Sinopse

Na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, o marginal Paulo Alberto morre deixando para uma de suas mulheres, Marluce, um antigo relógio de mesa e, dentro dele, o fruto do último assalto, uma fortuna em diamantes. Dois policiais entram em cena: o corrupto Tito Lívio, “sócio” de Paulo Alberto, e o correto e dedicado Lucena.

Enquanto Tito Lívio atormenta a vida de Marluce tentando reaver os diamantes, o primo de Paulo Alberto, Jorge Fernando, detido no presídio da Ilha Grande, cria a Falange Vermelha, uma organização criminosa com códigos de honra baseados na força e na fidelidade do grupo – também planejando reaver a fortuna escondida no relógio.

A fidelidade de uma mulher a seu grande amor, uma organização criminosa, a corrupção policial e a repressão constituem os elementos da história. Seus protagonistas mergulham na violência da Baixada Fluminense, em uma autêntica trama de mocinho e bandido, da qual só resulta um vencedor depois de duros golpes e muitas mortes.

Globo – 22h
de 10 de janeiro a 4 de fevereiro de 1983
20 capítulos

minissérie de Aguinaldo Silva
colaboração de Doc Comparato
direção de Luís Antônio Piá e Jardel Mello

JOSÉ WILKER – Tito Lívio
BETTY FARIA – Marluce
STÊNIO GARCIA – Lucena
JOSÉ MAYER – Jorge Fernando
NUNO LEAL MAIA – Paulo Alberto
MARIETA SEVERO – Denise
JONAS BLOCH – Detetive Gilberto
JOSÉ DUMONT – Valdir
GRACINDO JÚNIOR – Álvaro
TÂNIA ALVES – Glória
ROBERTO BONFIM – Bira
ARNAUD RODRIGUES – Gaguinho
YOLANDA CARDOSO – Dona Neném
FRANCISCO MILANI – Pinheiro de Lemos
JÚLIO BRAGA – Júnior
LÉA GARCIA – Gladis
HELOÍSA ARRUDA – Sílvia
ÂNGELA VALÉRIO – Rita
MEIRY VIEIRA – Espanhola
GILSON MOURA – Jacaré
MARIA PADILHA – Kátia
IVAN SETTA – Souza
MARIA GLADYS – Soninha
RUY REZENDE – mendigo
JAIME LEIBOVITCH – prisioneiro
ISOLDA CRESTA – mãe de Rita
VINÍCIUS SALVATORE
NEWTON MARTINS – Euclides
IVO FERNANDES – Arnaldo
ANTÔNIO PITANGA
ALDO DELANO
JOEL SILVA
SÍLVIO FRÓES
ARTHUR COSTA FILHO
CATALINA BONAKI
DIOGO VILELA
PAULO BARBOSA (PAULÃO)
EVANDRO LEANDRO
JESUS CHEDIAK
KAKAO BALBINO

Maturidade teledramatúrgica

“Excepcional trabalho de criação com excelentes resultados finais. Bastante violento, muita tensão, um movimentado roteiro que não cansava nunca. Ainda um corajoso manifesto contra o crime organizado”, assim descreveu Ismael Fernandes no livro “Memória da Telenovela Brasileira”.

A minissérie representou o atingimento da maturidade teledramatúrgica após longa evolução. Trouxe o problema da criminalidade urbana, os envolvimentos da polícia, os policiais honestos e a organização secreta de bandos dentro das penitenciárias em conexão com o crime organizado fora delas. Com base em fatos reais, criou uma ficção de alto teor de verossimilhança. A obra é, ainda, uma atestado dos problemas sociais e econômicos do país.

A história foi dividida em quatro blocos: “As origens”, que se desenrolava em 1975; “A organização”, em 1977; “Lutas internas”, em 1979; e “A queda”, em 1981.

Marco midiático

Para escrever a minissérie, o autor Aguinaldo Silva utilizou sua experiência de dez anos como repórter policial.

Um dos maiores pesquisadores da história do tráfico de drogas no país, o escritor Julio Ludemir, autor de “No Coração do Comando” e de “Lembrancinha do Adeus”, classifica Bandidos da Falange como um marco midiático:
“Aguinaldo Silva foi repórter de polícia em uma época em que o jornalismo não tinha medo da cidade. E isso está presente em Bandidos…, que teve o pioneirismo de levar o universo carcerário à tela da TV, em tempos de ditadura. Grandes escritores do tema da violência tiveram que usar aquela minissérie como referência”, disse Ludemir.

Problemas com a censura

Bandidos da Falange deveria ter estreado em agosto de 1982, mas teve problemas com a Censura Federal e só foi liberada cinco meses depois, com cortes.

De acordo com a Folha de São Paulo de 06/08/1982, depois de examinar os cinco primeiros capítulos que lhe foram remetidos pela emissora, a Censura pediu para analisar os 20 capítulos totais da minissérie. “É um seriado que tem cenas fortes, de extrema violência”, argumentou Euclides Mendonça, então chefe da Censura, à revista Veja de 08/09/1982.

Os scripts ficaram meses em Brasília. Depois de muito relutar, o Conselho Superior de Censura autorizou as cenas de tiroteio entre a polícia e bandidos – desde que não houvesse vítimas. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Em seu livro “Meu Passado Me Perdoa”, Aguinaldo Silva assim descreveu a batalha entre a Globo e o Governo Federal para a liberação da minissérie:

“Mesmo depois da proibição vinda de Brasília, ele [Boni] decidiu que as chamadas da minissérie continuariam no ar, embora sem a previsão de data para a estreia. Isso provocou um tremendo impacto. Sabia-se que ela estava proibida e, portanto, a manutenção das chamadas era um verdadeiro desafio aos censores e à ditadura.”

“A tensão chegou ao auge quando essas chamadas foram sendo cada vez mais exibidas no horário nobre, em um ato em que, pela primeira vez, uma emissora de televisão desafiava uma decisão dos censores. A tensão estava no ar. As chamadas continuavam nos intervalos da programação e deixavam bem claro para os telespectadores que aquele era mais um trabalho com o nível habitual de qualidade dos produtos da emissora e, portanto, merecia ser visto e apreciado pelo seu público.”

“A discussão sobre a proibição da minissérie ganhou as ruas. E a censura acabou por ceder — em parte — ao aceitar participar de negociações nos bastidores. Nas reuniões em Brasília, cortes extensos foram exigidos pelos censores. Mas os negociadores da Globo, sob o comando de Boni, resistiram a isso e se negaram a fazer a maioria deles. Por fim, com apenas alguns cortes e não as dezenas que a censura exigira, Bandidos da Falange foi ao ar e causou verdadeira comoção no público.”

Elenco

Memorável atuação do elenco, em especial de José Mayer. Por seu trabalho, ele foi premiado pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como revelação de 1983 na televisão, enquanto Stênio Garcia foi o melhor ator (juntamente com Paulo Autran e Mário Gomes, pela novela Guerra dos Sexos). Bandidos da Falange foi ainda eleita a melhor minissérie.

A atriz Marieta Severo voltava à televisão após treze anos, afastada por solidariedade ao então marido, Chico Buarque, perseguido pelo Regime Militar. Em Bandidos da Falange, ela viveu Denise, mulher do bandido Paulo Alberto (Nuno Leal Maia) e amante do policial corrupto Tito Lívio (José Wilker).

A atriz Heloísa Arruda, que na minissérie viveu a personagem Silvia, faleceu antes da estreia, em 19/11/1982, aos 30 anos. A atriz cometeu suicídio.

Locações e cenografia

Mais de duzentas locações foram usadas, entre elas Itacuruçá, Jacarepaguá e Santa Teresa. Inclusive cenas gravadas no Presídio Vicente Piragibe, em Bangu, cenograficamente reproduzido a partir da pesquisa de arte de Gisela Padilha, com assessoria de um ex-presidiário.

Segundo uma reportagem publicada em 11/07/1982 no Jornal do Brasil, a Globo teria contado com a assessoria de Ademar Onofre de Souza, membro de um dos grupos que detinham o poder na Ilha Grande, para garantir a verossimilhança de Bandidos da Falange.

Repetecos

A minissérie foi reapresentada em fevereiro de 1984, editada em 10 capítulos.

Lançada em vídeo (VHS), em 1986.

Edição pirata

Em 2007, por causa do sucesso do filme Tropa de Elite, de José Padilha – que tinha a mesma temática de Bandidos da Falange -, a minissérie ganhou uma versão pirata em DVD vendida pelos camelôs das grandes cidades. O DVD era uma edição do VHS lançado nos anos 1980.

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