Eu Compro Esta Mulher

Era Magadan

Novela que marcou o início da gestão de Wálter Clark como diretor executivo da TV Globo. O sucesso foi mais carioca que paulista.

Foi também a primeira novela da chamada Era Magadan (1966-1969), como ficou conhecido o período em que o núcleo de dramaturgia da TV Globo era comandado com mãos de ferro pela cubana Glória Magadan, que escolhia textos, autores e elencos e mandava e desmandava nas produções da emissora. A Era Magadan estendeu-se até 1969, quando a cubana desligou-se da TV Globo.

Na mesma semana da estreia de Eu Compro Esta Mulher, na Globo, a concorrente TV Rio lançou, no mesmo horário (21h30), a novela Anna Karenina, estrelada por Tônia Carrero e Milton Rodrigues.

Na biografia de Walter Clark – “O Campeão de Audiência” (escrita por Gabriel Priolli) -, o então executivo da TV Globo afirmou não ter se espantado com a audiência baixa de sua nova novela frente à estreia da concorrente:
“Quando chegou o Ibope da estreia, o pessoal da TV Rio foi para o Bar Belmiro comemorar. Eles tinham dado 50 pontos, e nós 15. Mas eu tinha certeza de que a alegria deles ia durar pouco.”

Com um mês de exibição, Eu Compro Esta Mulher inaugurou a liderança carioca da TV Globo para não mais perder: “Ela foi escalando a audiência até atingir 45, 50 pontos. Um estouro!”, disse Clark.

Adaptação

Ao escrever Eu Compro Esta Mulher, Glória Magadan disse ter se inspirado no romance “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas.

Na verdade, essa história é da mexicana Olga Ruylopez, já apresentada em uma rádio no México. Em 1990, a radionovela de Ruylopez foi adaptada pela emissora mexicana Televisa, tendo sido inclusive apresentada no Brasil, pelo SBT, em 1992.

Caso extraconjugal

Eu Compro Esta Mulher foi a primeira novela diária de Yoná Magalhães. Ainda o lançamento da carreira de Carlos Alberto e Yoná como o primeiro par romântico da TV Globo. Ao mesmo tempo, as ligações amorosas da ficção se reproduziriam na realidade, com o caso amoroso entre os atores, a princípio em segredo. O problema é que Yoná era casada, com o produtor de cinema Luís Augusto Mendes, e o caso com Carlos Alberto levou ao fim de seu casamento.

A fofoca que causou a separação não tinha sido plantada em notas de jornais ou revistas. O fofoqueiro confesso foi o então comentarista esportivo da Globo Teixeira Heizer, que tomou as dores do amigo Luís Augusto Mendes e deu uma espécie de ultimato a ele e a Yoná.

“A gente via todo dia a Yoná com o Carlos Alberto nos cantos. E era o prato do dia saber que os dois estavam namorando ali. E eu fiz um negócio que até hoje eu me envergonho. Fiquei torturado com aquela situação porque eles eram meus amigos. Então, eu fui a ela primeiro e depois a ele. E falei: ‘Ou vocês se separam ou desse jeito não vai ficar’. Eles se separaram. Foi uma coisa meio dramática.” (“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)

Elenco

Primeiro trabalho na Globo dos diretores Henrique Martins e Régis Cardoso. Henrique também participou na novela como ator.

Também a primeira novela do ator e diretor Ziembinski (aqui como ator), do ator Paulo Araújo e da atriz Leina Krespi. Primeira novela na Globo dos atores Luís Orioni e Renato Consorte.

Patrocinadores

Eu Compro Esta Mulher era uma produção da Colgate-Palmolive. Como contratado da patrocinadora, Benedito Ruy Barbosa supervisionou o texto de Glória Magadan enquanto assinava Somos Todos Irmãos, novela exibida pela TV Tupi, também produzida pela Colgate-Palmolive.

Até a década de 1960, as novelas (texto, elenco, autores e diretores) eram de responsabilidade dos patrocinadores, e não das emissoras, que apenas entravam com estúdios e parte técnica e as exibiam com exclusividade.

Navio

Um dos destaques da novela foi o cenário de um navio construído no terraço da sede da TV Globo, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Para dar veracidade às cenas de tempestade, os contrarregras sacudiam o navio e jogavam baldes de água sobre os atores.

Com o objetivo de atrair o telespectador, a TV Globo teve a ideia de criar uma promoção por meio da novela: fazer com que o navio utilizado na trama, cenograficamente transformado, passeasse pela Baía de Guanabara e fosse aberto à visitação pública. A equipe da emissora conseguiu o casco de um navio abandonado e, com a ajuda da Marinha, fez os reparos necessários, assim como toda parte de cenografia interna. Por falta de recursos, no entanto, a vela do navio não pode ser comprada e a direção suspendeu o projeto, abandonando a ideia da promoção. (Site Memória Globo)

E mais

Lamentavelmente não existem mais registros dessa novela, apagados porque as fitas foram reutilizadas (prática comum na época) ou porque perderam-se em um dos incêndios na TV Globo (1969, 1971 e 1976).

Compacto de Roberto Audi com as músicas EU COMPRO ESSA MULHER e TEUS OLHOS NEGROS, sendo a primeira tema da novela.

EU COMPRO ESSA MULHER – Roberto Audi

Eu quero você em meus braços
Eu quero você como for
Eu quero você por que tudo
É nada sem ter seu amor

Eu quero Maria Tereza
Meu ódio esquecer se puder
O preço que for quero pagar
Para comprar você mulher…