No dia 9 de maio de 1994, às 19h, a TV Cultura de São Paulo estreou um programa que se tornaria um de seus maiores sucessos, clássico imediato da emissora que na ocasião já era consagrada por sua qualidade, especialmente nas atrações infantojuvenis, como era o caso desta: o Castelo Rá-Tim-Bum, criação de Cao Hamburger e Flávio de Souza, dirigida pelo primeiro.
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Os textos eram de Flávio de Souza, Dionísio Jacob, Anna Muylaert, Mário Teixeira (hoje autor de No Rancho Fundo) e Cláudia Dalla Verde. Vários desses profissionais também estiveram envolvidos em outros pontos altos da programação infantil da emissora e da TV brasileira como um todo: Rá-Tim-Bum (1990) e Mundo da Lua (1991).
Cada um dos episódios apresentava uma história sobre um tema: alimentação, higiene, geografia, viagens, esportes, história, ciências, saúde, medo, desentendimentos humanos, amizade, entre outros.
Em plena cidade grande, um castelo sem igual está instalado. Construído em torno de uma árvore centenária, o castelo é de propriedade do Dr. Victor (Sérgio Mamberti), um cientista e feiticeiro que cria o sobrinho Nino (Cássio Scapin) com a tia-avó do garoto, Morgana (Rosi Campos), uma feiticeira do bem de 5.999 anos.
O primeiro episódio mostra Nino conhecendo aqueles que se tornarão seus melhores amigos – Pedro (Luciano Amaral), Biba (Cinthya Rachel) e Zequinha (Fredy Allan) – após atraí-los para o castelo fazendo com que seguissem a bola de Zequinha, que sai voando até lá movida por feitiçaria.
No castelo viviam diversos personagens, todos utilizados para cumprir uma função pedagógica junto ao público-alvo do programa. Um dos que primeiro apareciam em cena era o porteiro, que propunha adivinhações para liberar o acesso à propriedade.
Havia a cobra Celeste, que vivia na árvore, linguaruda, meio fresca e cor-de-rosa; Adelaide, a gralha de estimação para a qual Morgana contava diversas histórias sobre figuras e momentos importantes da História; e o Gato Pintado, que cuidava da biblioteca e apresentava poesia aos visitantes.
Outros personagens eram o temível Mau e o medroso Godofredo, habitantes dos encanamentos; as botas falantes Tap e Flap, que falavam em rimas; o Fura-bolos, que apresenta os quadros de fantoches de dedo como ele; e o relógio, que anunciava a chegada do Dr. Victor no final dos episódios; além da animação do Ratinho que ensinava noções de higiene.
As vozes e/ou a manipulação dos bonecos eram feitas por Álvaro Petersen, Cláudio Chakmati, Fernando Gomes, Gerson de Abreu, Luciano Ottani e Theo Werneck. As muitas músicas que embalavam os quadros foram compostas por Arnaldo Antunes e Hélio Ziskind.
Havia ainda a jornalista Penélope (Ângela Dippe); o animado entregador de pizzas Bongô (Eduardo Silva); o extraterrestre Etevaldo (Wagner Bello), assim batizado por Zequinha; e a mitológica Caipora (Patrícia Gaspar), que ensina as crianças sobre as nossas matas e os índios.
Fora as fadinhas Lana e Lara (Fabiana Prado e Theresa Athayde), habitantes de um dos lustres; os cientistas Tíbio e Perônio (Flávio de Souza e Henrique Stroeter); o trio formado por João de Barro e as Patativas (Matias Capovilla, Dilmah Souza e Ciça Meirelles), que em seu ninho no alto da árvore executa músicas.
Além, é claro, do ambicioso Dr. Pompeu Pompílio Pomposo (Pascoal da Conceição), com suas armações para fazer algum dos habitantes do castelo assinar os termos de venda da propriedade para que ela fosse sua.
O “Dr. Abobrinha”, como ficou conhecido, e seu bordão “Um dia este castelo será meu… Mhua-mhua-mhuaaaah!”, tornaram-se marcas registradas do programa, assim como o “Raios e trovões!” de Dr. Victor ao ser contrariado; “Porque sim não é resposta”, do cibernético personagem Telekid (Marcelo Tas) em suas intervenções para responder a dúvidas de Zequinha – e de muitos espectadores.
A exemplo dessas intervenções, muitos esquetes não eram ambientados no castelo, e apareciam no programa como partes integrantes de outros quadros ou ligando-os, como os vídeos que mostravam práticas de higiene e as apresentações da “caixinha de música”.
Os 90 episódios da série já estavam todos concluídos quando o lançamento aconteceu, após adiamento de alguns meses – havia a previsão de estreia para outubro de 1993. A produção, que teria 70 episódios inicialmente, foi orçada em 1,2 milhão de dólares (cerca de 16 bilhões de cruzeiros na ocasião da estimativa) e metade desse valor foi custeada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). Em julho de 1993 a moeda brasileira passou a ser o cruzeiro real.
Na época da estreia e por algum tempo depois, o programa era exibido três vezes por dia: às 19h iam ao ar os episódios inéditos, e no dia seguinte às 10h e às 15h30 a emissora fazia reprises do que se viu na noite anterior.
O programa rendeu à TV Cultura a vice-liderança na audiência, com números que chegaram aos dois dígitos, e isso competindo com a novela das 19h da Globo, A Viagem. Em boa parte desses 30 anos a Cultura exibiu o programa ao menos uma vez por dia, e ele basicamente sempre fez parte da grade do braço pago do canal, a TV Rá-Tim-Bum.
Só resta à minha geração, e às posteriores, o agradecimento pelo respeito da emissora e de todos os profissionais envolvidos na produção de um programa tão importante e que contribuiu para a formação do nosso caráter e do nosso espírito crítico, com o qual aprendemos tanto dando espaço à fantasia da infância.