
No último dia 8 de outubro, em substituição a Escrava Isaura (1976-1977), o canal VIVA 70 fast estreou em sua programação, que exibe os capítulos várias vezes durante 24 horas, a primeira versão de Pecado Capital, de Janete Clair, exibida originalmente entre novembro de 1975 e junho de 1976, na faixa das 20h da TV Globo.
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Criada às pressas pela novelista, Pecado Capital aproveitou o elenco escalado para a então censurada Roque Santeiro, de Dias Gomes, e marcou época, com sua trama centrada no taxista Carlão (Francisco Cuoco), sua noiva Lucinha (Betty Faria) e no viúvo milionário Salviano Lisboa (Lima Duarte). Relembre no Observatório da TV que outras novelas estavam no ar na mesma época.
Atrações da teledramaturgia diária da TV Tupi
Na ocasião, apenas as TVs Tupi e Globo produziam novelas, cada uma com quatro faixas dedicadas ao gênero. Quando Pecado Capital estreou, a pioneira mantinha uma faixa de histórias leves às 18h, que tinha em cartaz O Velho, o Menino e o Burro, de Carmem Lídia, estreada em abril de 1975.
Gravada em Santana de Parnaíba (SP), a história era centrada no dia a dia do menino Peto (Douglas Mazzola) e sua amizade com o Velho Gui (Dionísio Azevedo) e Jé, um burrinho falante (dublado por Zéluiz Pinho). Patrícia Mayo, Rogério Márcico, Paulo Hesse, Linda Gay, Liza Vieira, Xandó Batista e Carmem Marinho também estiveram no elenco.
Uma curiosidade é que no meio da novela Dionísio Azevedo foi substituído na posição do velhinho amigo do garoto por Sadi Cabral, mas com outro personagem. Sadi interpretava um juiz, Aristóteles, mas Peto pediu ao juiz para tratá-lo também por “Velho Gui”.
No primeiro quadrimestre de 1976 a faixa das 18h da Tupi foi ocupada por um drama romântico chamado Canção para Isabel, de Heloísa Castellar. Intrigas do passado atrapalhavam o amor entre Isabel (Wanda Stefânia) e Rodrigo (Paulo Figueiredo), cuja família enriqueceu à custa da família dela. João José Pompeo, Geraldo Del Rey, Yara Lins, Célia Helena, Rogério Márcico e Cazarré também integraram o elenco.
Depois entrou no ar Papai Coração, adaptada por José Castellar de original de Abel Santa Cruz, cuja história não é outra senão nossa conhecida Carinha de Anjo, aqui já exibida algumas vezes pelo SBT, tanto em versão mexicana, nos anos 2000, quanto em releitura nacional, que inclusive está em reprise atualmente.
A garotinha aqui se chamava Titina (Narjara Turetta), que conversava com a mãe, Laura (Arlete Montenegro), falecida um ano antes. O pai de Titina, Mário (Paulo Goulart), acabava se apaixonando pela Irmã Rosário (Selma Egrei), professora da menina, mesmo comprometido com Paula (Joana Fomm), de quem Titina não gosta.
Na faixa das 19h da Tupi, um romance maduro
Em setembro de 1975, a Rede Tupi estreou em seu horário das 19h a novela Um Dia, o Amor, de Teixeira Filho. Os personagens centrais eram os eternos apaixonados Ricardo (Carlos Zara) e Marília (Maria Estela), que se gostam desde a juventude. Ela acabou se casando com Amadeu (Henrique Martins), falso amigo de Ricardo e filho de seu patrão, o Dr. Marcial (Rodolfo Mayer), com a megera Lucinha (Lélia Abramo).
Maria Leonor (Glauce Graieb), Maria Cecília (Liza Vieira) e Maria Isabel (Nádia Lippi) são as três belas filhas do viúvo Ricardo, cujos conflitos amorosos também conduzem a narrativa. A mais velha é na verdade filha de Amadeu com um caso do passado, Maria Eunice (Cleyde Yaconis). Lucy Meirelles, Felipe Carone, Fausto Rocha, Luiz Carlos de Moraes, Renato Restier e Eleonor Bruno também participaram.
Na última semana de Pecado Capital, a atração das 19h da Tupi passou a ser Os Apóstolos de Judas, novela de Geraldo Vietri. Judas (Jonas Mello) é um humilde feirante, desprezado em seu amor pela ambiciosa Marina (Márcia Maria) e amado pela professora Berenice (Berta Zemel), que dá aula para seus sobrinhos. Dina Lisboa, Chico Martins, Wilson Fragoso, Etty Fraser, Kate Hansen, Laura Cardoso e Sadi Cabral destacaram-se no elenco.
20h na Tupi: temas adultos e grande concorrência
Na maior parte do período, a atração concorrente da Rede Tupi foi a primeira versão de A Viagem, de Ivani Ribeiro, lançada em outubro de 1975. A emissora paulista aproveitou que a Globo exibia uma reprise, a de Selva de Pedra (1972-1973), também de Janete, programada para cobrir o horário enquanto se implantava nova história – justamente Pecado Capital.
A impulsiva e ciumenta Diná (Eva Wilma) passa a odiar o advogado criminalista César (Altair Lima), depois que ele se recusa a defender o irmão mais novo dela, Alexandre (Ewerton de Castro), ladrão e assassino. Sem apoio para fugir e entregue à polícia, o rapaz jura vingança ao irmão Raul (Adriano Reys), ao cunhado Téo (Tony Ramos) e a César, nem que seja em outra vida. E suicida-se na prisão.
Em outro plano, Alexandre passa a agir sobre as vidas dos vivos, perturbando sua paz. Tumultua o romance surgido entre sua namorada Lisa (Elaine Cristina) e Téo, cansado do ciúme de Diná. Faz o casamento de Raul com Andrezza (Joana Fomm) quase ir pelo ralo devido à mãe dela, Guiomar (Carminha Brandão). E atua decisivamente na desagregação da família de César, levando-o a maltratar os filhos e influenciando negativamente o mais velho deles, Júnior (Carlos Alberto Riccelli).
Ao fim de março de 1976, A Viagem foi substituída pela segunda (e mais exitosa) das três novelas criadas e escritas por Walther Negrão e Chico de Assis para a Tupi: Xeque-mate. Ambientada no fim dos anos 1930, a história era centrada em Aldo (Ênio Gonçalves), que tornou-se mendigo após uma desilusão amorosa com Nancy (Lilian Lemmertz) e, sem saber, depois envolveu-se com Lúcia (Maria Isabel de Lizandra), irmã dela. Por trás de grandes maldades está o ambicioso Rodolfo (Edney Giovenazzi).
Curioso notar que as novelas das 20h da Tupi competiam muito mais com o Jornal Nacional do que com as novelas das 20h da Globo, uma vez que seus capítulos se iniciavam por volta das 19h45. De maneira que era possível aos noveleiros mais aficcionados acompanhar as duas, mesmo que no finalzinho do capítulo de A Viagem fosse preciso mudar de canal para ver Pecado Capital do começo, ou se perdesse o começo da trama global por ficar na concorrente até os créditos de encerramento.
Faixa das 20h30: novelas bem-humoradas e irreverentes
Desde 1973, a Tupi exibia às 20h30 novelas mais descontraídas, irreverentes, cujos capítulos em geral não chegavam a meia hora no ar. Uma delas, inclusive, permaneceu 14 meses no ar e chegou a quase 400 capítulos: O Machão (1974-1975), de Sérgio Jockymann, inspirada em A Megera Domada, de William Shakespeare, que por sua vez 25 anos depois inspirou O Cravo e a Rosa (2000-2001), de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira.
Naquele fim de 1975, a última dessas novelas – quase todas de autoria de Jockymann – estava no ar: Vila do Arco. O projeto tinha por base O Alienista, de Machado de Assis, e trazia Laerte Morrone no papel principal de Simão Bacamarte. O nome da novela era o nome da cidade em que o enredo foi ambientado, onde Bacamarte acaba por internar a maioria dos habitantes num hospício, sendo que o único verdeiramente louco era ele mesmo.
Repetecos precoces nas tardes da Globo
Em março de 1976, a Globo decidiu reabrir um espaço em sua grade vespertina para a exibição de reprises de novelas. “Reabrir” porque, entre 1968 e 1974, houve depois do almoço um “horário alternativo”, no qual especialmente as tramas das 19h reestreavam algumas semanas depois de começarem à noite – e seguiam normalmente sua trajetória em sua faixa original. Era uma chance a mais para o público ver as novelas da casa, em época de grande concorrência no gênero.
A primeira reprise após uma pausa de dois anos sem novelas à tarde na Globo foi a de Helena (1975), de Gilberto Braga, da obra de Machado de Assis. Em 20 capítulos foi contada a história do amor supostamente impossível entre Helena (Lúcia Alves) e Estácio (Osmar Prado), já que ele acreditava serem irmãos por parte de pai. Ida Gomes, Rogério Fróes, Ruth de Souza e José Augusto Branco também participaram.
Na sequência, outra obra de Gilberto também exibida poucos meses antes: em abril de 1976 começou a reprise de Senhora (1975), do romance de José de Alencar. Aurélia (Norma Blum) herda a fortuna da família de seu pai e “compra” Fernando (Cláudio Marzo), a quem ama, mas que a havia desprezado para casar-se com uma moça rica, Adelaide (Fátima Freire). Mirian Pires, Felipe Wagner, Osmar Prado e Ida Gomes também estiveram nesta que foi a primeira novela das 18h colorida.
Faixa das 18h: clássicos literários na tela da TV
Quando o primeiro capítulo de Pecado Capital foi ao ar, a Globo exibia às 18h a novela que sucedeu Senhora nessa faixa: A Moreninha (1975-1976), de Marcos Rey, da obra de Joaquim Manuel de Macedo. Nívea Maria interpretou Carolina, a jovem que se apaixona por Augusto (Mário Cardoso), na Ilha de Paquetá, sem saber que ele é a paixão platônica que carrega desde menina.
Entre fevereiro e abril de 1976, o horário foi ocupado por Vejo a Lua no Céu, de Sylvan Paezzo, da obra de Marques Rebelo. Fernando (Eduardo Tornaghi) é um jovem bancário que se envolve com Suzana (Norma Blum), moça pobre, e enfrenta a oposição do severo pai, Pedro (Alberto Perez). Aracy Cardoso, Cláudio Cavalcanti, Ítalo Rossi e Tamara Taxman também estiveram entre os integrantes do cast.
Na sequência, O Feijão e o Sonho, escrita por Benedito Ruy Barbosa com base na obra de Orígenes Lessa, entrou em cartaz. Ao longo de várias décadas, o amor e as dificuldades do poeta e professor Juca Campos Lara (Cláudio Cavalcanti) e de Maria Rosa (Nívea Maria).
Um maestro infeliz e uma babá engenhosa no horário das 19h
Quando Pecado Capital começou, a faixa das 19h era ocupada na TV Globo por outra novela de Janete Clair, que ela escreveu até a metade: Bravo!. Ao mesmo tempo em que preparava a sinopse e depois os capítulos da nova atração das 20h, a novelista supervisionava o trabalho de Gilberto Braga, que a substituiu no outro horário.
O personagem principal de Bravo! era Clóvis Di Lorenzo (Carlos Alberto), cujo romance com Cristina (Aracy Balabanian) é tumultuado pela oposição de sua irmã Fabiana (Neuza Amaral) e da filha Lia (Bete Mendes) e também pelas questões pessoais dele com sua carreira, já que acredita que seu sucesso como maestro se dá mais pelo dinheiro e pelo prestígio de sua família do que por um real talento.
Em fevereiro de 1976 estreou Anjo Mau, de Cassiano Gabus Mendes, cujo enredo era centralizado em Nice (Susana Vieira), babá que se apaixona por Rodrigo (José Wilker), herdeiro dos Medeiros, e cria diversas artimanhas para casar-se com ele e ascender socialmente. Foi a primeira novela do autor na emissora, e também contava com Osmar Prado, Pepita Rodrigues, Ilka Soares, Sérgio Britto, Vanda Lacerda, José Lewgoy e Mário Gomes, entre outros, no elenco.
Às 22h, em outubro de 1975 foi lançada O Grito, novela de Jorge Andrade que provocou polêmica, acusada de traçar um retrato que não condizia com a realidade de São Paulo. A partir do problema da ex-freira Marta (Glória Menezes), cujo filho pequeno é tem deficiência intelectual, é doente e grita à noite, são mostrados os perfis dos moradores do Edifício Paraíso e seus fantasmas pessoais.
Walmor Chagas, Isabel Ribeiro, Rubens de Falco, Ida Gomes, Maria Fernanda, Leonardo Villar, Yara Cortes, Regina Vianna, Edson França, Ney Latorraca, Elizabeth Savala, Sebastião Vasconcelos, Eloísa Mafalda, Suely Franco, Roberto Pirillo, Marcos Paulo e Chica Xavier são outros nomes do superelenco reunido nesta novela.
Em maio de 1976, Pecado Capital (já em suas últimas semanas) passou a conviver na grade de programação da Globo com Saramandaia, de Dias Gomes. Tipos curiosos como o Coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga), que solta formigas pelo nariz, e Dona Redonda (Wilza Carla), que um dia explode de tanto comer, se dividem entre mudar ou não o nome da cidadezinha em que a história se passa, de Bole-bole para Saramandaia.
Juca de Oliveira, Antonio Fagundes (estreando na emissora), Sônia Braga, Yoná Magalhães, Dina Sfat, Ary Fontoura, Milton Moraes, Ana Maria Magalhães, Eloísa Mafalda, Rafael de Carvalho, Lídia Costa, Elza Gomes, Carlos Eduardo Dolabella, Augusto Olímpio e Wellington Botelho também compuseram o elenco.
O VIVA 70 fast também está exibindo O Espigão (1974), de Dias Gomes, produzida para o horário das 22h, e Marron Glacé (1979-1980), de Gabus Mendes, sucesso das 19h. Antes desses títulos, além de Escrava Isaura o canal reprisou, desde novembro de 2023, Locomotivas (1977), de Gabus Mendes; Dancin’ Days (1978-1979), de Gilberto Braga; e A Sucessora (1978-1979), de Manoel Carlos, da obra de Carolina Nabuco.