Não há dúvidas de que a Record está cada vez melhor na produção de teledramaturgia bíblica. Quando começou a produzir minisséries, era visível que a produção seguinte era sempre mais bem acabada que a anterior. Barbas postiças e cenários fakes eram alguns dos defeitos vistos nas primeiras minisséries, o que foi sendo corrigido nas atrações seguintes. Quando começaram as novelas, com Os Dez Mandamentos, a melhora ficou cada vez mais significativa.
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A emissora só derrapou mesmo com Os Dez Mandamentos – Nova Temporada, que não teve os mesmos bons efeitos de sua primeira fase, além da maquiagem que envelhecia os atores ser de gosto duvidosíssimo. Aí veio A Terra Prometida, esteticamente bastante superior à sua antecessora. O Rico e Lázaro, que estreou ontem (13), é ainda mais bonita, visualmente falando. A fotografia funciona, e as cenas de batalha, carros-chefe do capítulo inicial, chamaram a atenção pelos takes ousados e até pelo sangue espirrando na tela. Cenas muito bem realizadas.
As primeiras sequências, um flashforward passado no inferno e que mostrava o sofrimento de um dos personagens-título (ainda não sabemos que é o rico e quem é o Lázaro), chamou a atenção. Os efeitos lembraram muito o filme 300, com uma estética claramente artificial, mas que funciona no contexto, com uma fotografia bonita e que soube traduzir toda a angústia do sofredor. Aí, voltamos no tempo para encontrar o trio protagonista, ainda crianças, Asher (Rafael Gevú e Dudu Azevedo), Zac (Vinicius Scribel e Igor Rickli) e Joana (Maitê Padilha e Milena Toscano), além de sermos contextualizados historicamente. O Rico e Lázaro dá sequência à saga dos hebreus, e a Record, assim, cria uma verdadeira linha do tempo histórica com suas produções.
O primeiro capítulo foi correto, apresentando bem os protagonistas, bem como o rei Nabucodonosor (Heitor Martinez). Os profetas, desta vez, não são protagonistas, e sim coadjuvantes, e Jeremias (Victor Hugo) foi quem teve mais destaque no episódio de estreia. O Rico e Lázaro mostrou o povo hebreu começando a adorar deuses pagãos, e Jeremias tenta alertá-los de que eles seguem um caminho que pode levá-los à ruína. É uma boa ideia da autora Paula Richard de apostar numa trama fictícia central, enquanto desenvolve o contexto bíblico paralelamente. Com isso, O Rico e Lázaro consegue se diferenciar das produções anteriores, protagonizadas por Moisés e Josué.
E se mostrar como um produto diferente é o principal desafio de O Rico e Lázaro. Pois, aos olhos de quem vê, por mais que se observe uma melhora na produção, o produto final ainda soa como semelhante aos antecessores. Qualquer desavisado pode ver O Rico e Lázaro e achar que ainda está assistindo Os Dez Mandamentos e A Terra Prometida. Ou seja, mesmo trazendo uma nova história, O Rico e Lázaro acaba soando como mais do mesmo. Isso pode ser bom para o público cativo das tramas bíblicas da Record, mas pode ser ruim no momento de se tentar atrair mais público. Por este motivo, é bom saber que a substituta de O Rico e Lázaro, O Apocalipse, será uma trama que se passa num futuro próximo. Assim, ajudará a audiência a descansar um pouco dos figurinos e cenários suntuosos de imperadores de reinos antigos. Porque oxigenar a faixa é algo que vai se fazer cada vez mais necessário. Ou a fórmula de novelas bíblicas, uma grande sacada da Record, se esgotará rapidamente.
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