Há exatos 45 anos, estreava a primeira versão de Mulheres de Areia

Publicado em 27/03/2018

Em 26 de março de 1973, a Rede Tupi exibiu às 20h o primeiro capítulo de uma novela que se tornaria um de seus maiores sucessos, lembrada até hoje: Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro. A partir de uma radionovela de sua própria autoria, intitulada As Noivas Morrem no Mar, Ivani ergueu a história das irmãs gêmeas Ruth e Raquel (Eva Wilma), idênticas na aparência, mas completamente diferentes em personalidade e caráter. Ruth é boa, generosa e recatada, enquanto Raquel é ambiciosa, má e faz uso de seu charme e sua beleza para obter o que deseja. Por isso mesmo, ela não hesita em seduzir o rico Marcos Assunção (Carlos Zara), que se interessa inicialmente por Ruth, mas acaba arrebatado por Raquel, com quem se casa.

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As moças eram filhas do humilde pescador Floriano (Sílvio Rocha), mais afeiçoado a Ruth, com quem se identificava mais, e de Isaura (Lucy Meirelles), mais chegada a Raquel. A ação se passava na cidade de Itanhaém, litoral paulista, cuja figura mais proeminente era a de Virgílio Assunção (Cláudio Corrêa e Castro), pai de Marcos. Casado com Clarita (Cleyde Yaconis), numa união sem amor, Virgílio era um homem que só pensava em dinheiro e não mantinha boas relações com a filha Malu (Maria Izabel de Lizandra), jovem de comportamento rebelde. Ele também detestava Raquel, em parte por sua origem pobre, e jamais aprovou o casamento do filho com ela – que enganava Marcos com Wanderley (Edgard Franco), seu amante de quando era ainda solteira.

Um personagem de grande destaque na história é Tonho da Lua (Gianfrancesco Guarnieri), cujas estátuas de mulheres que esculpe na areia dão nome à novela. Tomado por débil mental por muitos, especialmente por Raquel e por seu malvado padrasto Donato (Yvan Mesquita), dono dos barcos utilizados pelos pescadores, Tonho em certos momentos parece um menino, em razão de seu olhar puro sobre as coisas e as pessoas, e nutre por Ruth um amor platônico, sem que ela nunca tenha lhe dado qualquer esperança. Sua infância foi marcada pelo trauma de perder o pai em circunstâncias trágicas, e ele defende constantemente a irmã mais nova, Glorinha (Analu Graci), do assédio nada velado de Donato.

A história sofre uma reviravolta quando ocorre um acidente de barco. Raquel é dada como morta e com isso Ruth vê a chance de estar ao lado do homem amado, fazendo-se passar pela irmã e enfrentando todas as dificuldades que advêm dessa sua atitude. Mas Raquel não morreu, e nova reviravolta acontece quando ela retorna, após planejar meticulosamente sua vingança de Ruth, para retomar sua vida.

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Outros personagens de destaque são Alaor (Antonio Fagundes), peão da fazenda dos Assunção que acaba se casando com a difícil Malu – o sucesso do casal Fagundes/Lizandra fez com que os dois fossem escalados em seguida para protagonizarem O Machão (1974/75), de Ivani Ribeiro e Sérgio Jockymann, inspirada em A Megera Domada, de Shakespeare, na qual viveram papéis um pouco semelhantes; Andréa (Márcia Maria), noiva com quem Marcos rompe para se casar com Raquel e que por isso era grande parceira de Virgílio em investidas contra ela; Walter, o Alemão (Serafim Gonzalez), paixão antiga de Clarita que, ao reencontrá-lo, encontra bom motivo para se livrar do casamento infeliz; Sampaio (Newton Prado) e Baby (Carminha Brandão), pais de Andréa e Carola (Liza Vieira), ele às voltas com o amor que sente por Arlete (Maria Estela), sobrinha de seu sócio Virgílio, enquanto ela era uma perua deslumbrada que só pensava em quem poderia ser seu novo marido após a morte de Sampaio, supostamente próxima; o advogado César (Rolando Boldrin), noivo de Arlete, que anos atrás engravidou Ruth e a fez abortar, o que havia deixado a moça infeliz e descrente do amor; Marujo (Abrahão Farc), pescador sem um braço, perdido num ataque de tubarão, que é cúmplice de Donato.

As gravações externas eram feitas na própria cidade de Itanhaém, onde ficou uma lembrança da equipe para a comunidade local: uma estátua nos moldes das que o ator Serafim Gonzalez fazia na areia para as cenas. Em razão da abordagem dos problemas dos pescadores, que eram explorados por Donato, a novela influenciou a criação de uma cooperativa defensora dos direitos desses trabalhadores. Outras curiosidades são a inusitada presença do cantor e compositor Adoniran Barbosa no elenco, no papel do pescador Chico Belo; e o fato de Eva Wilma ter passado 12 dias longe das gravações em novembro de 1973 devido a um acidente automobilístico que sofrera no trajeto entre São Paulo e Itanhaém, que lhe rendeu diversas escoriações e uma cicatriz no rosto, devidamente coberta pelo cabelo em cena e corrigida por uma cirurgia plástica.

Após 253 capítulos, Mulheres de Areia terminou em 5 de fevereiro de 1974 e deixou muita saudade. A Tupi quis reprisá-la em 1977 no horário das 20h em substituição a O Julgamento (1976/77), quando houve problemas com a história planejada inicialmente – uma adaptação de O Cortiço, romance de Aluísio Azevedo –, mas acabou entrando no ar uma história inédita, Um Sol Maior, de Teixeira Filho. A autora Ivani Ribeiro retomou a história em 1993 na Rede Globo, unindo-a à trama básica de O Espantalho (1977), que escrevera para Silvio Santos e fora exibida originalmente pela TVS do Rio de Janeiro e pela Record. Na ocasião, Glória Pires interpretou as gêmeas Ruth e Raquel, Guilherme Fontes foi Marcos e Marcos Frota viveu Tonho da Lua, e a novela também alcançou grande sucesso.

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