chega com a família a Asa Branca)
MÔNICA TINOCO – dançarina da boate Sexus
PASCOAL VILLABOIM – pregador da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, cujo sermão é assistido por Navalhada
PAULO CÉSAR PEREIO – Delegado José Benevides (substituto de Feijó, no final)
PEDRO VERAS – locutor da Rádio Difusora Asabranquense
REGINA DOURADO – Efigênia (irmã de Odete, cafetina da Rua da Lama)
ROBERTO MARCONI – jornalista do Rio que vem a Asa Branca fazer uma reportagem sobre a cidade
ROSANA BILLARD – Jovina (prostituta da Rua da Lama que entrega a Sinhozinho Malta o paradeiro de Odete)
RUBEM DE BEM – escrivão levado por Porcina até Sinhozinho Malta para lavrar a escritura da Fazenda Velha
SILVIO POZATTO – Helinho (cinegrafista da equipe de filmagem, namorado de Aninha)
SYLVIA GUIMARÃES
TARCÍSIO MEIRA – Coronel Emerenciano Castor (fazendeiro rico, admirador de Rosaly, leva-a embora de Asa Branca no último capítulo)
TONICO E TINOCO como eles mesmos, cantam na vaquejada promovida por Sinhozinho Malta em sua fazenda
TONICO PEREIRA – responsável pela nova pintura da igreja matriz de Asa Branca
TREME-TREME – Corró (engraxate do Salão Império)
TUTTY MASIL – o namorado, do casal beijoqueiro de Asa Branca
VALDINA ALVES – Tia Sinhá (tia de Porcina, rendeira, acabou esquecida na despensa)
VANDA ALVES – Benedita (empregada na casa de Sinhozinho Malta)
VANILSON SOUZA – Vanilson (atendente do bar Tricolor)
VÁLTER ALVES
VERA LUCIA – Nininha (mulher do delegado Feijó)
WÁLTER SANTOS – matador profissional contratado por Zé das Medalhas para matar Roque
WILSON PASTOR – fotógrafo
ZÉ PREÁ – morador de Asa Branca

– núcleo de LUÍS ROQUE DUARTE (José Wilker), conhecido como ROQUE SANTEIRO por sua habilidade em esculpir santos. Há dezessete anos, o coroinha tornou-se mártir ao morrer defendendo a cidadezinha de Asa Branca de um temível bandido que levou embora o bem mais precioso do local: o ostensório de ouro da igreja matriz. Tempos depois, uma menina doente teria tido uma visão de Roque e se curado. Em cima dessa lenda, construiu-se o mito de que Roque é um santo milagreiro, alimentado pelos poderosos da região para valorizar a cidade e tirar vantagens comerciais e políticas. Porém, Roque estava vivo. Foi ele quem roubou o ostensório da igreja e fugiu da cidade. Dezessete anos depois, rico e morando no exterior, Roque retorna a Asa Branca disposto a passar a limpo sua vida, devolver o ostensório, revelar a verdade e desfazer o mito:
o pai BEATO SALÚ (Nelson Dantas), ex-vaqueiro que, após a suposta morte do filho e de seu milagre, torna-se um pregador lunático que acredita e defende a santidade de Roque. Foi morar em uma palafita à margem do rio onde acontecera o primeiro milagre de Roque Santeiro
o irmão, por parte de pai, JOÃO LIGEIRO (Maurício Mattar), que mal conhece. Jovem montador, famoso na região pela habilidade nas corridas e em domar cavalos bravios. Cheio de dúvidas existenciais
a secretária NININHA (Edyr de Castro).

– núcleo de SINHOZINHO MALTA (Lima Duarte), o todo-poderoso e manda-chuva de Asa Branca, austero, prepotente e autoritário. Rico fazendeiro, é um dos maiores criadores de gado do país, exportador, dono de abatedouros e frigoríficos. O principal interessado em manter o mito de Roque Santeiro, sobre o qual inventou a história de que ele morreu logo depois de ter se casado com uma desconhecida – na realidade, a amante de Sinhozinho. Torna-se o principal antagonista de Roque quando ele retorna:
a mulher falecida MARGARIDA (Lílian Lemmertz, participação), morta com um tiro em circunstâncias mal esclarecidas. Aparece em flashbacks
a filha TÂNIA (Lídia Brondi), moça contestadora e rebelde, tem uma relação conflituosa com o pai porque desconfia de que ele foi responsável pela morte de sua mãe
a sogra DONA MARCELINA (Wanda Kosmo), mãe de Margarida. Mulher desconfiada. Critica e acusa o genro. Os dois não se suportam e vivem às turras
o capanga TERÊNCIO (Waldir Santanna), seu pau-mandado
a filha de Terêncio, DONDINHA (Cristina Galvão), moça simplória criada na fazenda. Apaixonada desde sempre por João Ligeiro, que também trabalha na fazenda. Sofre porque sente que o namorado não se interessa por ela
o amigo DEPUTADO FERREIRA DE JESUS (José de Freitas), representante de Asa Branca no Congresso Nacional
a secretária NOÊMIA (Ana Luiza Folly)
a empregada BENEDITA (Vanda Alves).

– núcleo da VIÚVA PORCINA (Regina Duarte), designada por Sinhozinho Malta como a viúva de Roque Santeiro, para desviar a atenção do caso amoroso que os dois mantinham enquanto ele era casado. Incentivada por Sinhozinho, Porcina – que sequer conhecia Roque – espalhou a mentira de que havia se casado com o santeiro, o que a transformou em um verdadeiro patrimônio da cidade. Mulher esfuziante, temperamental, voluntariosa, desbocada, vaidosa e fogosa. Vive em conflito com Tânia e Dona Marcelina, que não a aceitam como nova mulher de Sinhozinho. Apesar de amá-lo, não é fiel. Com o retorno de Roque, os dois acabam tendo um envolvimento, o que abala sua relação com Sinhozinho e provoca ainda mais a ira dele contra Roque:
a empregada MINA (Ilva Niño), a quem trata como um misto de amiga e mãe, apesar de autoritária com ela. A empregada, por sua vez, é extremamente fiel e dedicada à patroa, cúmplice em suas confusões com Sinhozinho
o capataz RODÉSIO (Tony Tornado), seu homem de confiança e protetor, realiza todos os seus desejos. No fundo, nutre uma paixão platônica pela patroa
a tia SINHÁ (Valdina Alves), velha rendeira que mora consigo, acabou “esquecida” na despensa da casa.

– núcleo de FLORINDO ABELHA (Ary Fontoura), prefeito de Asa Branca e dono da barbearia Salão Império, de onde despacha. Capacho de Sinhozinho Malta, é outro dos poucos que conhecem a verdade sobre Roque Santeiro. Tenta manter a autoridade, dentro e fora de sua casa, sem muito sucesso:
a mulher DONA POMBINHA (Eloísa Mafalda), beata das mais fervorosas, guardadora da moral e bons costumes de Asa Branca, líder das carolas da igreja e grande defensora da santidade de Roque Santeiro. Manda e desmanda no marido
a filha MOCINHA (Lucinha Lins), verdadeira noiva de Roque que nunca aceitou a ideia de que ele havia se casado com Porcina. Por isso as duas vivem em pé de guerra. Nunca recuperou-se da – suposta – morte do noivo e de vez em quando sofre de surtos, em que se veste de noiva. Solteirona convicta, ainda virgem, alimenta o amor pelo falecido, mesmo pensando que ele está morto, e resiste à ideia de outro envolvimento amoroso
o PROFESSOR ASTROMAR JUNQUEIRA (Ruy Rezende), figura misteriosa e soturna. Um brilhante orador, chefia o Centro Cívico de Asa Branca e está presente em todas as solenidades do município com seus discursos verborrágicos. Corre a lenda de que ele se transforma em lobisomem à meia-noite de quintas para sextas-feiras de lua cheia. É apaixonado por Mocinha, com quem sonha se casar, apesar de ela apenas enxergá-lo como um amigo
a empregada MARIA (Ângela Tornatore)
a secretária da prefeitura DONA EMILINHA (Emily Pirmez)
os funcionários do Salão Império: a manicure NENÉM (Edwiges Gama), o barbeiro SEU DEVAGAR (Manoel Theodoro) e o engraxate CORRÓ (Treme-Treme).

– núcleo de ZÉ DAS MEDALHAS (Armando Bógus), homem ganancioso. Dono de uma indústria de medalhinhas de santo, é o principal comerciante de Asa Branca, dominando as vendas de suvenires em torno do mito de Roque Santeiro. Logo, um dos maiores interessados em manter este mito. Aliado de Sinhozinho Malta e do prefeito, sonha ampliar seu negócio. Em casa, é autoritário com a mulher:
a mulher LULU (Cássia Kiss), sobre a qual corre a lenda de que, quando era criança e estava doente, curou-se após ter tido uma visão de Roque Santeiro – na verdade, outra farsa sustentada para alimentar o mito. Hoje, é uma mulher reprimida e dominada pelo marido machista e violento, que a tranca no quarto quando fica nervoso. Tenta livrar-se das amarras que a prendem ao marido e ao mito de Roque Santeiro
os filhos pequenos TININHA (Gabriela Bicalho) e RAUL (Bruno Andrade)
a empregada e babá dos filhos, CIANA (Lícia Magna)
a vendedora na loja NEVINHA (Célia Cruz).

– núcleo de MATILDE (Yoná Magalhães), amiga de Sinhozinho Malta do Rio de Janeiro. Muda-se para Asa Branca abrindo dois negócios: aluga da igreja um convento desativado que transforma na Pousada do Sossego; e a boate Sexus, em que, além de oferecer bebida e jogo, apresenta shows com dançarinas. Com a boate, compra uma briga feia com o vigário e as beatas da cidade, lideradas por Dona Pombinha, que fazem de tudo para sabotar o lugar. Protegida por Sinhozinho Malta, consegue levar adiante o seu empreendimento:
as dançarinas, jovens, belas, sedutoras e provocantes: ROSALY (Ísis de Oliveira), que sonha em se casar com algum coronel ou fazendeiro rico,
e NINON (Cláudia Raia), que se encanta com a história do lobisomem, com quem tem sonhos eróticos
a amiga AMPARITO HERNANDEZ (Nélia Paula), antiga vedete de sucesso, de origem portenha (na verdade é mineira), hoje decadente. Chega a Asa Branca para ajudá-la nas coreografias dos shows da Sexus. No passado, tivera um caso com Florindo Abelha
o antigo amor RONALDO CÉSAR (Othon Bastos), um sedutor mau-caráter, viciado em jogo e metido com bandidos no Rio de Janeiro. Chega a Asa Branca com a intenção de envolvê-la novamente e extorquir-lhe mais dinheiro, convencendo-a a abrir um cassino nos fundos da boate
os funcionários da Pousada do Sossego: o recepcionista DECEMBRINO (Luís Magnelli), sujeito sossegado. Nascido em janeiro, mas como o nome já estava escolhido, ficou esse mesmo,
e o barman JUCA (Manoel Eliziário).

– núcleo de GERSON DO VALLE (Ewerton de Castro), cineasta que vem a Asa Branca para filmar a saga de Roque Santeiro, porém encontra uma série de dificuldades para terminar seu filme. Um tipo ansioso, gago e mandão, é apaixonado pela estrela do filme, mas ela é casada:
o galã ROBERTO MATHIAS (Fábio Jr.), ator mais conhecido por suas conquistas amorosas. Interpreta Roque no filme. Cínico, debochado e aventureiro, mas um bom profissional. Envolve-se com Porcina, Tânia e Lulu, entre outras mulheres
a estrela LINDA BASTOS (Patrícia Pillar), vive a Viúva Porcina no filme. Bela e promissora atriz. Casada, é assediada pelo diretor, apaixonado por ela. Aos poucos, cede às suas investidas
o marido de Linda, TITO MOREIRA FRANÇA (Luiz Armando de Queiroz), que a acompanha nas gravações. Ciumento, vive de olho em Gerson e Roberto Mathias, com os quais implica. Decide investir em uma fábrica de velas em Asa Branca
a mulher de Roberto Mathias, MARILDA (Elizângela), com quem ele ainda está casado, apesar de não viverem juntos. Ela nega-lhe o divórcio. Chega a Asa Branca atrás dele, causando escândalos e confusão. Provocante e interesseira, envolve-se com Sinhozinho Malta
a equipe do filme: o produtor MARCOS TOMAZZINI (Denis Carvalho, participação), que, ante as dificuldades, desentende-se com Gerson e desiste do filme,
o diretor de produção LUISÃO (Alexandre Frota), tem uma queda por Matilde,
a continuísta CARLA (Cláudia Costa), ama platonicamente Gerson,
o cinegrafista HELINHO (Silvio Pozatto),
a maquiadora ANINHA (Juliana Reis), namorada de Helinho,
o contrarregra GERALDÃO (Edilásio Júnior) e a camareira ADELAIDE (Adelaide Palette)
outros atores do filme: SELMA SOTERO (Ângela Figueiredo, participação), interpreta Mocinha, mais tarde é substituída por outra atriz, ÂNGELA FLORES (Dedina Bernadelli, participação),
DAVID LEROY como Sinhozinho Malta, FERNANDO AMARAL como o Padre Hipólito,
e IVAN SETTA, escalado para viver Navalhada, foi substituído pelo delegado de Asa Branca e ficou com outro papel: Florindo Abelha.

– núcleo da Rua da Lama, bordel em Vila Miséria, o bairro mais pobre de Asa Branca:
a cafetina EFIGÊNIA (Regina Dourado), torna-se amiga de Roque e ele lhe confia um dossiê em que relata toda a sua história, a ser revelado caso aconteça alguma coisa com ele
a irmã de Efigênia, ODETE (Ângela Leal), foi empregada na casa de Sinhozinho Malta e muito próxima de Margarida, mulher dele. Testemunhou o caso do patrão com Porcina e sabe que Margarida se matou. Foi paga por Sinhozinho para ficar calada e mudar-se de Asa Branca. Retorna disposta a arrancar mais dinheiro de Sinhozinho e acaba assassinada
a prostituta IDALVINA, conhecida como MARIA IGARAPÉ (Leina Krespi), desconfia da amizade entre Efigênia e Roque. Ao descobrir o dossiê, entrega o seu paradeiro a Sinhozinho Malta em troca de dinheiro, traindo a confiança de Efigênia.

– demais personagens:
o PADRE HIPÓLITO (Paulo Gracindo), religioso extremamente conservador, um tanto ranzinza e intransigente na defesa de rígidos padrões de comportamento. Dogmático, opõe-se à corrente renovadora da Igreja. Apesar de manter segredo sobre o fato de Roque Santeiro estar vivo, não concorda com os métodos de Sinhozinho Malta, Florindo Abelha e Zé das Medalhas
o PADRE ALBANO (Cláudio Cavalcanti), religioso progressista, chamado de “padre comunista” ou “padre vermelho”. Entra em atrito com o padre Hipólito, por divergências de ideias. Pároco da Vila Miséria, é um homem dedicado a ajudar sua paróquia. Descobre a farsa sobre Roque Santeiro – de quem fica amigo – e tenta, em vão, alertar a todos. Ao longo da trama, vive um amor proibido por Tânia, o que é contra os preceitos de sua religião
o bandido NAVALHADA (Oswaldo Loureiro), no passado, atacou Asa Branca, fez o padre Hipólito de refém e – supostamente – matou o jovem Roque Santeiro em confronto e fugiu com o ostensório de ouro da igreja. Acabou capturado e preso, mas o ostensório nunca foi recuperado. Depois de cumprir sua pena, retorna à cidade redimido, convertido e beato para expurgar os seus crimes e expulsar o diabo personificado em Roque
o DELEGADO FEIJÓ (Maurício do Valle), que sempre acaba acatando as ordens de Sinhozinho Malta. Sonha ser ator, por isso oferece-se para representar o bandido Navalhada no filme sobre Roque Santeiro e ganha o papel. Apaixona-se por Ninon e se fantasia de lobisomem apenas para conquistá-la
o guia turístico TONINHO JILÓ (João Carlos Barroso), esperto e malandro, é quem narra toda a história de Roque Santeiro a romeiros e turistas. Melhor amigo de João Ligeiro, tem uma queda por Dondinha
o CEGO JEREMIAS (Arnaud Rodrigues), violeiro que canta a saga de Roque Santeiro e vive de pedir esmolas na escadaria da igreja matriz. Conhece todos os moradores de Asa Branca pelo cheiro e por seus passos, quando se aproximam. Há sabedoria em sua esperteza
o menino TIQUINHO (Malik dos Santos), moleque que acompanha o Cego Jeremias
o mendigo SUA MAJESTADE (Sandro Solviatti), louco que perambula por Asa Branca soltando frases de efeito em defesa da monarquia
o cabo de polícia ZÉ COLMEIA (Ivan Simões), auxiliar do Delegado Feijó
o médico DR. CAZUZA (Lutero Luiz), alcoólatra, descobre que Roque Santeiro está vivo e acaba morto a mando de Sinhozinho Malta, afogado em um tonel de cachaça
o promotor público LOURIVAL PRATA (Milton Gonçalves), chega a Asa Branca – substituindo o anterior, que aposentou-se – para fiscalizar as investigações sobre a morte do Dr. Cazuza. Entra em atrito com Sinhozinho Malta.

Versão censurada

Em 1975, em comemoração ao décimo aniversário da TV Globo, a emissora programou o lançamento da novela A Saga de Roque Santeiro e a Incrível História da Viúva que Foi Sem Nunca Ter Sido, escrita por Dias Gomes e dirigida por Daniel Filho, a nova atração do horário das oito da noite que prometia inovar o gênero.

A sinopse foi enviada ao departamento de Censura Federal, em Brasília, junto com vinte capítulos escritos, como era exigido na época, tendo sido aprovada para o horário das 20 horas, conforme ofício do chefe da censura, Rogério Nunes, em 04/07/1975. (“Livro do Boni”)
A produção seguiu a todo vapor. O livro “Janete Clair, a Usineira de Sonhos” (de Artur Xexéo) dá conta de que a novela já tinha 51 capítulos escritos, quase 30 gravados e 10 editados. Já o “Livro do Boni” informa que foram gravados 36 capítulos.

A novela estrearia na segunda-feira do dia 25/08/1975, em substituição a Escalada, de Lauro César Muniz. No dia 20/08, houve uma reviravolta. Uma nova data foi ajustada: quarta-feira de 27 de agosto. A Censura Federal, depois de assistir aos capítulos gravados, oficiou a Rede Globo que Roque Santeiro só poderia ser exibida às 22 horas, assim mesmo com cortes que destruiriam a obra e impediriam a sua compreensão. (“Livro do Boni”)

Pairava no ar o receio de que a novela não fosse liberada pelo Governo Federal. A Globo acreditava que a situação se resolveria. Na verdade, a equipe da novela apostava que, mais cedo ou mais tarde, o dono da emissora, Roberto Marinho, conseguiria a liberação com o próprio ministro da Justiça, Armando Falcão, com quem tinha um estreito contato. Dias Gomes só percebeu que a situação estava mesmo difícil quando soube, poucos dias antes da estreia prevista, que Falcão não estava atendendo aos telefonemas de Marinho. (*)

Na noite de 27/08/1975, faltando poucos minutos para começar a atração, o apresentador Cid Moreira deu a notícia no Jornal Nacional e leu o editorial escrito por Armando Nogueira, então diretor do telejornal, anunciando o veto.

O Governo justificava: “A novela contém ofensa à moral, à ordem pública e aos bons costumes, bem como achincalhe à Igreja.”
Na verdade, as autoridades se sentiram atingidas porque enxergaram na trama uma crítica a si. A história da novela narrava a farsa de Roque Santeiro, institucionalizada pelo poder para tirar vantagens próprias. O Brasil da década de 1970 vivia sob a Ditadura Militar, que, de certa maneira, projetava sobre o povo uma versão da história e da sociedade que não existia. Como na trama da novela.

Para tapar o buraco no horário, deixado pelo veto de Roque Santeiro, a Globo providenciou uma reprise compacta da novela Selva de Pedra (de 1972) enquanto Janete Clair era acionada para, às pressas, escrever uma nova trama, usando praticamente a mesma equipe de Roque Santeiro. Janete escreveu então Pecado Capital, que tornou-se um dos seus maiores sucessos.

Telefone grampeado

Para escrever Roque Santeiro, Dias Gomes baseou-se em sua peça “O Berço do Herói”, escrita em 1963, mas proibida de ser encenada pela censura do Governo Militar (“O Berço do Herói”, por sua vez, remete ao romance “O Falecido Matias Pascal”, de Luigi Pirandello, lançado em 1904).

Contando a história de um cabo da Força Expedicionária Brasileira que deserta e, por engano, é considerado herói de guerra, a Censura Federal vetara o texto alegando que ele denegria a carreira militar. Havia mesmo um general, Amaury Kruel, que ameaçara Dias Gomes dizendo que “essa peça jamais será representada enquanto nós formos o poder”. Comandante do 2º Exército, o general Kruel tinha sido um dos pracinhas brasileiros da FEB. Ele não gostava nem um pouco de “O Berço do Herói”. Dias tirou todas as fardas de sua história e, acreditando que o Exército não tinha mais razões para se incomodar, adaptou-a para a televisão. (*)

A sinopse de Roque Santeiro estava em Brasília quando Dias Gomes recebeu um telefonema do amigo Nelson Werneck Sodré. (…)
‘O que é que você está fazendo?’ – quis saber Sodré.
‘Uma pequena sacanagem’ – respondeu Dias. ‘Estou adaptando O Berço do Herói para a TV’.
‘Mas a Censura vai deixar passar?’
‘Não tem mais o cabo. Assim passa. Esses militares são muito burros!’

O telefone de Nelson Werneck Sodré estava grampeado e a conversa foi gravada. A censura entendeu as intenções de Dias, os militares voltaram a se sentir atingidos e a sinopse nunca foi oficialmente liberada. (*)

(*) “Janete Clair, a Usineira de Sonhos”, Artur Xexéo.

Dez anos depois

Em 1985, com os ares liberais da Nova República, Roque Santeiro pôde enfim estrear, tornando-se um dos maiores sucessos da TV brasileira de todos os tempos. A novela explodiu de norte a sul do país, vista por uma média de 80% da população – um fenômeno de Ibope e faturamento.

A produção aproveitava um momento histórico muito propício. Roque Santeiro é um exemplo zeitgeist, de novela que capta o espírito de seu tempo. O país celebrava a Nova República, com o fim do Regime Militar e a democracia oficialmente instaurada. O povo vivia um momento de esperança.
A TV Globo aproveitou a ocasião para levar ao ar a novela censurada dez anos antes. Havia um significado nessa empreitada: para aquele momento, Roque Santeiro festejava a liberdade de expressão e o (suposto e momentâneo) fim da opressão e do autoritarismo. Este simbolismo já estava intrínseco na trama idealizada por Dias Gomes, uma pertinente sátira à exploração política e comercial da fé popular, criticando a privação da liberdade e o domínio do mais forte, que, no caso, explorava o oprimido pela fé.

A notável penetração de Roque Santeiro nos hábitos brasileiros, discutindo religião, misticismo popular e política, descartando o romantismo e adotando a caricatura no lugar de personagens psicológicos, devolveu à telenovela sua função de catalisadora das massas. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)
Pela primeira vez em seu tradicional horário das oito da noite, a Globo exibia uma novela que fugia do esquema psicanalítico e investia na caricatura, abandonava o melodrama e privilegiava a comicidade, fugindo dos grandes centros urbanos e ambientando a história em um lugarejo perdido no Nordeste brasileiro.

Uma inteligente sátira nacional que serviu para ilustrar de forma decisiva que Asa Branca (a cidadezinha fictícia da novela) representava uma miniatura do Brasil.
Um dos momentos mais marcantes e mais lembrados da novela: a chegada de Roque (José Wilker) a Asa Branca (no final do capítulo 26, exibido em 24/07/1985), em uma noite chuvosa, ao som a música “De Volta Pro Aconchego”, cantada por Elba Ramalho.
O grande clímax: o Padre Albano (Cláudio Cavalcanti), que soube da verdade, bate o sino da igreja e reúne todos na praça matriz para desvendar a farsa do santo que está vivo. Só que, nesse dia, o Beato Salu (Nelson Dantas), em coma, “ressuscita” e a população fiel, em vez de ouvir a verdade, acaba celebrando mais uma vez os milagres de Roque Santeiro (capítulo 87, exibido em 02/10/1985). “O mito é mais forte que a verdade” é a constatação.

Roque Santeiro ganhou todos os prêmios de televisão em 1985. Pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) foi eleita a melhor novela, melhor texto (Dias Gomes e Aguinaldo Silva), melhor ator (Lima Duarte), melhor atriz (Regina Duarte) e revelação feminina (Cláudia Raia).
Também ganhou o Troféu Imprensa de melhor novela, melhor ator (Lima Duarte), melhor atriz (Regina Duarte) e “pessoa do ano”, para Cláudia Raia.

Divergências na audiência

Sobre a audiência, na época os dados do Ibope não eram fartamente divulgados como hoje, nem eram medidos por pontos, mas por porcentagem, com outros métodos e métricas. As próprias fontes se divergem entre si.

Com base no Ibope, o livro “Telenovela: História e Produção” (de Renato Ortiz, Silvia Helena Simões Borelli e José Mário Ortiz Ramos, 1989) listou as 10 novelas da época mais vistas na Globo, por horário. Roque Santeiro aparece por primeiro nas duas praças pesquisadas: média geral de 74% em São Paulo e 78% no Rio de Janeiro.

O “Almanaque da TV” (de Bia Braune e Rixa, 2007) informa: “Fechando com uma média de 80% de audiência, a novela foi vista com paixão por 70 milhões de brasileiros.”

Já o “Livro do Boni” (2011): “Foi o maior sucesso de audiência da história das telenovelas, mantendo uma média de 67% do primeiro ao último capítulo, que deu picos de 100%. E olha que estamos falando de índice de audiência e não de participação (share).”

Briga dos autores

Cansado do ritmo da TV, Dias Gomes indicou Aguinaldo Silva para ser coautor da novela. Dos 209 capítulos de Roque Santeiro, Dias escreveu 99: os 51 iniciais (que já estavam escritos, de 1975) e os 48 finais. Aguinaldo revisou os 51 capítulos iniciais, que passaram por ajustes pontuais, e escreveu o miolo, com 110 capítulos.

Apesar de dividirem a autoria, Dias Gomes e Aguinaldo Silva acabaram tornando público os ciúmes pelos louros do sucesso de Roque Santeiro. No período em que esteve ausente da novela, Dias teria se irritado com a exposição de Aguinaldo na mídia por causa deste sucesso.

A menos de dois meses do fim da trama, o choque entre os autores se agravou e a Globo teve de intervir. Eles disputavam direitos autorais. Porém, mais do que lucros, o que cada um queria era reivindicar para si a paternidade do fenômeno.

Em novembro de 1986, Dias escreveu a José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então diretor artístico da Globo. Alegou ser autor da peça “O Berço do Herói” que deu origem à novela e “cujos direitos autorais não me foram adquiridos pela Globo”. Propôs 60% de participação (50% pelos capítulos da novela que ele escrevera e 10% pela peça). Aguinaldo ficaria com 30%, e os outros 10% iriam para os colaboradores.

Em dezembro foi a vez de Aguinaldo se dirigir a Boni. Afirmou que, além de ter feito 110 capítulos, atualizara os iniciais, de 1975. A proposta: 40% para si, 40% para Dias e 20% para os colaboradores. Seu tom foi duro: “Nesse instante, do que estou mais precisando é de incentivos, e não que venha alguém minimizar o meu trabalho.”
Essa foi a divisão acordada pela Globo. (Laura Mattos para o jornal A Folha de São Paulo, 15/07/2011)

Aguinaldo Silva revelou a André Bernardo e Cíntia Lopes para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“O Dias simplesmente não se interessou pela novela, tanto que ele me entregou os primeiros capítulos e depois viajou para a Europa. (…) Quando ele voltou da Europa, uns três meses depois, Roque Santeiro já era um estouro, um escândalo de sucesso. Desconfio até que o Dias nunca tenha visto Roque Santeiro até o momento em que ele voltou a escrever. O que eu escrevi, então, não lhe interessou. O que ele queria era escrever o final da novela.”

“Na ocasião, ele chegou a pedir que eu desse uma declaração à imprensa de que estava saindo da novela como uma forma de homenageá-lo. Naquele momento eu percebi que, se eu fizesse isso, estaria me condenando a ser eternamente o segundo, um autor secundário (…) Foi quando virei a mesa. Saí, mas disse a verdade: que o Dias estava apenas interessado em escrever o final de Roque Santeiro. No fundo, a imprensa sabe que quem escreveu a novela fui eu, e não o Dias. É claro que reconheço que a novela é do Dias Gomes. Mas prefiro dizer que é uma novela do Dias Gomes que eu escrevi.”

Os autores tornaram pública a briga por Roque Santeiro, com direito a troca de insultos: “(…) com Dias a me chamar de ‘veado’ e eu sempre a ressaltar o fato consumado segundo o qual ele ‘usava peruca e dentadura postiça’ e, por trás disso tudo, uma enorme torcida para que algum dia nós dois nos engalfinhássemos em público”, afirmou Aguinaldo Silva em seu livro “Meu Passado Me Perdoa”.

O tempo passou, os ânimos esfriaram e os dois desafetos só voltaram a se falar – como se nada tivesse acontecido – em 1999, durante uma reunião de autores da Globo, pouco antes da morte de Dias Gomes.

Referências na cultura pop e na política

Como bem pontuou Lucas Martins Néia em seu livro “Como a Ficção Televisiva Moldou um País”, havia na trama de Roque Santeiro pelo menos três referências à indústria audiovisual estadunidense cristalizadas pela cultura pop.

A primeira quando Porcina relembra o seu passado: um flashback a mostra ainda menina vagando pelo sertão nordestino ao lado da mãe e uma tia. Quando vão cozinhar um calango que caçaram para comer, são atacadas por um bando. A mãe de Porcina é morta e a menina jura que “jamais passará fome novamente” – uma citação direta ao clássico filme …E o Vento Levou (1939): ao final da primeira parte da película, a protagonista Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) profere estas mesmas palavras, em um momento que marca uma guinada em sua trajetória.

Mais sugestiva do que evidente foi a alusão à série Dallas (1978-1991), sucesso na Globo naquela época. Parte da caracterização de Sinhozinho Malta – pulseiras, relógios, chapéus, etc – foi inspirada no seriado estadunidense. Tal referência se tornou mais explícita quando Sinhozinho Malta e Viúva Porcina viajaram à cidade de Dallas para uma exposição de animais. A imprensa chegou a noticiar que Lima Duarte e Regina Duarte contracenariam com alguns atores da série em cenas para a novela, o que acabou não se concretizando.

Por fim, o Brasil parou no dia 22/02/1986 para assistir ao último capítulo da novela, para o qual foram gravados dois finais no estilo do clássico filme Casablanca (1942). Ao som da música “As Time Goes By” (tema do filme, tocado na novela com uma gaita), Porcina fica na dúvida se embarca com Roque no avião ou continua com Sinhozinho Malta em Asa Branca. A viúva opta por permanecer ao lado do coronel e os dois terminam acenando para Roque, que vai embora. Reza a lenda que um terceiro final teria sido criado, no qual Porcina terminaria com seu capataz Rodésio (Tony Tornado), que sempre fora apaixonado pela patroa.

Lucas Martins Néia ainda destaca em sua pesquisa a alusão à política brasileira neste final. A decisão de Porcina pelo corrupto, autoritário e simpático Sinhozinho Malta, em detrimento do apático e duvidoso Roque, estava implicitamente relacionada ao governo de José Sarney. Enquanto a personagem era uma viúva “sem nunca ter sido”, Sarney também era presidente sem nunca ter sido eleito.

Outra referência está no fato de que a figura de Sinhozinho Malta era associada à Ditatura Militar. Ou seja, a opção de Porcina pode ser relacionada ao continuísmo de regime governamental (em 1985-1986, com o fim do Governo Militar, celebrava-se a Nova República). Além disso, como Roque Santeiro (o herói lendário), o recém-falecido presidente Tancredo Neves (que não chegou a assumir o cargo) foi mitificado como redentor. Se Roque liberou Asa Branca de Navalhada e seu bando, Tancredo resgatava a democracia da ditadura. Morto, tornou-se, também, um mito.

Abordagens

Após várias novelas do horário das oito da noite ambientadas no universo urbano do Rio de Janeiro, a Globo centralizou a ação em uma região do Nordeste brasileiro. Com o sucesso de Roque Santeiro, iniciou-se uma onda de tramas regionais estruturadas em alguma cidadezinha nordestina, com personagens folclóricos e situações cômicas e surreais. Uma linha que o próprio Dias Gomes havia desenvolvido em suas novelas O Bem-Amado (1973) e Saramandaia (1976), às dez da noite, inspirando-se no chamado Realismo Fantástico da literatura latino-americana, principalmente em “Cem Anos de Solidão” (1967), do colombiano Gabriel García Márquez. Aguinaldo Silva, o coautor, fez sucesso com a fórmula em novelas seguintes, como Tieta (1989-1990), Pedra Sobre Pedra (1992), Fera Ferida (1993) e A Indomada (1997).

Por meio do contraponto entre o Padre Hipólito (Paulo Gracindo) e o Padre Albano (Cláudio Cavalcanti), chamado de “padre comunista”, a novela abordou um tema em voga na época: a divisão da Igreja Católica entre tradicionalistas e adeptos da Teologia da Libertação. Progressista, Padre Albano lutava a favor dos trabalhadores e era contra o mito de Roque Santeiro.

Censura

A Censura Federal (ainda em voga na época, agora da Nova República) reprimiu a trama do peão homossexual João Ligeiro (Maurício Mattar). O personagem vivia pensativo, recusando o assédio da namorada Dondinha (Cristina Galvão). Sem poder mostrar a sua inclinação sexual, os autores mudaram sua trama. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)
João Ligeiro pensou, pensou e rendeu-se ao amor de Dondinha, para depois ser morto, baleado por um jagunço em um tocaia armada por Sinhozinho Malta contra Roque. João foi assassinado no capítulo 143, exibido em 06/12/1985. Após a morte do amado, Dondinha descobriu-se grávida.
Na versão vetada da novela (de 1975), João Ligeiro seria uma mulher, masculinizada, vivida pela atriz Cidinha Milan.

No decorrer da exibição de Roque Santeiro, Dias Gomes, outrora otimista com o discurso de que a política de cortes da Censura Federal seria substituída pela lógica da classificação indicativa, manifestou sua insatisfação com o fato de que as intervenções por parte dos profissionais do governo não haviam cessado. Depois dessa declaração do autor, no entanto, consta que o chefe da Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) foi desaconselhado pelo ministro da Justiça a prosseguir com aquele modus operandi na análise dos roteiros da novela, e que, assim, a partir do capítulo 110, nada mais teria sido cortado. (“Como a Ficção Televisiva Moldou um País”, Lucas Martins Néia)

Viúva Porcina

No elenco, quem mais brilhou foi Regina Duarte, como a Viúva Porcina, que, de “namoradinha do Brasil” passou a “amante nacional”.

Betty Faria, a Viúva Porcina escalada em 1975, recusou revivê-la porque não conseguiria conciliar o trabalho com o momento pessoal que vivia. E também porque não gostava da personagem: “Porcina representa uma mulher de valores antigos. Não gosto dela como pessoa, nem do seu caráter. Eu convivi com Porcina há dez anos [na primeira versão] e já não gostava dela. Na época, era muito difícil gravar, porque eu estava sempre criticando, nem conseguia ter carinho por ela. Quando recusei essa novela, foi porque tive que fazer uma opção entre coisas da minha vida particular ou fazer a novela e ficar presa sete, oito meses. (…) nessa tradicional Nova República, eu gostaria de ter um personagem que pudesse ajudar em alguma coisa, não só fazer sucesso e o público rir o tempo todo. Um personagem com consciência.” (Jornal do Brasil, 20/10/1985, TV-Pesquisa PUC Rio)

Vários nomes foram cogitados para substituir Betty Faria: Vera Fischer, Sônia Braga, Marília Pêra, Natália do Valle, Tânia Alves, Maria Zilda e outras. Até que chegou-se a Regina Duarte. Sobre a escalação da atriz, Daniel Filho comentou em seu livro “O Circo Eletrônico”:
“Primeiro, conversei com ela para ver se gostaria de fazer o papel. Ela leu e adorou. Se demonstrasse algum receio, não arriscaríamos. Paulo Ubiratan, o diretor-produtor, tinha medo e ao mesmo tempo era fascinado pelo inusitado. Era um risco, mas pensado. Regina tem enorme carisma. E quando ela quer e gosta, é difícil ela não acertar.”

O papel de Porcina foi aceito por Regina Duarte em uma terça-feira e no dia seguinte a atriz já entrava em estúdio para gravar. Para encontrar o tom exato da personagem, a atriz fechou-se em uma sala com o diretor Paulo Ubiratan. Duas horas depois nascia Porcina.
“Paulo fez Regina dizer as falas aos berros, aos gritos, até ela não aguentar mais”, revelou Aguinaldo Silva em entrevista. (Jornal do Brasil, 15/10/1985, TV-Pesquisa PUC Rio)

Elenco

Além de Regina Duarte, outros nomes destacaram-se no elenco, em um galeria de personagens inesquecíveis: o Sinhozinho Malta, de Lima Duarte; o Padre Hipólito, de Paulo Gracindo; o casal Florindo Abelha e Dona Pombinha, de Ary Fontoura e Eloísa Mafalda; Mocinha, de Lucinha Lins; Zé das Medalhas e sua reprimida mulher Lulu, de Armando Bógus e Cássia Kiss; Jiló, de João Carlos Barroso; o Professor Astromar, de Ruy Rezende; o Cego Jeremias, de Arnaud Rodrigues; entre outros.

Primeira novela das atrizes Lucinha Lins, Patrícia Pillar e Cláudia Raia.
Maurício Mattar já havia aparecido nos capítulos finais de Vereda Tropical, naquele ano, mas Roque Santeiro foi sua primeira novela com um personagem fixo.
Primeira novela na Globo dos atores Othon Bastos e Tony Tornado.

Alguns atores do elenco original (de 1975) foram reescalados e puderam enfim interpretar seus papéis: Lima Duarte (Sinhozinho Malta), João Carlos Barroso (Jiló), Luiz Armando Queiróz (Tito) e Ilva Niño (Mina). Milton Gonçalves, que iria viver o personagem equivalente ao Padre Hipólito em 1975, voltou em 1985 como o Promotor Público.

A atriz Elizângela foi escalada, na versão de 1975, para viver a personagem Tânia (Lídia Brondi em 1985). Em depoimento ao site Memória Globo, a atriz contou que, quando soube que Roque Santeiro finalmente seria levada ao ar, foi pessoalmente conversar com o diretor Paulo Ubiratan para pedir uma personagem na novela. Ganhou o papel de Marilda, mulher do ator Roberto Mathias (Fábio Júnior).

Outros atores do elenco original retornaram em participações especiais ou pontuais: Denis Carvalho, Lutero Luiz, Leina Krespi, Gilson Moura e Walter Santos.

Bordões

A empatia entre Sinhozinho Malta (Lima Duarte) e Viúva Porcina (Regina Duarte), protagonistas de cenas memoráveis, conquistou o público. As hilárias brigas do casal, que vivia uma conturbada relação, faziam muito sucesso. Sinhozinho, para pedir perdão à amada, ficava de quatro e lambia a mão de sua “dona”, imitando um cachorro. Ela o chamava de Cachorrinho e ele a chamava de Santinha. (Site Memória Globo)

Sinhozinho Malta tinha uma característica que ficou marcante e é lembrada até hoje: quando estava nervoso, ou queria impor a sua vontade, sacudia as pulseiras e o relógio em um tique acompanhado por um efeito sonoro que reproduzia o som de uma cascavel misturado ao som do chocalho das pulseiras, seguido do bordão “Tô certo, ou tô errado?” Outro som próprio do personagem era o barulho de guilhotina, seguido de um movimento brusco com a mão, cada vez que demonstrava como decepava a parte íntima de seus inimigos e de seus bois.

Também o prefeito Florindo Abelha (Ary Fontoura) e Zé das Medalhas (Armando Bógus) tinham trejeitos próprios, que faziam parte da interpretação dos atores. Zé das Medalhas, por exemplo, esticava o queixo para a lateral, quando queria representar medo, perigo ou dúvida, e ouvia-se uma sonoplastia característica.

A falsa portenha Amparito Hernandez (Nélia Paula) abusava das interjeições “Miércoles!” e “Carácoles!” ditas para situações de surpresa, admiração ou indignação. E Regina Duarte, além do exagero no vestir e portar-se de sua Porcina, ainda é lembrada pelo grito “Minaaaaaaaaa!” sempre que sua personagem exigia a presença imediata da criada, vivida por Ilva Niño.

O Professor Astromar Junqueira (Ruy Rezende) também tinha um gesto característico: de vez em quando coçava um dente canino. Quando aparecia na porta da casa do prefeito para conversar com sua amada Mocinha (Lucinha Lins), perguntava: “Posso penetrar?”

Figurinos e caracterizações

Ruy Rezende ficou marcado pela música-tema de seu personagem, “Mistérios da Meia-Noite”, de Zé Ramalho, bem como pela caracterização do soturno Professor Astromar, sempre de preto, com sobrancelhas grossas e rosto muito pálido. A sequência em que Astromar se transforma em lobisomem, no último capítulo, é uma das mais marcantes da novela.

O figurino de Porcina virou moda: maquiagem exagerada, sombra colorida nos olhos, batom vermelho brilhante ou rosa choque, vestidos colantes com drapeados e decotes, estampas e bijuterias extravagantes, muito brilho, paetês, chapéus, turbantes, laçarotes e óculos vistosos.

Sinhozinho Malta, muito cafona, usava colares e pulseiras de ouro, broches, chapéus inspirados no seriado americano Dallas (1978-1991), camisas de cores chamativas, colarinhos com biqueiras de metal prateado, lenço no pescoço e perucas. A produção nacional de perucas foi influenciada pelo personagem de Lima Duarte. Segundo dados da época, as vendas de perucas aumentaram 80% no país. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Cenografia e locações

A cidade cenográfica foi construída em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Para dar vida a Asa Branca, o cenógrafo Mário Monteiro criou uma cidadezinha que fosse parecida com Juazeiro do Norte, no Ceará, Porto das Caixas, no Rio de Janeiro, e Aparecida do Norte, em São Paulo – cidades que vivem em função da religiosidade popular. Asa Branca se parecia com as três, mas tinha identidade própria.
Em tempo recorde – 20 dias –, 180 homens construíram 26 prédios de madeira tratada, para obter maior durabilidade. Algumas construções, como a barbearia e a igreja, também tiveram seu interior montado em externas, além da fachada, o que reduzia as gravações em estúdio.

O maior destaque da cidade cenográfica era o centro de Asa Branca, mais precisamente a Praça da Igreja Matriz, onde ficavam a estátua de Roque Santeiro e as barraquinhas que vendiam todo tipo de suvenir do “santo”. O local reunia os romeiros que acorriam à cidade. A vegetação que cercava a praça era cenográfica. Malandramente, na tomada frontal da igreja, era possível ver ao fundo, na rua de trás, a fachada da boate Sexus, com neon piscando.
A equipe de cenografia teve a preocupação de retratar diversas regiões brasileiras em um cenário só. Para isso, foi feita uma colagem de símbolos de diferentes locais do país. Misturou-se o colonial carioca com o nordestino, construções da região Centro-Oeste com elementos do Sul, tudo com o objetivo de representar em Asa Branca o Brasil por inteiro. (Site Memória Globo)

A estátua de Roque Santeiro tombando ao ser baleado – que, na novela, estava na praça central de Asa Branca, em frente à igreja – foi uma encomenda do diretor Daniel Filho ao cenógrafo Mário Monteiro por ocasião da primeira versão da novela, em 1975. Daniel explicou no livro “Antes que me Esqueçam”:
“Pedi que fosse parecida com aquela da Avenida Atlântica [no Rio] em homenagem aos Dezoito do Forte de Copacabana. É aquele camarada caindo com a mão no peito e largando o rifle. Só que na novela, em vez de soldado, era um vaqueiro”.
A estátua de 1975 foi aproveitada em 1985.

A novela teve cenas gravadas em Dallas, no Texas (EUA), para onde viajaram Sinhozinho Malta e Viúva Porcina, para participarem de uma feira de gado que ocorria na cidade. Marcos Paulo foi o diretor responsável pelas gravações e, inclusive, atuou, como um motorista brasileiro que se envolve com Porcina.

Trilha sonora

A trilha sonora obteve enorme sucesso e levou a gravadora Som Livre a abrir um precedente: pela primeira vez, deixou de produzir a trilha sonora internacional de uma novela para lançar um segundo volume da trilha nacional. O volume 1 vendeu mais de meio milhão de cópias em apenas três meses. (Site Memória Globo)

A maioria das músicas da trilha sonora marcaram a época e são imediatamente associadas à novela. Foram escolhidas “a dedo” para as ambientações e personagens: “Isso Aqui Tá Bom Demais” (Dominguinhos), “A Outra” (Simone), “Sem Pecado e Sem Juízo” (Baby Consuelo), “Chora Coração” (Wando), “Mistérios da Meia-Noite” (Zé Ramalho), “Santa Fé” (Moraes Moreira), o tema da abertura, “Dona” (Roupa Nova), “De Volta Pro Aconchego” (Elba Ramalho), “Coração Aprendiz” (Fafá de Belém), “Roque Santeiro” e “Verdades e Mentiras” (Sá e Guarabira), “Pelo Sim Pelo Não” (Cláudio Nucci e Zé Renato), “Vitoriosa” (Ivan Lins), “Mil e Uma Noites de Amor” (Pepeu Gomes), “Entra e Sai de Amor” (Altay Velloso) e outras.

Em 1991, por ocasião da reprise da novela, a Som Livre relançou a trilha sonora volume 1 com a adição de duas músicas do volume 2 (“Vitoriosa” e “Verdades e Mentiras”), em LP, K7 e (pela primeira vez nessa novela) em CD.
Em 2001, 13 músicas das duas trilhas de Roque Santeiro foram relançadas em um só CD, na coleção “Campeões de Audiência”, da Som Livre: 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

Desde os anos 2000, corre na Internet uma suposta trilha internacional de Roque Santeiro (com Patrícia Pillar na capa). Essa trilha é fake, nunca existiu, alguém inventou a capa e a seleção das músicas. Sequer foi cogitado o lançamento de um LP internacional da novela em sua época.

Abertura e merchandising

Para a abertura da novela, o designer gráfico Hans Donner e sua equipe utilizaram a ambiguidade para refletir, de forma inusitada, a invasão do homem na natureza. Assim boias-frias caminhavam sobre uma folha, um aeroplano sobrevoava o olho de um jacaré, um trator percorria espigas de milho, uma locomotiva saía de uma fruta, uma motocicleta ziguezagueava sobre cocos, bois andavam sobre bananas verdes, uma jangada navegava sobre a asa azul de uma borboleta e carros apareciam presos em um engarrafamento sobre uma vitória-régia.
Para a produção desses efeitos, foram usados chromakey e miniaturas (era perceptível que os carros sobre a vitória-régia eram de brinquedo).

O logotipo tentava evidenciar de forma sucinta dois aspectos da novela: a brasilidade, por meio da paleta cromática (verde e amarela), e a santidade, por uma simples interferência formal na logotipia, transformando a letra “Q” de “Roque” em uma auréola estilizada. (colaboração André Luiz Sens, blog Televisual)

Em uma ação de merchandising na abertura, uma moto Agrale aparecia rapidamente (quando o motoqueiro pilota nos cocos). Também o trator (da espiga de milho) era Agrale, perceptível por uma fração de segundo. A Agrale voltou a aparecer, como merchan em abertura de novela, em Fera Radical, em 1988.

Em Roque Santeiro aconteceu uma das mais criativas inserções de merchandising da história de nossas novelas. Um outdoor em Asa Branca causou furor entre os homens da cidade. Na ação criada pelo publicitário Agnelo Pacheco, o outdoor exibia um quadril feminino usando calcinha Hope com o slogan “A calcinha que mexe com a cabeça dos homens”. E mexia literalmente: o quadril rebolava para o sisudo Professor Astromar (Ruy Rezende).

Reconhecimento da concorrência

Em agosto de 1985, durante a programação do SBT, Silvio Santos, reconhecendo o sucesso imbatível de Roque Santeiro, recomendou que seu público assistisse à novela na TV Globo e depois mudasse de canal para acompanhar a minissérie americana Pássaros Feridos em sua emissora.

A arriscada estratégia deu certo e o SBT superou a concorrente a partir das 22 horas. Esta tática seria repetida em outras oportunidades, sempre rendendo uns pontinhos a mais de audiência para a emissora do “homem do baú”. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Campanha de fim de ano

Com a grande repercussão da novela, a Globo criou para 1985 uma campanha de fim de ano bem diferente: em vez de reunir seu elenco e profissionais (como faz tradicionalmente), limitou-se ao elenco de Roque Santeiro, na cidade cenográfica de Asa Branca, desejando paz ao ano que estava por vir, embalada pela música de todos os anos, “Um Novo Tempo” (“Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa”).

Repetecos

A novela foi reprisada duas vezes na TV aberta: entre 01/07/1991 e 03/01/1992, aos finais de tarde; e entre 11/12/2000 e 29/06/2001, no Vale a Pena Ver de Novo.
Também duas vezes no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo): entre 18/07/2011 e 04/05/2012, à 0h15 (com reprise ao meio-dia do dia seguinte); e a partir de 04/11/2024, às 12h15.

No rastro o sucesso da novela, chegou às bancas o álbum de figurinhas de Roque Santeiro – hoje peça disputada por colecionadores.

Roque Santeiro foi lançada posteriormente em versões romanceadas, em duas ocasiões. Em 1987, na coleção “Campeões de Audiência”, da Editora Globo, doze adaptações de novelas de sucesso em livretos, à venda nas bancas. E em 2008, também pela Editora Globo, na série de livros “Grandes Novelas”, adaptações de cinco novelas, escritas por Mauro Alencar com colaboração de Eliana Pace.

Roque Santeiro foi a primeira novela comercializada em DVD (box com 16 discos), pela Globo Marcas, em 2010, nas comemorações do 25º aniversário da novela.

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 21/06/2021.

Trilha sonora volume 1

01. ISSO AQUI TÁ BOM DEMAIS – Dominguinhos (participação especial Chico Buarque) (tema de Sinhozinho Malta)
02. A OUTRA – Simone (tema de Lulu)
03. SEM PECADO E SEM JUIZO – Baby Consuelo (tema de Linda Bastos)
04. CHORA CORAÇÃO – Wando (tema de Mocinha)
05. MISTÉRIOS DA MEIA-NOITE – Zé Ramalho (tema do lobisomem)
06. SANTA FÉ – Moraes Moreira (tema de abertura)
07. DONA – Roupa Nova (tema de Porcina)
08. DE VOLTA PRO ACONCHEGO – Elba Ramalho (tema de Roque)
09. INDECENTE – Anne Duá (tema de Matilde e suas “meninas”)
10. CORAÇÃO APRENDIZ – Fafá de Belém (tema de Tânia)
11. ROQUE SANTEIRO – Sá e Guarabira (tema de locação: Asa Branca)
12. CÓPIAS MAL FEITAS – Alceu Valença (tema dos poderosos de Asa Branca)

Sonoplastia: Aroldo Barros
Coordenação de produção: Mariozinho Rocha

Trilha sonora volume 2

01. MALANDRO SOU EU – Beth Carvalho (tema de Roque)
02. COISAS DO CORAÇÃO – Ritchie
03. PELO SIM PELO NÃO – Cláudio Nucci e Zé Renato (tema de Sinhozinho Malta)
04. VITORIOSA – Ivan Lins (tema de Lulu)
05. FRUTA MULHER – Nana Caymmi (tema de Matilde)
06. VERDADES E MENTIRAS – Sá e Guarabira (tema de locação: Asa Branca)
07. MIL E UMA NOITES DE AMOR – Pepeu Gomes (tema de Linda Bastos)
08. A HORA E A VEZ – Cláudio Nucci e Zé Renato (tema de Porcina)
09. MAL NENHUM – Joanna (tema de Ninon e Delegado Feijó)
10. ENTRA E SAI DE AMOR – Altay Velloso (tema de Tânia e Padre Albano)
11. AMPARITO AMOR – Cauby Peixoto (tema de Amparito Hernandez)
12. MAL DE RAIZ – MPB4 (tema de Mocinha)

Coordenação de produção: Mariozinho Rocha

Tema de abertura: SANTA FÉ – Moraes Moreira

Bam-bam-bam-bam bateu
Bateu meu coração
Minha cabeça enlouqueceu
Tam-tam-também tocou
Falou o nosso amor
Falou e desapareceu

Deus e o Diabo na Terra
Sem guarda-chuva, sem bandeira
Bem e o mal
Ninguém destrói essa guerra
Plantando brisa e colhendo vendaval

Não sou nenhum São Tomé
No que eu não vejo eu ainda levo fé
Eu quero a felicidade
Mas a tristeza anda pegando no meu pé

Tem gente falando com a lua
Gente chorando na praça
Menino querendo rango
Nêgo bebendo cachaça
E a cada minuto que passa
Tem muita gente chegando
Tem muita gente pagando
Pagando, pagando pra ver…

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