Sinopse

Os “intrusos” da cidade grande chegam à pacata Divineia, no interior do Mato Grosso, com uma missão: desviar o curso do rio Jurapori, que corta o povoado, e instalar uma hidrelétrica. A consequência disso seria o desaparecimento de Divineia, submersa nas águas. Chefiando a equipe de técnicos responsáveis pela obra, está Diogo Gonzaga Soares, um dos maiores interessados no progresso que a barragem irá trazer à região.

O irmão de Diogo, Pedro Azulão, é um conhecido morador da cidadezinha, respeitado e admirado pela população, que não aceita a imposição do progresso em detrimento da natureza. Os dois cresceram separados: ao perderem os pais em um desastre, Pedro ficou com a tia Nara e o beato Juliano, enquanto Diogo foi para o Rio de Janeiro com o milionário Heitor Gonzaga Soares. As complicações não paravam por ai.

Nara tivera com Gonzaga uma filha, Bárbara, que foi criada pelo pai no completo desconhecimento de sua mãe. Moça rica e problemática, Bárbara chega a Divineia com Diogo e não entende por que Nara está sempre ao seu lado, com aquele jeito arredio de indígena, característico da população local. A moça sofre de crises nervosas que lhe provocam cegueira momentânea, consequência do trauma sofrido ao ser afastada da mãe.

Pedro e Diogo, além do conflito causado pela hidrelétrica, entram em disputa pelo amor da indomável Chica Martins. A princípio namorada de Pedro, a moça, impulsiva e de temperamento ardente, acaba se rendendo a Diogo, encantada com seus modos finos e condição social, tão diferentes do rústico Pedro. Este, por sua vez, arrebatado por Bárbara, liga-se cada vez mais a ela.

Enquanto isso, prossegue o conflito entre o progresso indiscriminado e a preservação da terra. Depois de tentar, em vão, convencer Diogo a desistir da usina, Pedro Azulão incentiva o povo de Divineia a pegar em armas em defesa do povoado. Porém, vítima de uma tocaia, é preso acusado de tentativa de homicídio. O líder camponês livra-se das acusações e chega à conclusão de que é inútil resistir ao poder do progresso.

Como derradeiro protesto, Pedro decide então ser tragado pelas águas. No último momento surge Bárbara, pedindo-lhe que abandone a casa onde se refugiara, pois ela espera um filho dele. A paternidade emociona Pedro, que sai feliz e não percebe que lá dentro ficou Nara, também decidida ao sacrifício final. Os diques abrem-se, as águas invadem Divineia e Nara desaparece na enxurrada. E o progresso vence finalmente.

Globo – 20h
de 6 de maio de 1974 a 4 de janeiro de 1975 (Rio)
de 8 de maio de 1974 a 4 de janeiro de 1975 (SP)
209 capítulos

novela de Janete Clair
direção de Walter Avancini, Gonzaga Blota e David Grimberg
direção geral de Walter Avancini
supervisão de Daniel Filho

Novela anterior no horário
O Semideus

Novela posterior
Escalada

JUCA DE OLIVEIRA – Pedro Azulão
JARDEL FILHO – Diogo Gonzaga Soares
REGINA DUARTE – Bárbara Gonzaga Soares
DINA SFAT – Chica Martins (Débora)
JAIME BARCELOS – Gonzaga (Heitor Gonzaga Soares)
FÚLVIO STEFANINI – Gustavo Lucena
NEUZA AMARAL – Nara
SÔNIA BRAGA – Brisa
MARCOS PAULO – André de Melo
ÊNIO SANTOS – Beato Juliano
HERVAL ROSSANO – Arthur Braga
GILBERTO MARTINHO – Zé Martins
DARY REIS – Tonho Madeira
EDSON FRANÇA – Nilo Gato
GESSY FONSECA – Celeste Gonzaga Soares
ARACY CARDOSO – Lisa
ANTÔNIO VICTOR – Dr. Lucena
IDA GOMES – Frida
ISAAC BARDAVID – Salim
TAMARA TAXMAN – Jamile
FRANÇOISE FORTON – Estrada de Ferro
GERMANO FILHO – Quebra-Galho (Expedito Santos de Matos)
DARCY DE SOUZA – Ivone
ROBERTO BONFIM – Saul
LÍCIA MAGNA – Siá Isabel
LÉA GARCIA – Tiana
JOSÉ MIZIARA – Amadeu
TONY FERREIRA – Delegado Amaro
EDSON SILVA – Neves
MONIQUE LAFOND – Judi
IVAN DE ALMEIDA – Moura
LURDINHA BITTENCOURT – Sueli
MARY DANIEL – Hilda Maria
ROBERTO VIEIRA – Cabo Anacleto

as crianças
ROSANA GARCIA – Vivi (Viviane Gonzaga Soares)
RICARDO GARCIA – Ônibus
ISABELA GARCIA – Rodoviária
Aeroplano
Automóvel
Escada Rolante
Estação
Pedestre
Trator
Trem

e
ABEL PÊRA – Vigário Luis (pároco de Pouso Velho)
ADA CHASELIOV – Maria Paula (noiva de Arthur Braga)
ALDO DELANO – Juca
AMELIN FIANI – Helena (ex-amante e segunda mulher do Coronel João Aires de Brito)
CARAPANÃ – Tamaê
CLEYDE BLOTA – Lourdes (tia de André)
DARTAGNAN MELLO – Bicho Brabo
GENY DO AMARAL – Zoraide
HELIO ARY – Custódio
IVO GIFFONI – hippie
JORGE CÂNDIDO – Ismael
JORGE CHERQUES – Coronel João Aires de Brito (Cândido Azulão, pai biológico de Pedro e Diogo)
JOTA BARROSO – Carmo (dono de um restaurante no Rio de Janeiro onde Pedro come sem ter dinheiro para pagar)
MARIA ZILDA – Márcia
MOACYR BASTOS – Jairo
NILTON MARTINS – Januário
PEPA RUIZ – Isolina (empregada na casa dos Gonzaga)
PHYDIAS BARBOSA – Vicente
REGINA LINHARES – Ana Luiza (amiga de Judi)
REGINA VIANA – Rita (segunda mulher de Zé Martins, morta por ele no primeiro capítulo)
TENEN RESENDE – Argentino
VINÍCIUS SALVATORE – Bruno Campos (comprador da fazenda de Arthur Braga)
Divina (irmã de Nara, mãe biológica de Pedro e Diogo)

– núcleo de PEDRO AZULÃO (Juca de Oliveira), boiadeiro, criado no campo. Homem impulsivo, valente, religioso, com grande senso de justiça. Dono de quase todas as terras da região de Divineia, vive unicamente para cuidar da cidadezinha, sendo o líder do lugar. Tem um irmão que não vê há mais de vinte anos, pois foram separados na infância. Tenta, de todas as maneiras, evitar a construção de um canal que inundará seu povoado e o tirará do mapa, substituído por uma usina hidrelétrica:
a tia de criação NARA (Neuza Amaral), de origem indígena, mulher introspectiva, perspicaz e observadora. Sofre por nunca mais ter tido contato com a filha que lhe foi tirada dos braços ao nascer
o pai de criação BEATO JULIANO (Ênio Santos), piloto do avião acidentado no qual morreram seus pais biológicos. Por sentimento de culpa, dedicou-se à religião com fanatismo, abandonando a família na capital e assumindo a criação de Pedro, sendo seu mentor e cuidando dele como um pai.

– núcleo de DIOGO GONZAGA SOARES (Jardel Filho), engenheiro bem-sucedido, enérgico e dinâmico. Tem uma filha pequena. Sente-se culpado pela morte da mulher, que cometeu suicídio após a separação do casal. Irmão de Pedro Azulão, os dois foram separados na infância. Trabalha na construção da hidrelétrica que destruirá Divineia, entrando em choque com o irmão, que não via desde criança:
os pais adotivos: HEITOR GONZAGA SOARES (Jaime Barcelos), presidente da construtora responsável pela hidrelétrica que substituirá Divineia. No passado viveu naquela região e envolveu-se com Nara, com quem teve uma filha. Levou embora para o Rio de Janeiro a filha recém-nascida e Diogo, então criança, responsabilizando-se pela criação e educação dos dois,
e CELESTE (Gessy Fonseca), milionária, filha de família tradicional paulista. Mulher fina e viajada. Como não pôde ter filhos biológicos, apega-se em demasia aos que adotou
a irmã de criação BÁRBARA (Regina Duarte), filha biológica de Heitor e Nara. No passado, Heitor a tomou de Nara e a levou embora, para criá-la com a mulher, Celeste. Bárbara não conhece sua mãe biológica. Insegura e cheia de problemas existenciais, tem uma grande necessidade de afirmação. Vítima de uma cegueira psicológica, que a domina quando não consegue controlar uma crise nervosa. Apaixona-se por Pedro Azulão quando o conhece
a prima LISA (Aracy Cardoso), sobrinha de Celeste que o ama. Viúva, rica e fina. Médica psiquiatra, acompanha de perto as crises de Bárbara
a filha pequena VIVI (Rosana Garcia), menina esperta e voluntariosa
a secretária SUELI (Lurdinha Bittencourt)
os funcionários da casa: MOURA (Ivan de Almeida), mordomo, e ISOLINA (Pepa Ruiz), cozinheira e arrumadeira
a amiga de Celeste, HILDA MARIA (Mary Daniel).

– núcleo de CHICA MARTINS (Dina Sfat), namorada de infância de Pedro Azulão. Sem instrução, tem vergonha da origem humilde e odeia a pobreza e o próprio nome, por isso gosta de ser chamada de DÉBORA, por achar mais “chique”. Exuberante, deslumbrada, impulsiva e de temperamento ardente, sonha em ser uma moça da cidade grande. Interessa-se por Diogo, quando ele chega a Divineia, prospectando a possibilidade de sair daquele lugar e ser rica na capital. Os dois irmãos passam a disputá-la, até Pedro conhecer Bárbara:
o pai ZÉ MARTINS (Gilberto Martinho), homem rude e agressivo. Já matou duas mulheres por ciúmes, em flagrantes de adultério, sempre absolvido por “legítima defesa da honra”
a irmã mais nova BRISA (Sônia Braga), ao contrário dela, é uma moça reservada e responsável. Filha exemplar, cuida do pai com devoção. Tímida, é dominada pela irmã mais velha, a quem admira
a nova madrasta TIANA (Léa Garcia), terceira mulher de Zé Martins.

– núcleo de ANDRÉ DE MELO (Marcos Paulo), engenheiro recém-formado, trabalha na construtora da família Gonzaga Soares. Rapaz de bom caráter, mas revoltado por o pai ter abandonado sua família quando era criança. Vai morar em Divineia por causa da construção da hidrelétrica, desconhecendo que o Beato Juliano é seu pai. Conhece e se apaixona pelo jeito simples de Brisa. Os dois se casam, mas passam por dificuldades por ela não se adaptar ao seu estilo de vida, achando-se caipira demais para o seu círculo social:
a ex-namorada JUDI (Monique Lafond), carioca de hábitos avançados, formando um contraponto com a caipirice de Brisa. Não aceita ter sido protelada e faz o possível para melar a relação de André e Brisa
a tia LOURDES (Cleyde Blota).

– núcleo de GUSTAVO LUCENA (Fúlvio Stefanini), advogado de caráter um tanto maleável. Amigo da família Gonzaga Soares, trabalha para a construtora. É apaixonado por Bárbara e deseja casar com ela a todo custo:
o avô DR. LUCENA (Antônio Victor), amigo pessoal de Gonzaga, seu comparsa e cúmplice: foram os responsáveis pelo desastre de avião que vitimou os pais biológicos de Diogo e Pedro.

– núcleo de NILO GATO (Edson França), nordestino, chega a Divineia para trabalhar na lavoura de erva-mate. Bom, puro e simples, revolta-se com o regime de trabalho da fazenda. Foge e passa a viver acuado, assaltando para comer:
a protetora SIÁ ISABEL (Lícia Magna), mulher amargurada, trabalha na lavoura de erva-mate. Perdeu um filho com vinte anos e transfere para Nilo o amor do filho falecido.

– núcleo de SALIM (Isaac Bardavid), mascate, chegou ao Brasil ainda menino, vindo da Síria. De boa lábia, engana a freguesia vendendo coisas usadas como novas. Contudo é um bom sujeito, gozador e falante. Quando fica nervoso, enrola a língua e xinga todo mundo em árabe:
a filha JAMILE (Tamara Taxman), boa moça, bonita e esperta. Leva as novidades de São Paulo para as moças de Divineia.

– núcleo de QUEBRA-GALHO (Germano Filho), como é conhecido EXPEDITO SANTOS DE MATOS. Ganhou o apelido pela magreza e cara de esfomeado e pelas várias profissões que exerce – retratista, bombeiro, mecânico, pedreiro – vivendo como pode. Tem dez filhos, cada um com um nome curioso:
a mulher IVONE (Darcy de Souza), a mártir personificada. Trabalha na lavoura de erva-mate
a filha mais velha ESTRADA DE FERRO (Françoise Forton), revolta-se com o pai que prometeu-lhe em casamento a um homem com posses
os demais filhos, crianças: ÔNIBUS (Ricardo Garcia), RODOVIÁRIA (Isabela Garcia), AEROPLANO, AUTOMÓVEL, ESCADA ROLANTE, ESTAÇÃO, PEDESTRE, TRATOR e TREM.

– demais personagens:
ARTHUR BRAGA (Herval Rossano), fazendeiro que cultiva erva-mate. Homem mau-caráter e déspota com seus empregados, a quem explora. Antagonista de Pedro Azulão, que não aceita suas imposições. Apoia a construção da hidrelétrica, já que sua fazenda está a salvo da inundação das águas e seria beneficiada. Deseja casar-se com Estrada de Ferro, mas ela o rejeita. Tem um caso com Tiana, sua funcionária, enganando-a com a promessa de casamento
TONHO MADEIRA (Dary Reis), farmacêutico e prefeito informal de Divineia. Bonachão, contador de histórias. Um dos fundadores do povoado
FRIDA (Ida Gomes), alemã, dona da única pousada de Divineia
AMADEU (José Miziara), assistente de André, técnico de engenharia de construções. Sujeito meio esquentado
SAUL (Roberto Bonfim), morador de Divineia, trabalha na lavoura de erva-mate, amigo de Pedro
NEVES (Edson Silva), morador de Divineia, trabalha na lavoura de erva-mate, amigo de Pedro
AMARO (Tony Ferreira), delegado de Pouso Velho, a cidade mais próxima a Divineia. Chamado com frequência para resolver casos policiais
CABO ANACLETO (Roberto Vieira), auxiliar do delegado Amaro.

Defesa da natureza

Janete Clair começava a mostrar uma força maior, não se preocupando apenas em entrelaçar os personagens. A autora retomava a linha do drama rural de Irmãos Coragem (1970-1971) e abordava um tema social rico em emoção e conflitos: o homem do campo, cheio de preconceitos com relação ao progresso, que não aceita abandonar suas terras e desvincular-se de suas raízes, procurando impedir, de todas as maneiras, o progresso da região.

A princípio, parecia que a novela adotava o ponto de vista do progresso, criticando o homem do campo. Na verdade, o efeito foi o oposto, com o público identificando-se com os moradores de Divineia (cidadezinha fictícia onde a trama era ambientada).

Em vez da aceitação do progresso indiscriminado, o que ficou marcante foi a defesa da natureza e a preocupação ecológica, que se iniciavam no Brasil naquele tempo. Assim, Fogo Sobre Terra tinha um ponto em comum com a novela do horário das dez contemporânea, O Espigão (de Dias Gomes, marido de Janete Clair) – ainda que esta fosse uma trama urbana, e não rural.

Uma cena marcante: no final, a barragem é inaugurada e as águas do rio Jurapori invadem Divineia, tragando em suas torrentes a personagem Nara (Neuza Amaral), que preferiu morrer a abandonar a cidadezinha.

Clichês e excesso de fantasia

Fogo Sobre Terra registrou ótimo Ibope. Em 1974, a TV Globo já dominava a audiência de norte a sul do país.

Entretanto, a autora não conseguiu escapar dos clichês de sua obra na época, rejeitada pela crítica pelo excesso de fantasia de seus textos, pelas coincidências absurdas que recheavam suas tramas, pelo romantismo exacerbado com que desenvolvia um enredo. (“Janete Clair, a Usineira de Sonhos”, Artur Xexéo)

Sinopse vetada

A sinopse de Fogo Sobre Terra havia sido vetada pela censura do Regime Militar um ano antes, quando a novela substituiria Cavalo de Aço, no horário das oito da noite. Janete então apresentou uma nova sinopse, com uma história mais “palatável” aos censores, O Semideus, dessa vez aprovada, para que só no ano seguinte Fogo Sobre Terra pudesse ser liberada.

Daniel Filho mencionou em seu livro “Antes que me Esqueçam”:
“Até agora não sei porque Fogo Sobre Terra foi proibida (…) O Governo não gostou e cassou a produção sem dó nem piedade, talvez por enxergar semelhanças entre a história e a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que estava em pleno andamento.”

Censura

Um dos diretores de produção assim definiu a batalha que foi a gravação de Fogo Sobre Terra: “Fizemos três novelas em uma só: uma que foi escrita, outra que foi realizada e uma terceira que foi ao ar.”
As dificuldades advieram da interferência da Censura Federal, descontente com os rumos que a história tomara. Vários capítulos tiveram de ser regravados e outros tantos reescritos até que as autoridades ficassem satisfeitas.

O pivô da celeuma era o protagonista Pedro Azulão (Juca de Oliveira), que liderava os moradores de Divineia contra a construção da hidrelétrica. Os censores não gostaram de seu comportamento e exigiram que ele se emendasse. A autora pensou em dar uma morte heroica para Pedro, mas as autoridades preferiam que, em vez de mártir, ele se tornasse um cidadão cordato.

Contou Janete em entrevista, queixando-se veladamente da censura:
“É preciso dizer que não tem sido fácil escrever Fogo Sobre Terra. Por vezes o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que eu enlouqueci. Não é fácil dizer a verdade. E, às vezes, ela vai ao ar mutilada por mil injunções. Em Fogo Sobre Terra, de uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas saíram de minha máquina e não chegaram ao vídeo.” (“Janete Clair, a Usineira de Sonhos”, Artur Xexéo)

E em outra entrevista, em 1980:
Fogo Sobre Terra não chegou a acontecer. Foi uma novela escrita com carinho, com boa vontade, mas que não rendeu aquilo que eu esperava. (…) Foi minha novela mais prejudicada pela censura, porque, apesar de Selva de Pedra ter sido vetada em cerca de 20 capítulos, depois eu consegui engrenar de uma maneira muito feliz e sem outras amolações. Com Fogo Sobre Terra, tive problemas com a censura do início ao fim da novela.”

Elenco

Um grande destaque para Dina Sfat, como a irreverente Chica Martins, mesmo atuando grávida de sua terceira filha, Clara Kutner.
Por sua atuação, Dina foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor atriz de 1974. Juca de Oliveira levou o prêmio de “destaque masculino” da televisão naquele ano.

Outro problema enfrentado por Janete Clair em Fogo Sobre Terra foi a rejeição do público à personagem que criara para Regina Duarte, a pedido da atriz – uma mulher forte, contestadora, o inverso das mocinhas doces e românticas que ajudaram a construir a imagem de Namoradinha do Brasil com a qual Regina ficou conhecida. A novelista criou então Bárbara, que no começo da novela de fato correspondia aos anseios da atriz. Porém, parte do público rejeitou a “namoradinha” em um papel que “não lhe convinha”, e Janete foi convertendo Bárbara em uma mocinha mais tradicional – muito também para encontrar caminhos a seguir devido à ação da censura. (“Novela, a Obra Aberta e Seus problemas”, Fábio Costa)

Quando começou a gravar Fogo Sobre Terra, Regina Duarte havia dado à luz a filha Gabriela há apenas 45 dias. Para dar conta do trabalho e das obrigações de mãe – ela tinha que amamentar a criança de três em três horas –, a atriz se mudou para o prédio em frente à emissora, no Jardim Botânico, onde eram gravadas as cenas de estúdio. (Site Memória Globo)

Título

Quando Janete Clair apresentou a primeira sinopse de Fogo Sobre Terra, ainda em 1973, a novela recebeu alguns títulos de trabalho: O Selvagem, Cidade Vazia e Cidade Nua.

Na sinopse aprovada, em 1974, a novela se chamava As Muralhas de Jericó, para que só depois os executivos da Globo decidissem pelo título final, Fogo Sobre Terra.

Porém, a trama abordava o desparecimento de uma cidadezinha (Divineia) que seria inundada pelas águas de um canal. Não seria mais lógico batizar a novela de Água Sobre Terra?

A explicação está no I-Ching, livro de filosofia chinesa também utilizado como ferramenta para definir conteúdos de estrutura semiótica. De acordo com o site Memória Globo, Daniel Filho e Boni combinaram de jogar o I-Ching para batizar a novela com os elementos que aparecessem nos hexagramas. O resultado mostrou “fogo” e “terra”, que na leitura da filosofia significa “progresso”. Tudo a ver com a discussão proposta pela novela, afinal – em uma interpretação mais ampla – não era a água que iria destruir Divineia, mas o progresso. (colaboração Fábio Costa)

Língua do P

Durante a exibição da novela, as crianças brincaram de “língua do P” – falada na trama pelas irmãs Brisa e Chica Martins (Sônia Braga e Dina Sfat) -, que consiste em falar um “P” antes da sílaba de cada palavra. Brisa também ensinou a língua do P para seu amado André (Marcos Paulo).

Cidade cenográfica

A cidade cenográfica foi construída no interior do Rio de Janeiro, em Barra de Maricá, que, na época, era apenas uma vila de pescadores com pouco mais de 30 casas.

A cidade de mentirinha acabou se tornando uma atração turística, recebendo visitantes nos finais de semana. Ao fim da novela, a região onde foram realizadas muitas cenas da trama adotou o nome da cidade fictícia e passou a se chamar Divineia. (Site Memória Globo)

Trilha sonora

A dupla Toquinho e Vinícius – que já havia assinado as trilhas sonoras das novelas O Bem-Amado (no ano anterior) e Nossa Filha Gabriela (da TV Tupi, em 1971) – foi convidada para compor a trilha de Fogo Sobre Terra. Porém, com sua agenda lotada não houve tempo hábil para criar todas as músicas. Toquinho declarou ao livro “Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, de Guilherme Bryan e Vincent Villari:
“Naquela época, nos apresentávamos em todo o Brasil e no exterior. Então não tivemos fôlego para fazer o disco todo. Entramos com seis músicas. (…) Mas foi uma trilha criada mais às pressas, com menos carinho do que a de O Bem-Amado. Tanto que a repercussão foi bem menor.”

Para completar a trilha, a solução encontrada foi encaixar cinco músicas do cantor e compositor Ruy Maurity e uma música de Guga de Oliveira e Getúlio de Oliveira.

Na pressa para lançar o disco, uma música de Ruy Maurity ficou fora da primeira tiragem, “O Verde é Maravilha”, mas entrou nas demais, apesar de a capa do LP dar a entender que a música entrou em substituição a outra, “Passarinhada”.

Contudo, o maior sucesso da trilha de Fogo Sobre Terra é estrangeiro: “La Chanson Pour Anna”, tema de Bárbara (Regina Duarte), música francesa instrumental composta por André Popp e lançada por Paul Mauriat em 1972, regravada para o disco internacional da novela com arranjos de Waltel Branco.
A associação entre tema e personagem foi tão forte que, quando Moacyr Franco decidiu gravar a música com letra em português, oportunamente a intitulou “Tema de Bárbara”. (“Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, de Guilherme Bryan e Vincent Villari)

E mais

Fogo Sobre Terra foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming da Globo) em 27/05/2024, dentro do Projeto Fragmentos, com os 6 capítulos que restaram nos arquivos da Globo: o primeiro, o segundo, o 104, o 105, o penúltimo (208) e o último (209).

Texto narrado na apresentação das cenas do próximo capítulo (prática comum na época):
“A fibra dos indomáveis. O mesmo amor, a mesma determinação. A eterna luta do homem. Fogo Sobre Terra!”

Trilha sonora nacional (*)

01. AS CORES DE ABRIL – Toquinho e Vinicius de Moraes
02. A SENHA DO LAVRADOR – Ruy Maurity
03. UMA ROSA EM MINHA MÃO – Marília Barbosa (tema de Chica)
04. CALMARIA E VENDAVAL – Djavan
05. PELE DE COURO – Ruy Maurity (tema de Pedro)
06. FOGO SOBRE TERRA – Coral Som Livre (tema de abertura)
07. COM LICENÇA – Ruy Maurity
08. DIVINEIA – Eustaquio Sena (tema de locação: Divineia)
09. PLANTA BAIXA – Betinho (tema de Diogo)
10. AI QUEM DERA – Instrumental
11. O VERDE É MARAVILHA – Ruy Maurity *
12. PASSARINHADA – Ruy Maurity
13. FOGO SOBRE TERRA – MPB-4 & Quarteto En’Cy (tema de encerramento)

Músicas: Toquinho e Vinícius de Moraes, Ruy Maurity, Guga de Oliveira e Getúlio de Oliveira
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: João Mello e Eustáquio Sena

Trilha sonora internacional

01. LA CHANSON POUR ANNA – Free Sound Orchestra (tema de Bárbara)
02. IT’S ALL IN THE GAME – Tyrone Davis
03. MACHINE GUN – The Commodores
04. SEASONS IN THE SUN – Jerry Jacks (tema de Brisa e André)
05. SLEEPIN’ – Diana Ross
06. TIC-TAC – Alarm Clock
07. I WON’T BE FOLLOWING YOU – B.J. Thomas
08. DON’T BE DOWN – Papi (William Hammer **) (tema de Chica e Diogo)
09. RHAPSODY IN WHITE – Barry White
10. CAN WE LIVE FOREVER – The Whispers
11. SON OF SAGITTARIUS – Eddie Kendricks
12. BITE YOU – Bo Diddley
13. I’LL LOVE YOU TENDERLY – King Lou (tema de Bárbara e Pedro)
14. BLACK & ROLL – Max B.

Ainda
HOT WHEELS (THE CHASE) – Badder Than Evil (toca ao fundo no texto das cenas do próximo capítulo)

(*) Na pressa para lançar o disco, uma música ficou fora da primeira tiragem, “O Verde é Maravilha”, mas entrou nas demais, apesar de a capa do LP dar a entender que a música entrou em substituição a outra, “Passarinhada”.
fogocd1

fogocd2

(**) Em algumas edições do disco, o cantor Papi foi creditado como William Hammer (“Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vincent Villari)

Tema de abertura: FOGO SOBRE TERRA – Coral Som Livre

A gente às vezes tem vontade de ser
Um rio cheio prA poder transbordar
Uma explosão capaz de tudo romper
Um vendaval capaz de tudo arrasar
Mas outras vezes tem vontade de ter
Um canto escuro onde poder se ocultar
Um labirinto onde poder se perder
E onde poder fazer o tempo parar

A dor de saber que na vida
É melhor de saída
Ser um bom perdedor
Amor, minha ponte perdida
Vem curar a ferida
De mais um sonhador…

Veja também

  • homemquedevemorrer

O Homem Que Deve Morrer

  • selvadepedra72_2

Selva de Pedra (1972)

  • semideus_logo

O Semideus

  • bravo

Bravo!