Sinopse
O antigo prefeito de Tubiacanga, Feliciano Mota da Costa, acreditava que havia ouro na cidade. Para comprovar sua tese, exibiu uma enorme pepita e convenceu a população a entregar-lhe suas economias para a construção de uma empresa de mineração. Os moradores descobriram que a pepita era falsa e se revoltaram. Obrigados a fugir de canoa, Feliciano e a mulher foram atingidos por um pistoleiro, morreram e foram enterrados pelo filho, Feliciano Jr.
Quinze anos depois, Feliciano Jr. retorna a Tubiacanga para vingar a morte dos pais. Para tanto, assume uma nova identidade, Raimundo Flamel, um homem misterioso que aguça a curiosidade e a ambição dos moradores da cidade ao se declarar capaz de transformar ossos humanos em ouro. Tudo faz parte de seu plano de destruir as pessoas que considera responsáveis pela morte de sua família, os poderosos de Tubiacanga, representados, principalmente, pelo prefeito Demóstenes e pelo Major Emiliano Bentes.
Demóstenes é um político corrupto que tem um caso velado com a fogosa Rubra Rosa, a autora de seus discursos inflamados e mulher de seu opositor, o vereador Numa Pompílio de Castro. A relação fica abalada com a chegada da atriz Perla Menescau, com quem Rubra passa a disputar o prefeito. Rubra Rosa ainda interfere no namoro do filho Áureo Poente com a jovem Zigfrida, filha da costureira Margarida Weber, tia de Feliciano, cujo marido foi morto com os pais dele, e portanto, uma das poucas pessoas que sabem de seus planos.
O Major Bentes é um homem prepotente que dita as regras e se acha dono da cidade. Os fantasmas do passado o assombram com a chegada da ardilosa Salustiana Maria, com quem tivera um envolvimento amoroso no passado. A fim de extorquir dinheiro, Salustiana exige que ele assuma a paternidade de seu filho, Cassi Jones. O filho legítimo do major, Guilherme, namora a temperamental Linda Inês, filha do prefeito, que entra em atrito com Raimundo Flamel sem imaginar que ele é na verdade Feliciano Jr, seu namoradinho de infância.
EDSON CELULARI – Raimundo Flamel / Feliciano Júnior
GIULIA GAM – Linda Inês
LIMA DUARTE – Major Emiliano Bentes
JOSÉ WILKER – Prefeito Demóstenes Massaranduba
SUSANA VIEIRA – Rubra Rosa
HUGO CARVANA – Numa Pompílio de Castro
JOANA FOMM – Salustiana Maria
JUCA DE OLIVEIRA – Professor Praxedes de Menezes
ARLETE SALLES – Margarida Pestana Weber
CLÁUDIO MARZO – Coveiro Orestes Fronteira
CÁSSIA KISS – Ilka Tibiriçá
PAULO GORGULHO – Ataliba Timbó
CLÁUDIA ALENCAR – Perla Menescau
CLÁUDIA OHANA – Camila
VERA HOLTZ – Querubina
MARCOS WINTER – Cassi Jones
RUBENS CARIBÉ – Guilherme
LUIZA TOMÉ – Maria dos Remédios
OTÁVIO AUGUSTO – Afonso Henriques
EWERTON DE CASTRO – Genival Gusmão
DEBORAH EVELYN – Sigfrida
CLÁUDIO FONTANA – Áureo Poente
GIUSEPPE ORISTÂNIO – Maxwell Antenor
TONICO PEREIRA – Chico da Tirana
ROSANE GOFMAN – Vaina Marina
PEDRO VASCONCELLOS – Etevaldo
MURILO BENÍCIO – Fabrício
ANNA DE AGUIAR – Isoldinha
ÉRIKA ROSA – Clara dos Anjos
MARIA CEIÇA – Ingrácia
ANTÔNIO POMPEO – Joaquim
NORTON NASCIMENTO – Votan
CAMILA PITANGA – Teresinha
TUCA ANDRADA – Subdelegado Carlos Barromeu
IVAN DE ALBUQUERQUE – Mestre Nicolau
MARIA GLADYS – Lucineide
MARIA HELENA DIAS – Júlia
FERNANDA MUNIZ – Valéria
CLEMENTE VISCAÍNO – Juca
CLÉA SIMÕES – Cleonice
FERNANDA LOBO – Belmira
AUGUSTO JÚNIOR – Animal
DANIELA FARIA – Daiane
RENATO VASCONCELOS – Sidnei
LEONARDO MIRANDA – Pastor
CAROLINA DIECKMANN – Carol
as crianças
PATRICK DE OLIVEIRA – Romãozinho
BRUNO DE LUCA – Uilsinho
primeira fase
TARCÍSIO MEIRA – Feliciano Mota da Costa
LUCINHA LINS – Laurinda
ODILON WAGNER – Weber
ODENIR FRAGA – Januário (garimpeiro que mata Weber)
DIOGO BANDEIRA – Feliciano Júnior (criança)
MARIANA GUIMARÃES – Linda Inês (criança)
e
AFRÂNIO GAMA – homem do porco
AÍRTON FIGUEIREDO – jornaleiro/pintor
ALEXANDRE BARBALHO – Montemor (dono do armazém)
ANDRÉ GONÇALVES – Vivaldo (filho de Orestes, morre no início)
ÂNGELA BRITTO – dona do armarinho
ANTÔNIO CELSO – vereador mais novo
BILECO – jornalista
CAJU – office-boy da prefeitura
CARLA TAUSZ – Douzília (empregada de Rubra Rosa)
CÉSAR AUGUSTO – morador de Tubiacanga
COMANCHE – barqueiro
DANIEL AUGUSTO – Charles (criança da cidade)
EUNICE GONÇALVES – Gina (tecelã)
FREDY MONTEIRO – homem do leite
GUILHERME KARAN – Miguel da Ilha (motorista de limusine contratado por Salustiana para levá-la ao aeroporto)
IG VIEIRA – Maria (tecelã)
JACY OLIVEIRA – Janete (tecelã)
JAMAICA MAGALHÃES – dona do bar
JULCILÉA TELLES – Ivonete (mulher de Orestes, morre no início)
LEYLA BATORIE – Sofia
LÍVIA RAMOS – Consuelo (trabalha na Câmara dos Vereadores)
LUÍS ANTÔNIO PILAR – Antônio (vereador)
LUIZ SANTIAGO – varredor de rua
MARCOS PAULO – Rodrigo Otávio (munícipe de Tubiacanga que Ataliba confunde com o namorado de Ilka)
MARIA ADELAIDE FERREIRA – Maria da Graça (dona do armazém)
MÁRIO LAGO – juiz de paz que celebra o casamento de Sigfrida e Áureo e de Margarida e Orestes
MILA MOREIRA – Viviane Musselini (apresentadora de um programa de TV sobre moda que vai gravar em Tubiacanga)
MILENA TIMÓTEO – auxiliar da Irmandade
NALME – Silvia
NETE CABRAL – empregada do Major Bentes
PEDRO PAULO RANGEL – oficial de justiça que toma os bens do Major Bentes e os entrega a Gusmão
ROBERTO MORAES – soldado
ROGÉRIO DOLABELLA – foca da Gazeta de Tubiacanga
ROZANA MUNIZ – fotógrafa
SÉRGIO BRITTO – padre que celebra o casamento de Flamel e Linda Inês, no último capítulo
SIDNEY MARQUES – motorista da Prefeitura
SONAIRA D´AVILA – Sônia (empregada da fazenda de Demóstenes)
SUELY SUZUKI – solteirona
WALDEMAR BERDITCHEVSKY – Laurindo (vereador)
WALDIR FERNANDES – soldado
WANDERSON GOMES – Peninha (criança da cidade)
– núcleo de FELICIANO JÚNIOR (Diogo Bandeira / Edson Celulari), retorna a Tubiacanga com o objetivo de punir os responsáveis pela morte de seus pais no passado. Para isso assume a identidade de RAIMUNDO FLAMEL, um misterioso alquimista que diz ser capaz de transformar ossos em ouro, aguçando a cobiça do povo de Tubiacanga:
os pais FELICIANO MOTA DA COSTA (Tarcísio Meira, numa participação) e LAURINDA (Lucinha Lins, numa participação)
o amigo GUSMÃO (Ewerton de Castro), seu cúmplice
a empregada LUCINEIDE (Maria Gladys)
seu mentor MESTRE NICOLAU (Ivan de Albuquerque).
– núcleo de LINDA INÊS (Mariana Guimarães / Giulia Gam), dona de uma tecelagem. Envolve-se com Flamel sem desconfiar que na verdade ele é Feliciano Júnior, seu namoradinho de infância:
o pai DEMÓSTENES (José Wilker), o prefeito de Tubiacanga e um dos principais culpados pela morte de Feliciano Mota da Costa
as tias ILKA TIBIRIÇÁ (Cássia Kiss), a desmiolada da família, trabalha na prefeitura,
e SALUSTIANA MARIA (Joana Fomm), megera que esconde de todos a paternidade do filho
o primo CASSI JONES (Marcos Winter), filho de Salustiana, mal caráter que segue os passos da mãe
a empregada CLEONICE (Cléa Simões)
JUCA (Clemente Viscaíno), seu braço direito na tecelagem.
– núcleo do MAJOR BENTES (Lima Duarte), um dos todo-poderosos de Tubiacanga, acha que é “dono da cidade”. Foi um dos culpados pela morte dos pais de Feliciano. Tivera um envolvimento amoroso com Salustiana no passado. Descobre-se no final que ele é o verdadeiro pai de Cassi Jones:
o filho GUILHERME (Rúbens Caribé), ex-namorado de Linda Inês, que não se conforma com o fim do romance. Morre no decorrer da novela
o capataz ANIMAL (Augusto Júnior)
o SUBDELEGADO BARROMEU (Tuca Andrada), pau mandado do Major Bentes. Tem um tórrido romance com Salustiana que o transforma em seu objeto sexual.
– núcleo de MARGARIDA WEBER (Arlete Salles), costureira humilde, única da cidade a saber da verdadeira identidade de Flamel, seu sobrinho:
o marido WEBER (Odilon Wagner, numa participação), morto em defesa de Feliciano Mota da Costa
as filhas ZIGFRIDA (Deborah Evelyn), amiga de Linda Inês, e ISOLDINHA (Anna Aguiar), jovem interesseira
as costureiras JÚLIA (Maria Helena Dias) e VALÉRIA (Fernanda Muniz), trabalham com Margarida em seu ateliê.
– núcleo de NUMA POMPÍLIO DE CASTRO (Hugo Carvana), inimigo político do prefeito Demóstenes:
a mulher RUBRA ROSA (Susana Vieira), que mantém uma relação secreta com Demóstenes
o filho ÁUREO POENTE (Cláudio Fontana), se envolve com Zigfrida mas enfrenta a oposição da mãe que é contra o namoro dele com a filha da costureira da cidade
o empregado VOTAN (Norton Nascimento), espécie de guarda-costas de Rubra Rosa
o acessor político de puxa-saco de Numa, MAXWELL ANTENOR (Giuseppe Oristânio), apaixonado por Zigfrida.
– núcleo do PROFESSOR PRAXEDES (Juca de Oliveira), um literário:
a mulher QUERUBINA (Vera Holtz)
o irmão ATALIBA TIMBÓ (Paulo Gorgulho), que se envolve com Ilka Tibiriçá, com quem tem um contubardo namoro
os filhos ETEVALDO (Pedro Vasconcellos), que finge estudar, e o garoto WILSINHO (Bruno de Luca)
a sobrinha CAMILA (Cláudia Ohana), que sofre de um mal que a faz dormir por um longo período
a empregada BELMIRA (Fernanda Lobo).
– núcleo do COVEIRO ORESTES (Cláudio Marzo), homem misterioso que conversa com os mortos. Envolve-se com Margarida no decorrer da trama:
a mulher IVONETE (Julciléa Telles), morta em um incêndio, durante uma chacina
os filhos VIVALDO (André Gonçalves), morto no incêndio com a mãe, e ROMÃOZINHO (Patrick Oliveira), único sobrevivente.
– núcleo de PERLA MENESCAU, atriz perua que vem a Tubiacanga atrás de Etevaldo, com que tivera um romance. Acaba se apaixonando por Demóstenes e passa a disputá-lo com Rubra Rosa:
a vidente e amiga VAINA MARINA (Rosane Gofman).
– núcleo de MARIA DOS REMÉDIOS (Luiza Tomé), analfabeta, dona de um bar. Ao ficar viúva, decide aprender a ler e escrever com o Professor Praxedes, provocando o ciúme da mulher dele, Querubina:
o marido CHICO DA TIRANA (Tonico Pereira), que morre no decorrer da trama
os frequentadores do bar, o bêbado AFONSO HENRIQUES (Otávio Augusto), poeta, responsável pelo jornal “Arroto”, que resume a vida do povo de Tubiacanga, apaixona-se por Camila
e o lixeiro FABRÍCIO (Murilo Benício), um gago que consegue balançar o coração da temperamental Isoldinha.
– núcleo de INGRÁCIA (Maria Ceiça), líder numa irmandade negra com regras rígidas de comportamento:
o marido JOAQUIM (Antônio Pompeo)
a filha CLARA DOS ANJOS (Érika Rosa), prometida desde o nascimento a Votan, é seduzida por Cassi Jones
a sobrinha TERESINHA (Camila Pitanga), apaixona-se por Votan com quem acaba se casando, quebrando a tradição da irmandade.
– núcleo dos jovens:
DAIANE (Daniela Faria)
SIDNEY (Renato Vasconcellos)
PASTOR (Leonardo Miranda)
CAROL (Carolina Dieckmann).
Realismo fantástico
Mais um leque de personagens curiosos e tramas de realismo fantástico de Aguinaldo Silva – dividindo a autoria com Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. Desta vez, o ponto de partida foram personagens e tramas do escritor Lima Barreto (1881-1922), compondo um painel inteligente ao adaptá-los para televisão. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)
O realismo fantástico foi visto nos poderes de Raimundo Flamel (Edson Celulari) em transformar ossos humanos em ouro; na personagem Camila (Cláudia Ohana), que entrava em sono profundo e dormia anos a fio; na figura do Coveiro Orestes (Cláudio Marzo), que falava com os mortos e, assim, sabia os segredos e os “podres” das famílias de Tubiacanga; e nas cenas de amor de Demóstenes e Rubra Rosa (José Wilker e Susana Vieira), que inflamavam tudo ao redor – inspiração na personagem Marcina, de Sônia Braga, da novela Saramandaia (1976), de Dias Gomes, que ardia em febre, literalmente, quando excitada.
Lima Barreto
Da obra de Lima Barreto, serviram como base os romances e contos “Clara dos Anjos”, “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, “O Homem que Sabia Javanês”, “Numa e a Ninfa” e “Nova Califórnia” (o primeiro título pensado para a novela).
A trama do personagem Eteveldo (Pedro Vasconcelos) foi inspirada na obra “O Homem que Sabia Javanês”, que gerou posteriormente (em 1994) um episódio da faixa Terça Nobre, estrelado por Marco Nanini.
Os autores também homenagearam Lima Barreto por meio do poeta Afonso Henriques, personagem de Otávio Augusto, cujo nome completo era Afonso Henriques de Lima Barreto, homônimo do homenageado. Além disso, havia uma foto de Lima Barreto com a faixa presidencial no gabinete do prefeito de Tubiacanga.
Também os nomes das ruas da cidade faziam alusão a romances e personagens do escritor, como Praça Policarpo Quaresma, Rua Gonzaga de Sá, Rua Escrivão Isaías Caminha, etc. (*)
O próprio nome da cidade da trama – Tubiacanga – não é criação dos autores da novela, mas de Lima Barreto: está no conto “Nova Califórnia”.
Cenário político
Os autores incorporaram à trama fatos do cenário político vigente. O escândalo dos “anões do orçamento”, alardeado pelo noticiário nacional da época, apareceu na novela por meio dos personagens Major Bentes (Lima Duarte), Professor Praxedes (Juca de Oliveira), Numa Pompílio de Castro (Hugo Carvana) e Demóstenes (José Wilker) – os anões de Tubiacanga.
A atriz Perla Menescal (Cláudia Alencar) foi sem calcinha receber as chaves da cidade das mãos do prefeito, com quem mantinha um caso amoroso – uma paródia ao episódio envolvendo a modelo Lílian Ramos, fotografada sem a peça íntima ao lado do então presidente Itamar Franco no Sambódromo do Rio de Janeiro durante o carnaval de 1994.
Também o comportamento, visual, falas e gestos de Áureo Poente (Cláudio Fontana) quando ingressa na política (ao final), o que remetia ao ex-presidente Fernando Collor de Mello (que renunciara em dezembro de 1992).
Ilka Tibiriçá
Cássia Kiss interpretou um de seus melhores tipos na televisão: Ilka Tibiriçá, uma personagem engraçada, sensível e muito ansiosa. Os trejeitos, o visual à la anos sessenta e sua fixação no filme O Candelabro Italiano (1962, de Delmer Daves) deram um toque especial, embalado pela canção “Al Di Lá”, tema do filme e da personagem. O figurino da personagem foi inspirado no estilo de Jacqueline Kennedy, ex-primeira-dama dos Estados Unidos na década de 1960.
Foi a própria Cássia quem criou os gestos e a maneira de falar peculiares de Ilka, como a frase “Hmmm… Lindinha queridinha da titia!”, com uma entonação engraçada, referindo-se à sobrinha Linda Inês (Giulia Gam).
As tentativas de Ilka Tibiriçá em ajudar o amado Ataliba Timbó (Paulo Gorgulho) com seu problema de impotência sexual, por meio de receitas de pratos exóticos e afrodisíacos, foi uma atração à parte. As receitas de Ilka fizeram sucesso entre os telespectadores. A emissora recebia inúmeras cartas pedindo que os capítulos em que a personagem fazia os pratos afrodisíacos fossem reprisados para que as receitas pudessem ser anotadas.
Os pratos eram adaptações de receitas verdadeiras, extraídas do livro “Comer e Amar”, escrito em 1986 pela empresária martiniquenha Lauretta Marie Josephe e pelo jornalista Okky de Souza. A única receita que não foi retirada do livro era o famoso “sarapatel das delícias”. Esse prato foi uma sugestão do veterinário Edson Ramos da Siqueira, professor da FMVZ-UNESP de Botucatu.
Além do sarapatel, outras receitas famosas de Ilka Tibiriçá foram mexilhões com abóbora-menina, maionese de ovos de codorna com codornas assadas e frango com gengibre. Depois de gravadas as cenas, elenco e produção se fartavam com os quitutes. (*)
Elenco
Entre os destaques, o triângulo amoroso formado por Rubra Rosa, Demóstenes e Perla Menescau (Susana Vieira, José Wilker e Cláudia Alencar) foi um sucesso, enquanto Lima Duarte e Joana Fomm viveram uma irresistível dupla de vilões.
Primeira novela na Globo das atrizes Camila Pitanga e Carolina Dieckmann (egressas da minissérie Sex Appeal) e do ator Murilo Benício.
Por sua atuação, Murilo Benício foi eleito pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a revelação masculina na televisão em 1994. José Wilker foi premiado como melhor ator do ano.
A pedido de Paulo Ubiratan, Carolina Dieckmann deixou Fera Ferida antes do final. O diretor escalou a atriz, iniciante na época, para viver uma personagem importante na próxima novela das seis, Tropicaliente, e solicitou que Aguinaldo Silva a liberasse. (*)
Juca de Oliveira, que viveu o personagem Professor Praxedes, estava dez anos afastado da Globo – seu último trabalho havia sido a minissérie Parabéns Pra Você, em 1983.
Para viver seu personagem Ataliba Timbó, um jogador de futebol, o ator Paulo Gorgulho fez laboratório no Centro de Treinamento do Corinthians, em São Paulo, acompanhando treinos e conversando com os jogadores.
Problemas com atores e diretor
Aguinaldo Silva considerou que os personagens Ivonete (Julciléa Telles) e Vivaldo (André Gonçalves), respectivamente mulher e filho mais velho do coveiro Orestes Fronteira (Cláudio Marzo), não funcionaram como esperava. Foi então criado um incêndio na casa da família, do qual escaparam somente Orestes e o filho menor, Romãozinho (Patrick de Oliveira). (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)
Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, Aguinaldo declarou:
“Um núcleo que eu odiava, no qual nada dava certo. Só o Cláudio Marzo e um menino, o Patrick de Oliveira, funcionavam. Fiz um incêndio e só os dois sobreviveram.”
A personagem Clara dos Anjos, uma das mais famosos da obra de Lima Barreto, foi vivida na novela pela estreante atriz Érika Rosa. Seu desempenho foi muito criticado, levando à saída de sua personagem da trama antes do final da novela. A atriz nunca mais foi vista na televisão.
Um desentendimento entre Luiz Fernando Carvalho, primeiro diretor-geral escalado para a próxima novela das oito, Pátria Minha, e o autor Gilberto Braga resultou na substituição de Luiz Fernando por Denis Carvalho, costumeiro diretor das novelas de Gilberto que estava à frente de Fera Ferida, com Marcos Paulo. Denis assumiu Pátria Minha em março de 1994, deixando Fera Ferida com Marcos Paulo, para que ele a finalizasse (até julho).
Cenografia e locações
Fera Ferida teve a maior cidade cenográfica construída até então – a fictícia Tubiacanga -, erguida em 45 dias, em Jacarepaguá (no terreno que posteriormente abrigaria o Projac, depois Estúdios Globo). Com trinta mil metros quadrados, incluía um rio artificial sob uma ponte de ferro, ancoradouro, praças, jardins, cemitério, uma pedreira e dez prédios em tamanho natural.
O casarão de Raimundo Flamel (Edson Celulari) era uma construção gótica, sombria e misteriosa, características perfeitas para criar a atmosfera de mistério que envolvia o personagem. (*)
A tecelagem de Linda Inês (Giulia Gam) contava com quatro teares artesanais de mais de cem anos, encontrados na cidade de Carmo do Rio Claro, em Minas Gerais, além de duas rocas e cem ovelhas da raça corriedale, capazes de produzir, em média, cinco quilos de lã. O professor Edson Ramos da Siqueira, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-UNESP) de Botucatu, em São Paulo, prestou consultoria à TV Globo no trato com os animais.
As cenas de Linda Inês no curral eram gravadas em Volta Redonda (no estado do Rio), para onde a produção enviou cerca de 400 ovelhas. (*)
A novela também contou com cenas rodadas em Chaumont, na França, onde ficava o castelo do mestre de Raimundo Flamel (personagem de Ivan de Albuquerque). No Vale do Loire foram gravadas as cenas finais da história, em que Linda Inês e Flamel, apaixonados, terminam juntos.
Efeitos especiais
A equipe de efeitos especiais fez a personagem Camila (Cláudia Ohana) levitar. Para tanto, foram necessários uma prancha de fibra com o molde do corpo da atriz, uma dublê e um estúdio com chromakey.
De acordo com Aguinaldo Silva em seu livro “Meu Passado Me Perdoa”, a ideia inicial é que Camila levitasse sobre a cama na qual dormia, despertasse e, ao sentir um cheiro vindo da cozinha, descesse as escadas, normalmente. O diretor Paulo Ubiratan resolveu incrementar a cena: foi dele a ideia de fazer com que Camila descesse as escadas levitando.
Camila ainda dormia rodeada de pássaros, de várias espécies. O “psicólogo de animais” Antonio Jayro Fagundes foi recrutado para posicionar as aves no estúdio. As cenas eram finalizadas em computador.
Sob a coordenação de Eduardo Halfen, os efeitos especiais em computador inseriram imagens da Chapada dos Guimarães (de Mato Grosso) no entorno de Tubiacanga, assim como uma cachoeira de Brasília colocada entre duas montanhas da cidade cenográfica.
Camisa Flamel
As camisas sem gola de Raimundo Flamel (Edson Celulari), listradas e de manga comprida, viraram moda. Inspiradas em figurinos do filme Lawrence da Arábia (1962, de David Lean), ficaram popularmente conhecidas “camisas Flamel”.
Exibição
Por causa dos jogos da Copa do Mundo dos Estados Unidos (em 1994), a novela teve o último capítulo exibido em um sábado (16/07) e reapresentado no domingo, após o Fantástico. Aliás, a novela terminou com a Copa do Mundo.
No último capítulo, o cinema da cidade de Tubiacanga anunciou a estreia da próxima atração das oito da noite: a novela Pátria Minha, de Gilberto Braga.
Fera Ferida foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo entre 15/09/1997 e 06/02/1998.
Exibida também no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo), entre 15/06/2015 e 13/02/2016, à meia-noite (com reapresentação às 13h30 do dia seguinte).
(*) Site Memória Globo.
Trilha sonora volume 1
01. RIO DE JANEIRO (ISTO É O MEU BRASIL) – João Bosco (tema de locação: Tubiacanga)
02. FLOR DE IR EMBORA – Fátima Guedes (tema de Clara dos Anjos)
03. MON AMOUR – Rita Lee (tema de Rubra Rosa)
04. NOITES COM SOL – Flávio Venturini (tema de Áureo e Zigfrida)
05. AL DI LÁ – Emilio Pericoli (tema de Ilka Tibiriçá)
06. CORRUPIÃO – Edu Lobo (tema do Major Bentes)
07. FERA FERIDA – Maria Bethânia (tema de Raimundo Flamel – tema de abertura)
08. SANGUE LATINO – Renata Arruda (tema de Linda Inês)
09. DA COR DO PECADO – Fagner (tema de Cassi Jones)
10. ROSA – Marisa Monte (tema do Profº Praxedes e Maria dos Remédios)
11. SENSUAL (PALÁCIO FÁCIL) – Zé Ramalho (tema de Demóstenes)
12. CORPO E LUZ – Itamara Koorax (tema de Margarida Weber)
13. PÁLIDA – Vânia Bastos (tema de Camila)
14. UM DIA, UMA MÚSICA – Léo Gandelman (tema de locação: Tubiacanga)
Produção musical: André Sperling
Direção musical: Mariozinho Rocha
Trilha sonora volume 2
01. EU SÓ PENSO EM VOCÊ (ALWAYS ON MY MIND) – Zezé di Camargo & Luciano (participação de Willie Nelson) (tema de Teresinha e Votan)
02. PESSOA – Marina (tema de Isoldinha e Fabrício)
03. COBRA DE CHIFRE – Amelinha (tema de Salustiana)
04. AO POETA / PRIMAVERA / DEIXA / MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS – Leila Pinheiro (tema de Afonso Henriques)
05. IRMANDADE – Maria Ceiça (tema de Ingrácia)
06. VELHO CHORINHO NOVO – Aécio Flávio
07. OUTRA NOITE – Chico Buarque (tema de Orestes)
08. VOCÊ É LINDA – Caetano Veloso (tema de Raimundo Flamel e Linda Inês)
09. MINUETO – Celso Adolfo (tema de Mestre Nicolau)
10. GAROTOS II, O OUTRO LADO – Leoni (tema de Perla Menescal e Etevaldo)
11. AO WATANABE – César Machado
12. NA CADÊNCIA DO SAMBA – Waldyr Calmon (tema de Ataliba Timbó)
Produção musical: André Sperling
Direção musical: Mariozinho Rocha
Tema de abertura: FERA FERIDA – Maria Bethânia
Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos rasgados na saida
Mas sai ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes no peito atingido
Animal arisco
Domesticado esquece o risco
Me deixei enganar e até me levar por você
Eu sei quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor
Eu sei, o coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci
Eu andei demais
Não olhei prá trás
Era solto em meus passos
Bicho livre sem rumo, sem laços
Me senti sozinho
Tropeçando em meu caminho
À procura de abrigo
Uma ajuda, um lugar, um amigo
Animal ferido, por instinto decidido
Os meus rastros desfiz
Tentativa infeliz de esquecer
Eu sei que flores existiram
Mas não resistiram a vendavais constantes
Eu sei que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci
Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma
E no coração…
Uma aula de literatura
Ótima!! Cassia Kiss, Suzana Vieira a Arlete Salles, dando show de interpretação
Uma das melhores novela da Globo adorei
Sou apaixonado por essa novela…. viajava a cena do baile a fantasias lembro muito… foi um tempo feliz de minha vida… era um olho em fera ferida outro em Éramos seis do SBT… melhores capas na época só podia ouvir na novela não podia comprar a trilha… mas quando comecei a trabalhar comprei todas… minha doce memoria afeitiva
Gostava muito do duelo entre as irmãs vividas pela Deborah Evelyn e Ana Aguiar (Frida e Isoldinha).
Essa novela não foi bem aceita na reprise do Viva, não entrou nem na relação das 3 mais votadas no Troféu Imprensa, bem como sua contemporanea do horario Patria Minha. Prá mim mais uma das repetiçoes de Aguinaldo, que fez meia duzia da mesma novela…O destaque de 1994 foi A Viagem, mas quem levou o trofeu foi Éramos Seis…..curioso!!
Agora assistindo Fera Ferida depois de anos (quando vi a primeira exibição tinha 11 anos, só tinha algumas poucas lembranças da novela, que eu adorava) me decepcionei com alguns finais…
-Primeiro, o de Numa… o cara descobre a traição no meio da novela e simplesmente nao faz nada com a informação a não ser “tratar mal” a rubra rosa! Esse mote poderia ter sido mto bem explorado… numa poderia deixar rubra pobre, sem moral, sem os fricotes delas… mas, não! no final, simplesmente joga na cara dela que sabia que foge com maxuel antenor (???) que nada a ver! Nem o filho que ele dizia que amava tanto e que tb gostava tanto do pai ele nem lembrou… inclusive, nem o filho deu por falta da falta do pai! nada a ver
-o final de Salustiana tb foi mto mal desenvolvido… a mulher tinha o grande trunfo da novela nas mãos, que era a identidade de Flamel… e no final, dá uma de boquirrota e solta sem querer para Linda Ines a verdade… e fica sem saída, roubando as merrecas do delegado e fugindo!!! que piada! totalmente mal desenvolvido !
– o final de flamel tb, que passa UM ANO pra voltar pra linda ines! pra que isso ? pq nao voltou logo depois que melhorou e tal? não teve nenhum momento da volta dele pra cidade. enfim! simplesmente aparece do nada e volta com linda ines e na cena seguinte ja esta casando! em nenhum momento tb flamel da uma resposta à cidade sobre sua vingança, sobre seu arrependimento, enfim…
– O major bentes tbem tem um final mto atrapalhado… morto pelo coveiro (ok, foi a revanche dele por ter tido a familia morta pelo major) mas, acho que um final mto melhor seria o major ver que o ouro era de tolo e ter enlouquecido de vez… e ser trancafiado , ou ate mesmo se matado… aquela urna com o ouro que ele passou a novela toda abrindo e fechando… tipo, poderia ter uma cena ele olhando o ouro, e na sequencia o ouro virando pó!! enfim, teriam mtas possibilidades interessantes pra esse personagem tb… acabar morto com um tiro do coveiro ,nao tem logica nenhuma!
– o prefeito demostenes é outro que teve um final mto “bomzinho” para o vilão que foi durante toda a novela! simplesmente perdeu a prefeitura… mas, e ai? nao foi nem preso? tudo bem que naquele tempo politico nao ia preso como hj vemos lula, cuunha, cabral e etc presos… mas, poderia ter acabado pobre… enfim! ao contrario, ainda teve tempo de uma ultima maldade no final insuflando a população contra flamel, e depois ainda é perdoado pela filha e acaba com 2 mulheres!
acho que o unico final legal mesmo foi o da srta ilka e o sr ataliba timbó
Vários atores desta novela fizeram Por Amor, 4 anos depois: Susana Vieira, Cássia Kiss, Vera Holtz, Otávio Augusto, Murilo Benício, Tonico Pereira, Rosane Gofman, Maria Ceiça, Carolina Dieckmann, sem contar Odilon Wagner, na 1ª fase. Curiosidade inútil, rs, mas costumo prestar atenção nesses detalhes envolvendo elencos.
Tempos de belíssimas capas. Lindas trilhas sonoras. Poucas Músicas muito bem escolhidas. Esperava ansiosa para o lançamento de cada trilha sonora.
Foi a última novela do Aguinaldo, com essa temática, que eu realmente gostei. Adorava os casais Linda Inês e Raimundo Flamel e principalmente, Áureo e Sigfrida. Saudades do Cláudio Fontana, nas novelas. Um ótimo ator. Muito do que eu gosto da novela, se deve à época em que ela foi exibida, entre fins de 1993 e todo o primeiro semestre de 1994.