
Sinopse
Rodrigo volta ao município de Vila da Prata, interior do Paraná, depois de muitos anos para vingar o extermínio da família ocorrido em sua infância. O responsável pelo massacre é o arrogante latifundiário Max. Para realizar seus intentos, Rodrigo torna-se líder de uma revolta social contra o velho fazendeiro, que domina a venda de madeira dos pinheirais e de todo o mercado de trabalho da região.
Do lado de Rodrigo estão seus amigos Santo, Brucutu, Sabá e o Professor, que o apoiam em sua luta. Em meio à disputa, o rapaz se vê dividido entre o amor de Miranda, uma fazendeira rude de temperamento forte, e a jovem Joana, a filha mimada e irresponsável de Max.
Entretanto, a história do meio para o fim tem outro entrecho: Max é misteriosamente assassinado. Entre os vários suspeitos, Rodrigo é o mais óbvio. Ao final, após muitas pistas falsas, o assassino é descoberto: Lenita, falsa sobrinha do velho, na verdade uma filha que ele desconhecia, interessada em sua fortuna.
TARCÍSIO MEIRA – Rodrigo Soares
GLÓRIA MENEZES – Miranda
ZIEMBINSKI – Max
BETTY FARIA – Joana
ARLETE SALLES – Lenita
EDSON FRANÇA – Lucas
JOSÉ WILKER – Atílio
CARLOS VEREZA – Santo
RENATA SORRAH – Camila
STÊNIO GARCIA – Brucutu
JOSÉ LEWGOY – Professor
DARY REIS – Sabá
MÁRIO LAGO – Inácio
CLÁUDIO CAVALCANTI – Aurélio
SÔNIA OITICICA – Catarina
MILTON MORAES – Carlão
MARIA LUIZA CASTELLI – Marta
ELIZÂNGELA – Teresinha
SUZANA GONÇALVES – Bisteca
PAULO GONÇALVES – Tobias
MIRIAN PIRES – Benvinda
MILTON VILLAR – Jorge
PAULO PADILHA – Almeida
TONY FERREIRA – Dr. Castro
GERMANO FILHO – Antônio
FRANCISCO MILANI – Moraes
WÁLTER MATTESCO – Dr. Renato
TALITA MIRANDA – Maria Amélia
MARILENE SILVA – Alzira
LUIZA DO CARMO – Maria
MARIO PETRAGLIA – Guigui
SÉRGIO MANSUR – Ciro
REYNALDO GONZAGA – Felipe
URBANO LÓES – Campelo
NAIR PRESTES – Juventina
DARCY DE SOUZA – Socorro
SYLVIA GUIMARÃES – Jucléia
as crianças
ROSANA GARCIA – Ninita
RICARDO GARCIA – Zezinho
JÚLIO CÉSAR
e
AUGUSTA MOREIRA – mulher da rua
CASTRO GONZAGA – tabelião Cecil
FÁBIO SABAG – Patrocínio Cardoso
FRANCISCO SILVA – Tonho (capanga de Max)
FÚLVIO STEFANINI – agente federal
MOACYR DERIQUÉM – médico
Convocação
Única novela de Walther Negrão no horário mais nobre da Globo. O autor era levado à faixa das oito da noite depois do sucesso de O Primeiro Amor, às 19 horas.
Negrão foi pego de surpresa ao ser convocado para a próxima novela das oito, já que, ao concluir O Primeiro Amor, deu início à roteirização do seriado infantojuvenil Shazan, Xerife e Companhia. Na verdade, o autor foi chamado para cobrir as “férias” de Janete Clair.
No início da década de 1970, Janete Clair emendava uma novela na outra, sem direito a férias ou descanso, e não havia outro autor com quem ela pudesse revezar na faixa das 20 horas. Prestes a finalizar Selva de Pedra, a autora vinha de uma longa série de novelas consecutivas.
Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então diretor artístico e de programação) comunicou Negrão que ele escreveria a próxima novela das oito, a fim de dar férias a Janete. Para dar continuidade ao seriado, Negrão indicou Lauro César Muniz, que, então, estreou na Globo.
Novela problemática
Cavalo de Aço foi uma novela problemática e de muitas fases. Começou discutindo reforma agrária no seu subtexto. A Censura Federal proibiu o assunto. Depois foi transformada simplesmente em uma história de amor. Isso até o texto começar a desenvolver uma campanha antitóxico com o aval do Governo, que por fim achou melhor proibir a veiculação do assunto – mesmo que ele enviasse a mensagem positiva de combate às drogas. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)
Os censores não esperavam que fosse aparecer um papelote de cocaína em cena – o que imediatamente suspendeu a campanha na novela. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)
O autor só achou uma saída: matar o vilão principal e criar um entrecho policial que acabou dominando a novela e segurando a audiência: “Quem matou o Velho Max?”, personagem de Ziembinski.
Walther Negrão ainda queixou-se que o diretor da novela fazia outra coisa diferente do que ele escrevia:
“Eu escrevia uma história, o diretor mostrava outra. Como ele tinha mais acesso aos atores, o elenco ia pela cabeça dele, ficando contra mim. Virou uma guerra. Isso me deixava desencantado. Muitas vezes, não era a história que eu havia escrito.” (livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, volume 2, página 444)
Cavalo de Aço foi dirigida por Walter Avancini e David Grimberg, com supervisão de Daniel Filho.
Lamentavelmente não existem mais imagens dessa novela (a não ser chamadas de estreia).
Desafio ao autor
Daniel Filho afirmou em sua biografia “Antes que me Esqueçam” que desafiou Negrão a aumentar a audiência da novela, caso contrário ela seria encurtada:
“Cavalo de Aço foi outra novela que criou muitos problemas. (…) A novela ia tão mal que, quando estava no capítulo 90, cheguei para o Negrão e disse que a novela ia acabar no capítulo 100. Então o que ele fez foi liquidar todas as histórias paralelas até chegar à história central. No dia em que ele matou o Sr. Max, chamei-o e disse que a novela ia ter mais 50 capítulos. No fim Cavalo de Aço teve 170 capítulos, ficando 8 meses no ar. Mas Negrão teve que continuar a novela com o ‘quem matou quem’. Isso fez com que a novela emplacasse a partir do capítulo 100.”
Walther Negrão afirmou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo) que Ziembinski não gostou de saber que seu personagem iria morrer na história:
“Ele ficou bravo porque estava fazendo um sucesso danado, meio Dom Corleone, no estilo Marlon Brando em O Poderoso Chefão [filme de 1972]. Pedimos desculpas a ele e matamos o Velho Max. E a novela explodiu.”
Na verdade, Cavalo de Aço foi espichada porque a Globo não estava conseguindo junto à Cesura Federal a aprovação da novela substituta, de Janete Clair. Impossibilitada pelas exigências da censura de programar o lançamento da próxima atração, a direção da Globo solicitou a Walter Negrão que esticasse sua história por mais doze capítulos, até que O Semideus pudesse finalmente estrear, em 20/08/1973. (revista Veja, 18/07/1973)
Criação da novela
Na época da estreia, Walther Negrão explicou como criou a trama de Cavalo de Aço:
“A novela surgiu de um papo descontraído com Gilberto Martinho, que é de Santa Catarina, região madeireira. Como minha mulher é do Paraná e tem muitos madeireiros na família, resolvi explorar o problema, com o qual tive muito contato pessoal. Depois de desenvolvida a ideia básica, voltei ao Paraná para fazer uma pesquisa e verifiquei que, ainda hoje, há muitos problemas de luta de terra na região. A história pode ser resumida em duas linhas e, se não fosse assim, não acreditaria nela. É a história de Rodrigo (Tarcísio Meira), um maquinista de trem que volta à sua terra para descobrir os verdadeiros assassinos de seu pai. A partir daí, mil tramas e transas se desenrolam. Como eu ainda continuo muito influenciado pelas histórias em quadrinhos, terei três anti-heróis, personagens que serão minha curtição: o Professor (José Lewgoy), Brucutu (Stênio Garcia) e Sabá (Dary Reis). Mal comecei a escrever a novela e lá estou apaixonado por eles.”
O título da novela é uma alusão ao veículo do protagonista Rodrigo (Tarcísio Meira), uma motocicleta, que representava um contraponto ao povo atrasado da fictícia cidadezinha da trama, que só andava a cavalo. A moto de Rodrigo era o seu cavalo de aço. O autor comentou:
“O objetivo é meramente simbólico, como elemento de composição do personagem. Em O Primeiro Amor usei uma bicicleta. Em Shazan, Xerife e Companhia, uma camicleta. No Cavalo de Aço será a vez da motocicleta. Na próxima, talvez um veículo chamado pé-de-atleta!”
Walther Negrão baseou-se na ideia central de Cavalo de Aço para escrever um sucesso das 18 horas quinze anos depois: Fera Radical (1988). A trama se inicia da mesma forma: forasteira – uma mulher, a personagem de Malu Mader – chega de moto a uma cidadezinha a fim de se vingar das pessoas que mataram seus familiares no passado.
Elenco
Primeira novela inteira do ator José Lewgoy (anteriormente, ele havia feito uma pequena participação em O Bofe).
Também a primeira novela na Globo de Stênio Garcia, Sônia Oiticica e Fúlvio Stefanini (este, uma participação).
Preso político
Carlos Vereza, que em Cavalo de Aço interpretava o personagem Santo, foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em agosto de 1973, o ator almoçava em um restaurante no Leblon quando foi arrancado da mesa e empurrado para dentro de um carro com um capuz na cabeça e preso pela polícia política da Ditadura Militar. Vereza ficou detido por oito dias, sendo interrogado várias vezes sobre Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto, um conhecido que era militante do grupo guerrilheiro Aliança Libertadora Nacional (ALN) e que, mais tarde, seria preso para em seguida fazer parte da lista de desaparecidos políticos do Brasil.
Vereza narrou que, a partir de sua prisão, os diretores da Globo Walter Clark, Boni e Renato Pacote, e seus colegas de novela, os atores Tarcísio Meira, Glória Menezes e Renata Sorrah, com quem ele era casado na época, fizeram ligações para Brasília e peregrinações em quartéis e órgãos policiais, incluindo o local para onde ele fora efetivamente levado, o 1º Batalhão da Polícia do Exército, onde funcionava o DOICodi, na Tijuca, e onde disseram que ele não estava.
Carlos Vereza acreditava que o fato de estar no ar em Cavalo de Aço pode ter contribuído para que não tivesse um destino pior. Isso porque seus torturadores incluíram, no rol de perguntas, com insistência, a questão que estava mexendo com a imaginação dos telespectadores brasileiros naquele momento:
“Eles queriam saber quem era esse guerrilheiro, onde ele estava, e quem tinha assassinado o velho Max. Eu dizia: ‘Gente, quem sabe é a Janete Clair’. E eles: ‘Mentira, você sabe, você sabe quem matou o velho Max!’”
(“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
Gravação perigosa
A gravação de uma cena de ação complexa, dirigida por Walter Avancini no Rio Guandu, região metropolitana do Rio, quase termina em tragédia.
Na sequência, o vilão Max (Ziembinski), mandava seus capangas bombardearem a balsa na qual Rodrigo (Tarcísio Meira), Miranda (Glória Menezes) e Carlão (Milton Moraes) transportavam toras de madeira. Para Tarcísio, foi a primeira vez em que ele teve medo de morrer de verdade:
“A gente não tinha dublê (…) não tinha ninguém especializado para fazer as cenas perigosas. E tinha uma correnteza muito forte neste rio. (…) Com isso, as ondas provocadas por aquela explosão, aquela madeira toda, faziam marolas.”
Para piorar a situação, Avancini mandou Tarcísio fazer círculos com o barco para “pular as marolas”. E, quando o ator tentou executar a manobra, o barco foi ao fundo com os três atores, com dois agravantes, segundo Tarcísio: a indumentária do trio e a insistência do diretor em continuar gravando:
“A gente estava vestindo, inconsequentemente, roupas de couro, talabarte, revólveres, coldre, espingarda e de bota. E o barco foi ao fundo e a gente começou a nadar, começou a querer sair e o Avancini gravando. E nós querendo sair.”
Quando os três começaram a ser vencidos e levados pela correnteza, Tarcísio passou a gritar e só então ele, Glória e Milton foram socorridos por um contrarregra que invadiu a cena acompanhado por alguns bombeiros que, por sorte, já estavam no local, chamados por causa de outro incidente no set de gravação.
“Eu e minha mulher íamos morrer ali. Não morremos porque nossos colegas nos salvaram.”
(“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
Cenografia e modismos
As cenas externas foram gravadas em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde foi construída a cidade cenográfica da fictícia Vila da Prata.
Os sapatos de sola de borracha usados pelo protagonista Rodrigo (Tarcísio Meira) fizeram moda na época, passando a ser conhecidos como “sapatos cavalo de aço”.
Trilha sonora
A trilha sonora nacional de Cavalo de Aço foi assinada por Nelson Motta e Guto Graça Mello, da qual os compositores se arrependem amargamente, de acordo com seus depoimentos a Guilherme Bryan e Vincent Villari para o livro “Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”:
– Nelson Motta: “Desse disco, a única coisa que eu me lembro é que nós ficamos loucos! Nunca mais ouvi isso. Fizemos tudo às pressas. A novela não deu certo e a trilha também não teve nenhum sucesso popular.”
– Guto Graça Mello: “Uma das coisas mais detestáveis que já fiz na minha vida, porque ela consegue ser errada em todos os sentidos. As músicas são bobas, falsas. (…) Isso foi feito sem nenhum cuidado.”
Em 2006, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Cavalo de Aço, em CD, na coleção “Master Trilhas”, 26 trilhas nacionais de novelas e séries da década de 1970 nunca lançadas em CD.
Trilha sonora nacional
01. HOMEM DE VERDADE – Djalma Dias (tema de Rodrigo)
02. VIVA SUAREZ! – Cláudio Ornelas (tema de Max)
03. MARCAS – Quarteto Uai (tema de Miranda)
04. UM SOL NA NOITE – Eustáquio Sena (tema de Camila)
05. O FILHO DE DEUS – Orquestra Som Livre (tema de Santo)
06. CAVALO DE AÇO – Guto e Coral Som Livre (tema de abertura)
07. DE OLHOS ABERTOS – Orquestra e Coro Som Livre
08. PÉ NA ESTRADA – Quarteto Uai (tema de Carlão)
09. IDADE:17 – Evinha e Trio Esperança (tema de Terezinha)
10. CONTRATEMPO – Guto Graça Mello (tema de Marta)
11. NA TARDE – Quarteto Uai
12. UM CORPO SÓ – Márcio Lott
Sonoplastia: Antônio Faya
Músicas: Nelson Motta e Guto Graça Mello
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: Eustáquio Sena
Arranjos: Guto, Chiquinho de Morais e Waltel Branco
Trilha sonora internacional
01. DON’T MESS WITH MISTER “T” – Marvin Gaye (tema de Terezinha)
02. SUPERMAN – Excelsior (tema de Rodrigo)
03. WHY CAN’T WE LIVE TOGETHER – Timmy Thomas (tema de Joana)
04. DADDY COULD SWEAR, I DECLARE – Gladys Knight & The Pips
05. LAST TANGO IN PARIS – Jean Pierre Sebastian
06. THIS IS A LOVE TRAIN – Joe Jackson
07. TARCISIU’S THEME – Free Sound Orchestra (tema de Rodrigo)
08. DON’T SAY GOODBYE – Chrystian (tema de Miranda e Rodrigo)
09. SUPERSTITION – Stevie Wonder
10. IRON HORSE – Excelsior (tema de Rodrigo)
11. “T” PLAYS IT COOL – Marvin Gaye
12. TOGETHER – Think Tank (tema de Aurélio e Lenita)
13. THE SNAKE – El Chicles (tema de Santo)
14. AUTUMN LOVE THEME – Free Sound Orchestra
Tema de abertura: CAVALO DE AÇO – Guto e Coral Som Livre
Terra de ninguém
Terra nossa
Santa maldição
Vida e morte, um só movimento
Sob o mesmo sol de repente
Brilha a faca espelho de aço
Dos que vão morrer
Trilha a noite, lua apagada
Quem vai saber (quem vai, quem vai, quem vai, vai)
Quem vai saber (quem vai, quem vai, quem vai, vai)
Tempo de lutar, tempestade
Tempo de morrer
Tempo de amar, claridade
Tempo de viver com vontade
Brilho de alegria nos olhos
Trilhos pro sem fim…
Quero rever esta novela.
1975 ano que fiz 18 anos, a tão sonhada maioridade; a chave para minha emancipação, liberdade para viajar para a cidade do Rio de Janeiro, ir em busca do meu sonho de ser ator de teatro. Tantos sonhos na cabeça e pouco dinheiro no bolso.
para mim, àquela época, a assassina ser a filha do velho Max foi um choque….e gostava muito dos “amigos” do Tarcísio Meira (o Professor (José Lewgoy), Brucutu (Stênio Garcia) e Sabá (Dary Reis)}. a Glória Menezes, machona, andando de vestido e com sapatos finos foi hilária….. Betty Faria, toda modernosa, na garupa de Tarcísio Meira era puro feminismo.
Como essa novela poderia dar certo “Cavalo de Aço “,o autor escreve uma história e vem o diretor e muda tudo ,não tinha como prestar, e pior os atores ir pela cabeça dele.
MUITO BOM ESSE SITE. PARABÉNS.
Pq na época as transmissões não eram via satélite. Só passou a ser em 1974. Até então, as novelas tinham datas de exibição diferentes em cada cidade.
Nilson, por que em São Paulo a novela terminou quatro dias depois do Rio, se começaram na mesma data?