Sinopse
A trajetória do caixeiro-viajante Antônio Dias, no período que vai de 1940 a 1975, tendo como pano de fundo momentos marcantes da história do Brasil. Em 1940, Antônio deixa Minas Gerais e vai para Rio Pardo, no interior de São Paulo. Lá dedica-se a plantar algodão e conhece duas mulheres que marcam sua vida: Cândida, com quem se casa, e Marina, sua verdadeira paixão. O amor frustrado faz com que Marina se case com outro homem, Paschoal Barreto, e parta para os Estados Unidos.
Antônio entra em conflito com o rico cafeicultor Armando Magalhães, irmão de Marina, vizinho da fazenda Santa Isabel, de propriedade de Cândida. Com a crise mundial do café, Antônio decide dar um grande lance e investe tudo o que tem plantando algodão na fazenda. O fracasso é total: por inexperiência, e devido às pressões de Armando, Antônio é obrigado a vender a Santa Isabel e deixar Rio Pardo.
O protagonista muda-se para o Rio de Janeiro – então capital federal -, onde se torna um pequeno empresário. Era o ano de 1956 e o casamento com Cândida entra em crise. Quando tudo parecia ser apenas tédio e letargia, Antônio conhece Valério Facchini, industrial italiano, dono de um império econômico cuja base é uma firma de materiais de construção. Antônio lança-se com Valério na aventura da construção de Brasília, momento em que, para muitos, a nova capital não passava de um devaneio.
Paralelamente à nova perspectiva profissional de Antônio Dias, seu casamento com Cândida fracassa, assim como o casamento de Marina e Paschoal, já de volta dos Estados Unidos. Em plena derrocada de seus matrimônios, Antônio e Marina se reencontram e o amor reascende. Mais adiante, Antônio desquita-se e fica livre para amar Marina, agora sendo um homem rico e poderoso graças à construção de Brasília.
Na década de 1960, auge de sua escalada social, Antônio volta a Rio Pardo, ao lado de Marina. O objetivo não é apenas viver bucolicamente os anos de velhice. Ele quer a vitória completa e, para isso, falta apenas um detalhe: destruir o velho inimigo Armando Magalhães. A batalha é facilmente ganha, pois o cafeicultor está arruinado pelas constantes crises do café e não tem remédio senão vender suas fazendas para Antônio.
O final, na atualidade, é a demonstração definitiva dos objetivos de Antônio Dias: o auge de sua ascensão, já na velhice, o degrau mais alto de sua escalada, em que o amor dividido entre duas mulheres, no fim, nada conta.
primeira fase: 1940 – Rio Pardo (SP)
TARCÍSIO MEIRA – Antônio Dias
RENÉE DE VIELMOND – Marina
SUSANA VIEIRA – Cândida
MILTON MORAES – Armando Magalhães
OTÁVIO AUGUSTO – Horácio Bastos
NEY LATORRACA – Felipe
CECIL THIRÉ – Paschoal Barreto
ÊNIO SANTOS – Artur Freitas Ribeiro
NATHÁLIA TIMBERG – Fernanda Soares
LUTERO LUIZ – Professor Tadeu Oliveira / Miguel Pereira
OSWALDO LOUZADA – Gabino Alcântara Magalhães
GILDA SARMENTO – Leonor
MYRIAN PÉRSIA – Celina
ROBERTO PIRILO – Sérgio
NELSON DANTAS – Zé Sereno
ANDRÉ VALLI – Zoreia
ANTÔNIO VICTOR – Padre Leopoldo
LUIZ ERNESTO IMBASSAHY – Gastão
TESSY CALLADO – Marieta
APOLO CORRÊA – Alípio Camargo
JORGE COUTINHO – Delegado Bastião
SUZY ARRUDA – Querubina
ISOLDA CRESTA – Serafina
ZENI PEREIRA – Braulina
CARLOS DUVAL – Venâncio Gomes
NILSON CONDÉ
SÉRGIO DE OLIVEIRA – Dom Gaspar Vieira Sobral (bispo da diocese)
PAULO RAMOS – Dr. Mário (médico de Gabino)
FRANCISCO NAGEM – Felício
SAMIR DE MONTEMOR – Jaide
LUÍS MAGNELLI – garçon do bar
Marcelo (jornalista amigo de Horácio)
JORGE CÂNDIDO
participações no primeiro capítulo
DÉBORA DUARTE – Inês
ELZA GOMES – Dona Eulália
MÁRIO LAGO – Belmiro Silva
PATRÍCIA BUENO – Rosa (secretária na empresa de seguros Mercúrio)
ROGÉRIO FRÓES – Expedito (chefe de Antônio na empresa de seguros Mercúrio)
ROSAMARIA MURTINHO – Arlete
RUBENS DE FALCO – Estevão
THEMISTOCLES HALFELD – Ademar de Barros (governador do Estado de São Paulo)
segunda fase: 1956 e 1957 – Rio de Janeiro (RJ) / Brasília (DF)
ZANONI FERRITE – Valdir Costa
SÉRGIO BRITTO – Valério Facchini
SANDRA BRÉA – Roberta
LEONARDO VILLAR – Alberto Silveira
FRANCISCO MORENO – Chico Dias
MARIA HELENA DIAS – Odete
ROSITA TOMAZ LOPES – Noêmia
VERA GIMENEZ – Carla
MARIA ZILDA – Ester
PEPA RUIZ – Dona Juju
MARIA TERESA BARROSO – Dona Rosa
ALFREDO MURPHY – Candango
ALCIRO CUNHA – Salvatore (noivo de Roberta)
Zoraide
JÚLIO CÉSAR – Ricardo (criança)
CRISTINE BITTENCOURT – Vívian (criança)
terceira fase: 1963 a 1965 – Rio Pardo (SP)
MÁRIO CARDOSO – Ricardo
KÁTIA D’ANGELO – Vívian
TONY FERREIRA – Bruno Carlucci
RENY DE OLIVEIRA – Paula
HELOÍSA HELENA – Celeste
HENRIQUETA BRIEBA – Vó Dita
PATRICIA BUENO – Clementina
FERNANDO VILLAR – Seu Freitas
EDSON HEATCH – Guidinho
RUTH MARQUES – Orminda
ARIBERTO STHEPAN – Rodolfo
SANDRA BARRETO – Anita
ÁLVARO AGUIAR
e
ANTÔNIO CARLOS ABREU – Júlio
ELIAS SOARES – Christian
HÉLIO ARY – juiz
SELMA OHANA
SUZY KIRBY
– núcleo de ANTÔNIO DIAS (Tarcísio Meira), homem determinado, de espírito aventureiro e empreendedor. Com métodos pouco ortodoxos, é ambicioso, arrivista e capaz de quase tudo para alcançar seus objetivos. Sai de Minas Gerais e vai para Rio Pardo, no interior de São Paulo, onde começa sua escalada. De plantador de algodão, perde tudo e parte para o Rio de Janeiro, onde conhece um empresário que o levará a Brasília no momento em que a cidade começa a ser construída. Enriquece e retorna a Rio Pardo para reaver tudo o que havia perdido:
os amigos: HORÁCIO BASTOS (Otávio Augusto), jornalista em Rio Pardo que se torna prefeito e, depois, deputado,
e VALDIR COSTA (Zanoni Ferrite), que torna-se seu sócio em uma olaria na segunda fase e, depois, vai com ele para Brasília
o pai CHICO DIAS (Mário Lago), surge na segunda fase e morre em seguida. Vai dar o know-how para Antônio montar sua olaria.
– núcleo da família Alcântara Magalhães, proprietária da fazenda Ouro Verde, em Rio Pardo:
o patriarca GABINO (Oswaldo Louzada), ex-chefe político da cidade. Moribundo, morre na primeira fase
o filho do primeiro casamento de Gabino, ARMANDO (Milton Moraes), homem prepotente, dono da maior fortuna da região e manda chuva de Rio Pardo. Torna-se inimigo declarado de Antônio Dias, fazendo o possível para prejudicá-lo
a mulher de Armando, NOÊMIA (Rosita Tomaz Lopes), com quem se casa na segunda fase
a segunda mulher de Gabino, LEONOR (Gilda Sarmento), de quem separou-se. Vive em São Paulo
os filhos do segundo casamento de Gabino: FELIPE (Ney Latorraca), playboy no início, torna-se amigo e aliado de Antônio Dias,
e MARINA (Renée de Vielmond), grande amor da vida de Antônio, que só concretiza na fase final da trama
o comprador de algodão e amigo dos Magalhães PASCHOAL BARRETO (Cecil Thiré), com quem Marina acaba se casando e vai morar nos Estados Unidos na segunda fase
a filha de Marina e Paschoal, VIVIAN (Cristine Bittencourt / Kátia D´Angelo)
a sobrinha de Gabino, ODETE (Maria Helena Dias), advogada que vai cuidar do desquite de Antônio Dias na terceira fase
a empregada BRAULINA (Zeni Pereira).
– núcleo da família Freitas Ribeiro, proprietária da fazenda Santa Isabel, em Rio Pardo:
o patriarca ARTUR (Ênio Santos), viúvo que já não tem mais ânimo para cuidar da fazenda
os filhos de Artur: ARTUR FILHO (apenas citado), morto, no passado, em um acidente,
SÉRGIO (Roberto Pirilo), que estava com Artur Filho no momento do acidente,
e CÂNDIDA (Susana Vieira), que apaixona-se por Antônio Dias, com quem se casa, indo morar com ele no Rio de Janeiro, na segunda fase. Depois de anos de desgaste na relação, os dois se separam
o filho de Cândida e Antônio, RICARDO (Júlio César / Mário Cardoso)
a nora de Artur, CELINA (Myrian Pérsia), mulher de Artur Filho. Apaixona-se por Sérgio, com quem foge na primeira fase.
– núcleo de VALÉRIO FACCHINI (Sérgio Britto), poderoso empresário de origem italiana. Monta uma construtora em Brasília, no início da construção da cidade, e coloca Antônio Dias para administrá-la:
a filha ROBERTA (Sandra Bréa), jovem moderna e arrojada. Apaixona-se por Antônio Dias
o amigo ALBERTO SILVEIRA (Leonardo Villar), deputado que interessa-se por Cândida quando ela se separa de Antônio Dias
o engenheiro BRUNO CARLUCCI (Tony Ferreira), que vai para Brasília trabalhar com Antônio Dias
a secretária ESTER (Maria Zilda).
– núcleo dos moradores de Rio Pardo na primeira fase:
a professora FERNANDA SOARES (Nathalia Timberg), chega à cidade para trabalhar na nova escola. Felipe apaixona-se por ela
a filha de Fernanda, MARIETA (Tessy Callado), que tem uma relação difícil com a mãe
o PROFESSOR TADEU (Lutero Luiz), que chega à cidade para dar um golpe, fazendo-se passar pelo professor que vai administrar a nova escola. É descoberto por Antônio Dias que o reconhece como MIGUEL PEREIRA, que lhe roubara dinheiro em Minas Gerais. Antônio passa a usar a influência do professor para tirar vantagens pessoais
os cúmplices do Professor Tadeu: o telegrafista ZÉ SERENO (Nelson Dantas) e o sacristão ZOREIA (André Valli)
o PADRE LEOPOLDO (Antônio Victor)
o DELEGADO BASTIÃO (Apolo Corrêa)
o prefeito VENÂNCIO GOMES (Carlos Duval)
o gerente da agência do Banco do Brasil GASTÃO (Paulo Ramos)
as fofoqueiras QUERUBINA (Suzy Arruda) e SERAFINA (Isolda Cresta)
o médico de Gabino, DR. MÁRIO
o dono do bar GOMES
o bispo da diocese DOM GASPAR, que visita a cidade.
Inspirações
Primeira novela de Lauro César Muniz no horário nobre da Globo, considerada a sua melhor novela. “Um dos raros momentos em nossa televisão onde tudo atingiu a tônica certa”, afirmou Ismael Fernandes em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”.
Foi a segunda novela da trilogia do autor sobre a história do Estado de São Paulo, iniciada com Os Deuses Estão Mortos (Record, 1971) e finalizada com O Casarão (Globo, 1976).
Escalada foi diretamente inspirada na trajetória profissional do pai de Lauro, Renato Amaral Muniz, um imigrante português que construiu a vida no Brasil trabalhando com algodão.
Já a trama romântica central remete ao clássico romance “O Morro dos Ventos Uivantes’, de Emily Brontë, já adaptado por Lauro César Muniz para telenovela (produção da TV Excelsior de 1967). Na trama rural de ambas as obras, Marina (Renée de Vielmond) abdica de seu amor pelo pobre Antônio Dias (Tarcísio Meira) para casar-se com o rico Paschoal (Cecil Thiré), mais por imposição da família, tendo seu irmão Armando (Milton Moraes) como inimigo de Antônio – tais quais os protagonistas do livro, na mesma situação: Catherine, seu amado Heathcliff, o marido Edgard e o irmão Hindley.
Antecedentes
Lauro escrevia a novela das sete da época, Corrida do Ouro, em parceria com Gilberto Braga. Deixou-a pela metade, para que Gilberto a finalizasse, para começar a trabalhar em Escalada
Em 1975, a TV Globo completava dez anos de existência e cinco de liderança na audiência. Para comemorar a efeméride, a emissora planejava uma renovação em suas novelas – ou pelo menos uma “arejada”. O primeiro passo foi o “rebaixamento” de Janete Clair, tradicional autora do horário das oito da noite, para a faixa das 19 horas (para a qual foi escrever Bravo!). Uma das responsáveis por solidificar a dramaturgia da Globo na primeira metade da década de 1970, Janete vinha sendo duramente criticada por sua fórmula extremamente melodramática e fantasiosa.
Escalada fugia desse padrão. A novela de Lauro César Muniz tinha uma proposta realista, não era moldada em entrechos meramente folhetinescos e sua trama era considerada “masculina”, com um protagonista – Antônio Dias, vivido por Tarcísio Meira – de personalidade forte, mas com caráter dúbio e cheio de imperfeições. O autor ainda esquivou-se dos pares românticos idealizados, com mocinhas virginais, heróis valentes e vilões terríveis.
Antônio Dias era seu próprio vilão: trapaceava para se dar bem e alcançar mais facilmente o topo de sua escalada social. Era um arrivista, o que justificava o título da novela. A mocinha Marina, personagem de Renée de Vielmond, era uma mulher moderna, que inclusive se une a outro homem e não ao seu amor, enquanto Antônio se casa por interesse com Cândida – Susana Vieira.
Escalada caiu nas graças do público e da crítica especializada, que estava acostumada a privilegiar as novelas de Dias Gomes, do horário das dez, em detrimento das tramas de Janete Clair, das oito da noite. Lauro tinha muitas similaridades com Dias: trama masculina, realista (ou surrealista, no caso de Dias) e crítica social, quando a censura do Governo Federal permitia – e quase nunca permitia. Dias, aliás, foi alocado para as oito horas e trabalhava em Roque Santeiro para substituir Escalada (mas sua novela acabou censurada).
Elenco
Memorável criação de Tarcísio Meira, como o protagonista Antônio Dias. O ator passava a atuar sem a companhia de sua mulher Glória Menezes depois de seis anos e cinco novelas consecutivas interpretando com ela o casal romântico (Rosa Rebelde, Irmãos Coragem, O Homem que Deve Morrer, Cavalo de Aço e O Semideus).
A marca mais forte foi deixada por Susana Vieira, que, com sua interpretação (como Cândida, a antagonista, com quem Antônio se casa), conseguiu mudar o rumo da história. Era seu melhor desempenho depois de quinze anos de carreira. Como prêmio pelo sucesso em Escalada, a atriz protagonizou, no ano seguinte, a próxima novela das sete, Anjo Mau, que a consagrou definitivamente.
Por seus trabalhos em Escalada, a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) premiou Tarcísio Meira o melhor ator de 1975 (juntamente com Rolando Boldrin, por A Viagem) e Susana Vieira a melhor atriz (juntamente com Eva Wilma e Irene Ravache, por A Viagem).
A atriz Camila Amado foi inicialmente escolhida para viver Cândida, porém, depois de aproximadamente trinta cenas já gravadas, o diretor Régis Cardoso, insatisfeito com seu rendimento, pediu a substituição. Em seu lugar, entrou Susana Vieira, que já estava no elenco, vivendo outra personagem, Celina, de menor importância na trama. Com a troca, Myrian Pérsia entrou na novela para interpretar Celina. (“No Princípio Era o Som”, Régis Cardoso)
Primeira novela na Globo dos atores Ney Latorraca e Zanoni Ferrite e das atrizes Vera Gimenez e Reny de Oliveira.
Abordagens e censura
Para narrar a saga de Antônio Dias, a novela dividiu-se em três fases:
– a primeira, em 1940, em Rio Pardo, fictícia cidadezinha do interior de São Paulo;
– a segunda (a partir do capítulo 89), entre 1956 e 1957, no Rio de Janeiro e em Brasília;
– e a terceira fase (iniciada no capítulo 184), entre 1963 e 1965, de volta a Rio Pardo, onde tudo começou.
No último capítulo, já com uma passagem de tempo, os protagonistas foram mostrados na atualidade (1975), já idosos.
Sequências antológicas: o encontro entre Antônio Dias (Tarcísio Meira) e o governador do Estado de São Paulo Ademar de Barros (Themistocles Halfeld); a chegada de Antônio para trabalhar na construção de Brasília; e o acerto de contas final (com direito a luta física) entre os antagonistas Antônio e Armando (Milton Moraes), já velhos.
A questão do divórcio, levantada por meio da crise conjugal entre Antônio e Cândida, foi de tal forma aprofundada na novela que passou a haver um debate amplo a respeito da ausência de leis que regulamentassem de maneira sistemática a separação de casais. A Lei do Divórcio acabou aprovada no Brasil dois anos depois: em 28/06/1977, o Congresso Nacional sancionou a emenda do senador Nelson Carneiro que permitia extinguir os vínculos de um casal e autorizava que as pessoas casassem novamente.
Por a trama abranger também o período da instauração do Regime Militar (a partir de 1964), o autor foi extremamente podado por Brasília, já que o país ainda vivia sob o jugo da Ditadura. Diversas cenas da novela foram cortadas pela Censura Federal. Apesar da referência à construção de Brasília, por exemplo, o nome do presidente Juscelino Kubitschek não era mencionado por imposição dos censores. JK era persona non grata do Regime.
Lauro César Muniz narrou ao jornal O Globo, em 2014:
“Tentei usar [a sigla] JK. Fui impedido. Tentei Nonô, apelido de juventude. Nada! (…) O que fiz? Coloquei o personagem de um deputado assobiando ‘Peixe Vivo’, a música-símbolo do JK, da juventude do presidente em Diamantina, quando fazia serenatas.”
Na época da novela, Lauro César Muniz foi convidado a jantar no apartamento de Juscelino Kubitschek, no Rio de Janeiro, e assistiram juntos a um capítulo de Escalada. O autor relembrou essa passagem a André Bernardo e Cíntia Lopes, para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“O Juscelino ficou muito sensibilizado com tudo isso que estava acontecendo e me convidou (…) Um papo maravilhoso. Ele era um homem fantástico, um carisma contagiante. Para meu azar, nesse dia, o personagem Armando, interpretado pelo Milton Moraes, criticava o governo do Juscelino por causa do confisco cambial do café. O assunto foi uma grande pedra no sapato do presidente e eu sabia disso. (…) Na mesma hora, ele olhou para mim e disse: ‘Eu sofri muito naquela época, os cafeicultores, os fazendeiros estavam contra mim, mas eu não tinha alternativa, tive de fazer aquele confisco cambial’. A novela acabou e ficamos conversando sobre a situação do país até as duas da madrugada. O papo foi lindo.”
Juscelino Kubitschek faleceu pouco mais de um ano depois desse jantar, em 22/08/1976, vítima de um acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra.
Fabio Sabag, que também dirigiu a novela, lembra que a Censura Federal chegou a vetar uma cena em que o personagem Horácio, interpretado por Otávio Augusto, lia a carta-testamento de Getúlio Vargas – a passagem era fundamental para a trama. O diretor Daniel Filho, no entanto, ignorou o veto e a cena foi para o ar. Ninguém reclamou. (*)
Cenografia, locações e caracterizações
Cada nova fase do enredo praticamente correspondia à produção de uma outra novela. Os cenários mudavam e os personagens também, exigindo a participação de diferentes atores. Os que permaneciam ao longo de toda a trama passaram por um processo de envelhecimento marcado pela maquiagem e figurino.
Filmes como Lua de Papel (1973), de Peter Bogdanovich, O Grande Gatsby (1974), de Jack Clayton, e Golpe de Mestre (1973), de George Roy Hill, serviram como inspiração.
Para o epílogo de Escalada, ambientado em 1975, foi contratado o norte-americano Victor Merinow, para fazer a maquiagem dos personagens. Foram usadas fôrmas de gesso preparadas por Flori Gama, o mesmo que fez a máscara mortuária do presidente Getúlio Vargas. (*)
O produtor Mariano Gatti utilizou um expediente curioso para simular plantações de algodão: colou centenas de pedaços de algodão em outras espécies de arbusto. (*)
Mariano Gatti falou das dificuldades das gravações de externas da novela:
“Ninguém pode imaginar a dificuldade que tivemos para arranjar aqui no Rio uma ‘cidade do interior de São Paulo’ no tempo em que não havia antena de TV em cima das casas. A princípio pensei em Itacuruçá, mas lá já estava sendo gravada Fogo Sobre Terra [a novela anterior no horário]. Até que decidimos gravar em Cruzeiro, no Vale do Paraíba, onde ainda eram usadas as antigas locomotivas maria-fumaça.”
Uma área do bairro de Sepetiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que já apresentava os primeiros sinais de favelização, foi usada na composição dos cenários da novela. (*)
Trilha sonora e abertura
O LP “Escalada Nacional” foi a primeira trilha sonora nacional lançada pela Som Livre sem a obrigatoriedade de composições feitas especialmente para uma novela. Os produtores Guto Graça Mello e João Mello procuraram músicas (a maioria) das décadas de 1940 e 1950 para rechear o disco.
Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Escalada, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).
A abertura – embalada por uma música instrumental composta especialmente por Guto Graça Mello – exibia ilustrações do artista gráfico e cenógrafo Cyro Del Nero, então responsável pelas aberturas dos programas da TV Globo (fase pré-Hans Donner).
Repetecos
Escalada foi lançada posteriormente em versões romanceadas, em duas ocasiões. Em 1985, pela Rio Gráfica Editora, na coleção “As Grandes Telenovelas”, 12 livretos adaptados de novelas de sucesso, distribuídos nos supermercados com o sabão-em-pó Omo. Em 1987, a Editora Globo lançou a série de livros “Campeões de Audiência”, também 12 adaptações de novelas, à venda nas bancas.
A TV Globo editou Escalada para uma exibição única, de uma hora e meia de duração, na noite do dia 22/02/1980, como parte do Festival 15 Anos da emissora (apresentação de Ney Latorraca – algumas fontes trazem Cecil Thiré).
Em 2006, fora da Globo, Lauro César Muniz reeditou Escalada para Record TV. A novela Cidadão Brasileiro era uma espécie de “remake disfarçado”. Gabriel Braga Nunes viveu o protagonista Antônio Maciel, personagem equivalente ao Antônio Dias de Tarcísio Meira em Escalada.
E mais
Texto narrado na apresentação das cenas do próximo capítulo da novela (prática comum na época):
“Abrindo caminhos. Subindo, caindo, brigando, deixando ficar. A luta é agora. É tudo ou nada. Escalada.”
(*) Site Memória Globo.
Trilha sonora nacional
01. LOURA OU MORENA – Trama
02. PROCISSÃO DE SAUDADE – Sílvio Caldas
03. VELHO REALEJO – As Três Meninas
04. MARINA – Dick Farney
05. PEDREIRA – Coral Som Livre
06. ADEUS BATUCADA – Carmen Miranda
07. ESCALADA – Orquestra Som Livre (tema de abertura)
08. BEATRICE – Walker
09. RENÚNCIA – Nelson Gonçalves
10. AOS PÉS DA CRUZ – Orlando Silva
11. A VOZ DO VIOLÃO – Francisco Alves
12. LÁBIOS QUE BEIJEI – Orlando Silva
13. DOBRADO 27 DE JANEIRO – A Bandinha
14. FESTA DE ALGODÃO – Ruy Maurity (tema de Antônio)
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: Guto Graça Mello e João Mello
Trilha sonora internacional
01. BLUE SUEDE SHOES – Elvis Presley
02. BESAME MUCHO – Ray Conniff and Orchestra
03. STUPID CUPID – Neil Sedaka
04. BLUE GARDENIA – Nat King Cole
05. DAY-O (THE BANANA BOAT SONG) – Harry Belafonte
06. DIANA – Paul Anka
07. ONLY YOU – The Platters
08. ROCK AROUND THE CLOCK – Bill Haley & His Comets
09. MATILDA – Harry Belafonte
10. KISS ME QUICK – Elvis Presley
11. MOONLIGHT SERENADE – The Glenn Miller Orchestra (tema de Antônio e Marina)
12. OH! CAROL – Neil Sedaka
13. TENDERLY – Nat King Cole
14. PUT YOUR HEAD ON MY SHOULDER – Paul Anka
Ainda
NADIA´S THEME – Barry De Vorzon e Perry Botkin Jr.
Trilha sonora complementar: compacto com duas músicas, versões de Lauro César Muniz, interpretadas por Tarcísio Meira
O REENCONTRO (MOONLIGHT SERENADE)
O ROMPIMENTO (BLESS THE BEASTS AND CHILDREN)
A abertura de Escalada foi a melhor de todas, mesmo em preto e branco.
Se essa novela existir ainda nos arquivos da Globo, por favor, que seja lançada no Globoplay!!! Sinopse impecável!!! E as trilhas sonoras são espetaculares!!!
Lembro que cresci odiando o Milton Moraes (grande ator com personagens dúbios) por causa dessa novela. Como eram chatos os personagens de Sérgio Brito e Cecil Thiré (pareciam robôs, principalmente o primeiro) e Sandra Brea (o cabelo caía no rosto e ela se fotografava torta). Susana Vieira “roubando” a novela e o protagonismo de Renée. A Gilda Sarmento, personagem madura e corajosa (cenas adultas), ficava entre o marido horroroso Gabino (machista ao extremo) e seu enteado Armando (Milton Moraes). E a discussão sem fim do tal desquite…. Precisava ser apresentada ao público do séc. XXI
Interessante a sinopse. Fica uma vontade de ver…
Não tive oportunidade de ver, mas sei do grande sucesso e repercussão que teve, em 1975.
Nilson , a sinopse é instigante. Eu gosto de novelas com ascensão social de personagens de forma realista sem muita aceleração do tempo, dá torcida, como esta me parece e Vale Tudo. Poderiam reprisar A Escalada. Para mim seria estreia. O Lauro faz o roteiro das novelas dele com muito carinho e cuidado é a impressão que me passa . Uma intenção na narrativa.
Lauro é um autor refinado, sensível, talvez por isso suas novelas sempre davam um ibope mais baixo do que os folhetins de Janete. Era um revezamento sobe-e-desce…..e suas novelas eram pouco entendidas pelo público. As duas últimas novelas deste autor da década de 70 foram polemicas e encurtadas,(espelho Mágico e Os Gigantes) o viés de baixa do ibope…depois vinha Janete e estourava…..
Escalada foi, junto como O Casarão, as duas melhores novelas de Lauro César Muniz. Lançou definitivamente Susana Vieira para o primeiro time da Globo. Um primor de novela. Anos setenta, década das melhores novelas.