Sinopse

Renato, um viúvo quarentão, charmoso e mulherengo, vive entre São Paulo, onde administra a joalheria da família da falecida mulher, e o Rio, onde mora a única filha, a problemática Cris, sempre lhe cobrando atenção. Com a morte da mãe, Cris foi morar com as tias Estela e Eunice. Estela é uma mulher ainda jovem, mas formal e controladora, que assumiu a educação de Cris e a trata como filha. Por trás de sua constante implicância com Renato, esconde-se a paixão que sempre nutriu pelo cunhado.

Estela vigia a vida de Renato por meio de Cris, que nunca aprova as namoradas do pai. A tia alimenta na sobrinha a ideia de que Renato não pode dividi-la com outra mulher. Tudo bem, Renato não deseja compromisso. Até o dia em que ele conhece Teca, psicóloga para quem Cris trabalha, mulher independente por quem acaba arrebatado. Para dar conta desse romance, Renato enfrenta a fúria de Estela e suas armações, principalmente quando ela coloca Cris contra o pai por causa de Teca.

Estela controla até a irmã mais velha, Eunice, que vive em depressão desde que foi abandonada pelo marido. Quando declara guerra a Renato, Estela faz o possível para sabotar a aproximação de Nélio, melhor amigo do cunhado, que passa a se interessar pelos problemas de Eunice. Enquanto isso, Cris troca o namorado Bruno pelo amigo dele, Rodrigo, rapaz que veio do interior para estudar no Rio e trabalha na agência de viagens de Raquel. Rodrigo ainda não sabe, mas sofre de uma doença grave.

Raquel é uma mulher autoritária que controla os negócios, o marido Maurício e os filhos Sérgio e Geraldo. Muambeira, ela revende artigos que traz do exterior de forma ilegal, mas mal percebe que está sendo investigada. Sérgio ama loucamente Teca, enquanto Geraldo é apaixonado por Beatriz, filha da faxineira Zoraide, mulher que Maurício amou na juventude. Zoraide nunca o perdoou por ter sido preterida por Raquel, que tinha dinheiro, e faz o possível para impedir que Beatriz namore Geraldo.

Globo – 19h
de 4 de setembro de 1978
a 17 de março de 1979
169 capítulos

novela de Silvio de Abreu
direção de Régis Cardoso, substituído por Roberto Vignatti e Antônio Miziara

Novela anterior no horário
Te Contei?

Novela posterior
Feijão Maravilha

ARACY BALABANIAN – Teca (Tereza Cristina Guimarães, Terezinha)
JUCA DE OLIVEIRA – Renato Vieira da Costa
RENÉE DE VIELMOND – Estela Azevedo de Albuquerque
ARMANDO BÓGUS – Nélio
NEUZA AMARAL – Eunice Azevedo de Albuquerque Magalhães
NÁDIA LIPPI – Cris
NEY SANT´ANNA – Rodrigo Mestieri
CLÁUDIO CAVALCANTI – Bruno
LÚCIA ALVES – Betinha (Elizabeth Pires de Camargo)
CARLOS GREGÓRIO – Taio (Antônio Carlos Mestieri)
EDWIN LUISI – Sérgio
JOÃO CARLOS BARROSO – Geraldo
KÁTIA D’ANGELO – Beatriz
RENATA FRONZI – Raquel
ROGÉRIO FRÓES – Maurício
ELOÍSA MAFALDA – Zoraide
FELIPE CARONE – Mariano de Camargo
YARA CÔRTES – Alice Pires de Camargo
ÉLIDA L’ASTORINA – Aninha (Ana Pires de Camargo)
IDA GOMES – Aída Guimarães
LEONOR NAVARRO – Delfina
MYRIAN RIOS – Patrícia da Silva
ALCIONE MAZZEO – Vera
LADY FRANCISCO – Helena / Wânia de Alencar
THELMA ELITA – Ully (Olímpia Sebastiana Araújo da Silva)
OSWALDO LOUZADA – Biliu Catarino
LÚCIA MELLO – Gisélia
AGNES FONTOURA – Dona Tita
ALCÍRIO CUNHA – Barbosa (Astrogildo Barbosa)
MARLY AGUIAR – Diná
REGINA LARA – Marta

e
ANTÔNIO PATIÑO – Honório Mestieri (pai de Rodrigo e Taio, marido de Olívia)
DENNY PERRIER – recepcionista do hotel em Paris onde Renato, Teca e Ully se hospedam, no início
ÊNIO SANTOS – Plínio Magalhães (marido de Eunice que a deixou no passado)
GILDA SARMENTO – Olívia Mestieri (mãe de Rodrigo e Taio, mulher de Honório)
HEMÍLCIO FRÓES – delegado que detém Nélio e Gisélia, suspeitos de tentar roubar a joalheria
ÍRIS NASCIMENTO – aluna das aulas de balé de Sarita (figuração)
JANSER BARRETO – funcionário do navio em excursão a Buenos Aires
JOSÉ MARIA MONTEIRO – Carlos Callux (advogado da joalheria no Rio)
JOSÉ STEIMBERG – Jofre Santana (o verdadeiro, famoso psicólogo, nome com o qual Renato apresentou-se a Teca)
JUAN DANIEL – Miguel (caseiro da propriedade de Renato em Buenos Aires)
JULCILÉA TELLES – Heloísa (policial que se passa por cantora do navio em excursão a Buenos Aires)
MARIA TERESA BARROSO – chefe de Alice no atelier de costura
MOACYR DERIQUÉM – Arthur (comandante do navio em excursão a Buenos Aires)
NATÁLIA DO VALLE – uma paquera de Renato
ORION XIMENES – Castelo (coordenador do colégio onde Sérgio leciona)
PEPA RUIZ – Sarita (diretora da escola de balé onde Aída vai trabalhar como pianista)
RÉGIS CARDOSO – na lanchonete onde Taio trabalha (figuração no capítulo 21)
ROBERTO BONFIM – Augusto (funcionário do navio em excursão a Buenos Aires, interessa-se por Betinha)
ROSANA MARTINS – Rosa (empregada no apartamento de Estela)
RUBEM DE BEM – recepcionista do hotel onde Renato se hospeda no Rio
TONY FERREIRA – Joel (professor de Teca)
Dona Esmeralda (vizinha de Zoraide)
Dr. Castilho (médico de Rodrigo)
Margarida (empregada na casa de Raquel)
Mariana (empregada no apartamento de Helena)

– núcleo de TECA (Aracy Balabanian), psicóloga, mulher independente. A princípio, sente-se muito segura de seus sentimentos, não se rendendo facilmente ao amor. Pelo menos até conhecer o homem que abala suas estruturas:
a mãe AÍDA (Ida Gomes), cujo maior desejo é ver a filha bem casada. Viúva, não é rica, mas vive bem com a pensão do falecido. É uma mulher pudica e conservadora, presa a regras do passado e resistente às modernidades. Aos poucos, passa por uma transformação
as tias, irmãs mais velhas de Aída: DELFINA (Leonor Navarro), a mais velha. Recém-viúva aposentada, vai morar em sua casa e passa a viver intensamente, fazendo tudo o que o casamento nunca a permitiu. Extrovertida e alegre, quer tirar o atraso de décadas de opressão com o falecido. Não permite que se intrometam em sua vida e enfrenta Aída, que discorda de suas atitudes,
e ALICE (Yara Côrtes), dona de casa, casada, com duas filhas. A mais pobre das irmãs, costura para ajudar no orçamento doméstico
a amiga ULLY (Thelma Elita), colega da faculdade que tornou-se uma modelo internacional
a secretária em seu consultório, DINÁ (Marly Aguiar)
o pretendente de Aída, BILIU (Oswaldo Louzada), que ela conhece em uma excursão a Buenos Aires
a professora de balé SARITA (Pepa Ruiz), diretora da escola onde Aída vai trabalhar como pianista das aulas.

– núcleo de RENATO (Juca de Oliveira), viúvo, executivo bem sucedido, vice-presidente da Port Grimaud, rede de joalherias com sede em São Paulo que pertence à família da falecida mulher. Charmoso, mulherengo e conquistador, é um fanfarrão, mas acaba apaixonando-se verdadeiramente por Teca, sem saber que ela é a psicóloga para quem sua filha trabalha. Vive entre São Paulo e o Rio, já que precisa constantemente visitar a filha e prestar contas às cunhadas:
o amigo NÉLIO (Armando Bógus), executivo da joalheria, seu confidente. Mais responsável que ele, está sempre tirando-o das confusões em que se mete por causa das mulheres
a secretária GISÉLIA (Lúcia Mello), extremamente eficiente, mas um tanto estabanada. Solteirona, sonha com um grande romance, mas não conhece quase ninguém e vive em um mundo de fantasia
a empregada MARTA (Regina Lara), na verdade uma “espiã” em sua casa
o empregado MIGUEL (Juan Daniel), caseiro de sua propriedade em Buenos Aires, sujeito malandro.

– núcleo de ESTELA (Renée de Vielmond), irmã mais nova de Elvira, falecida mulher de Renato. Após a morte da irmã, ficou responsável pela criação da sobrinha, filha de Renato, que foi morar consigo no Rio de Janeiro, enquanto ele trabalha e mora em São Paulo. Apesar de jovem, é um mulher controladora, fria, formal, egoísta e esnobe. Nutre uma paixão doentia pelo cunhado, escondida atrás de uma implicância gratuita. Por ciúmes e despeito, boicota Renato na empresa e usa a sobrinha para interferir em seu namoro com Teca, colocando a garota contra o pai. Paga para Marta, empregada de Renato, passar-lhe informações sobre as conquistas do cunhado:
a irmã EUNICE (Neuza Amaral), a outra cunhada de Renato. Verdadeira dona da joalheria, confiou sua direção ao cunhado. Apesar de sua riqueza, sofre de crises de depressão, pois não consegue superar o abandono do marido. Desperta o interesse de Nélio, que, apaixonado, tenta ajudá-la, apesar de Estela ser contra
a sobrinha CRIS (Nádia Lippi), perdeu a mãe quando tinha dois anos. Mora no Rio com as tias, irmãs de sua mãe. Carente e rebelde, vive cobrando atenção do pai e batendo de frente com Estela, que é muito controladora. Estudante de Psicologia, trabalha para Teca, que é apegada a ela. Porém, a situação muda quando Cris descobre que Teca está envolvendo-se amorosamente com seu pai
a amiga HELENA (Lady Francisco), milionária e independente. É confidente de Estela, mas esconde da amiga que encontra-se em São Paulo com Renato, com quem tem um caso rápido, usando outro nome: WÂNIA
a amiga de Cris, PATRÍCIA (Myrian Rios), garota sonsa que tem inveja dela. Veio do interior para estudar no Rio. Morava em um pensionato, mas foi morar no apartamento de Estela, que usa-a para vigiar Cris
a empregada ROSA (Rosana Martins).

– núcleo de RODRIGO (Ney Sant´Anna), apaixonado por Cris, que a princípio é namorada de um amigo. Veio do interior com o irmão para estudar. Divide um apartamento com o irmão e outros rapazes. Trabalha como guia turístico em uma agência de viagens. Ainda não sabe, mas sofre de uma doença grave e tem pouco tempo de vida:
o irmão TAIO (Carlos Gregório), sujeito tímido e desengonçado. Tem uma visão crítica do mundo, um tanto pessimista. Trabalha como garçom em lanchonete. Está há anos tentando vestibular sem conseguir entrar para a faculdade. Descobre a doença do irmão, mas a esconde dele, tentando protegê-lo
o amigo BRUNO (Cláudio Cavalcanti), artista plástico em início de carreira, com quem mora. É uma espécie de hippie tardio, que tenta ganhar algum dinheiro vendendo seus quadros na praia. Machão um tanto intransigente, no início é namorado de Cris, apesar de ela ficar balançada por Rodrigo. Helena encanta-se por ele e passa a financiar a sua arte.

– núcleo de Alice, irmã de Aída e Delfina, tia de Teca. Mulher pobre, batalhadora, costura para ajudar a família. Tenta apaziguar o lar, sempre em confusão por causa do marido e das filhas:
o marido MARIANO (Felipe Carone), motorista, primeiro de ônibus, depois de táxi, trabalha duro para sustentar a casa. Extremamente controlador com as filhas, com quem vive batendo de frente por causa da rebeldia delas. Amigo de Rodrigo, com quem trabalha, trata-o como um filho. Esconde muitos segredos da família
as filhas: BETINHA (Lúcia Alves), moça imatura para sua idade. Rebelde, vive desafiando a autoridade do pai. No início apaixonada por Rodrigo, não admite perdê-lo para Cris. Usa Taio, apaixonado por ela, para atingir Rodrigo,
e ANINHA (Élida L´Astorina), adora se misturar à turma da irmã, apesar de ainda ser adolescente. É apaixonada em segredo por Taio. Ao ouvirem uma conversa dos pais pela metade, as irmãs entendem que uma delas é adotada e passam a investigar o caso
a vizinha DONA TITA (Agnes Fontoura), mulher intrometida e fofoqueira. Sabe tudo o que acontece nas redondezas e vigia os passos dos moradores do prédio onde é síndica.

– núcleo de RAQUEL (Renata Fronzi), proprietária da Raquel Tour, agência de viagens onde Rodrigo trabalha. Autoritária e arrogante, de caráter dúbio, só pensa em dinheiro e levar vantagem. Controla os negócios, o marido e a vida dos filhos. Muambeira, mantém em casa um estoque de artigos que traz do exterior de forma ilegal para revender. Não suspeita que, por causa disso, é investigada pela Polícia Federal:
o atual marido MAURÍCIO (Rogério Fróes), dirige a Raquel Tour. Apesar de crítico da mulher, acaba fazendo todas as suas vontades. De origem humilde, é amigo de Mariano desde a juventude. Deu o golpe do baú ao casar-se com Raquel, que era viúva e tinha boa situação financeira
os filhos: SÉRGIO (Edwin Luisi), o mais velho, do primeiro casamento. Professor de Matemática. Dominado pela mãe, procura não contrariá-la. Tímido e desajeitado, tem dificuldade de se relacionar afetivamente. É apaixonado por Teca, que o vê apenas como um amigo, apesar da insistência dele – para o desespero de Raquel, que não aprova Teca,
e GERALDO (João Carlos Barroso), o caçula, do casamento com Maurício. Totalmente diferente de seu irmão. Não aguentando a pressão materna, e para ter mais liberdade, vai morar no apartamento de seus amigos Rodrigo, Taio e Bruno
a secretária na Raquel Tour VERA (Alcione Mazzeo), interesseira e carreirista, não mede esforços para conseguir o que deseja: casar-se com Sérgio, filho dos patrões. Ganha a confiança de Raquel, mas afronta Maurício, chantageando-o
o fiscal da alfândega BARBOSA (Alcírio Cunha), que investiga os seus passos sem que ela perceba
a empregada MARGARIDA.

– núcleo de ZORAIDE (Eloísa Mafalda), mulher humilde e amargurada. No início, trabalha como servente na Raquel Tour, fazendo limpeza e servindo cafezinho. No passado, tivera um romance com os amigos Mariano e Maurício, mas as respectivas famílias deles nem suspeitam. Controla os passos da filha. Esconde um segredo envolvendo a filha, Maurício e Mariano:
a filha BEATRIZ (Kátia D´Angelo), amiga de Betinha e Aninha. Tem vergonha de sua condição humilde, por isso esconde que é pobre dos amigos com quem estuda. Apaixona-se por Geraldo, mas a mãe, sem maiores explicações, proíbe o namoro terminantemente. Paira no ar a dúvida de que Beatriz seja filha de Mariano ou de Maurício.

– núcleo da excursão a Buenos Aires promovida pela Raquel Tour, para onde vão Raquel, Geraldo, Beatriz, Renato, Teca, Aída, Biliu, Mariano, Alice, Betinha, Aninha, Taio, Patrícia, Gisélia e Barbosa:
o comandante do navio ARTHUR (Moacyr Deriquém), por quem Gisélia apaixona-se perdidamente
os funcionários do navio: AUGUSTO (Roberto Bonfim), cantor do grupo musical do navio e responsável pelo entretenimento na viagem. Interessa-se por Betinha, achando que ela é rica,
e HELOÍSA (Julciléa Telles), cantora do grupo musical do navio, tivera um caso com Mariano. Na verdade, é comparsa de Barbosa: uma policial disfarçada que investiga Raquel e suas atividades ilícitas.

Estreias

Estreia de Silvio de Abreu na Globo como autor de novelas. No ano anterior (1977), Silvio havia adaptado, com relevante sucesso, o romance Éramos Seis, de Maria José Dupré, para a TV Tupi, com a parceria de Rubens Ewald Filho.

Os dois autores foram então contratados pela Globo. Silvio escreveu Pecado Rasgado, atração das sete da noite, enquanto Rubens adaptou, para o horário das seis, outro livro de Maria José Dupré: Gina.

Autor x diretor

Pecado Rasgado não é uma boa lembrança para Silvio de Abreu. O autor não conseguiu se entender com o diretor Régis Cardoso. Silvio escrevia uma coisa e Régis dirigia outra. O resultado afetou o bom andamento da novela e culminou com o pedido de demissão do autor.

Cinéfilo de carteirinha, Silvio de Abreu quis impor à novela algumas características de comédias norte-americanas clássicas e desenvolver situações engraçadas. Porém, desde o início não se deu bem com o diretor. Sua reclamação maior era de que escrevia uma comédia e Régis Cardoso dirigia um drama. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa).

“Quando assisti ao primeiro capítulo no ar, percebi que já estava tudo errado. Tive uma reunião com o Régis e disse que a novela não era aquilo. Ele pensou que eu estava querendo codirigir o trabalho. Não era nada disso. Eu apenas queria que ele entendesse o tom. Então, já que ele não se adaptava à minha maneira de execução, eu me adaptei à dele”, afirmou Silvio à revista Amiga em março de 1979, por ocasião do término da novela.
O autor ainda assumiu a responsabilidade: “O erro é meu, por eu estar estreando em uma emissora nova, num horário difícil, sem possuir o entrosamento com quem estava dirigindo o meu trabalho.” (pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

De acordo com Silvio de Abreu (em entrevista ao podcast Vem Pod Chegar, em julho de 2024), Régis Cardoso estava acostumado a uma narrativa que privilegiava o diálogo, enquanto sua proposta era de uma trama dinâmica, com ação e mais gravações externas.

Para o livro “A Seguir Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cintia Lopes), Silvio afirmou que “o diretor, além de ficar contra o texto, também fez com que os atores tivessem a mesma opinião.”

Em seu livro “No Princípio Era o Som”, Régis Cardoso descreveu a situação em que parte dos atores de Pecado Rasgado se rebelaram contra Silvio de Abreu. De acordo com o diretor, tudo começou com o atraso do autor em entregar os roteiros da novela, o que teria gerado más condições para o elenco durante gravações em um navio:
“O elenco se rebelou, veio falar comigo e eu fiz ver a eles que toda a culpa daquela improvisação era do atraso da entrega dos capítulos. Eles, então liderados pelo Rogério Fróes, fizeram um abaixo-assinado e enviaram para o então diretor do departamento de novelas. (…) Ele me pediu que fizesse um memorando relatando o acontecido. Fiz e recebi de volta uma acusação de Silvio de que ele escrevia uma novela cômica e eu a teria transformado num drama. Imaginem vocês!”

Próximo ao fim da novela, Régis Cardoso foi substituído na direção, primeiro por Roberto Vignatti, depois por Antônio Miziara. (revista Amiga, março de 1979, pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

Pedido de demissão

Silvio de Abreu comentou sobre as dificuldades de Pecado Rasgado e o seu pedido de demissão após o término da novela:
“Foram muitas, a começar pelo estilo que eu estava querendo implantar em novelas, que privilegiava a comédia em detrimento do romance, coisa que só consegui emplacar em 1982, com Jogo da Vida, e em 1983, com Guerra dos Sexos. Tudo era muito novo e assustou o conservadorismo da emissora e do público. Para mim, foi uma novela sem graça e desinteressante, que desperdiçou vários talentos e resultou no meu pedido de demissão da Rede Globo, jurando que nunca mais escreveria uma novela. (…) A Globo nunca reclamou da novela, mas eu via que a repercussão era insignificante. (…) Acho que minha falta de experiência, na época, foi a grande responsável por este mico em minha carreira.”

Apesar do resultado final de Pecado Rasgado e do pedido de demissão do autor, a Globo não teve dúvidas em chamar de volta Silvio de Abreu pouco tempo depois. No final de 1980, Cassiano Gabus Mendes, adoentado e impossibilitado de dar continuidade à sua novela Plumas e Paetês, indicou Silvio para finalizá-la – dessa vez, sem o diretor Régis Cardoso. Com o bom trabalho (entenda aumento de audiência), Silvio foi não só recontratado como, diante do sucesso de suas novelas posteriores, tornou-se “queridinho” entre os autores de novelas da casa.

Elenco

Silvio de Abreu não concordou com Régis Cardoso sobre algumas escalações de atores para o núcleo jovem da novela. Em entrevista ao podcast Vem Pod Chegar (em julho de 2024), o autor revelou que o diretor escalou amigos pessoais, mas alguns não cabiam nos perfis exigidos – como Cláudio Cavalcanti, com 38 anos na época. Do núcleo “jovem”, vale citar também Carlos Gregório (com 31 anos) e Lúcia Alves (com 30 anos), vivendo personagens que deveriam ter no máximo 25 anos.

A antagonista Estela foi oferecida a Elizabeth Savala e a Betty Faria, mas o papel acabou ficando com Renée de Vielmond. (Jornal dos Sports, 01 e 02/07/1978, pesquisa: Maurício Gyboski)

Alguns atores praticamente emendaram trabalhos. Da novela das dez O Pulo do Gato (finalizada no final de julho de 1978), entraram para o elenco de Pecado Rasgado: Neuza Amaral, Felipe Carone, João Carlos Barroso, Lady Francisco, Julciléa Telles e Marly Aguiar.

Primeira novela das atrizes Élida L’Astorina e Alcione Mazzeo.

Estreia na Globo do então casal de atores Nádia Lippi e Ney Sant´Anna, amigos pessoais de Silvio de Abreu, que, no ano anterior, haviam estrelado seu filme A Árvore dos Sexos.

Único trabalho na Globo da veterana atriz Leonor Navarro, egressa das novelas da TV Tupi. Então com 77 anos, este foi o último trabalho da atriz, que faleceu em agosto de 1980, vítima de câncer.

Protesto

Os psicólogos não gostaram e reclamaram do comportamento da personagem Teca (Aracy Balabanian), uma psicóloga, emocionalmente instável demais para uma profissional da área.

Locações e cenografia

Os seis primeiros capítulos tiveram sequências gravadas em Paris, onde os protagonistas Teca (Aracy Balabanian) e Renato (Juca de Oliveira) se conheceram. O diretor Régis Cardoso ofereceu propina para conseguir gravar à vontade na Torre Eiffel e no aeroporto Charles de Gaulle. (“No Princípio Era o Som”, Régis Cardoso)

A novela também teve gravações em Buenos Aires, para onde, na trama, alguns personagens viajaram em excursão.

Os camarotes, os corredores, o salão de baile e o restaurante de um navio foram reproduzidos com todos os detalhes para as cenas que mostravam a viagem dos personagens à Argentina (a partir do capítulo 82, em 06/12/1978). (Site Memória Globo)

Raul Travassos foi o responsável pela cenografia, tendo criado 14 cenários fixos que deslizavam sobre duas estruturas onde eram colocados painéis de dupla face. A ideia era montar de um lado da parede um quarto; e do outro, o fundo de uma cozinha. Esse sistema permitia uma maior agilidade na montagem. Peças como escadas e janelas eram inseridas nos painéis para complementar o ambiente. Os painéis formavam também quatro paredes, que aumentavam as possibilidades de cenas e takes, melhorando a qualidade das imagens. (Site Memória Globo)

Para a fachada do prédio onde moravam Estela (Renée de Vielmond), Eunice (Neuza Amaral) e Cris (Nádia Lippi) foi usada a entrada do edifício Solar Rainha Fabíola, situado na Rua Alberto de Campos 77, em Ipanema.

Abertura e trilha sonora

A divertida animação da abertura de Pecado Rasgado – assinada pelo austríaco Rudi Böhm, então parceiro de Hans Donner nas aberturas da Globo – exibia uma corrida por terra, céu e mar entre Adão, Eva e a serpente pela posse da maçã, a marca registrada da novela.

O primeiro título pensado para a novela foi Ida e Volta – uma referência às viagens do protagonista Renato, sempre entre Rio e São Paulo.
Porém, optou-se por Pecado Rasgado, expressão tirada da música escolhida para a abertura, “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, gravada por Ney Matogrosso em 1978 para o seu álbum “Feitiço”. Um título, diga-se de passagem, aleatório, que nada tem a ver com a trama da novela.

Em 1996, Ney Matogrosso regravou a música, em novo arranjo, para o álbum “Um Brasileiro” (apenas com canções de Chico Buarque) e substituiu, nesta nova versão, o segundo verso (“Vamos fazer um pecado rasgado, suado a todo vapor”) pelo verso original (“Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor”) que havia sido vetado pela Censura Federal em 1973, quando Chico gravou a música pela primeira vez (para o musical “Calabar, o Elogio da Traição”). Esta nova versão serviu então para a abertura da novela Dona Anja, exibida pelo SBT em 1997. (“Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vincent Villari)

A cantora Rosana, em início de carreira, gravou uma cena da novela ao lado de seu pai, o músico Aldo Fiengo. A música “Fique um Pouco Mais”, seu primeiro sucesso, constava na trilha nacional de Pecado Rasgado. (“Teletema, a História da Música Popular através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vincent Villari)

Repetecos

Apesar de sua fraca repercussão, Pecado Rasgado foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo, de 05/09/1983 a 10/02/1984. Em 1983, ante o enorme sucesso de Guerra dos Sexos, a Globo decidiu reprisar alguma novela de Silvio de Abreu. A anterior, Jogo da Vida, ainda era muito recente (havia terminado pouco mais de um ano antes). Restou Pecado Rasgado, ignorando-se o fato de esta não ter feito sucesso.

Para este repeteco, o malicioso tema de abertura (“Não Existe Pecado ao Sul do Equador”) foi substituído por uma música instrumental que não constava na trilha da novela – provavelmente para evitar problemas com a Censura Federal, já que a exibição era vespertina.

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming da Globo) em 12/08/2024.

Trilha sonora nacional

01. MEU PENSAMENTO É VOCÊ – Serginho Herval (tema de Rodrigo e Cris)
02. SENHORITA – Hermes Aquino (tema de Bruno)
03. SOSSEGO – Tim Maia
04. VENHA – Fábio (tema de Renato)
05. SOL DA MEIA-NOITE (MIDNIGHT SUN) – Miúcha
06. FIQUE UM POUCO MAIS – Rosana
07. NÃO EXISTE PECADO AO SUL DO EQUADOR – Ney Matogrosso (tema de abertura)
08. HEY BABY – Harmony Cats (tema do núcleo jovem)
09. QUERO – Sidney Magal
10. DE FOGO, LUZ E PAIXÃO – Marcelo (participação especial Gal Costa) (tema de Teca)
11. DANCE COMIGO – Gemini (tema do núcleo jovem)
12. ELE OU VOCÊ – Elizângela
13. NADA MAIS – Golden Boys (tema de Geraldo e Beatriz)
14. VENHA DE LÁ – Aquarius (tema de Estela)

Sonoplastia: Nestor de Almeida
Direção de produção: Guto Graça Mello
Pesquisa de repertório: Arnaldo Schneider

Trilha sonora internacional

01. YOU AND I – Rick James
02. GREASE – Mike Brook
03. YOU MAKE ME FEEL (MIGHTY REAL) – Sylvester
04. YOUR LOVE – Danny Shann (tema de Estela)
05. KEEP ON JUMPIN’ – Musique
06. WHEN YOU’RE LOVED – Debbie Boone (tema de Bruno e Helena)
07. LOVE NOW, HURT LATER – Giorgio Moroder & Chris Bennett
08. YOU – Rita Coolidge (tema de Betinha)
09. DO OR DIE – Grace Jones
10. I WILL STILL LOVE YOU – Stonebolt (tema de Beatriz e Geraldo)
11. LA BOOGA ROOGA – Björn Skifs (tema geral)
12. PLACES – Steve McLean (tema de Cris e Rodrigo)
13. THEMES FROM ‘THE WIZARD OF OZ’ – Meco
14. QUE HAY QUE HACER PARA OLVIDAR – Danny Cabuche (tema de Teca e Renato)

Seleção de repertório: Nestor de Almeida

Ainda
BALLS CAPRICE (FROM REVENGE OF THE PINK PANTHER) – Henry Mancini (tema de Biliu e Aída)
CAN’T YOU SEE – The Love Unlimited Orchestra (Bruno dança a música com Cris na lanchonete)
FOX TROT – Tuxedo Junction (na lanchonete, em uma conversa entre Geraldo e Beatriz)
FROM EAST TO WEST – Voyage
GET OFF – Foxy (na lanchonete onde Taio trabalha)
HOUSEBOAT – LOVE SONG (FROM FOUL PLAY) – Charles Fox
I LOVE AMERICA – Patrick Juvet (na festa que Raquel dá em sua casa)
PARALELAS – Vanusa
PICASSO BLUE – Andre Popp Orchestra
PINK PANTHER THEME ’78 (FROM REVENGE OF THE PINK PANTHER) – Henry Mancini (para Raquel e Barbosa)
TOUCH ME ON MY HOT SPOT – Saturday Night Band
TRAPPED IN A STAIRWAY – Paul Jabara (na lanchonete, em uma conversa entre Geraldo e Beatriz)
WITH YOU – The Moments (Renato dança a música com Ully em uma boate em Paris)

Tema de abertura: NÃO EXISTE PECADO AO SUL DO EQUADOR – Ney Matogrosso

Não existe pecado
Do lado de baixo do Equador
Vamos fazer um pecado
Rasgado, suado a todo vapor
Me deixa ser teu escracho
Capacho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é lição de esculacho
Olha aí, sai de baixo
Que eu sou professor!

Deixa a tristeza pra lá
Vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru
Tucupi, tacacá
Vê se me usa
Me abusa, lambuza
Que a tua cafusa
Não pode esperar

Deixa a tristeza pra lá
Vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru
Tucupi, tacacá
Vê se me esgota
Me bota na mesa
Que a tua holandesa
Não pode esperar

Não existe pecado
Do lado de baixo do Equador
Vamos fazer um pecado
Rasgado, suado a todo vapor
Me deixa ser teu escracho
Capacho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é lição de esculacho
Olha aí, sai de baixo
Eu sou embaixador!

Veja também

  • eramosseis77a

Éramos Seis (1977)

  • plumasepaetes_logo

Plumas e Paetês

  • jogodavida

Jogo da Vida

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Guerra dos Sexos (1983)