Sinopse

Gilberto Athayde, um viúvo simples e rude, fez fortuna com uma vendinha de subúrbio que se transformou em uma cadeia de supermercados. Porém, continuou sendo o homem do povo que sempre foi. Só que agora a grã-finagem disputa sua amizade, em função do seu dinheiro, animando-o com a possibilidade de entrar para a alta roda.

De um lado está Fred da Silva Barros, milionário falido que há anos tenta concluir a construção do hotel Bela Vista, seu maior investimento e que consumiu quase toda sua fortuna. Ele tenta empurrar a filha Malu para os braços de Gilberto. Do outro está a dama do high society Beatriz, que apaixona-se pelo cafona milionário e tenta ensinar-lhe boas maneiras. Ela é uma mulher madura, desquitada do industrial Gastão Monteiro, mais preocupada em posar para as capas de revistas como uma das dez mais elegantes.

Porém, Gilberto é amado por Shirley Sexy, sua simpática e ingênua secretária, eternamente apaixonada por ele e que o chama carinhosamente de Gigi. Shirley mora em uma república hippie em Santa Tereza, onde também moram Rogério, Cacá, Julinho, Lúcia Esparadrapo e o Profeta, o guru das praias cariocas. Os cineastas Rogério, Cacá e Julinho querem rodar o filme “Matou o Marido e Prevaricou com o Cadáver” e escolhem Shirley Sexy para ser a estrela da fita.

Globo – 22h
de 22 de março a 20 de outubro de 1971 (Rio)
de 24 de março a 29 de outubro de 1971 (SP)
183 capítulos

novela de Bráulio Pedroso
direção de Daniel Filho e Wálter Campos

Novela anterior no horário
Assim na Terra Como no Céu

Novela posterior
Bandeira Dois

FRANCISCO CUOCO – Gilberto Athayde
MARÍLIA PÊRA – Shirley Sexy
TÔNIA CARRERO – Beatriz Monteiro
RENATA SORRAH – Malu
PAULO GRACINDO – Fred da Silva Barros
ARY FONTOURA – Profeta
CARLOS VEREZA – Rogério
OSMAR PRADO – Cacá
MARCO NANINI – Julinho
DJENANE MACHADO – Lúcia Esparadrapo
FELIPE CARONE – Jairton Saca-Rolhas
ISABEL TEREZA – Heloísa
JUAN DE BOURBON – Pietro
ILKA SOARES – Vera
MOACYR DERIQUÉM – Eugênio
ELOÍSA MAFALDA – Margarida
ELIZÂNGELA – Dalva
TERESINHA MOREIRA – Deolinda
ANDRÉ VALLI – Godofredo
SUZY KIRBI – Amélia
EVA CHRYSTIAN – Carla
GÉSIO AMADEU – Amadeu
MÍRIAN MÜLLER – Roseli
VERA MANHÃES – Neusa
ROBERTO BONFIM – Lazão
ANGELITO MELLO – Marcelo
SÔNIA DUTRA – Vivi
LAJAR MUZURIS – Chico
ÁLVARO AGUIAR – Gastão Monteiro
RICARDO CÉSAR – Fernando
RENÊ FERNARDES – Dico
JOÃO ZACARIAS BATISTA – Zacarias

e
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Zé
KALY SILVA – Rosa (empregada de Beatriz)
LEONARDO ALVES – Léo (mordomo de Heloísa)
MÁRCIA FRADIQUE – filha de Jairton
MAYSA – Simone
PAULO REZENDE – funcionário do escritório de Gilberto
WÁLTER CAMPOS – Waltinho

– núcleo de GILBERTO ATHAYDE (Francisco Cuoco), homem rude e simples que enriqueceu com uma rede de supermercados do subúrbio. Sem traquejo social, seu maior sonho é ser aceito no high society. Para tanto, tem pretensões de se casar com uma socialite:
a secretária SHIRLEY SEXY (Marília Pêra), completamente apaixonada por ele, a quem ela chama de GIGI. Moradora de uma república hippie no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro
a filha DALVA (Elizângela).

– núcleo de BEATRIZ MONTEIRO (Tônia Carrero), grã-fina mais preocupada em posar para capas de revistas como uma das mais elegantes das colunas sociais. Apaixona-se por Gilberto e decide lhe ensinar regras de etiqueta:
o ex-marido GASTÃO MONTEIRO (Álvaro Aguiar), empresário
o enteado CACÁ (Osmar Prado), hippie, metido a cineasta.

– núcleo de FRED DA SILVA BARROS (Paulo Gracindo), milionário falido que vê no casamento da filha um caminho para resolver seus problemas financeiros:
a filha MALU (Renata Sorrah), garota mimada, uma das pretendentes de Gilberto Athayde
a amante VERA (Ilka Soares), editora de uma revista em Nova York.

– núcleo do PROFETA (Ary Fontoura), hippie, espécie de guru dos jovens que o cercam, mora na mesma comunidade em Santa Tereza onde vive Shirley Sexy:
os cineastas underground ROGÉRIO (Carlos Vereza) e JULINHO (Marco Nanini), hippies que, juntamente com Cacá, formam o trio de cineastas que pretende realizar o filme que, de acordo com eles, renovará o cinema nacional: “Matou o Marido e Prevaricou com o Cadáver”, cuja estrela principal é Shirley Sexy
as amigas LÚCIA ESPARADRAPO (Djenane Machado) e JUREMA (Arlete Salles), namorada de Rogério.

Comportada, mas com humor

Primeira novela de Bráulio Pedroso na Globo, após inovar o gênero com Beto Rockfeller, entre 1968 e 1969, na TV Tupi – onde também escreveu Super Plá, na sequência, em 1969-1970.

Em O Cafona, Bráulio eliminou as inventivas que o tornaram o autor mais comentado da época. O método aplicado foi uma sequência bem comportada, mas cheia de humor. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

O Cafona foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela de 1971. Francisco Cuoco e Marília Pêra levaram o prêmio de melhor ator e melhor atriz, respectivamente.

Desmoralização da alta sociedade

O autor deu prosseguimento a um dos temas que mais lhe agradava: a desmoralização da alta sociedade, já explorada em Beto Rockfeller, e que ele abordaria ainda em O Bofe (1972), O Rebu (1974-1975) e O Pulo do Gato (1978).

O tema central da ascensão social aparece em uma sátira ao movimento hippie e à alta sociedade carioca. Os personagens eram novos-ricos e ex-milionários que não perderam a pose. Eles comentavam nos diálogos as colunas sociais de Zózimo Barroso e Ibrahim Sued, circulavam em torno da piscina do Hotel Copacabana Palace e frequentavam banquetes.

Em função dos protestos de pessoas da alta sociedade carioca que se julgavam retratadas na trama de Bráulio Pedroso, pela primeira vez a Globo inseriu uma advertência nos créditos de encerramento de uma novela:
“Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas e com fatos reais terá sido mera coincidência.”
O autor, por fim, admitiu que a história era baseada em acontecimentos e personagens reais do Rio de Janeiro.

Elenco

Excelente criação de Francisco Cuoco, como o novo rico Gilberto Athayde, o cafona do título. O ator relutou em fazer o personagem, por ele abalar sua figura de galã. Foi o primeiro papel cômico de Cuoco na televisão. O clímax maior: quando o protagonista, em um jantar de milionários, toma a lavanda.

O diretor Daniel Filho narrou em seu livro “Antes que me Esqueçam” como conseguiu fazer Cuoco entrar para a novela:
“Foi muito difícil convencer Francisco Cuoco da proposta do personagem. (…) Para fazê-lo mudar de ideia e dar-lhe alguma confiança, lembrei o personagem de Marcello Mastroiani em Divórcio à Italiana [filme de 1961], onde o ator se autodebochava o tempo inteiro.”

Retorno de Marília Pêra à Globo, que, a partir de então, tornou-se mais uma estrela da casa. A atriz havia estrelado as primeiras produções da emissora, em 1965, em São Paulo. Amiga pessoal de Bráulio Pedroso, ambos vinham de Beto Rockfeller e Super Plá, da Tupi.

Segundo Marília, a naturalidade de muitas cenas, especialmente as cômicas, advinha da liberdade que o autor dava aos atores para criar situações. No próprio texto, contou ela, Bráulio Pedroso indicava as cenas em que os atores deviam improvisar. (Site Memória Globo)

Ilka Soares chegou a ser agredida por uma telespectadora por causa do romance de sua personagem com um homem casado, interpretado por Paulo Gracindo. (Site Memória Globo)

Primeira novela dos atores Marco Nanini, André Valli, Ilka Soares, Elizângela e Roberto Bonfim. Nanini, anteriormente, havia feito apenas figuração em novelas.

Em uma sátira à alta sociedade, o diretor Daniel Filho convidou para participar da novela colunáveis que apareceram em pequenas participações. O nobre Juan de Bourbon e a cantora Maysa (da tradicional família Matarazzo) atuaram como atores.

Metalinguagem

Os jovens personagens cineastas Cacá (Osmar Prado), Rogério (Carlos Vereza) e Julinho (Marco Nanini) eram uma caricatura bem-humorada dos diretores Cacá Diegues, Rogério Sganzerla e Júlio Bressane. O título do filme que eles tentavam fazer (Matou o Marido e Prevaricou com o Cadáver) era uma paródia da famosa obra underground de Bressane, Matou a Família e Foi ao Cinema, de 1967.

Para fazer uma das cenas da novela, o ator Carlos Vereza, intérprete do cineasta Rogério, dispensou o dublê e se pendurou no bondinho do Pão de Açúcar, com uma câmera na mão. Tudo para filmar a personagem Shirley Sexy (Marília Pêra) para um comercial. (Site Memória Globo)

A Globo utilizava o horário das dez da noite para experimentações e já em O Cafona o autor usou metalinguagem. Shirley – apesar de não concretizado o filme dos rapazes, do qual seria a estrela – acabou se tornando atriz por outros caminhos: na televisão, já que fez parte do elenco da novela O Cafona. Era a ficção dentro da ficção.

Censura

O Cafona foi uma novela bastante vigiada pela Censura Federal. O pesquisador Cláudio Ferreira narrou no livro “Beijo Amordaçado – A Censura às Telenovelas Durante a Ditadura Militar” a indecisão dos censores sobre a faixa etária permitida para a produção:

“Até o capítulo 50, a novela era imprópria para menores de 16 anos. Do 51 ao 55, passou a ser proibida para menores de 18 anos. A partir do 56, voltou para 16 anos. Entre o 73 e o 76, a recomendação era que ela poderia ser exibida para maiores de 12 anos. Depois voltou a restrição para maiores de 16 anos.”

A TV Globo sempre negociou com os censores de modo a não alterar o seu horário de exibição, das 22 horas.

Gravações na Itália

O diretor Daniel Filho foi à Itália gravar sequências para serem usadas em chromakey ou back-projection na novela. (“Antes que me Esqueçam”, Daniel Filho).

Abertura e trilha sonora

A abertura de O Cafona exibia desenhos dos personagens da trama criados pelo desenhista e cartunista Borjalo, pseudônimo de Mauro Borja Lopes, então diretor de criação da TV Globo. Esses desenhos aparecem na contracapa do disco internacional da novela. (colaboração: Mauro Alencar)

Em 1971, a Globo criou a empresa SIGLA – Sistema Globo de Gravações Audiovisuais, cujos discos eram prensados na gravadora Odeon. Seus produtos ficaram conhecidos pelo selo Som Livre.

O Cafona foi a primeira trilha sonora de novelas feita pela Som Livre e a excelente vendagem do disco levou ao lançamento da primeira trilha internacional para uma novela: O Cafona Internacional. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de O Cafona, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

Guilherme Bryan e Vincent Villari apontam em seu livro “Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira” uma curiosidade sobre a trilha internacional de O Cafona:
“É a única trilha lançada pela Som Livre em sistema monofônico (com todo o som transmitido por meio de um único canal). As demais lançadas pela gravadora, incluindo a nacional de O Cafona, são todas estereofônicas.”

E mais

Lamentavelmente não existem mais imagens dessa novela (a não ser algumas cenas rápidas). A hipótese mais provável é que as fitas tenham-se perdido em um dos incêndios posteriores que ocorreram na TV Globo (em 1971 ou em 1976).

Trilha sonora nacional

01. SHIRLEY SEXY – Marília Pêra (tema de Shirley Sexy)
02. NADA MAIS – Jacks Wu (tema de Dalva)
03. BIA BIA BEATRIZ – O Som Livre (tema de Beatriz)
04. DEPOIS DE TANTO TEMPO – Ângela Valle
05. GENTE DO MORRO – Carlos Lyra (tema de Gilberto)
06. HOMEM DE BEM – Marcos Samy (tema de Gilberto)
07. O CAFONA – Ângela e Paulo Sérgio Valle (tema de abertura)
08. LÚCIA ESPARADRAPO – Betinho (tema de Lúcia)
09. MANEQUIM – Marília Barbosa (tema de Malu)
10. ALTA SOCIEDADE – Pedrinho Rodrigues (tema de Fred e Heloísa)
11. I GET BABY – Nonato Buzar
12. LUZES, CÂMERA, AÇÃO – Betinho (tema do núcleo do filme)
13. TUDO O QUE EU SOU EU DEI – Sérgio Ricardo (tema do Profeta)
14. TANTO CARA – Marcello Guenza (tema de Malu e Pietro)

Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: Nonato Buzar
Arranjos: Ivan Paulo, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Arthur Verocai.

Ainda
TEMA DE SIMONE – Maysa
DEPOIS DE TANTO TEMPO – Maysa

Trilha sonora internacional

01. ACAPULCO GOLD – Mason-Dixon
02. I FEEL BETTER – Paul Davis
03. COMME J’AI TOUJOURS ENVIE D’AIMER – Marc Hamilton
04. LIFETIME OF LOVE – Tony Devon
05. WHAT ARE YOU DOING SUNDAY – Silver
06. I LOVE YOU FOR ALL SEASONS – The Fuzz (instrumental) *
07. BOURREE MAN – Lenny Damon & The Bah Humbug Band
08. LES ROIS MAGES – Sheila
09. I LOVE YOU FOR ALL SEASONS – The Fuzz
10. CAN’T FIND THE TIME – Rose Colored Glass
11. LEAVE IT ALL BEHIND ME – The Fuzz
12. YOU AND I – Geraldine Hunt & Charlie Hodges

(*) A faixa com a versão instrumental da música “I Love You For All Seasons” é creditada no disco da novela a sua autora, Sheila Young, porém a versão em questão foi retirada do álbum do trio feminino The Fuzz, de onde consta ainda a versão cantada que também está no LP da novela.

Tema de abertura: O CAFONA – Ângela e Paulo Sérgio Valle

Eu quero ver, eu quero ver
Eu quero, quero, quero, quero ver
O seu retrato, seu reinado, seu cavalo
Eu quero ver
O seu casaco, seu cigarro e o seu carro

Uau, um cara maneiro
Ganhando dinheiro
Tudo mudou
Uau, mudou sua gente
Amanhã é gerente
Subiu de valor

Eu quero ver, eu quero ver
Eu quero, quero, quero, quero ver…

Veja também

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O Bofe

  • betorockfeller

Beto Rockfeller

  • rebu74

O Rebu (1974)

  • pulodogato_logo

O Pulo do Gato