Perdemos neste domingo (27/10) o diretor de televisão e ator Jorge Fernando, morto (aos 64 anos) após uma parada cardíaca. Apesar da extensa contribuição por trás das câmeras, como diretor de novelas (há quase 40 anos), Jorge Fernando era uma figura conhecida do grande público, tanto pelo carisma com que se apresentava em entrevistas e reportagens na televisão, quanto pela participação em várias novelas, dirigidas por ele ou não.
Jorge Fernando de Medeiros Rebello nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de março de 1955. O primeiro contato com a arte de representar foi quando era muito jovem, no colégio em que estudou, no Méier, subúrbio carioca. Com 17 anos, encenou “A História do Zoológico“, peça de Edward Albee. Logo em seguida, foi convidado pelo ator André Valli a participar da montagem de “A Rainha Morta“, de Henry de Montherlant.
O jovem ator estreou na televisão em 1978, na série Ciranda Cirandinha, protagonizando ao lado de Lucélia Santos, Fábio Jr. e Denise Bandeira. Em 1979, atuou em sua primeira novela: Pai Herói, de Janete Clair, vivendo Cirilo, o meio-irmão de caráter duvidoso do protagonista André Cajarana (Tony Ramos). Sobre essa estreia, Jorge Fernando comentou: “Minha primeira cena foi um fracasso. Tinha que jogar um copo de cerveja no vestido da Glória Menezes. Eu tremia tanto que joguei tudo na cara dela!”
Na sequência, atuou na novela Água Viva, de Gilberto Braga, no papel do boa-praça Jader. Já nessa época, Jorge Fernando demonstrou interesse em passar para trás das câmeras. Com os diretores Roberto Talma e Paulo Ubiratan (de Água Viva), trabalhou em Coração Alado e Baila Comigo como assistente. A primeira direção em que aparece creditado como tal foi em Jogo da Vida (1981-1982), novela de Silvio de Abreu, juntamente com Guel Arraes, também um iniciante, sob a direção-geral de Roberto Talma.
Neste momento, Jorge e Guel formaram uma parceria que revolucionou o humor nas novelas brasileiras. Com a autoria de Silvio de Abreu, os diretores implantaram o pastelão, renovando os moldes de dramaturgia para o horário das sete da noite da Globo. Seguiram-se Guerra dos Sexos (1983), com a célebre sequência do café da manhã entre Fernanda Montenegro e Paulo Autran, e Vereda Tropical (1984-1985), texto de Carlos Lombardi com supervisão de Abreu.
A dupla Jorge-Guel se desfez em 1985. Jorge Fernando seguiu com grandes sucessos das sete nos anos 80: Cambalacho (1986), de Silvio de Abreu, e Brega e Chique (1987) e Que Rei Sou Eu? (1989), de Cassiano Gabus Mendes. Em 1990, estreou no horário nobre, com Rainha da Sucata, também de Abreu, outro sucesso marcante. Invariavelmente, o diretor voltava a atuar, como em Bebê a Bordo (1988-1989), de Lombardi com direção-geral de Roberto Talma, ou em pequenas participações nas próprias novelas que dirigia.
Como uma espécie de Hitchcock das novelas brasileiras, o ator-diretor ia para a frente das câmeras. Em Guerra dos Sexos, viveu, em ocasiões diferentes: um guarda de zoológico, um segurança e um porteiro de heliporto. Em Cambalacho participou como um palhaço; em Que Rei Sou Eu? foi um guarda do palácio de Avilan; e em Rainha da Sucata, foi diretor de espetáculos da casa de shows Sucata.
Nas décadas seguintes, Jorge Fernando seguiu dirigindo novelas e participando como ator. Entre seus maiores sucessos: Vamp (1991-1992), de Antônio Calmon, A Próxima Vítima (1995), de Silvio de Abreu – em que prevaleceu o suspense em detrimento do humor -, Chocolate com Pimenta (2003-2004), Alma Gêmea (2005-2006), Caras e Bocas (2009-2010) – essas três de Walcyr Carrasco -, o remake de Ti-ti-ti (2010), de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, e Eta Mundo Bom! (2016), novamente com Carrasco.
Jorge Fernando também dirigiu a minissérie Dercy de Verdade (2012), de Maria Adelaide Amaral, e esteve à frente de humorísticos, como o Sai de Baixo, (década de 1990) – foi um dos diretores -, e Macho Man (2011), série de Fernanda Young e Alexandre Machado, como o protagonista. Seu último trabalho na televisão foi bem recente: a novela Verão 90 (após dois anos afastado da TV para se recuperar de um AVC).
Em mais de 40 anos na televisão, foram mais de 30 trabalhos, entre novelas, minisséries e seriados. Paralelamente, Jorge Fernando continuou no teatro, como a direção de espetáculos de Claudia Raia, como “Não Fuja da Raia” (que acabou migrando para a TV em 1996), e atuando, entre outras, nas peças “Boom” (em que cantou, dançou e interpretou) e “Salve Jorge” (autobiográfica). Também foi diretor de cinema: “Sexo, Amor e Traição” (2004), “Xuxa Gêmeas” (2006) e “A Guerra dos Rocha” (2008).
De olhos muito azuis e expressivos, sorriso largo e energia contagiante, Jorge Fernando foi um dos profissionais mais respeitados e queridos de nossa TV, uma figura de carisma ímpar que deixou transparecer nas novelas o seu bom humor. Fica o apoio a Dona Hilda Rabello, sua mãe, que ele sempre escalava para suas novelas, em participações que nunca passavam despercebidas.
Rapaz, mas que falta esse cara vai fazer ! Somente sucessos, está com Deus, pois fez rir muitas pessoas aqui nessa terrinha (Brasil e mundo) demais. Saudades eternas, suas obras estarão ai para a eternidade, espero que tenham aprendizes a sua altura.
Faz tempo que não assisto as novelas da Globo e agora então sem o Jorge Fernando levando humor pastelão para as tramas, sem falar em sua parceria com o Silvio de Abreu (façanha). Não haverá substitutos.
Eu creio que sua primeira direção foi a novela “O amor é nosso”. A história da telenovela pede um grande talento.
‘.
Vai ficar na memória. As primeiras novelas que assisti foram dirigidas por ele, às 18h.
Já estamos sentindo saudade. Boa viagem eterno Jorge Fernando. Muito triste por sua partida.
que trajetória incrível, Fará muita falta
Que tragédia!Amava as novelas do Jorginho. Estou em choque. Tinha um capricho incrível ! A edição das novelas mostrava o jeito dele dirigir. Os efeitos em encerramento de capítulo sempre condizente com as temáticas das tramas. Fará falta às novelas !