Sinopse
No ano de 1859, morre o conselheiro Vale, homem bem relacionado e respeitado na sociedade do Segundo Reinado. Ele deixa um filho, Estácio, e uma irmã, Úrsula, que desde a morte da cunhada cuidara com desvelo da bela chácara em que vivem, no Andaraí. Nomeados testamenteiros os melhores amigos do conselheiro: o Dr. Camargo, médico igualmente bem relacionado, e o Padre Melchior, amigo da família.
A abertura do testamento é marcada para o dia seguinte ao enterro e cercada de suspense, criado pela expectativa de Camargo, visivelmente preocupado com um possível “erro”, que poderia o amigo ter deixado para revelar somente após sua morte. A leitura do testamento revela uma segunda filha do conselheiro Vale, Helena, nascida de uma união até então desconhecida de toda a família.
Enquanto Estácio aceita o último pedido do pai – levar Helena para morar na chácara e tratá-la com carinho – Úrsula e o Dr. Camargo ficam contrariados. A irmã do conselheiro vê na jovem uma intrusa e usurpadora, enquanto o médico também se mostra contra a ideia – sua filha Eugênia é noiva de Estácio. No entanto, o testamento é obedecido e Helena sai do colégio para morar na chácara.
Helena e Estácio apaixonam-se, mas o rapaz sente-se culpado, acreditando ser irmão da moça. Helena, contudo, sabe que não é filha de Vale. O conselheiro teve um romance secreto com sua mãe e prometeu cuidar da menina e tratá-la com carinho. Helena, por sua vez, se encontra às ocultas com seu pai legítimo, Salvador. Sua atitude esquiva faz com que se desconfie que ela tenha um amante.
LÚCIA ALVES – Helena
OSMAR PRADO – Estácio
IDA GOMES – Úrsula
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Luiz Mendonça
CARLOS DUVAL – Padre Melchior
ROGÉRIO FRÓES – Dr. Camargo
REGINA VIANA – Tomásia
ÂNGELA VALÉRIO – Eugênia
GILBERTO SÁLVIO – Salvador
RUTH DE SOUZA – Madalena
SIDNEY MARQUES – Vicente
VANDA MATOS – Antônia
AGUINALDO ROCHA – tabelião
VICENTE COSMO – menino de recados
e
DURVAL PEREIRA – Conselheiro Vale
– núcleo de HELENA (Lúcia Alves), jovem pobre, bonita, inteligente, de temperamento expansivo. Recebe uma polpuda herança de um senhor desconhecido, o que a obriga a mudar-se para uma chácara e conviver com a família dele. A princípio é hostilizada por todos, mas logo eles se rendem à sua simpatia:
o homem misterioso SALVADOR (Gilberto Sálvio), ao final, é revelado que trata-se de seu pai.
– núcleo do CONSELHEIRO VALE (Durval Pereira), figura importante na côrte. Ao morrer, deixa parte de sua herança para Helena. Todos acham que ela é uma uma filha bastarda. Os familiares terão que acolhê-la na chácara da família. Descobre-se ao final que o conselheiro não era o pai de Helena, como se suspeitava, mas fora amante da mãe dela e havia lhe prometido cuidá-la:
o filho ESTÁCIO (Osmar Prado), rapaz tímido e severo. Decidido a atender o desejo do pai. Acaba apaixonado por Helena e culpa-se por isso, pois acredita que ela é sua irmã
a irmã ÚRSULA (Ida Gomes), toma conta da chácara da família e da educação do sobrinho. Fica instisfeita com o testamento. A princípio, recebe Helena como uma intrusa, mas logo fica amiga dela
o amigo de Estácio, LUIZ MENDONÇA (José Augusto Branco), apaixona-se por Helena, despertando ciúme em Estácio
o padre MELCHIOR (Carlos Duval), amigo da família, ajuda Estácio a descobrir a origem de Helena
a escrava MADALENA (Ruth de Souza), bem-quista por todos, afilhada de Úrsula
o escravo VICENTE (Sidney Marques), torna-se amigo de Helena.
– núcleo do DR. CAMARGO (Rogério Fróes), amigo do Conselheiro Vale, médico de confiança da família. Acha que o amigo cometeu um erro ao destinar parte de sua herança a uma desconhecida da família:
a mulher TOMÁSIA (Regina Viana), mulher recatada
a filha EUGÊNIA (Ângela Valério), noiva de Estácio, jovem mimada e mal humorada, antipatiza e sente ciúmes de Helena.
Horário das seis para a Literatura
Com Helena, a Globo lançou no horário das 18 horas as adaptações de obras da Literatura Brasileira, com direção de núcleo de Herval Rossano, a fim de fixar o horário como nova faixa exclusiva para novelas.
Anteriormente, o horário havia apresentado outras novelas, mas não era uma tradição: Meu Pedacinho de Chão, Bicho do Mato e A Patota, exibidas entre 1971 e 1973.
Com a nova faixa como horário fixo, a Globo passou a exibir quatro novelas em sua grade: às dez da noite, às oito, às sete e, agora, às seis.
As duas primeiras experiências – Helena e O Noviço – foram chamadas na época de mininovelas, por terem sido escritas para apenas 20 capítulos. As produções seguintes – além de gravadas em cores – passaram a ter mais de 80 capítulos e, com o passar do tempo, esse número foi aumentando.
O escritor Marcos Rey destacou no ensaio publicado no romance “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1976 pela Edibolso:
“Temia-se que as histórias de época, com seus cenários pesados, guarda-roupa suntuoso e sonoplastia não ao gosto atual da juventude, bem como seu linguajar empostado, afugentassem os telespectadores em geral. Por isso, as primeiras novelas dessa linha não passaram de tímidas experiências de vinte capítulos apenas para testar o misterioso interesse do público.”
“Todavia, o resultado logo da primeira adaptação (Helena) surpreendeu, equiparando-se aos grandes lançamentos da emissora. Parece que já havia um público potencial para as adaptações desse gênero, constituído de estudantes de vários graus e de telespectadores que ansiavam por novelas mais amenas, mais digestivas.”
“Os professores colaboraram aconselhando os alunos a acompanharem as novelas baseadas nos livros de nossa literatura. E os editores foram beneficiados pela imediata procura de livros adaptados para a TV. Ficou assim desfeita a crença de que a televisão atrapalha ou bloqueia o interesse pela literatura.”
Adaptação
Helena é oficialmente a primeira novela solo de Gilberto Braga. Anteriormente, ele escreveu Corrida do Ouro, com a parceria de Lauro César Muniz, para a faixa das 19 horas. Foi Daniel Filho, então diretor artístico da TV Globo, quem designou o autor para o horário das seis, encomendando a adaptação de um livro clássico, em vez de uma novela original.
A escolha pelo romance de Machado de Assis (publicado pela primeira vez em 1876) foi inspirada pelo gosto da mãe de Gilberto, Yedda Braga, que gostava muito do livro. (*)
Gilberto explicou: “Helena é justamente uma das obras que marcam o fim da primeira fase do autor, fase mais romântica e popular. Nele, Machado já flerta com os estudos da psicologia dos personagens. E esse livro foi o escolhido para levar Machado de Assis à televisão por ter uma grande carga de ação dramática, que permite o desenvolvimento de uma novela.”
Sucesso de crítica e público (*)
Com meta de audiência de 35 pontos, Helena registrou 43 na estreia. O último capítulo deu 47 pontos. A média geral foi de 39,7.
A revista Veja festejou: “Parece surgir uma esperança de inteligência aplicada ao entretenimento.”
Artur da Távola, crítico de televisão no jornal O Globo, igualmente comemorou: “A entrada no ar de Helena em horário jovem é mais um ato de afirmação da TV brasileira. (…) Ele [Gilberto Braga] soube verter a essência dramática da obra tendo o mérito maior, sobre todos os outros, de deixar muito da fala, do espírito e do estilo machadianos.”
Na Folha de São Paulo, a crítica Helena Silveira contou que foi batizada por causa da personagem de Machado e classificou a produção da Globo como “antológica”. Quase sempre muito severa, Silveira observou:
“Verter para a televisão o estilo machadiano é tarefa difícil, se não impossível. A esta altura do trabalho, seria otimismo demasiado dizer que Gilberto Braga pôde cometer a proeza. Mas se o estilo do romancista de Quincas Borba não está no vídeo, incólume, pelo menos não nos chega comprometido. E isto já é muito.”
Elenco
Falou-se em Nívea Maria, Bete Mendes e Maria Cláudia para viver a protagonista Helena, antes de Lúcia Alves ser escalada. De início, Gilberto Braga torceu o nariz para a escolha da atriz.
Gilberto também era crítico de teatro. Cinco anos antes, ao comentar a remontagem da peça “Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera”, o autor havia chamado Lúcia de atriz “inexpressiva”. Porém, rendeu-se ao vê-la como Helena em sua novela. “Foi bem.” (*)
Cenografia, figurinos e locações
Os 20 capítulos de Helena foram totalmente gravados e finalizados em doze dias.
Os cenários e figurinos, criados por Arlindo Rodrigues, procuraram reconstituir, da melhor maneira possível, uma chácara carioca, em 1859, onde transcorria a maior parte da ação da novela. As roupas também reproduziam as modas da época, muito calcada nos estilos usados na Europa.
Para as cenas de externa, o local escolhido foi a Fazenda de Palmares, em Santa Cruz, Rio de Janeiro. Lá foram gravados os passeios de Helena e Estácio (Lúcia Alves e Osmar Prado) a cavalo, assim como as cenas do exterior da chácara. As mesmas locações foram posteriormente utilizadas para o Sítio do Picapau Amarelo (que estreou em 1977).
Os desenhos da abertura eram do artista plástico Juarez Machado, que, na época, tinha um quadro no Fantástico.
Exibição
Helena marcou o retorno de reprises de novelas no início da tarde, na Globo – houve um hiato de dois anos sem reprises na faixa, entre março de 1974 e março de 1976 (a última foi Carinhoso). (colaboração: Fábio Costa)
Helena foi reapresentada no início da tarde entre 08/03 e 02/04/1976 – época em que a faixa Vale a Pena Ver de Novo ainda não tinha esse nome.
Helena tinha uma narração inicial que fazia uma retrospectiva dos últimos acontecimentos da trama, uma espécie de “cenas do capítulo anterior”, mas narradas.
Texto narrado na apresentação das cenas do próximo capítulo da novela (prática comum na época):
“Helena, a jovialidade de uma menina, a compostura de uma mulher…”
“Helena, alma apaixonada e sensível. Lépida e travessa. Capaz de assumir um amor impossível.”
Outras versões
A história de Helena já havia sido levada à televisão, em 1952, pela TV Paulista, com dois capítulos semanais, tendo Vera Nunes no papel-título.
Em 1987, o romance de Machado de Assis rendeu outra versão para a TV, adaptado por Mário Prata, Dagomir Marquezi e Reinaldo Moraes, em uma produção da TV Manchete. No elenco, Luciana Braga e Thales Pan Chacon viveram os protagonistas Helena e Estácio.
* “Gilberto Braga, o Balzac da Globo”, Artur Xexéo e Maurício Stycer.
Deixe um comentário