
Sinopse
Por meio das lembranças da menina Zélia, desenrola-se o cotidiano da família Gattai, imigrantes italianos que vieram para o Brasil perseguindo o sonho da Colônia Cecília, reduto anarquista, e que viveram em São Paulo nos anos 1910 e 1920, acompanhando o crescimento da cidade. A relação amorosa com os pais Ernesto e Angelina e o convívio com a empregada Maria Negra, o Nôno, e os irmãos mais velhos, Remo, Wanda, Vera e Tito.
Ao lado de Ernesto Gattai, o patriarca, dona Angelina, mulher forte e sensível que conseguia conviver com os sonhos do marido sem tirar os pés do chão. Lia Victor Hugo e Zola, mas também os folhetins de romances desvairados. Jogava no bicho e estava sempre atraída pelos enterros que passavam diante de sua porta. A dura luta dos pais para sustentar a prole e a paixão de Ernesto pela família, automóveis e o movimento anarquista.
NEY LATORRACA – Ernesto Gattai
DÉBORA DUARTE – Angelina
DANIELE RODRIGUES – Zélia
MARCOS FROTA – Remo
CHRISTIANE RANDO – Wanda
LÍLIAN VIZZACCHERO – Vera
AFONSO NIGRO – Tito
GIANNI RATTO – Nôno
ZENAIDE PEREIRA – Maria Negra
PAULO HESSE – Amadeo (vizinho e amigo)
EUGÊNIA DE DOMÊNICO – Josefina (mulher de Amadeo)
BÁRBARA FAZIO – Ada (vizinha, de origem turca)
HOMERO KOSSAC – Ibrahim (irmão de Ada)
CRISTINA MEDEIROS – Leoni (filha de Ada, amada de Remo)
CHRISTIANE TRICERRI – Salma (filha de Ada)
VERA BARBOSA – Marie (filha de Ada)
ANTÔNIO PETRIN – Roque (proprietário da casa da qual a família Gattai é inquilina)
UMBERTO MAGNANI – Guerrando (irmão de Ernesto)
JOSÉ DE ABREU – Angelim (irmão de Ernesto)
SÉRGIO ROPPERTO – Aurélio (irmão de Ernesto)
SOLANGE THEODORO – Eugênia (mulher de Aurélio)
VALÉRIA DE ANDRADE – Gina (irmã de Ernesto)
MARTHA OVERBECK – Margarida (prima de Angelina)
RIO NOVELLO – Gino (marido de Margarida)
LUCINO DI FRANCO – Cláudio (filho de Margarida e Gino)
JANE SANTANA – Clélia (filha de Margarida e Gino)
ANDRÉA L´ABATTE – Mário Bonfatti (funcionário de Ernesto em sua oficina)
ADEMILTON JOSÉ – Luís da Farmácia (namora Maria Negra)
LINDA GAY – Vicenza (senhora das cabras e apontadora de jogo do bicho)
DENIS DERKIAN – Zé do Rosário (namorado de Wanda)
PAULO GORGULHO – Hugo (pretendente de Wanda)
GEORGE OTTO – Teruccio Celentano (pretendente de Vera)
DAVID LEROY – Antônio (viajou de carro com Ernesto, Amadeo e Miguel a Santos)
CARLOS CAPELETTI – Miguel (viajou de carro com Ernesto, Amadeo e Antônio a Santos)
LUIZ GUILHERME – Orestes (italiano anarquista, amigo de Ernesto)
NEWTON PRADO – Nascimento Filho (piloto adversário de Ernesto na corrida)
PATRÍCIA MAYO – Carmela (violinista no cinema)
EDUARDO ABBAS – funcionário do canil
WALTER CRUZ – médico que atende Nôno
ISABEL RIBEIRO – narradora
e
CACHIMBO
JACYRA SCOLA
JOSÉ BASSETTI
JOSÉ CERRUTI
LÉA CYNTHIA
MARION DORINI
NORMA CAMPOS
OSMAR DE PIÉRI
OSWALDO CAMPOZANA
PEPONE
RENATA PEREIRA
SAMANTA
ULISSES BEZERRA
VANDELICI FRAGA
VERA D´AGOSTINO
VIC BARONE
VICENTE BACCARO
VICTOR BARBERIS
Adaptação
Adaptação do romance de estreia de Zélia Gattai, lançado em 1979. Ao contrário do marido Jorge Amado – que, diz-se, não gostava de assistir às adaptações de suas obras na TV -, Zélia não perdeu nenhum capítulo de Anarquistas, Graças a Deus.
“Claro que não deu para ser 100% fiel (ao livro), mas adorei!”, disse ela.
Em função da exibição da minissérie, o livro teve a venda ampliada em 15 vezes.
Problemas para veiculação
Feliz momento da TV Globo que apenas pecou em não mostrar na íntegra o trabalho da dupla Walter Avancini (o diretor) e Walter George Durst (o roteirista).
Originalmente, foi concebida para ser uma novela infantojuvenil para o horário vespertino, abrindo uma nova faixa para novelas, às 16h45. Porém, Anarquistas, Graças a Deus encontrou problemas para a sua veiculação.
Primeiro a Globo pensou em produzi-la para substituir a novela Sol de Verão, em 1983, às 20 horas (após a morte do ator Jardel Filho). Depois, anunciou a sua estreia para o dia 07/03/1983, às 16h45, com chamadas no ar inclusive.
Anarquistas, Graças a Deus só foi estrear em maio de 1984, um ano após concluída, editada em 9 capítulos para ser exibida como minissérie, às 22h15.
Crise entre Rio e SP
Anarquistas, Graças a Deus passou por uma crise interna na Globo que acabou revelando um erro de planejamento inesperado, quando vindo de uma empresa que alardeava o seu “Padrão Globo de Qualidade”, e implodindo o núcleo paulista de produção de dramaturgia – ao qual a minissérie estava vinculada. O núcleo de São Paulo foi criado em 1982, com sede no bairro de Santana, e estava sob a responsabilidade do diretor Walter Avancini.
Boni – José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então superintendente da TV Globo – orientara o núcleo paulista a produzir minisséries e “desenvolver um trabalho cultural que fugisse às características cariocas da emissora” – caso, por exemplo, da minissérie Avenida Paulista, exibida em 1982.
Em março de 1983, porém, a direção da Globo resolveu inadvertidamente desativar o núcleo antes de finalizadas as gravações de Anarquistas, Graças a Deus. A emissora argumentou que, seu fim, além dos altos custos da operação paulista, tinha como razão os altos investimentos necessários à construção do futuro complexo de estúdios no bairro carioca de Jacarepaguá (o que viria a ser o Projac).
Walter Avancini, em desabafo ao Jornal do Brasil de 19/03/1983, contestou:
“Foi uma traição dos tecnocratas. Alegaram que os gastos do núcleo foram imensos e isso é muito estranho, já que eles são pagos exatamente para criarem meios de diminuir tais gastos, e não o fizeram. Aliás, o núcleo paulista criava muito ruído na emissora, de características eminentemente cariocas. Um centro de produção como esse tem que dar despesas, pelo menos no começo. Só com o tempo poderia dar lucro.”
Orgulhoso de terem passado pelo núcleo, segundo suas contas, cerca de quatrocentos atores e mais de seis mil figurantes, Avancini também desconfiava, na entrevista, de que a decisão de Boni tivesse relação com as divergências que ambos tiveram sobre o destino de Anarquistas, Graças a Deus, que oscilou indefinida na grade da Globo antes que se decidisse por uma minissérie exibida na faixa das 22 horas.
Sua estreia, inclusive, foi recebida com ceticismo pelo comando artístico carioca. Segundo Ney Latorraca (um dos protagonistas), o diretor Daniel Filho teria lhe dito: “Estamos com um fracasso nas mãos. Ninguém vai ver isso.”
No entanto, Anarquistas, Graças a Deus foi um sucesso imediato de crítica e audiência, a ponto de atrair a atenção de veículos da imprensa italiana.
José de Abreu, do elenco da minissérie, lembrou, satisfeito, a volta por cima de Avancini: “Não tinha acabado a minissérie ainda, veio uma ordem do Boni para encerrar o núcleo em São Paulo e paramos no meio. Mas o Avancini, um gênio criativo, pegou o material que tinha sido gravado, juntou com o material de arquivo e contou uma história diferente, fazendo uma minissérie ficcional normal. Misturou com filmes, iconografia, com memória e ficou muito bom.”
No ar, percebeu-se mesmo que, nos últimos capítulos, a edição apressou o desfecho da história. O núcleo paulista foi encerrado e Walter Avancini, apesar de contrariado, continuou na Globo a produzir, só que no Rio, outros projetos antológicos, como a minissérie Grande Sertão: Veredas, em 1985.
(“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
Trechos de filmes
Antigos filmes da época da imigração italiana, trazidos de Roma, serviam de contraponto à história e explicavam o que ocorria em São Paulo no período que se segue à Primeira Guerra Mundial. Cada capítulo da minissérie – que foi tema de reportagens na imprensa italiana – era composto de trechos de documentários e de fragmentos da memória de Zélia, eixos que conduziam a ação e enquadravam cenografia, vestuário, linguajar e sotaques.
Elenco
Perfeita reconstituição de época e exemplar direção de Walter Avancini, principalmente ao dirigir os atores.
Destaque para a garota Daniele Rodrigues (com 12 anos quando a minissérie estreou), em um trabalho inesquecível como a protagonista Zélia. Também Ney Latorraca, como seu pai Ernesto Gattai, e uma interpretação comovente de Débora Duarte, como Angelina, a matriarca.
Foram escalados muitos atores conhecidos do teatro ou televisão paulistas, até então não vistos na TV Globo carioca, como Gianni Ratto, Antônio Petrin, Paulo Hesse, Eugênia de Domênico, Homero Kossac, Sérgio Ropperto, Umberto Magnani, Linda Gay, Patrícia Mayo, Newton Prado, Luiz Guilherme, Eduardo Abbas e outros.
Ciúmes de cachorro
Ney Latorraca revelou em entrevista, em junho de 2007, que sentiu ciúmes não de outro ator, mas de um cachorro de circo, ensinado, que fez o “papel” de Flox, um cão felpudo e branco que roubou a cena em vários momentos de Anarquistas, Graças a Deus. O ciúme se transformou em ódio quando o ator fez uma descoberta chocante:
“Descobri que Flox também ganhava mais do que eu. Fiquei com um ódio do cachorro. Eu ganhava, digamos, quatrocentos, e o cachorro, que era de circo, ganhava seiscentos. Nas gravações, eu ouvia o diretor dizer para os câmeras: ‘Vai no cachorro, fecha no Flox!’. E o cachorro chorava, latia, mexia na comida, roubava as cenas que eu e a Débora Duarte fazíamos. Eu odiava aquele cachorro!”
Flox até ganhou uma reportagem no jornal O Estado de São Paulo por estar “emocionando o país”. O carismático cachoro saiu no meio da minissérie em uma cena em que foi atropelado e morto ao fugir da carrocinha da prefeitura.
Ney Latorraca foi compensado ao final de Anarquistas, Graças a Deus, redimido da humilhação que lhe fora imposta pelo cão-ator, quando Zélia Gattai elogiou a sua interpretação como seu pai, Ernesto Gattai. Ela enviou ao ator um telegrama quando a minissérie estava terminando: “Se meu pai estivesse vivo, ficaria muito orgulhoso de se ver na TV. Você está perfeito!”
(“A Globo, Hegemonia: 1965-1984”, Ernesto Rodrigues)
Repetecos
Reapresentada de dezembro de 1985 a janeiro de 1986, às 16h50.
A minissérie foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 29/05/2023.
01. MATTINATA – Mario Del Monaco
02. COMME FACETTE MAMMETA – Sergio Franchi
03. CORE’NGRATO – Mario Lanza
04. TORNA A SURRIENTO – Beniamino Gigli
05. UNA FURTIVA LAGRIMA – Placido Domingo
06. SANTA LUCIA – Tito Schipa
07. QUEL MAZZOLIN DI FIORI – Luciano Tajoli (tema de abertura)
08. MUSICA PROBITA – Beniamino Gigli
09. UN AMORE COSI’ GRANDE – Mario Del Monaco
10. TARANTELLA – Mangini Coletti
11. O SOLE MIO – Tito Schipa
12. SERENATA – Armando Sorbara
13. E LUCEVAN LA STELLE – Placido Domingo
14. NABUCCO: VA PENSIERO… – Robert Shaw Choracle & Orchestra
Supervisão musical: Waltel Branco
Produção musical e música incidental: Júlio Medaglia
Seleção musical: Y. Szapiro e Júlio Medaglia
Tema de abertura: QUEL MAZZOLIN DI FIORI – Luciano Tajoli
Quel mazzolin di fiori
Che vien dalla montagna
E guarda ben che no ‘l se bagna
Che lo voglio regalar
Lo voglio regalare
Percheè l’è un bel mazzetto
Lo voglio dare al mio moretto
Questa sera quando ‘l vien
Sta sera quando ‘l viene
Sarà una brutta sera
E perchè sabato di sera
Lu non l’è vegnù da me
Non l’è vegnù da me
L’è andà dalla Rosina
E perchè mi son poverina
Mi fa pianger e sospirar
Mi fa pianger e sospirare
Sul letto dei lamenti
Cosa mai diran le genti
Cosa mai diran di me?
Diran che son tradita
Tradita nell’onore
E a me mi piange il core
E per sempre piangerà…
Fiquei meio decepcionado. Não sabia que a ideia inicial era que fosse uma novela. Dá pra perceber nos primeiros capítulos que foi reeditada. A ida deles a Santos de carro talvez rendesse uns capítulos originalmente. Tudo acaba se resolvendo muito rápido.
Minissérie simplesmente ótima, pena ser tão curta, renderia uns 20 capítulos.
…marcou mesmo! Parece que seria NOVELA. Até tive o DVD (além de comprar o APARELHO). De emocionar até. Embora algumas coisas meio que chatas; tipo o ANARQUISMO – e algumas INJUSTIÇAS. Saliento a cena do cão sendo salvo. Mara mesmo.