Sinopse
O amor de Ciro e Rosana é ameaçado pela presença da bela Débora, que retorna da Europa no dia em que o casal celebrava seu décimo aniversário de casamento. Para fazer ciúmes a Ciro, Rosana se aproxima do tenista Roberto, causando a ira de seu marido. Porém, Roberto estava mais interessado em Camila, sua ciumenta noiva.
Débora é filha do italiano Benito, radicado no Brasil, braço-direito de Ciro em suas empresas. A jovem cobra de Ciro e do pai a identidade de sua mãe. Débora mal sabe que ela está bem próxima: é Assunta, governanta na mansão de Ciro, figura arredia e soturna.
Rico e excêntrico, Ciro arquiteta um plano misterioso que envolve Rosana. Em uma viagem, seu iate, sabotado, explode em alto-mar, mas antes do planejado previamente. Dado como morto, ele sobreviveu: foi parar em uma praia deserta, salvo por uma família de pescadores.
Os comparsas de Ciro são Benito, Assunta, a cunhada Paula, irmã de Rosana, e Eduardo, namorado de Paula. Mesmo acreditando que Ciro morreu, eles dão prosseguimento ao planejado, inserindo na família do milionário o ambicioso jovem Cristiano, contratado para ser o testa-de-ferro dele.
Porém, Ciro entra em contato com Benito para saber quem o traiu. Enquanto isso, Cristiano se envolve com Rosana.
DIOGO MAIA (TARCÍSIO MEIRA) – Ciro
LEILA LOMBARDI (GLÓRIA MENEZES) – Rosana
PAULO MOREL (TONY RAMOS) – Cristiano
DIANA QUEIRÓZ (VERA FISCHER) – Débora
GASTÃO CORTEZ (SÉRGIO BRITTO) – Benito
NORA PELEGRINI (YONÁ MAGALHÃES) – Assunta
NELSON CARUSO – Roberto
CYNTHIA LEVY (SÔNIA BRAGA) – Camila
BRUNA MARIA (PEPITA RODRIGUES) – Kátia
MARIA LÚCIA DAHL – Paula
JORGE BOTELHO – Eduardo
HELENA ÉSPER (DJENANE MACHADO) – Neide
NESTOR REY (KITO JUNQUEIRA) – Romão
Rosa
Aparecida
Batista
– núcleo de CIRO (Diogo Maia/Tarcísio Meira), poderoso industrial conhecido pelo seu humor e pela forma extravagante de receber amigos. Veste-se com espalhafato e tem ideias excêntricas. No início da trama, está comemorando dez anos de casamento:
a mulher ROSANA (Leila Lombardi/Glória Menezes), fascinante sob todos os pontos de vista, distribui sorrisos nas costumeiras festas de fim de semana. Sabe desfrutar a vida com descontração, dispondo de tudo o que o poder do marido lhe permite comprar. Apesar das aparências, percebe-se problemas ameaçando a estabilidade do casal
a cunhada PAULA (Maria Lúcia Dahl), irmã de Rosana, mora com o casal. Está entusiasmada com seu romance mais recente, um jovem playboy. Apresenta-o na festa de dez anos de casamento da irmã e do cunhado
a governanta ASSUNTA (Nora Pelegrini/Yoná Magalhães), mulher misteriosa, arredia, sempre vestida de preto e branco.
– núcleo de EDUARDO (Jorge Botelho), um bon vivant, motoqueiro, namorado de Paula:
o amigo ROBERTO (Nelson Caruso), exímio tenista, usado por Rosana para fazer ciúmes ao marido
a namorada de Roberto, CAMILA (Cynthia Levy/Sônia Braga), apaixonada por ele. Ciumenta, sente a aproximação de Roberto e Rosana.
– núcleo de BENITO (Gastão Cortez/Sérgio Britto), braço-direito de Ciro nas empresas. Italiano radicado no Brasil desde o final da Segunda Guerra. Cria sua única filha no melhor colégio da Europa. Tem uma estranha ligação com Assunta:
a filha DÉBORA (Diana Queiroz/Vera Fischer), jovem bela e decidida. Depois de vários anos na Europa, decide voltar definitivamente para o Brasil. Cobra do pai a identidade de sua mãe, que nunca conheceu. Sua beleza estonteante atrai Ciro, o que provoca conflitos entre ele e Rosana.
– núcleo de CRISTIANO (Paulo Morel/Tony Ramos), rapaz de origem humilde, sem cultura, mas bastante ambicioso. Está disposto a ascender socialmente. Vai interessar-se por Rosana:
a noiva NEIDE (Helena Ésper/Djenane Machado), moça simples do subúrbio, não entende a ambição de Cristiano.
Metalinguagem
A fim de interromper o processo de que os artistas são mitos inalcançáveis, o autor Lauro César Muniz lançou a novela Espelho Mágico, que tinha como proposta mostrar o outro lado de cada astro ou estrela – ou seja, que eles são pessoas comuns no dia a dia. Ainda: a interdependência entre o artista e a arte e o universo dos espetáculos, que esses artistas levam ao público.
Como parte de metalinguagem, o autor criou o personagem Jordão Amaral, vivido por Juca de Oliveira, um escritor de novelas. De acordo com sua descrição, Jordão era o alter ego de Lauro, pelo menos no âmbito profissional: na trama de Espelho Mágico, o personagem havia escrito dez anos antes uma novela que foi um grande fracasso. Lauro se autorreferenciou. A novela em questão era Estrelas no Chão (TV Tupi, 1967), que não fez sucesso, escrita por Lauro sob o pseudônimo Jordão Amaral.
A novela dentro da novela
Para expor a ideia, a história de Espelho Mágico foi dividida em dois níveis distintos: a realidade cotidiana e a arte e os espetáculos. A peça “Cyrano de Bergerac”, de Edmond Rostand, tendo Diogo Maia (Tarcísio Meira) no papel-título; o teatro de revista, representado pelo palhaço Carijó (Lima Duarte) e sua filha Lenita (Djenane Machado); e a grande magia, a novela dentro da novela: a curiosa Coquetel de Amor, produzida, encenada e levada ao ar pelos personagens de Espelho Mágico, escrita por Jordão Amaral (Juca de Oliveira) e dirigida por João Gabriel (Daniel Filho).
Para satisfazer as exigências naturais da produção, a história de Coquetel de Amor foi moldada para ser uma trama leve, de comédia romântica, muito próxima das novelas das sete da Globo na época.
A produção demandou todos os preparativos que envolvem a produção de uma novela de verdade, com cenários, figurinos, locações externas e escalação de elenco. Todo o processo foi mostrado ao público dentro de Espelho Mágico.
Enquanto na trama de Espelho Mágico os personagens montavam a peça “Cyrano de Bergerac”, o autor Jordão Amaral (Juca de Oliveira) escrevia a novela Coquetal de Amor levemente inspirada na peça de Edmond Rostand. Assim, na novela dentro da novela, o ator Diogo Maia (Tarcísio Meira) vivia Ciro, o equivalente a Cyrano; enquanto Leila Lombardi (Glória Menezes) interpretava Rosana, a Roxana do teatro; e Paulo Morel (Tony Ramos) era Cristiano, o personagem homônimo da peça, formando um triângulo amoroso tal qual em “Cyrano de Bergerac”.
O ápice da metalinguagem: a partir do capítulo 36 de Espelho Mágico (no ar em 25/07/1977), com a estreia de Coquetel de Amor, a exibição das duas novelas passou a ser alternada. Espelho Mágico era interrompida para mostrar o capítulo da noite de Coquetel de Amor, inclusive com abertura própria. A história corria em uma proporção média de dois capítulos de Espelho Mágico para um de Coquetel de Amor. (O Globo, 25/07/1977)
Lauro César Muniz declarou ao jornal O Globo, publicado em 25/07/1977:
“Coquetel é uma obra construída fora do meu estilo. A base dela é bastante folhetinesca. Os diálogos são redundantes, subliterários, cheios de chavões. É uma diálogo fechado em si, não deixando margem a qualquer interpretação nas entrelinhas. É uma novela cheia de lugares-comuns, com muito suspense, expectativa, ganchos. Mas não é uma crítica à novela. Ao mesmo tempo em que ela está no ar, é criticada, discutida dentro de Espelho Mágico.”
Incompreendida
Infelizmente, apesar dos esforços e da tentativa artística inovadora, o grande público não assimilou a metalinguagem proposta por Lauro César Muniz e o baque na audiência foi grande. O telespectador preferiu a fantasia à realidade: a trama folhetinesca de Coquetel de Amor interessou mais do que a vida dos artistas abordada em Espelho Mágico.
Sobre isso, declarou o diretor Daniel Filho em seu livro “O Circo Eletrônico”:
“Hoje, para mim, é claro que, para fazer uma paródia revelando os truques a que recorríamos para fazer as novelas, devíamos utilizar outros gêneros que não a própria novela. Foi uma queda de quase 20 pontos na audiência, numa época em que a TV Globo era a dona absoluta no horário. (…) Possivelmente, se tivéssemos feito uma novela sobre os heróis da televisão sem expor os seus defeitos, o resultado não tivesse sido tão repudiado. (…) Às vezes a novela não tem solução, fica se arrastando até o final. Espelho Mágico não tinha solução, a não ser terminar o mais breve possível.”
Ao fazer um balanço de Espelho Mágico, Daniel Filho externou que sua crítica maior era em relação a Coquetel de Amor, à forma como que outros profissionais foram atingidos, criticados:
“Se a gente tivesse feito, ao invés de Coquetel de Amor – uma coisa que ficou uma coisa tão distante, tão velha, tão ridícula – se tivéssemos feito uma bela comédia de uma antiga novela (…) que pudesse mostrar não um paralelo, mas levar a dizer ‘Veja como a execução dessa novela é boa, veja o que se passava na vida desses atores enquanto faziam a novela’.”
“A intenção nossa não era dividir águas de ‘eu faço novela bem, você faz mal’. Houve uma reação muito grande em relação a que nós estaríamos criticando, ferindo óticas ou machucando. (…) O Coquetel de Amor se tornou para mim, para o Lauro e para o Gonzaga [Blota, também diretor] como se tivéssemos entrado numa espiral sem conseguir sair. Não dava pra recuar.” (jornal O Globo, 06/12/1977, pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)
Questionado até que ponto João Gabriel, o diretor de Coquetel de Amor, era Daniel Filho o diretor respondeu:
“Era totalmente Daniel. A única diferença é que Daniel Filho não dirigiria Coquetel de Amor. Em hipótese alguma eu colocaria aquele trabalho no ar.” (jornal O Globo, 06/12/1977, pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)
Plágio
Em Espelho Mágico, Lauro César Muniz exibiu um protesto em relação aos problemas enfrentados pelos autores de novela, retratando os que tivera ao escrever Carinhoso (1973-1974). Por outro lado, houve quem enxergasse plágio na trama de Coquetel de Amor, principalmente em seu entrecho central, que lembrava nitidamente outra novela, O Semideus (1973-1974), de Janete Clair. O acidente de iate forjado para eliminar o protagonista de O Semideus foi recriado em Coquetel de Amor, inclusive com o mesmo ator, Tarcísio Meira.
Com sua trama metalinguística, Lauro quis fazer referências a cenas marcantes de tramas de seus colegas. Sua intenção era fazer um “coquetel” de histórias e clichês do dramalhão, “uma homenagem aos pioneiros do rádio, às estruturas dos criadores da telenovela, como a Janete Clair e Ivani Ribeiro”.
O problema é que Janete não entendeu como homenagem, mas como uma gozação com ela. (“Gilberto Braga, o Balzac da Globo”, Artur Xexéo e Maurício Stycer)
Entretanto, não foi intenção criticar a obra de Janete. A ideia do autor era brincar com as repetitivas tramas de novelas. “É um coquetel carinhoso de todas as novelas”, explicou Lauro César Muniz, referenciando sua obra Carinhoso. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)
Elenco
Enquanto dirigia a “novela real” Espelho Mágico, Daniel Filho também atuava, como o diretor de novelas João Gabriel, que dirigia a “novela fictícia” Coquetel de Amor. O nome João Gabriel é próximo de João Daniel – nome do filho de Daniel Filho (com a atriz Betty Faria).
No elenco, atores-personagens de Espelho Mágico, como o casal Diogo Maia e Leila Lombardi (Tarcísio Meira e Glória Menezes), misturavam-se a atores reais vivendo eles mesmos, como Nelson Caruso, Jorge Botelho e Maria Lúcia Dahl, escalados para Coquetel de Amor.
Trilha sonora e abertura
Coquetel de Amor teve uma trilha nacional própria, lançada comercialmente em um compacto com quatro músicas.
Já a trilha internacional estava no LP que reunia também os temas internacionais de Espelho Mágico – o lado A do disco com os temas de Coquetel de Amor, e o lado B com os temas de Espelho Mágico.
A abertura de Coquetel de Amor, com seu tema musical (“Bandido Corazón”, gravado por Ney Matogrosso), era um reaproveitamento da abertura originalmente produzida para a novela Despedida de Casado, vetada pela Censura Federal no ano anterior (1976).
Trilha sonora nacional
01. BAILE DE MÁSCARAS – Guilherme Arantes
02. UNO MUNDO – Chico Batera
03. RENASCENDO EM MIM – Don Beto
04. BANDIDO CORAZÓN – Ney Matogrosso (tema de abertura)
Direção de produção: Guto Graça Mello
Trilha sonora internacional (de Espelho Mágico e Coquetel de Amor)
Lado A: músicas de Coquetel de Amor
01. LOVE’S MELODY THEME – Larry & Jannie (tema de Rosana e Ciro)
02. I REMEMBER YESTERDAY – Donna Summer
03. SO MANY TEARS – Dave Ellis (tema de Camila)
04. YES SIR, I CAN BOOGIE – Baccara
05. DAYBREAK – Randy Bishop (tema de Débora)
06. TROUBLE-MAKER – Roberta Kelly
07. J’AIME – Jean-Pierre Posit (tema de Ciro)
Lado B: músicas de Espelho Mágico
01. C’EST LA VIE – Emerson, Lake & Palmer (tema de Diogo e Leila)
02. MA BAKER – Boney M.
03. LOVE SO RIGHT – Bee Gees (tema de Beatriz)
04. FLYING HIGH – Tony Stevens (tema de Paulo)
05. NEVER GET YOUR LOVE BEHIND ME – The Faragher Brothers (tema de Bruna)
06. LET’S GET IT ON – East Harlem Bus Stop
07. HOW WONDERFUL TO KNOW – B & C Limited (tema de Cynthia e Diogo)
Tema de abertura: BANDIDO CORAZÓN – Ney Matogrosso
Bandido, bandido, bandido corazón
No deja de te amar
Bandido, bandido, bandido corazón
No puedo controlar
Quero te pedir minhas desculpas
Isso sempre acontece
Tenho um coração que é desvairado
E nunca me obedece
Eu já sou um cara meio estranho
Alguém me disse isso uma vez
Meu coração é de cigano
Mas o que salva é minha insensatez
Bandido, bandido, bandido corazón
No deja de te amar
Bandido, bandido, bandido corazón
No puedo controlar
Eu que sempre fui chegado
Ao romance e aventura
Eu talvez seja condenado
A viver perto da loucura
Por isso quero te pedir minhas desculpas
Eu canto mais uma vez
Meu coração é desvairado, eu sei
Mas o que estraga é a sua timidez
Ai, ai, ai, ai, ai, ai…
Bandido, bandido, bandido corazón
No deja de te amar
Bandido, bandido, bandido…
Queria tanto ter visto essa novela! Tenho a maior curiosidade
Seria interessante se o Viva reprisasse ESPELHO MAGICO.
EU ACHEI MEIO COMPLICADO…….MAS VALE A PENA PARA REVER GRANDES ARTISTAS JÁ FALECIDOS.
Sinopse ótima! Parabéns Nilson, o site é maravilhoso. Adoro.
Porém Franklin, na novela Espelho Mágico, a novela Coquetel de Amor tinha até mesmo abertura independente e muitas vezes ia ao ar sem passar 1 capítulo sequer de Espelho Mágico. Como se fosse duas novelas ao mesmo tempo.
A novela, dentro da novela. Algo bastante inovador para o longínquo ano de 1977. E Vera Fischer, lindíssima, com apenas 25 aninhos de idade.
Gostei da sinopse, mas funcionaria melhor como uma série hoje em dia.
Recentemente, tivemos uma situação parecida. Na novela “Espelho da Vida”, tinha uma equipe de filmagem, rodando um filme, na cidade fictícia da trama.