
Sinopse
França, século 18. Henri Monfort luta contra a monarquia vigente na época. Casado com Anastácia, ele planeja a fuga de sua família, porém, é preso, fazendo com que Anastácia e a filha recém-nascida do casal, Henriette, sigam sozinhas. Vítimas de uma emboscada, as duas são separadas: Anastácia acaba prisioneira em um navio corsário, e Henriette passa a ser criada pelos camponeses Pierre e Gaby, que desconhecem sua origem. A falta de notícias da filha faz com que Anastácia, aos poucos, enlouqueça.
Paralelamente, se desenrola a trama de Blanche, filha do Marquês de Serval. Com a morte de Bernard, seu grande amor, ela acaba se rendendo ao pedido do pai e casa-se com o comandante Fábio Orsini, sem saber que está grávida. O filho de Blanche nasce quando seu marido está em uma expedição em alto mar. Antes de ser entregue à mãe, no entanto, o bebê é raptado pelo marquês e entregue aos camponeses Gaby e Pierre, os mesmos que cuidam de Henriette. Blanche acredita que a criança nascera morta.
Quando retorna de sua longa viagem, Fábio descobre que a mulher tivera um filho durante sua ausência e que, ao contrário do que todos acreditam, ele está vivo. Ao ficar sabendo da verdade, Blanche passa a dedicar sua vida à busca pela criança. No intuito de agradar Blanche, que sempre o tratou com desprezo, Fábio diz à mulher que finalmente encontrou seu filho, Jean-Paul. Na verdade, trata-se de um impostor. O menino tem um comportamento agressivo, mas Blanche está disposta a conquistar seu amor.
Já mais velhos, Pierre e Gaby têm dificuldade para continuar com as crianças. Henriette é adotada pelos duques de Forestier, assume a identidade de Rose, a filha morta do casal, e cresce sem nunca desconfiar de sua origem. Roger, por sua vez, é deixado na porta da casa da família Orsini. Fábio o recebe e, ao descobrir que aquele é o legítimo filho de Blanche, decide esconder a verdade de sua esposa, dizendo tratar-se do neto de um cocheiro. Resistente à ideia no início, Blanche acaba concordando em criá-lo.
Roger, preterido pela mãe, torna-se um grande cravista e o interesse pela música o aproxima de Rose. Eles não lembram que foram criados juntos e se apaixonam. Já Jean-Paul é cercado pelo amor de Blanche. Porém, ao contrário do irmão, é de caráter duvidoso. Ele também se encanta com Rose. O conflito entre os dois rapazes é acirrado quando Jean-Paul comete um assassinato e Roger, atendendo ao pedido de Blanche, assume a culpa no lugar do irmão. Com isso, Rose acaba casando-se com Jean-Paul.
Ao final, o comandante Orsini revela à mulher que Roger é seu filho legítimo, deixando Blanche transtornada por tê-lo rejeitado durante anos. Jean-Paul confessa ser o assassino e, encurralado, acaba se matando. Em seguida, Fábio descobre que o rapaz era seu filho, fruto de um relacionamento antes de casar-se com Blanche. A revelação deixa o comandante atormentado pela culpa de ter provocado a desgraça de seu próprio filho. Diante do sofrimento do marido, Blanche o perdoa pelo o mal que provocara com suas mentiras.
Ao final, Roger perdoa a mãe pois entende que ela fora tão vítima da crueldade de Fábio quanto ele. Roger se transforma no maestro Orsini, conquistando toda a corte com sua música. E casa-se com Rose.
LEILA DINIZ – Anastácia / Henriette / Rose
HENRIQUE MARTINS – Henry de Monfort
ARACY CARDOSO – Blanche
HUGO SANTANNA – Bernard
ÊNIO SANTOS – Piérre
MIRIAN PIRES – Gaby
EDSON FRANÇA – Fábio Orsini
DARY REIS – Dr. Dunerville
NEUZA AMARAL – Helenne
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Roger
CLÁUDIO CAVALCANTI – Jean-Paul
PAULO G0NÇALVES – Tomé
EMILIANO QUEIRÓZ – Pepe (Pei Le Coq)
YOLANDA CARDOSO – Zarolha
GILBERTO MARTINHO – Garan
FÁBIO SABAG – Jacques (Duque de Forestier)
LOURDES MAYER – Ana (Duquesa de Forestier)
LUÍS ORIONI – Rodésio
LUIZ CARLOS BRAGA
SUELY FRANCO – Marie
PAULO PADILHA – Marques de Serval
MARIETA SEVERO
FERNANDO RESKI
e outros.
Inspiração
Anastácia, a Mulher Sem Destino foi baseada no folhetim francês “A Toutinegra do Moinho”, de Émile de Richebourg, sobre a história de uma menina perdida de seu pai e criada por um lenhador na época da Revolução Francesa. A trama da novela guarda poucas semelhanças com o original.
Quando Glória Magadan, que supervisionava o núcleo de dramaturgia da Globo na época, apresentou a proposta da novela a Boni (José de Oliveira Bonifácio Sobrinho, diretor artístico da emissora), ele imaginou que fosse uma adaptação do filme Anastácia, a Princesa Esquecida – de 1956, com Ingrid Bergman – sobre a suposta única sobrevivente da família do último czar russo, Nicolau II. Apesar de algumas semelhanças na trama, a novela nada tem a ver com a história da filha do czar. (“Livro do Boni”)
Bagunça
A novela vinha sendo escrita pelo ator Emiliano Queiroz – em sua única incursão no gênero – sem repercussão, apesar da produção onerosa (de época com elenco numeroso). Sem nenhuma técnica, o autor começou a se perder na história e, na tentativa de emplacar na audiência, que não parava de cair, passou a criar cada vez mais novos personagens, empregando amigos atores desempregados ou com os salários da TV Tupi atrasados. (*)
De acordo com Emiliano Queiroz, a novela resultou de uma “enorme bagunça” que começou com o fato de ele não ter tido “saco” nem para ler o livro, “muito chato, muito grande”:
“A Glória [Magadan] dizia: ‘Vai lendo, vai fazendo’. Aí alguém lia pedaços do livro, me contava e eu escrevia. E foi assim, um sacrifício. A novela estreou e acontecia de tudo em um só dia. Eu falava para a Glória que tinha muitos personagens, tinha circo, tinha uma casa de mendigos. E ela dizia: ‘Não diminui, não diminui!’” (“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
Devido ao caos que tomou conta da produção de elenco da novela, não restou documentação conhecida e precisa sobre a real quantidade de personagens que a trama chegou a ter. Ao longo dos anos, a bibliografia e a crônica jornalística de TV chegariam a mencionar, genericamente, mais de cem atores e atrizes. (“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
O terremoto de Janete
Por volta do capítulo 40 da novela, Janete Clair ligou para Daniel Filho para pedir emprego para seu marido Dias Gomes, que estava impossibilitado de trabalhar por pressões políticas. Janete também estava descontente na TV Tupi, onde escrevia a novela Paixão Proibida. Daniel e Boni não só contrataram Dias Gomes como a própria Janete, convocada para dar um jeito em Anastácia, A Mulher Sem Destino. (“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
Glória Magadan teria dito a Janete Clair uma frase que virou lenda nos corredores da Globo: “Eu tenho um abacaxi para você!” (*). Janete descascou esse abacaxi com um terremoto.
A autora resolveu recomeçar do zero. Para tanto, idealizou um terremoto que matou a maioria dos personagens – por descuido, eliminou o que sabia o segredo da novela. (“O Circo Eletrônico”, Daniel Filho)
O total de personagens mortos, afetado pela ação do tempo e da imprecisão histórica, chegou, em conta que Janete Clair fez para o Jornal do Brasil em 13/03/1983, a incríveis 143 execuções. (“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
A história então recomeçou com um salto de vinte anos na ação e apenas quatro personagens: os interpretados por Leila Diniz, Henrique Martins, Ênio Santos e Mírian Pires. Leila Diniz passou a interpretar dois papéis: Anastácia, sua personagem original, e a filha dela, Henriette, que, depois, ganhou outro nome na trama, Rose. Os outros três sobreviventes envelheceram vinte anos. Um novo elenco e uma nova trama formaram o resto da novela que ainda ficou no ar por um bom tempo. (*)
Outra fonte, o livro “A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, de Ernesto Rodrigues, informa que, na ficha técnica dos 125 capítulos de Anastácia, preservada no site da Globo após o terremoto de Janete Clair, restou um elenco de 21 personagens, encabeçados por Leila Diniz, Henrique Martins e Aracy Cardoso, que passaram a protagonizar a história.
Legado
Anastácia, A Mulher Sem Destino não foi um sucesso. Só entrou para a história mesmo por causa da contratação de Janete Clair pela Globo e pelo notável terremoto.
Contudo, ao dar um destino eficaz à novela, a autora garantiu sua permanência na emissora, de onde nunca mais se desligou, tendo trabalhado por dezesseis anos, até sua morte (em 1983), em mais dezessete novelas.
Em 1998, mais de trinta anos depois do terremoto de Anastácia, Silvio de Abreu promoveu em sua novela Torre de Babel a explosão de um shopping center (prevista na sinopse) que levou embora vários personagens que não haviam caído no gosto do público. Foi uma das tentativas para levantar a audiência, tal qual Anastácia, A Mulher Sem Destino.
Novelas consecutivas
Anastácia, a Mulher Sem Destino foi a primeira das oito novelas consecutivas que Janete Clair escreveu para a Globo, ininterruptamente, entre 1967 e 1972.
A seguintes foram Sangue Areia, Passo dos Ventos, Rosa Rebelde, Véu de Noiva, Irmãos Coragem, O Homem que Deve Morrer e Selva de Pedra – com o agravante de Irmãos Coragem ter valido por duas: longa, ficou mais de um ano no ar.
Ainda: enquanto redigia os últimos capítulos de Passo dos Ventos e os primeiros de Rosa Rebelde, Janete encontrou tempo para, escondida da Globo, escrever a novela Os Acorrentados, para a TV Rio.
Estreias
Primeira novela na Globo dos atores Cláudio Cavalcanti, Edson França, Fábio Sabag, Gilberto Martinho, Ênio Santos e Dary Reis, e das atrizes Aracy Cardoso e Yolanda Cardoso.
Exibição
De acordo com o jornal A Tribuna, de São Paulo, a novela estreou na capital paulista em 3 de julho de 1967, pouco depois da estreia carioca, no horário das 19 horas (diferente do Rio, onde foi exibida às 21 horas). (pesquisa: Glauber Robert)
Lamentavelmente não existem mais registros dessa novela, apagados porque as fitas foram reutilizadas (prática comum na época) ou porque perderam-se em um dos incêndios na TV Globo (1969, 1971 e 1976).
(*) “Janete Clair, a Usineira de Sonhos”, Artur Xexéo.
Taí um exemplo de novela que entrou para a história não por ter feito sucesso, ter sido boa ou tido repercussão!
Pode-se dizer que Anastácia foi uma espécie de Brida global, não fossem a mão de Janete Clair e o fato de a emissora já estar em ascensão em 1967.