Sinopse
Guiomar é uma bela e jovem viúva, pobre e solitária, que sai do subúrbio para paquerar em Copacabana visando se dar bem. Ela acaba se envolvendo com Dorival, também viúvo, sem imaginar que ele não passa de um bronco mecânico de automóvel que se faz de milionário para as moças finas da Zona Sul. Guiomar engana Dorival e é enganada por ele, ambos se passando por ricos para darem o golpe um no outro, embora acabem apaixonados de verdade. Ela é filha de Stanislava, uma velha polonesa que se embebeda de xarope e sonha com um príncipe trapezista – Dorival em seus sonhos.
Dorival trabalha com o também mecânico Demétrio, o Grego, um sujeito desmazelado, apaixonado pela fútil Débora, mas esnobado por ela, por ser pobre. Nas horas vagas, Demétrio é artista plástico. Descoberto por um marchand, ele acaba deixando a oficina e torna-se um artista famoso, o que, finalmente, faz despertar o interesse de Débora. A trama apresenta outros tipos curiosos, como Suzana Leopoldina, uma dama da sociedade que faz parte do júri no programa Buzina do Chacrinha, e Gonzaguinha, uma grotesca macumbeira, lembrando uma desajeitada bruxa.
Ainda Bandeira, um hippie contestador, subversivo e debochado que toma dinheiro de ricos deslumbrados se passando por um decorador de interiores cujo estilo consiste em destruir as mobílias e pintar as paredes de preto e branco. Bandeira acaba tendo um fim inusitado: morre de tanto rir. Ele é amigo do ambicioso e trapalhão Maneco, que planeja a morte da tia milionária para ficar com a herança. Tia Carlota é uma mulher abnegada, extremamente católica e sovina, que se apaixona por Inocêncio, um falso padre – na verdade um picareta, também de olho em sua fortuna.
JARDEL FILHO – Dorival Cruz
CLÁUDIO MARZO – Demétrius (Grego)
BETTY FARIA – Guiomar
ZIEMBINSKI – Stanislava Grotoviska
CLÁUDIO CAVALCANTI – Maneco Vidigal
JOSÉ WILKER – Bandeira
ILKA SOARES – Suzana Leopoldina
MILTON MORAES – Sérgio Marreta
ANTÔNIO PEDRO – Pedroca
ZILKA SALABERRY – Carlota
RENÉE DE VIELMOND – Débora
SUSANA VIEIRA – Marilene
MIRIAN PIRES – Consuelo
ELIZÂNGELA – Sandra
MARGOT BAIRD – Margarida
ELOÍSA MAFALDA – Gonzaguinha
PAULO GONÇALVES – Inocêncio
PAULO VILLAÇA – Dr. Paulo
EDSON FRANÇA – Bianco
MARILU BUENO – Marilu
NILSON CONDÉ – Caíto
ANA MARIA MAGALHÃES – Vilma
VERA MANHÃES – Martinha
DARLENE GLÓRIA – Marina
VALÉRIA AMAR – Adelaide
MYRIAN RODRIGUES – Jô
MÁRCIA RODRIGUES – Katia
BETTY SADDY – Juliana
ANTÔNIO VICTOR – Frei Francisco
GERALDO CARBUTTI – Sacristão Sávio
JUAN DANIEL – Palhaço Popó
TELMO AVELAR – Santelmo
WALTER STUART – Signore Gino
MARGARIDA REY – Dona Sara
e
JOSÉ LEWGOY – Barão (noivo francês de Suzana Leopoldina)
LEDA LÚCIA – vendedora de livros
PAULO RAMOS – advogado
TEREZINHA MOREIRA – mulher de Sérgio Marreta
– núcleo de DORIVAL (Jardel Filho), suburbano grosseirão e bronco. Mecânico de uma oficina especializada em comprar carros batidos e dar uma recauchutada para depois vendê-los como novos. Recém-viúvo, busca um casamento com uma grã-fina. Pega um carro da oficina para passear na Zona Sul com banca de ricaço:
os amigos: DEMÉTRIUS, o GREGO (Cláudio Marzo), mecânico, seu colega de trabalho na oficina. Sujeito desmazelado, sempre sujo de graxa. Revoltado, é na verdade um artista, escultor que está prestes a ser descoberto,
e PEDROCA (Antônio Pedro), seu companheiro de paqueras. Também sonha arranjar uma grã-fina para se dar bem. Baixinho e gordinho, tem adoração por mulheres altas.
– núcleo de GUIOMAR (Betty Faria), moça pobre, vendedora de enciclopédias. Recém-viúva a procura de um casamento vantajoso, sai do subúrbio para paquerar em Copacabana visando se dar bem. Conhece e se apaixona por Dorival, achando que ele é rico. O mecânico, por sua vez, também acredita que ela seja rica. Assim, um engana o outro:
a mãe STANISLAVA GROTOVISKA (Ziembinski), senhora de 70 anos, descendente de poloneses. Gaiata e prafrentex, pouco liga para preconceitos e a moral da sociedade. É vaidosa e gosta de pintar. Guarda da mocidade o amor frustrado por um trapezista, com quem fantasia: Demétrio em seus sonhos
a irmã CONSUELO (Mirian Pires), viúva
as sobrinhas, filhas de Consuelo: SANDRA (Elizângela), garota educada para ser miss,
e MARGARIDA (Margot Baird)
a amiga MARILENE (Susana Vieira), colega de trabalho.
– núcleo de CARLOTA (Zilka Salaberry), senhora rica, abnegada e extremamente católica. Exímia investidora da Bolsa de Valores:
o sobrinho MANECO VIDIGAL (Cláudio Cavalcanti), espera ansiosamente a morte da tia para herdar sua fortuna
a namorada de Maneco, DÉBORA (Renée de Vielmond), alvo do amor de Grego, mas ela o despreza por ele ser pobre
o vigarista INOCÊNCIO (Paulo Gonçalves), passa-se por padre para roubá-la.
– demais personagens:
BANDEIRA (José Wilker), hippie contestador, subversivo e debochado que toma dinheiro de ricos deslumbrados se passando por um decorador de interiores cujo estilo consiste em destruir as mobílias e pintar as paredes de preto e branco
SÉRGIO MARRETA (Milton Moraes), dono da loja de carros em frente à oficina onde são vendidos os carros recauchutados por Dorival e Grego
SUZANA LEOPOLDINA (Ilka Soares), mulher da sociedade. De vida vazia, preenche seu tempo com futilidades. Conhecida por ser jurada no programa Buzina do Chacrinha
GONZAGUINHA (Eloísa Mafalda), velha macumbeira grotesca, metida a vamp. Vizinha de Dorival, sonha conquistá-lo
DR. PAULO (Paulo Villaça), homem bem relacionado na sociedade, amante das artes. É quem descobre o gênio de escultor por trás de Grego. Transforma o mecânico no grande artista da poluição e da sucata.
Fracasso de audiência
A proposta da Globo era trazer a dupla responsável pelo sucesso de Beto Rockfeller (1968-1969), novela da TV Tupi que revolucionou o gênero: o autor Bráulio Pedroso, que já estava na emissora (escrevera, no ano anterior, O Cafona), e o diretor Lima Duarte, que foi então contratado.
Não deu certo. O Bofe notabilizou-se por ter afundado a audiência da faixa das 10 da noite para a Globo. De acordo com matéria publicada na revista Contigo (nº 111, 1972), a novela começou com quase 70% de audiência, caindo pouco tempo depois para 25%. Isso, para a emissora, acostumada na época a índices sempre acima dos 40%, era uma verdadeira tragédia.
Bráulio Pedroso, solicitado que alterasse os perfis dos personagens a fim de atrair o público, não cumpriu a missão, o que levou à sua substituição por outro roteirista, Lauro César Muniz. O diretor da emissora, Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), mandou uma circular a todo o elenco informando que o autor foi afastado por não concordar com a interferência do Ibope em seu trabalho. (pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)
Bráulio havia sido acometido de uma meningite, o que o prejudicou na condução da novela. A princípio, a doença foi a razão de seu afastamento. Segundo Lauro César Muniz, a imprensa, maldosamente, publicou que o mal de saúde que afastara o autor era “ibopatite”, em um infame trocadilho com a meningite, aliando-a aos problemas de aceitação da novela pelo público. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa).
Por fim, Bráulio Pedroso acabou fora da Globo. Foi para a TV Tupi escrever uma tentativa de repetir o sucesso de Beto Rockfeller, também fracassada: a sequência da história, A Volta de Beto Rockfeller, exibida em 1973. Bráulio retornou à Globo em 1974, para escrever O Rebu.
Daniel Filho revelou em seu livro “Antes que me Esqueçam” que gostava de O Bofe:
“Nós dedicávamos o horário das dez da noite às experiências, modificações, ousadias. A novela não foi bem de público: na verdade não foi bem recebida, não tinha popularidade. Mas nós gostávamos muito dela. (…) Para mim, O Bofe não foi um fracasso. Eu gostava, mas não deu certo.”
Deboche incompreendido
Em O Bofe, todos os valores pretensamente ricos eram representados por pessoas pobres. O deboche era a estrutura da novela, o absurdo tomava vez. O personagens não se comportavam com sensatez, mas ao sabor da piada.
Lauro César Muniz, ao dar continuidade à história absurda, impregnou uma lógica encomendada. O ator José Wilker, do elenco, inconformado com a saída de Bráulio, pediu para deixar a novela. O destino de seu personagem, Bandeira: morreu de tanto rir.
O escritor Renato Sérgio descreve no livro “Bráulio Pedroso, Audácia Inovadora” a ousadia do autor: “De repente, uma pergunta aparecia na tela: ‘Será que eles vão morrer ou não? Isso vocês vão saber só depois dos comerciais!’
O telespectador, já acostumado com as fórmulas tradicionais da telenovela, ficou desnorteado diante desta fala do personagem de José Wilker no final de um dos capítulos de O Bofe. Todos pensaram que fosse uma brincadeira e acharam aquilo uma palhaçada.”
“Acontece que eu estava brincando mesmo! Estava botando tudo em jogo, o falso suspense, os intervalos, a própria estrutura da novela. Queria suprimir esse tipo de continuidade e todos os demais truques tão usados. (…) Acontece que o deboche era o clima daquele enredo intencionalmente experimental e esta ousadia resultou em queda de audiência. Fui elegantemente convidado a ir para casa tratar-me de uma hepatite e ceder a responsabilidade do texto para o Lauro César Muniz. A troca de autoria foi que evitou o maior morticídio de todas as novelas, porque a intenção original era que em cada crime houvesse uma ou mais testemunhas que por sua vez iriam sendo eliminadas também, até a história acabar por falta de personagens”, disse Bráulio Pedroso.
Mesmo ganhando um viés mais realista, a novela manteve seu apelo fantástico no capítulo final, que teve três desfechos diferentes, dando ao telespectador a oportunidade de escolher o seu favorito. A última cena reuniu todos os personagens da novela, vivos e mortos. (Site Memória Globo)
Elenco
Lima Duarte estreou na Globo com essa novela. Não como ator, mas como diretor. Com o fracasso de O Bofe, nunca mais dirigiu novela alguma. Por outro lado, seguiu uma brilhante carreira como ator na Globo, dando vida a vários personagens inesquecíveis.
Cláudio Marzo, pela primeira vez, deixou de interpretar um galã para encarnar o anti-galã: a caótica figura do artista plástico Demétrius, o Grego, um mecânico desiludido, com uma imensa barba e um jeito sujo de ser – embora um elemento poético da história, citando trechos de poesias de Mário de Sá Carneiro.
Marzo foi conversar com Lauro César Muniz sobre as mudanças impostas ao seu personagem. Segundo ele, o autor modificou tanto o Grego, transformando-o tão radicalmente, que acabou não tendo nada a ver com o tipo original de Bráulio. (“Bráulio Pedroso, Audácia Inovadora”, Renato Sérgio)
Ziembinski viveu a velha Stanislava, o primeiro personagem travestido de mulher da telenovela brasileira – uma ideia do próprio ator. Anteriormente, na novela Almas de Pedra (TV Excelsior, 1966), Glória Menezes se travestiu de homem, porém, a diferença é que a personagem de Glória era uma mulher que se passava por um homem, enquanto, em O Bofe, Stanislava era uma mulher mesmo.
Por sugestão de Ziembinski, que era um polonês legítimo, Bráulio mudou o nome da personagem. O ator propôs que, em vez de Natasha, um nome russo, a personagem se chamasse Stanislava Grotoviska. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)
Suzana Leopoldina, a personagem de Ilka Soares, foi inspirada na socialite Sílvia Amélia de Waldner. A atriz usou uma peruca loura para fazer o papel. (Site Memória Globo)
Por alguma razão, o nome do ator Lajar Muzuris apareceu nos créditos de todos os capítulos de O Bofe, embora ele não tenha atuado em uma cena sequer da novela. O ator brincava dizendo que Bráulio Pedroso simplesmente havia se esquecido dele. (Site Memória Globo)
Primeiro trabalho na televisão da atriz Marilu Bueno e do ator José Lewgoy. Ele, que já era conhecido do cinema, entrou na novela para uma participação.
Primeira novela na Globo dos atores Antônio Pedro e Paulo Villaça.
Censura
Em O Bofe, a Censura do Regime Militar transformou um vigarista em padre. No papel de Inocêncio, um picareta, o ator Paulo Gonçalves dava um golpe passando-se por padre. Quando os censores perceberam a jogada, obrigaram o autor Bráulio Pedroso a manter o personagem como padre, punindo-o devidamente no final. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)
Trilha sonora
Composta especialmente para a novela, a trilha sonora nacional trazia 12 músicas inéditas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, interpretadas por nomes como Elza Soares, Os Vips, Nelson Motta, Djalma Dias e Eustáquio Sena, entre outros.
Em 2006, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de O Bofe, em CD, na coleção “Master Trilhas”, 26 trilhas nacionais de novelas e séries da década de 1970 nunca lançadas em CD.
Título
A palavra “bofe” era uma gíria da época para designar homem sem jeito, desengonçado, mal arrumado e feio – exatamente a caracterização do personagem de Cláudio Marzo. Curiosamente, nos dias atuais, a gíria quer dizer exatamente o contrário: homem atraente.
E mais
Lamentavelmente não existem mais imagens dessa novela (a não ser algumas chamadas). A hipótese mais provável é que as fitas tenham-se perdido no incêndio que ocorreu na TV Globo em junho de 1976.
Trilha sonora nacional
01. FALA DORIVAL – Renata & Flávio (tema de Dorival)
02. INSTANTES – Jacks Wu
03. RAINHA DA RODA – Elza Soares
04. PORCELANA ,VIDRO E LOUÇA – Osmar Milito, Luna e Suza (tema de Carlota)
05. MADAME SABE TUDO – Nelson Motta (tema de Stanislava)
06. O BOFE – Osmar Milito e Quarteto Forma (tema de abertura)
07. PERDIDO NO MUNDO – Eustáquio Sena (tema de Bandeira)
08. QUEM MANDOU – Djalma Dias (tema de Débora)
09. SÓ DE BRINCADEIRA – Sandra (tema de Guiomar)
10. MOÇO – Betinho (tema de Maneco)
11. GREGO SÓ – Vips (tema de Demétrius)
12. MAPA DO TESOURO – Claudio Faissal
Sonoplastia: Paulo Ribeiro
Músicas: Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Coordenação Geral: João Araújo
Produção Musical: Eustáquio Sena
Orquestrações: Waltel Branco
Trilha sonora internacional
01. ALONE AGAIN (NATURALLY) – Excelsior
02. ROCKET MAN – Elton John (tema de Demétrius)
03. ARABIAN MELODY – Pop Concert Orchestra (tema de Gonzaguinha)
04. BABY LET ME TAKE YOU – Detroit Emeralds
05. YOUR WONDERFUL SWEET SWEET LOVE – The Supremes
06. SWEET CONCERT – Free Sound Orchestra
07. SUMMER CONCERT – Alain Patrick (tema de Stanislava)
08. WAITIN’ LINE – Spider’s Gang
09. I’LL BE HERE – Jim Sullivan (tema de Dorival)
10. PRECIOUS LITTLE THINGS – The Supremes
11. IT’S GONNA TAKE A MIRACLE – Honey & The Bees
12. LOVE SONG – The Jackson Five
13. MACARTHUR PARK – Dione Warwick
Tema de abertura: O BOFE – Osmar Milito e Quarteto Forma
Quem a boa vida escolheu
Vai morrendo sem encontrar
Se não for de um jeito, é de outro
Não se cansa de procurar
Pra ganhar a vida no sol
Vai molhar seu corpo no mar
Por obrigações sociais
Vai morar em qualquer lugar
E o sol, o sol, o sol, o sol não queima tanto
E o mar, o mar, o mar, o mar esconde o pranto
E os carros pela rua
Buzinam e a vida continua-ua-ua-ua…
assisti era totalmente underground um avanço ,estava na frente de nossa época excelente
Pelo jeito o publico não mudou muito……reclamam que as novelas são repetitivas mas basta alguma trama mais moderninha rejeitam……..
Devia ser uma novela muito interessante pela proposta,enredo e personagens pena que as pessoas mesmo naquela época não aceitavam inovação, preferem sempre a mesmice, pra mim seria uma novela daora.
Essa novela , pelo visto, era mais uma inovação e quebra de padrão do genial Pedroso. Pena que a irreverencia, mesmo num horario dedicado a isso, não deu certo…Que genial uma novela se acabar por falta de personagens…..é muito inovador para um público tão conservador.