Sinopse
Rio de Janeiro, 1956. Os jovens Lurdinha e Marcos se apaixonam à primeira vista. Ela estuda no Instituto de Educação; ele, no Colégio Militar – duas tradicionais instituições de ensino da Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Porém, os pais de Lurdinha – os conservadores Dr. Carneiro e Celeste – rejeitam o rapaz por ele ser filho de pais separados e tentam, de todas as maneiras, afastá-lo da filha. Sem diálogo com a família, Lurdinha não consegue defender o amor que sente por Marcos, mas, mesmo assim, não deixa de encontrá-lo às escondidas.
Marcos, sem saber que a jovem omite dos pais o namoro, insiste em conhecê-los. Ela sempre inventa uma desculpa até que, um dia, Marcos aparece sem avisar em sua casa e pergunta a Celeste e Carneiro se eles veem com simpatia o namoro dos dois. Desconcertados ao descobrirem a mentira da filha, eles inventam que Lurdinha está de castigo por causa de notas baixas e, por isso, não poderá vê-lo. Os pais de Lurdinha, influenciados por uma professora da jovem, decidem, então, aceitar o namoro dos dois. Acreditavam que ela logo se desinteressaria dele.
Com o tempo, Lurdinha e Marcos enfrentam outro tabu da época: a virgindade. A jovem chega a perguntar para a mãe se é normal sentir desejo pelo namorado e Dona Celeste, sempre repressora, responde: “Sexo é pecado. A mulher só pratica o sexo depois de casada, para satisfazer o marido”. As dúvidas de Lurdinha sobre o assunto levam Marcos a se envolver com Rosemary, colega dela. Ao contrário da doce e tímida normalista, Rosemary é ousada e tem ideias avançadas, embora também seja virgem. Lurdinha flagra os dois aos beijos e rompe com Marcos.
O casal Carneiro reforça o cerco sobre a filha por considerar que Marcos vem de uma família desajustada. O pai do rapaz é Morreu, músico sonhador e pouco prático, cheio de problemas financeiros, que joga e às vezes bebe demais. A mãe é Glória, mulher que foge do estereótipo feminino da época: além de desquitada, trabalha como caixa em uma boate. Uma das decepções de Glória é o major Dorneles, por quem se apaixona sem saber que é casado. Dorneles vive um dilema: como enfrentar a mulher Beatriz, os filhos e a sociedade para viver seu amor com Glória?
MALU MADER – Lurdinha (Maria de Lurdes Carneiro)
FELIPE CAMARGO – Marcos Catanhede
BETTY FARIA – Glória
JOSÉ DE ABREU – Dorneles (Major Paulo Roberto Dorneles)
CLÁUDIO CORRÊA E CASTRO – Carneiro (Dr. Vidal Carneiro)
YARA AMARAL – Celeste Carneiro
MILTON MORAES – Morreu (Cláudio Catanhede)
NÍVEA MARIA – Beatriz Campos Dorneles
JOSÉ LEWGOY – Brigadeiro Campos (Eurípedes Cardoso Campos)
TAUMATURGO FERREIRA – Urubu (Joaquim Aguiar)
ISABELA GARCIA – Rosemary
ANTÔNIO CALLONI – Claudionor (Clau-Clau)
RODOLFO BOTTINO – Lauro Campos Dorneles
BIANCA BYNGTON – Marina Campos Dorneles
PAULA LAVIGNE – Marly Rezende
LÚCIA ALVES – Vitória
ROBERTO PIRILO – Rafael
JECE VALADÃO – Gracindo Aguiar
TÂNIA SCHER – Marieta Aguiar
PAULO VILLAÇA – Joel Rezende
DENISE BANDEIRA – Laís Rezende
HELBER RANGEL – Rodolfo
MARIA LÚCIA DAHL – Abigail (Bibi)
ROSANE GOFMAN – Lenida
ISABELA BICALHO – Solange Campos Dorneles
TONICO PEREIRA – Ronaldo
ARTHUR COSTA FILHO – Olivério Costa
MARCOS WAIMBERG – Antunes
ANSELMO VASCONCELLOS – Capitão Serpa
LYS BELTRÃO – Marlene
os garotos
DANIEL FONTOURA – Pedrinho (Pedro Paulo Carneiro)
DIEGO SANGIRARDI – Waltinho (Walter Aguiar)
colegas de Lurdinha e Rosemary
ALICE SERRANO – Gracinha
ANA BEATRIZ WILTGEN – Mariana
ARLETE COELHO – Maria Luiza
BEATRIZ BARROS – Juliana
CLÁUDIA MESSINA – Isabel
CLÁUDIA SCHER – Aline
CRISTIANA BITTENCOURT – Glecir
CRISTIANA DREUX MARIANI – Beatriz
DENISE MAYER – Magda
GABRIELA LINS E SILVA – Mimi
ISA DO EIRADO – Mara
MÁRCIA FARIA – Maria do Carmo
MARISE FARIAS – Mariângela
PATRÍCIA FELIPPE MAURO – Maria Inez
PATRÍCIA SANTOS – Débora
PAULA MÓFREITA – Maria Clara
RENATA ANDRADE – Sueli
RITA CALAZANS – Alice
ROSANA BILLARD – Tetê
colegas de Marcos e Urubu
DANIEL HERZ – Godofredo
DEMÉTRIO BEZERRA – Luís Augusto
FELIPE MARTINS – Betinho
GILBRAN CHALITA – Rodolfo
MARCELO NÓBREGA – Cadu
MARCELO SZNAIDER – Bruno Gil
MARCO ANTÔNIO CAMPOS – Getúlio
MARCUS JARDYM – Teotônio
MARCOS NORONHA – Gustavo
RAUL TOLEDO – Vicente
ROBERTO LIMA – Francisco
ROGÉRIO DIÓGENES – Zé Augusto
RÔMULO DELDUQUE – João Paulo
RUBEM FARIA – Roger
PEDRO PIMENTEL – Tony
SÉRGIO MACIEL – Ernesto
e
AFRÂNIO GAMA – escrivão na delegacia onde Acioli é o titular
ALEXANDRE ARRAES – Fernando (namorado, depois noivo de Marly)
CHAGUINHA – atendente na sorveteria frequentada pelos jovens
CININHA DE PAULA – prostituta com quem Marcos tenta transar, mas não consegue
FERNANDO AMARAL – Delegado Acioli (amigo de Gracindo, investiga o assassinato de Olivério)
GLÓRIA ALVES – Rosita (professora do Instituto de Educação)
JOHN HERBERT – comandante do Colégio Militar
JOSÉ CARLOS SANCHES – Chico Santos (músico que trabalhou na boate Glamour, envolveu-se com Vitória)
JUAN DANIEL – Padre Matoso, depois chamado de Padre Rodrigues (da igreja frequentada pelos personagens)
NORMA GERALDY – Pequetita (tia rica de Rosemary)
PAULO CÉSAR PEREIO – narrador
SÉRGIO MOX – Roberto (porteiro da boate Glamour)
VERA GIMENEZ – Lílian (amante de Dorneles no início)
Conceição (empregada na casa dos Carneiro)
Dr. Herculano Valverde (advogado de Marcos)
Machado (auxiliar do Delegado Acioli)
– núcleo de MARCOS (Felipe Camargo), jovem estudante do Colégio Militar. Bom rapaz, sonhador e romântico, mas imaturo, impulsivo e um tanto ingênuo. Incerto do que quer da vida, ainda não decidiu qual profissão seguir. Apaixona-se perdidamente por uma normalista cujos pais são contra o namoro, enfrentando principalmente o preconceito social. No decorrer da trama, é acusado injustamente de ter matado um homem:
a mãe GLÓRIA (Betty Faria), mulher batalhadora, honesta e pragmática que luta pelo futuro do filho. Enfrenta todo tipo de preconceito por ser desquitada e por trabalhar na noite, como caixa em uma boate
o pai CLÁUDIO, mais conhecido como MORREU (Milton Moraes), com quem tem grande amizade. Separado de Glória, joga com frequência e às vezes bebe além da conta. Músico cheio de problemas financeiros, vive em uma pensão. Pouco afeito às coisas práticas da vida, é um sujeito sonhador, mas destinado ao fracasso, principal motivo da separação de Glória
o amigo de Morreu, RONALDO (Tonico Pereira), mora com ele na pensão.
– núcleo de LURDINHA (Malu Mader), normalista do Instituto de Educação. Moça recatada, boa aluna e boa filha, podada e vigiada pelos pais severos. Romântica, apaixona-se por Marcos, mas sua família, muito tradicional, é contra, por ele ser pobre e filho de pais separados cuja mãe trabalha em uma boate:
os pais moralistas, conservadores e repressores: CARNEIRO (Cláudio Corrêa e Castro), pediatra conhecido na Tijuca, onde moram,
e CELESTE (Yara Amaral), dona de casa que dedica-se exclusivamente à família. Sonha com um bom casamento para a filha, proibindo terminantemente seu namoro com Marcos
o irmão PEDRINHO (Daniel Fontoura), garoto
a empregada CONCEIÇÃO.
– núcleo de DORNELES (José de Abreu), major da Aeronáutica que passara uma temporada com a família no Recife. De volta ao Rio de Janeiro, vai morar na casa do sogro, homem de posses, pois não tem condições de arcar com os luxos que sua família demanda. O sogro e a mulher querem que ele aceite cargos burocráticos com bons salários, mas ele teria que abdicar do que mais gosta de fazer: pilotar. Vive um casamento acomodado, apesar de gostar da esposa, mas acaba procurando outras mulheres. Conhece Glória, por quem se apaixona, mas não consegue deixar a esposa para assumir o novo amor:
a mulher BEATRIZ (Nívea Maria), que casou-se com ele quando tinha 16 anos. Ama o marido, mas não entende porque ele não aceita a influência de seu pai para ascender profissionalmente. Ressente-se pelo marido não conseguir proporcionar o estilo de vida com o qual esteve acostumada desde a infância. Prefere viver de aparências a reconhecer que o casamento e a situação financeira vão mal
os filhos: LAURO (Rodolfo Bottino), engenheiro recém-formado, acaba entrando na onda da mãe e do avô, abdicando de sonhos por estabilidade financeira. Apaixona-se por Lurdinha, para a alegria de Celeste, que o considera um bom partido, mas a moça o rejeita,
MARINA (Bianca Byington), amiga de Lurdinha. Introspectiva e ressabiada com os rapazes. Descobre que o pai tem uma amante,
e SOLANGE (Isabela Bicalho), a caçula, recém-saída da infância, paparicada pelo pai e pelo avô
o sogro BRIGADEIRO CAMPOS (José Lewgoy), militar de carreira bem-sucedido. Homem arrogante e autoritário, dá valor às tradições e às convenções sociais. Insiste para que o genro aceite a sua influência para melhorar de vida financeiramente, mas os dois quase sempre entram em choque
o amigo RAFAEL (Roberto Pirilo), também militar da Aeronáutica, seu confidente
a amiga de Beatriz, LENIDA (Rosane Gofman), fútil e preconceituosa como todas as suas amigas.
– núcleo de URUBU, como gosta de ser chamado JOAQUIM (Taumaturgo Ferreira), melhor amigo de Marcos. Bom rapaz, mas inconsequente e às vezes irresponsável. Divertido e agitado, vive com os hormônios à flor da pele, só pensando em mulheres e sexo:
os pais: GRACINDO (Jece Valadão), dono de um posto de gasolina, amigo de Morreu. Infiel e um tanto machista,
e MARIETA (Tânia Scher), amiga de Celeste, Beatriz e Lenida, mulher fofoqueira. Desconfia do marido
o irmão mais novo WALTINHO (Diego Sangirardi), amiguinho de Pedrinho
o amigo CLAUDIONOR (Antônio Calloni), também amigo de Marcos. Míope, gordinho, desajeitado e ansioso, também só pensa em mulheres e sexo
a empregada MARLENE (Lys Beltrão), moça bonita e provocante, com quem Urubu transa às vezes. Pega em flagrante com Gracindo por Marieta, acaba despedida.
– núcleo de ROSEMARY (Isabela Garcia), colega de classe de Lurdinha e Marina. A menos convencional das normalistas, é rebelde e decidida. Fomenta a fama de “avançadinha” e gosta de provocar os rapazes. Ao longo da trama, namora Urubu e, depois, Marcos. Também envolve-se com Rafael, bem mais velho que ela:
os pais: RODOLFO (Helber Rangel), amigo de Carneiro,
e ABIGAIL (Maria Lúcia Dahl), amiga de Celeste, Beatriz, Marieta e Lenida.
– núcleo de MARLY (Paula Lavigne), amiga de Lurdinha e Marina. Moça rica, invejada pelas colegas não por causa da posição social, mas porque seus pais são liberais, de “cabeça aberta”, com quem ela mantem uma relação de cumplicidade:
os pais: JOEL (Paulo Villaça), arquiteto bem-sucedido,
e LAÍS (Denise Bandeira), professora do Instituto de Educação. Mulher sem preconceitos, tenta aconselhar e orientar Lurdinha em seus problemas
o namorado, depois noivo FERNANDO (Alexandre Arraes).
– núcleo da Boate Glamour, em Copacabana, onde Glória trabalha como caixa:
a crooner VITÓRIA (Lúcia Alves), melhor amiga e confidente de Glória. Moça liberada, é amante de um velho que mantem um apartamento para si, a quem ela se refere como “Vidal”. Ao final da trama, é revelado que Vidal é o moralista Dr. Carneiro
o proprietário OLIVÉRIO COSTA (Arthur Costa Filho), também agiota. É assassinado e a culpa recai sobre Marcos, com quem ele tivera uma séria discussão horas antes do crime. No final, é descoberto que foi morto pelo Dr. Carneiro, a quem estava chantageando
o gerente ANTUNES (Marcos Waimberg)
o músico CHICO SANTOS (José Carlos Sanches), teve um caso com Vitória.
– outros personagens:
PADRE MATOSO, depois chamado de PADRE RODRIGUES (Juan Daniel), pároco da igreja na Tijuca frequentada pelos personagens
CAPITÃO SERPA (Anselmo Vasconcellos), professor do Colégio Militar, rígido com os alunos
ROSITA (Glória Alves), professora do Instituto de Educação, amiga de Laís
DELEGADO ACIOLI (Fernando Amaral), amigo de Gracindo, investiga o assassinato de Olivério
DR. HERCULANO VALVERDE, advogado que defende Marcos da acusação de assassinato de Olivério.
Abordagens
Bem-sucedido trabalho de Gilberto Braga em sua primeira experiência no formato minissérie. Tudo muito envolvente, bem realizado e mais uma mostra do talento do autor ao transformar suas histórias em capítulos. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)
Ambientada em uma época de controle do comportamento e de repressão sexual, a minissérie retratou os preconceitos e as regras ditadas pela família e pela escola, gerando choques entre pais e filhos e evidenciando a hipocrisia da sociedade moralista da época. Foram abordados tabus como virgindade, aborto, a situação da mulher desquitada, masturbação e casos extraconjugais, entre outros.
Inspiração
Primorosa reconstituição de época: o Rio de Janeiro da segunda metade da década de 1950, os anos dourados do título.
Daniel Filho mencionou em seu livro “O Circo Eletrônico”:
“Anos Dourados é um excelente exemplo de drama e de pesquisa histórica. Eu dei esse título porque possivelmente foram os meus anos dourados, os anos da minha juventude. Depois escolhemos Gilberto Braga para escrevê-la. Foi uma obra de encomenda, mas acho que juntou a fome com a vontade de comer. Pois era uma coisa que já estava na cabeça do Gilberto.”
Gilberto Braga revelou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, que a ideia da minissérie veio da Casa de Criação Janete Clair:
“Me perguntaram se eu gostaria de escrever uma história ambientada nos anos 1950. Eu achei o máximo, adoro essa época, que é da minha infância. E apresentei a sinopse.”
Além de realizar pesquisas de época e recorrer à sua própria memória, Gilberto Braga também se reuniu com amigos e conhecidos que viveram os “anos dourados” e aproveitou suas histórias. A cena, por exemplo, em que Marcos (Felipe Camargo) pula o muro da escola para encontrar Lurdinha (Malu Mader) às escondidas (no sétimo capítulo), foi escrita a partir desses testemunhos. (*)
O triângulo amoroso Glória-Dorneles-Beatriz (Betty Faria, José de Abreu e Nívea Maria) era uma reedição da trama central do Caso Especial As Praias Desertas, que o autor escreveu em 1973, com Dina Sfat, Juca de Oliveira e Yoná Magalhães no papeis correspondentes.
O primeiro título pensado para a minissérie foi Par Constante. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)
Repercussão
Sobre a repercussão da minissérie, o autor disse que recebia muitos telefonemas com elogios:
“Cheguei a ficar arrogante (…) fiquei meio bestinha! (…) Há coisas relacionadas ao sucesso de Anos Dourados que acho que poucos escritores viveram. (…) Houve uma mulher na Avenida Vieira Souto que, quando me viu, bateu com o carro, deixou o carro batido e veio falar comigo: ‘Eu queria lhe dar um beijo porque estou adorando Anos Dourados!’ Quando você faz um trabalho sério, tocante, positivo, com esperança, você faz muito sucesso.”
No rastro do sucesso de Anos Dourados, a Globo lançou, no ano seguinte, a novela das seis Bambolê, de Daniel Más, com a mesma ambientação – o Rio de Janeiro da segunda metade da década de 1950 – e trilha sonora nostálgica, tendo Gilberto Braga, inclusive, participado do processo de criação da novela. Bambolê, porém, não se tratava exatamente de um registro dos anos 50 (como se propunha Anos Dourados), mas apenas de um melodrama de relações familiares. Tampouco a novela conseguiu alcançar a mesma repercussão que a minissérie.
Elenco
Um grande destaque para Yara Amaral, como a moralista Celeste, a mãe repressora da protagonista Lurdinha (Malu Mader). A atriz rendeu cenas fortes e icônicas.
Como Lurdinha, Malu Mader se firmava como a mais nova estrela da TV Globo, passando a ganhar papeis de grande destaque e protagonistas a partir de então.
Primeiro trabalho na televisão do ator Felipe Camargo, com 25 anos na época, já como protagonista: Marcos, par de Lurdinha.
Também a estreia na TV de Antônio Calloni, Bianca Byngton, Paula Lavigne, Ana Beatriz Wiltgen e Cláudia Scher (filha de Tânia Scher, que também estava no elenco).
O ator Paulo César Pereio atuou como narrador da história. Antes de cada capítulo, Pereio, em off, fazia uma retrospectiva do anterior, e, ao final, um resumo do capítulo da noite.
Figurinos e caracterizações
Para compor o visual dos personagens, as equipes de figurino e caracterização realizaram uma detalhada pesquisa. Os vestidos de festa – de saia rodada, cobertos de tule – chamaram a atenção nos figurinos femininos.
Dois personagens destacaram-se com suas caracterizações:
– O visual de Urubu (Taumaturgo Ferreira) foi inspirado no personagem de James Dean no filme Juventude Transviada (1955): jaqueta com a gola levantada para cima, cabelo penteado para trás e cigarro no canto da boca;
– Para viver a personagem Glória, Betty Faria apareceu – pela primeira vez – de cabelos curtos, inspirados na atriz Gina Lollobrigida no filme Trapézio (1956). (*)
Cenografia, locações e produção de arte
No trabalho de reconstituição do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, da década de 1950 (onde a trama era ambientada), o diretor Roberto Talma contou ao projeto Memória Globo que transformou a rua de um condomínio em Jacarepaguá em cidade cenográfica. Ele lembrou que, às vezes, era preciso pintar os postes das ruas de preto, pois não havia postes de cimento nos anos 50, apenas de ferro.
Entre outros pontos na cidade do Rio de Janeiro, a minissérie teve cenas gravadas no Colégio Militar e no Instituto de Educação.
Para compor o clima de “anos dourados”, os personagens circulavam em cadillacs e automóveis rabo-de-peixe. O telespectador também reconhecia a época por meio de objetos e adereços de cena, como xícaras e louças em geral, licoreira em forma de boneca, móveis com pés palito, canetas-tinteiro, rádios, flâmulas (bandeirinhas triangulares) na parede dos quartos dos rapazes, entre outros. (*)
Trilha sonora
A trilha sonora era apresentada de forma diferente da habitual nas produções da emissora, na época: nenhum personagem tinha tema musical e as melodias acompanhavam o clima de cada cena. (*)
Apesar de, oficialmente, a trilha não distribuir as músicas para personagens, algumas canções ficaram marcadas por tocarem com mais frequência para alguns específicos, como o clássico “I Apologize” na gravação de Billy Eckstine, que embalou cenas românticas do casal Marcos e Lurdinha. Tamanha foi a repercussão que Eckstine, na época um tanto esquecido, veio ao Brasil para uma temporada de shows. (**)
Gilberto Braga acumulava as funções de autor e produtor musical da minissérie.
“Sempre participei muito da escolha da trilha das minhas novelas e minisséries, mas nunca havia feito a produção musical de um programa. Adorei! Voltei a fazer isso em Anos Rebeldes [em 1992]” (Gilberto para o livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”)
Gilberto apresentou ao produtor Toninho Paladino 50 músicas da época em que se passava a trama, das quais 13 foram selecionadas para o disco. (**)
A única música inédita da trilha foi o tema de abertura, feita sob encomenda por Tom Jobim, a pedido de Gilberto Braga. Tom, ao chamar Gilberto para mostrar a música, exigiu que Malu Mader o acompanhasse, pois queria conhecê-la. (**)
A bela canção, com o nome da minissérie, interpretada por Tom Jobim ao piano, tornou-se um clássico de nossa televisão. Posteriormente a música recebeu letra de Chico Buarque e foi gravada pelo próprio Chico e Maria Bethânia, entre outros intérpretes. (***)
O resultado de tamanho esmero acompanhou o sucesso da minissérie: a trilha de Anos Dourados é a campeã de vendagem entre as trilhas de minisséries da Globo, com 303.080 cópias comercializadas. (fontes: Vincent Villari, Som Livre e ABPD)
Em 1996, em comemoração ao décimo aniversário da minissérie, sua trilha sonora voltou às lojas, relançada em CD.
Repetecos
Reapresentações de Anos Dourados:
– de 05/10 a 05/11/1988, na íntegra;
– de 19 a 24/08/1990, condensada em 5 capítulos, no Festival 25 Anos da TV Globo;
– de 03 a 14/01/2005, em 10 capítulos, no Multishow (canal de TV paga pertencente ao Grupo Globo), em comemoração aos 40 anos da emissora;
– e no Viva (outro canal de TV paga pertencente ao Grupo Globo), na íntegra, em três ocasiões: entre 2 e 27/05/2011, às 23h;
– entre 29/04 e 24/05/2013, às 23h15;
– e entre 27/09/2020 e 07/02/2021, às 23h45 (esta última em capítulos semanais, apenas aos domingos).
Também foi compactada em vídeo, pela Globo Vídeo, em 1990. Em abril de 2003, foi lançado o DVD da minissérie, editado pelo próprio Gilberto Braga. (*)
Nas três primeiras reprises da minissérie (em 1988, em 1990 e em 2005), a narração do destino dos personagens nas décadas seguintes (exibida ao final da primeira apresentação, em 1986) foi editada. Em 1988, na primeira reprise, este corte foi duramente criticado pelo público, conforme o Jornal do Brasil de 09/11/1988:
“Quem assistiu ao último capítulo da reprise da minissérie Anos Dourados, sexta-feira passada, não soube do destino de cada um dos personagens, revelado no final da primeira exibição da série. A reedição cortou tal desfecho e irritou telespectadores que, inconformados, telefonaram para a Central de Atendimento Telefônico da emissora. As reclamações bateram até na casa do autor da série, Gilberto Braga. Quem telefonou para o CAT, ouviu a explicação ‘ordens da direção’. A versão extraoficial considerou desnecessária a edição do final já conhecida do público (com imagens congeladas dos personagens, um locutor dizia o que aconteceria com eles nos anos 60, 70 e 80).”
Anos Dourados foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 09/05/2022.
* Site Memória Globo.
** “Teletema – A História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vincent Villari.
01. WHEN I FALL IN LOVE – Nat King Cole (tema de Marcos e Lurdinha *)
02. FRANQUEZA – Maysa
03. TU ME ACOSTUMBRASTE – Roberto Yanes
04. POR CAUSA DE VOCÊ – Dolores Duran
05. I APOLOGIZE – Billy Eckstyne (tema de Marcos e Lurdinha *)
06. PATRICIA – Perez Prado
07. ALL OF YOU – Ella Fitzgerald
08. ALGUÉM COMO TU – Dick Farney (tema de Glória e Dorneles *)
09. WHAT A DIFFERENCE A DAY MAKES – Dinah Washington
10. ACCAREZZAME – Teddy Renno
11. AS PRAIAS DESERTAS – Elizeth Cardoso (tema de Glória e Dorneles *)
12. SMOKE GETS IN YOUR EYES – The Platters (tema de Rosemere *)
13. MON MANÈGE A MOI (TU ME FAIS TOURNER LA TÊTE) – Edith Piaf
14. ANOS DOURADOS (instrumental) – Tom Jobim (tema de abertura **)
Ainda: CAN’T BUY ME LOVE – The Beatles (encerra a minissérie)
* Apesar de, oficialmente, a trilha não distribuir as músicas para personagens, essas foram mais executadas para os personagens em questão.
** O tema de abertura era uma versão instrumental da música.
Sonoplastia: Adirson Sansão
Produção musical: Gilberto Braga
Direção musical: Sérgio Saraceni
Tema de abertura: ANOS DOURADOS – Tom Jobim
Parece que dizes
Te amo, Maria
Na fotografia
Estamos felizes
Te ligo afobada
E deixo confissões no gravador
Vai ser engraçado
Se tens um novo amor
Me vejo a teu lado
Te amo? Não lembro
Parece dezembro
De um ano dourado
Parece bolero
Te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais
Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
É desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos dezembros
Mas quando eu me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais…
Acabei de assistir pela terceira vez “Anos Dourados”. Em 1986 eu estava com 13 anos de idade e fiquei admirado com a história. Para os padrões de qualidade da Globo da época a minissérie foi muito bem feita. Agora, tenho 51 anos de idade e a história ainda é boa, mas é perceptível que a qualidade fica a desejar com alguns erros de continuidade, interpretações canastronas (é insuportável o José de Abreu chorando) e cenários repetitivos. Mas a essência do texto de Gilberto Braga é de alta qualidade, com diálogos bem construídos sobre as aflições da adolescência e sobre os costumes da época. Digno de nota é o trabalho da Yara Amaral como Celeste, sendo o arquétipo do moralismo hipócrita da sociedade da época.
Gilberto considera que essa é sua obra de maior repercussão. Não vivi 86, mas será mesmo que superou Vale Tudo? Tenho certa curiosidade nessa minissérie.
Passei muitos anos confundindo ela e Anos Rebeldes, mesmo ambas não tendo nenhuma correlação entre as sinopses de ambas.
A melhor minissérie já produzida pela Globo
Como eu amo essa série! Assisti todas as vezes que passou …
Estou vendo pela primeira vez no viva, amando! Gilberto Braga um mestre em fazer arte
Estou revendo pela segunda vez na reprise do Viva. Nossa, como as questões políticas se repetem! O Brasil inteiramente polarizado e a gente achando que isso é fenômeno recente.
A produção é um primor. Gilberto Braga sempre soube captar o espírito conservador do Brasil. Amo demais.
Assisti quando jovem na primeira exibição da Globo e adorei. Estou revendo no Viva e tenho certeza que será a mesma emoção. Parabéns ao canal Viva por reexibir as grandes produções
Linda minissérie. Trabalho preferido da Malu, segundo ela mesma. Elenco de jovens muito promissores, que marcaram época na TV. Vi no Viva, em 2011 e 2013.